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08/03/2015

ZERA O ETÍOPE

No 15º ano de Asa, Zera o etíope saiu contra Judá com um exército de um milhão de homens e trezentos carros, e chegou até Maressa. Asa saiu contra ele e ordenou a batalha no vale de Zefatá, perto de Maressa. Asa buscou ao Senhor, e o Senhor feriu os etíopes diante de Asa e diante de Judá, e eles fugiram. Asa e o povo que estava com ele os perseguiram até Gerar, e caíram os etíopes sem restar nem um sequer; porque foram destroçados diante do Senhor e diante do seu exército, e levaram dali mui grande despojo. Feriram as cidades em volta de Gerar e saquearam-nas, e voltaram para Jerusalém (2Cr 14:9-15).

Quem era Zera o etíope?

Segundo Velikovsky, e de acordo com o esquema cronológico que defende, Zerá, que conduziu um exército de etíopes e líbios contra Judá (2Cr 16:8), não é outro que o faraó Amenotepe II do Egipto, sucessor de Tutmés III, que já conhecemos como Sisaque no tempo de Roboão. É possível que houvesse sangue etíope na 18ª dinastia; que a mulher de Tutmés III fosse etíope. Ou era Amenotepe um etíope no trono do Egipto?

A morte de Tutmés III, que teve um reino longo e próspero, foi um sinal para os povos subjugados pelo Egipto insurgirem-se. O facto de Asa ter abolido os altares de deuses estranhos pode ser visto como uma insurreição contra o poder egípcio, bem como cercar as cidades de muros e torres e levantar um grande exército (2Cr 14:3,6-8). Lembremos que com a invasão de Sisaque (Tutmés III) em Judá e Jerusalém, Judá ficou vassalo do Egipto. Israel já o era, tendo Jeroboão tido o apoio do Egipto para juntar a ele as outras tribos.

Amenotepe II marchou com um grande exército para reprimir a rebelião na Síria e em Israel (Retenu). A sua primeira campanha, contra Edom e Ugarit, foi vitoriosa. No seu 9º ano, repetiu a expedição contra Israel. A única batalha foi travada num local designado «y-r’-s-t». De acordo com os anais de Amenotepe II, ele alcançou este lugar um dia depois que o seu exército deixou a fronteira egípcia. O lugar da batalha só pode ter sido no sul de Israel. Amenotepe disse-se vitorioso, porém visto o despojo ser insignificante, foi na verdade uma derrota. Não é de admirar: os monarcas egípcios nunca retratavam os seus fracassos. Se a campanha tivesse sido vitoriosa, não teriam voltado imediatamente para trás. 2 Crónicas mostra que a batalha foi vitoriosa para Judá. E com a insucesso do exército egípcio no sul de Judá, toda a região de Israel e Síria foi libertada do domínio egípcio.

20/02/2015

ROBOÃO e SISAQUE

Com o período da monarquia dividida balizada e a sua duração definida em 390 anos (ver as duas mensagens anteriores), podemos começar a fazer o exercício de estabelecer a cronologia relativa dos reis, isto é os reis de Judá relativamente aos reis de Israel, como é dada ao longo dos livros de Reis e Crónicas.

Aconselhamos ao leitor que faça este exercício por si, porque assim se torna mais claro onde se encontram as (aparentes) anomalias e outros pontos difíceis.

É preciso ter em atenção que o calendário hebraico é diferente do nosso. O ano começa no mês de Abib, o 1º mês (Ex 12:2), correspondendo a março-abril. Cada novo mês começava com a lua nova, por isso variava de ano a ano.


O tempo de Roboão (Judá) e Jeroboão (Israel) não oferece muitas dificuldades, internamente. Mas surge mais uma questão a resolver em relação à cronologia consensual.

3029 AH
Roboão começa a reinar com a idade de 41 anos. Sabendo isto, deduzimos que Roboão nasceu antes de Salomão ser proclamado rei, visto que ele reinou 40 anos.
Roboão reinou 17 anos. (1Rs 11:43;2Cr 9:31). Jeroboão reinou 22 anos (1Rs 12:1-2; 1Rs 14:20).

3033 AH
No 5º ano de Roboão, Sisaque, rei do Egipto, sobe contra Jerusalém, porque tinham transgredido contra o Senhor (1Rs 14:25-26; 2Cr 12:1-9). Sisaque tomou as cidades fortificadas que pertenciam a Judá; veio contra Jerusalém e tomou os tesouros do templo e da casa do rei. A partir desse momento, Judá passa a ser vassalo do Egipto: “Serão seus servos, para que conheçam a diferença entre a minha servidão e a servidão dos reinos da terra” (2Cr 12:8), ao mesmo tempo que Roboão “continuou reinando” (2Cr 12:13)

Quem era Sisaque?

A primeira vez que encontramos Sisaque é no tempo de Salomão. Jeroboão se rebelara contra Salomão, que por isso procurou matar a Jeroboão. Este fugiu para o Egipto, ter com Sisaque, onde permaneceu até à morte de Salomão (1Rs 11:26-40). A Septuaginta (versão grega do Velho Testamento feita no século III d.C. no Egipto) menciona que o rei Sisaque deu para mulher a Jeroboão, a irmã mais velha da sua própria mulher, chamada Ano. A história é, talvez, demasiado semelhante com a de Hadade e Tafnes (1Rs 11:19-20), mas não improvável, sendo o casamento uma maneira habitual de fazer aliados e de ganhar poder. Velikovsky traz como prova um vaso canópico (recipiente utilizado no Antigo Egipto para colocar órgãos retirados do morto) preservado no Metropolitan Museum of Art, com o nome de Ano. O vaso data do tempo de Tutmés III, da 18ª dinastia. Tutmés III era o sucessor de Hatshepsute. Lembramos que Velikovksy identificou Hatshepsute como a rainha de Sabá.
Jeroboão tinha certamente o apoio de Sisaque quando voltou para Israel e causou a divisão do reino depois da morte de Salomão. Quando Roboão tentou militarmente restituir o reino num ataque a Israel, foi desaconselhado pelo profeta Semaías, que assim provavelmente o salvou de comprar uma guerra com o Egipto de que não sairia ileso (1Rs 12:16-24).

Prevendo possivelmente um ataque vindo do Egipto, Roboão fortificou várias cidades e criou uma linha defensiva (2Cr11:5-12).

De acordo com o esquema cronológico defendido por Velikovsky, Sisaque era Tutmés III, o sucessor de Hatshepsute no trono do Egipto. Velikovsky apresenta várias provas desta identificação.

Sabe-se que Tutmés III empreendeu várias campanhas militares em Israel e na Síria, onde submeteu numerosas cidades, e de onde trouxe um valiosíssimo despojo. Tudo isto está gravado nas paredes do templo de Karnak no Egipto.

Segundo a cronologia consensual, as campanhas de Tutmés III eram dirigidas contra os povos que habitavam em Canaã muito tempo antes da chegada de Josué e das tribos de Israel, apesar de haver nesta interpretação várias questões não resolvidas.

Na sua primeira campanha em Israel, em Megido, Tutmés III enfrentou o rei de Kadesh, mas este escapou. Quem era este rei de Kadesh? Kadesh aparece em primeiro lugar numa lista de 119 cidades conquistadas por Tutmés, entre as quais se encontram os nomes das cidades que Roboão fortificou quando começou a reinar (2Cr 11:5-10). Não aparece o nome de Jebus ou Salem, como Jerusalém era chamada no tempo cananeu. Os historiadores identificam esta Kadesh com uma cidade situada no rio Orontes, na Síria, embora Tutmés não tivesse ido até ao norte da Síria na sua primeira campanha. Além disso, o nome vem em primeiro lugar na lista referente a Israel, não da Síria. A segunda cidade mencionada na lista é Megido, bem conhecida da Bíblia, esta já no tempo de Josué e dos reis de Canaã.  

A linha defensiva criada por Roboão e destinada a impedir tráfico indesejado desde o sul e oeste, ironicamente não dava proteção a Jerusalém se o inimigo viesse do norte (Beitzel, p.171). Segundo os anais de Tutmés III, que foram preservados, este conquistou primeiro as cidades de Judá, atacou Megido, e de Megido foi para Jerusalém, que se encontra a sul de Megido.

2Cr 12:2-5 relata que, no 5º ano de Roboão, Sisaque tomou primeiro as cidades fortificadas de Judá e, depois, veio a Jerusalém, onde se tinham ajuntado os príncipes por causa de Sisaque. A conquista das cidades muradas é a fase da guerra registada no início dos anais de Tutmés III. A segunda fase foi a subida a Kadesh. O nome Jerusalém não está na lista de Tutmés. Será Jerusalém Kadesh? É muito provável. Kadesh significa ‘santo’. Em inúmeros lugares nas Escrituras, Jerusalém é designada como a cidade ‘kadesh’, a cidade santa, no monte santo ... (2Cr 8:11; Sl 2:6; Joel 2.1; 3:17; Is 66:18; Dn 9:16,24,…).

Aconselhados pelo profeta Semaías, os príncipes de Judá não ofereceram resistência mas humilharam-se perante Sisaque, para não acontecer pior. Está escrito que Sisaque tomou os tesouros da casa do Senhor e da casa do rei, um despojo riquíssimo, que tinha sido reunido desde o tempo de Saul, David e Salomão.

O que Tutmés III levou para o Egipto encontra-se desenhado e descrito de maneira muito detalhada nos baixos-relevos do templo de Karnak, Deir el Bahari e em vários outros monumentos. Uma grande parte do despojo consistia em objetos religiosos tomados de um templo. Os relevos mostram objetos de ouro, prata e bronze, que são de uma riqueza e requinte, e quantidade, correspondendo em tudo às descrições que temos na Bíblia dos objetos feitos para o templo do Senhor pelos artesãos no tempo de Salomão (Velikovsky, pp.165-178).

Em anos e campanhas subsequentes, Tutmés III voltou a Israel para receber o tributo da terra de Punt (a mesma designação que foi usada por Hatshepsute) e Retenu (outra designação usada para Israel nas inscrições egípcias). Naquelas ocasiões ele trouxe mais riquezas, cavalos, carros, animais, ouro e prata, mirra, incenso, madeira e vinho, como também toda a coleção botânica e zoológica que Salomão tinha reunida de várias partes do mundo e estudada (1Rs 4:33).

Retenu, ou Rezenu, é frequentemente usada em inscrições egípcias do Império Médio para designar Israel. Rezenu é aparentemente a transcrição de um nome usado pela população residente para designar a sua terra. Pode ter origem no hebraico. “Eretz” significa terra, país, “Eretz Israel”. “Aretzenu” é a forma possessiva: nossa terra. O que os egiptólogos leem “Retenu” ou “Rezenu” é, provavelmente, o “Aretzenu” da Bíblia (por exemplo: Jos 9:11) (Velikovsky, p.185).

No templo de Karnak, além dos relevos descrevendo as campanhas militares de Tutmés III, há um relevo de uma campanha de Shoshenk, faraó fundador da 22ª dinastia (Tutmés III é 18ª dinastia), contra Israel. Este Shoshenk é identificado, na cronologia e história consensual, como sendo Sisaque. Contra isto está que a lista de cidades conquistadas por Tutmés contem nomes conhecidas da Bíblia, enquanto a lista de Shoshenk só contém nomes desconhecidos. Além disso, não há qualquer referência aos tributos e ao famoso despojo que teria trazido do templo de Jerusalém, contrariamente ao que mostram os relevos de Tutmés. O que é estranho, visto que os faraós egípcios gostavam muito de mostrar o seu poder e magnificência.

Isto leva-nos a outro aspeto que muitos estranham. O tipo de objetos, a riqueza da obra artística, a quantidade de ouro, prata e bronze que Tutmés III trouxe das suas campanhas a Israel, seriam prova de um avançado nível civilizacional das tribos canaanitas muito antes de Josué ter chegado à Canaã. Artesãos foram levados para o Egipto. O seu estilo influenciou o estilo do Egipto. É surpreendente que os povos de Canaã daquele tempo fossem artesãos de tão alto gabarito, a um nível bem mais alto até do próprio Egipto.

Mas se colocarmos Tutmés III no tempo de Salomão e Roboão, muito é explicado. A conquista de Israel nos anais de Tutmés III coincidem com os relatos em Reis e Crónicas. O país foi invadido, as cidades fortificadas tomadas. Jerusalém (Kadesh) não foi tomada de assalto, mas rendeu-se. O templo e o palácio do rei foram saqueados, os objetos levados para o Egipto. A sua descrição encontra-se nas paredes do templo de Karnak.

Tudo indica que Sisaque não era Shoshenk, mas sim Tutmés III. A campanha de Shoshenk terá tido lugar numa altura posterior na história de Judá e Israel. Poderá ser que encontremos alguma referência mais tarde.

18/01/2015

SALOMÃO E A RAINHA DE SABÁ

O problema da cronologia bíblica é devido ao facto de que, na cronologia consensual académica, não há lugar para os eventos e figuras descritos na Bíblia. É como se não tivessem existido. Por conseguinte, a Bíblia tem sido rejeitada como fonte histórica válida.

A cronologia consensual apresenta outras falhas, apontadas por alguns historiadores que preconizam uma revisão da cronologia, mas que não são tomadas em conta, em parte numa recusa de considerar a Bíblia como fonte histórica válida.

Um destes revisionistas que tem causado muito alarido, e que tem sido alvo de duras críticas, é Emmanuel Velikovsky. Ele estranhou o facto de não haver na história do Egipto a menor referência ao êxodo dos Israelitas, nem das pragas e calamidades naturais que ocorreram naquela mesma época e que deixaram o Egipto economicamente de rastos.

O início do domínio dos Hicsos no Egipto está associado a uma situação de fraqueza do país. Ipuwer, um sacerdote, fala de anarquia no país e da entrada de asiáticos (amu) no delta do Nilo. O Papiro Ipuwer é há muito tempo reconhecido como se referindo ao tempo dos Hicsos (Engberg, 1939).

Estando o Papiro Ipuwer já associado à invasão dos Hicsos, Velikovsky foi mais longe. Associou o Papiro Ipuwer, e os acontecimentos nele descritos, ao período do Êxodo dos israelitas, pelas semelhanças entre os dois textos, e identifica os Hicsos como os amalequitas da Bíblia. Referimos à nossa mensagem sobre o “êxodo e os amalequitas”. Esta coincidência tem recebido apoio em meios revisionistas.

Segundo esta tese, o período dos hicsos/amalequitas (= o Segundo Período Intermédio no Egipto, da 14ª à 17 ª dinastia) corresponde ao tempo em que os israelitas andaram no deserto e o período de Josué e Juizes, contra as duas teses correntes de que os israelitas teriam saído do Egipto muito mais tarde, na 18ª ou 19ª dinastia (Ramsés).

Desde o princípio do século XX ficou geralmente aceite que os Hicsos foram expulsos no início da 18ª dinastia, por Amósis I (Engberg, 1939; Breasted, 1906). Decorrente da associação do Papiro Ipuwer com o êxodo, Velkivosky defende que Saul ajudou os egípcios na captura de Avaris, capital-fortaleza dos Hicsos (ISam 15).

Afastados do Egipto desde Amósis I, os Hicsos continuaram, no entanto, presentes nos territórios de Israel (Saruem) e Síria até ao tempo de Tutmés III e talvez mesmo mais tarde (Engberg, 1939; Breasted, 1906). E, de facto, encontramos David lutando contra os amalequitas, enquanto estava fugido de Saul (1Sam 27:8).

Em consequência desta revisão cronológica, altera-se o cruzamento da cronologia bíblica com a cronologia consensual.

Se os hicsos/amalequitas foram afastados do Egipto no tempo de Saul, e se Saul é contemporâneo de Amósis I do Egipto, isto significa que o início da 18ª dinastia egípcia (Amósis I, Amenotepe I, Tutmés I e II, Hatshepsute e Tutmés III) coincide com o início do reino de Israel: Saul, David, Salomão.

O Egipto reconquistou a sua independência sob Amósis, contemporâneo de Saul, e alcançou grandeza e glória sob Amenotepe I, Tutmés I e II, Hatshepsute e Tutmés III. Os 2 reinos, Egipto e Israel, libertados do mesmo opressor – os amalequitas / hicsos – desenvolveram relações comerciais e aliaram-se através de casamento: Salomão aparentou-se com o Faraó do Egipto (1Rs 3:1), tomando por mulher a filha do Faraó.

As Escrituras não preservaram o nome dela nem do faraó, mas sabemos que ele fez uma expedição contra o sul de Judá, região onde habitavam filisteus e cananeus, tomou Gezer e a queimou e a deu como dote à sua filha (1 Reis 9:16). É possível que esta incursão seja a mesma a que se refere uma inscrição no túmulo de Amósis, filho de Nekbhet, que era um oficial de Tutmés I. De acordo com esta inscrição, depois da campanha militar contra a Núbia, Tutmés I empreendeu uma campanha contra Retenu (designação utilizada para Israel) para procurar vingança ou obter satisfação (Breasted, 1906). A vingança terá sido contra os Hicsos.

Daí foi só um passo para Velikovsky identificar Hatshepsute, filha de Tutmés I, como a rainha de Sabá.

Que provas podem apresentar-se em defesa desta identificação?

Além de Velikovsky’s «Ages in chaos», consultámos os seguintes sites:


e

Sweeney, Emmett. Was Hatshepsut the Queen of Sheba, or merely the Queen of Theba? Disponível em http://www.hyksos.org).

A rainha do sul

Mateus 12:42 refere-se à rainha que foi ouvir a sabedoria de Salomão como a rainha do Sul. Em Daniel 11, é repetidamente feito menção do ‘rei do sul’ e do ‘sul’, indicando o Egipto. Josefo, em Antiguidades dos Judeus (VIII-165), sem chamar aquela rainha pelo nome, introdu-la como “rainha do Egipto e da Etiópia”.

A cronologia consensual não consegue encontrar nenhuma rainha do Egipto e Etiópia cuja vida coincida com a história de Israel. Mas, se deslocarmos a história do Egipto de acordo com as teses revisionistas, já podemos encontrar uma coincidência cronológica bastante plausível de Salomão com Hatshepsute.

A viagem de Hatshepsute nos relevos de Punt
Baixos-relevos nas paredes do templo de Deir-el-Bahari, perto de Tebas, no Egipto, contam a história da rainha Hatshepsute. Uma série destes relevos, conhecidos como os “relevos de Punt”, contam a história de uma viagem da rainha ao país de Punt, ou Terra Divina (ta netjer), e uma descrição das ofertas que ele recebeu e levou para casa nos seus navios.
Esta expedição apresenta semelhanças com a narrativa bíblica em 1Reis 10 e 2Crónicas 9.

A localização de Punt
Tradicionalmente é assumido que a localização geográfica da terra de Punt era nas margens do Mar Vermelho, na região do Corno de África, devido ao tipo de plantas e animais que Hatshepsute trouxe da sua viagem a Punt e que podem ser vistos nos baixos-relevos (panteras, uma girafa, um rinoceronte, macacos). Estes reconhecem-se como fauna e flora tipicamente africana.

Velikovsky sugeriu que Salomão tivesse trazido estes animais e plantas de África, de Ofir, de onde também traziam ouro (1Rs 9:26-28). Discute-se se Ofir se encontrava na Arábia, em África ou na Índia, de qualquer modo a sul do Mar Vermelho numa região onde se podia ir com os navios que largavam do porto de Eziom-Geber no golfo de Acabá (International Standard Bible Encyclopaedia). Não havia, porém, necessidade de importar estes animais de outras regiões. Na Antiguidade, havia em todo o Médio Oriente estas criaturas que hoje em dia são apenas associadas com África. Encontramos alguns exemplos na própria Bíblia: leões (Jz 14:5), gazelas e antílopes (Dt 14:5), avestruzes (Dt 14:15; Jó 30:29; Is 34:13).

Há outras indicações em inscrições egípcias que situam Punt, não a sul, mas a oriente do Egipto, na região que corresponde a Israel e Fenícia, como é argumentado por Velikovsky e por alguns outros historiadores. O termo “terra divina” ou “país de Deus” (ta netjer) era também aplicado a Punt e Israel/Fenícia, bem como o nome Retenu.

A viagem marítima
1Rs 10:2 diz que a rainha de Saba chegou a Jerusalém com uma comitiva muito grande e com camelos carregados de coisas. Os baixos-relevos mostram uma expedição por via marítima, com vários navios. Jerusalém não é situada na costa. É natural que ela viesse por terra, usando camelos como meio de locomoção, pelo menos a última parte da viagem. As Escrituras não dizem como ela fez a primeira parte da sua viagem. Segundo Breasted, a expedição pode ter deixado o Nilo em Koptos, continuando em terra por caravana até El-Quosier no Mar Vermelho, onde existia um porto. Mas é possível que o canal que ligava o Nilo e o Mar Vermelho já existisse.
Os versículos bíblicos imediatamente antes da história da visita da rainha a Jerusalém falam das naus que Salomão fez em Eziom-Geber, junto a Eilate, na praia do mar Vermelho, e de como os servos de Salomão iam a Ofir juntamente com os marinheiros de Hirão, rei de Tiro. Salomão tinha construído um porto em Eziom-Geber (1Rs 9:26-28). 2Crónicas 8:17-18 especifica que Salomão foi ele próprio a Eziom-Geber e Elote, à praia do mar, na terra de Edom. E os seus navios trouxeram ouro de Ofir, ouro que Salomão deu à rainha (2Cr 9:9-10). Este versículo vem imediatamente antes da narrativa da vinda da rainha de Sabá. Possivelmente Salomão foi inspecionar se tudo estava preparado para receção de tão importante visita.
A rota mais curta de Tebas a Jerusalém não era pelo Nilo e depois pela costa do Mediterrâneo, mas pelo Mar Vermelho, entrando no golfo de Acabá, até Eziom-Geber. Possivelmente, o regresso aconteceu pelo mar mediterrâneo, embarcando num dos portos fenícios (Tiro), viajando pelo Nilo até Tebas.

O desembarque em Eziom-Geber
Num dos relevos de Deir-el-Bahari, numa cena indicando a proximidade do mar ou do porto onde os egípcios desembarcaram, a comitiva é recebida pelo representante do rei, um homem idoso, chamado chefe de Punt, de nome Perehu ou Paruah, acompanhado da mulher, dois filhos e uma filha (Breasted, 1906). Velikovsky avança a possibilidade de este homem ser Parua, o pai de um dos doze intendentes de Salomão. O que cronologicamente é possível.

Ver 1Rs 4:16-17 – e Bealote (=em Alote), Josafá, filho de Parua.

Segundo vários autores, a última palavra do v.16 (e Bealote) pertence ao v.17, sendo “e em Alote (isto é, Eilate), Josafá, filho de Parua”. Os vs. 16 e 17 são confusos. V.16: Baaná, filho de Husai, em Aser e Bealote (= em Alote). O território da tribo de Aser fica na extremidade norte do território de Israel, enquanto Alote (Eilate) no extremo sul. É estranho que um intendente tenha sob sua responsabilidade dois territórios tão afastados. V.17: Josafá, filho de Parua, em Issacar. O território de Issacar fica na zona do vale de Jezreel, separado de Aser apenas pelo território reduzido de Zebulon, e também muito a norte em relação a Eilate.

Os terraços de mirra
Salomão deu à rainha “tudo quanto ela desejou” (1Rs 10:13), afora o que deu por sua generosidade. Pelas inscrições nos relevos de Punt, como vêm traduzidas por Breasted, parece-me que o principal objetivo da expedição – “o desejo de sua majestade” como está escrito nos relevos de Punt -, era chegar aos terraços de mirra em Punt e levar árvores de mirra para plantar no templo de Amon no Egipto. Além de outras ofertas como prata, ouro, marfim, madeiras (pode referir-se à madeira de sândalo que era trazida de Ofir), macacos, os relevos mostram os navios a serem carregados com sacos com mirra em grande quantidade e com 31 árvores, presumivelmente de mirra, em vasos. A mirra era utilizada para a produção do incenso para o templo. Descobriu-se que o vale do Jordão foi uma região importante de produção de mirra.

O templo
No regresso, Hatshepsute edificou um novo templo, com terraços onde plantou as árvores que trouxe de Punt - é neste templo que estão os relevos que contêm a história da expedição. Imitou os terraços de Jerusalém, mas também a planta e o serviço do templo, que mostram claras semelhanças com o templo de Salomão. É reconhecido por egiptólogos que os elementos estrangeiros no templo (cujo estilo é diferente do estilo egípcio contemporâneo) era influências de Punt. Hatshepsute escreve nos relevos que ela “fez um Punt”.

O tributo à rainha
Outra cena mostra a aproximação de quatro linhas de chefes trazendo tributo à rainha: os chefes de Punt, os chefes de Irem e os chefes de Nemyev (estes têm a pela escura, cabeças arredondadas e lábios grossos). Irem ou Hirão é o nome atribuído aos reis de Tiro, fazendo sentido a sua presença neste quadro (1Rs 10:11). Os de Nemyev poderão ser de Ofir. Josefo, em Antiguidades dos Judeus, escreve que os navios de Salomão carregavam toda a sorte de mercadoria, prata, ouro, marfim e também traziam kussiim [negros]. Na opinião de alguns, o facto de os negros oferecerem tributo podia significar que, além da expedição a Punt, houve outra expedição a regiões africanas e os relevos colocaram juntos o que geograficamente estava separado.

 
Bibliografia
 
ENGBERG, Robert M. (1939). The Hyksos reconsidered. Chicago: University of Chicago Press

BREASTED, J.H. (1906). Ancient records of Egypt. Historical documents. Chicago: University of Chicago Press. Disponível online.

SWEENEY, Emmett. Was Hatshepsut the Queen of Sheba, or merely the Queen of Theba? Disponível em http://www.hyksos.org).

 

14/09/2014

A BATALHA DE JERICÓ – controvérsia cronológica (2)

Embora a arqueologia comprove a veracidade da história bíblica, não há consenso quanto à cronologia da sua ocorrência.

Baseando-se nas conclusões das escavações mais recentes da arqueóloga inglesa Kathleen Kenyon, a maioria dos historiadores hoje defende que não existia nenhuma cidade em Jericó na época em que Josué era suposto conquistá-la!
Como chegaram a esta conclusão?

Devido à sua importância na história bíblica, Jericó – o sítio de Tell-es-Sultan - foi o segundo lugar em Israel, depois de Jerusalém, a ser alvo de escavações arqueológicas.
A primeira grande escavação em Jericó foi conduzida por uma expedição austro-alemã entre 1907 e 1911. O arqueólogo Carl Watzinger concluiu que Jericó não era ocupada (muito menos fortificada) na Idade do Bronze tardia (ca 1550-1200 a.C), altura em que Israel apareceu pela primeira vez em Canaã.

Nos anos 1930, o arqueólogo inglês John Garstang questionou estes resultados. Garstang foi o primeiro investigador a usar métodos modernos, embora ainda rudimentares quando comparado com as normas atuais. Escavou um muro ruído e uma área residencial, que designou de City IV, que foi violentamente destruída. Garstang concluiu que City IV foi destruída ca. 1400 a.C., baseando-se na cerâmica encontrada nos detritos da destruição e escarabeus egípcios encontrados em túmulos próximos, e na ausência de cerâmica micénica. Ele atribuiu a destruição aos israelitas.
As conclusões de Garstang precipitaram a controvérsia.

Recordemos que a maioria dos estudiosos apoia uma de duas datas para o êxodo, uma mais antiga que coloca o êxodo na 18ª dinastia do Egipto (ca.1450), ou outra mais recente, na 19ª dinastia (ca. 1260 a.C.).

Uns anos mais tarde, Garstang pediu a Kathleen Kenyon para rever e atualizar as suas descobertas. Ela escavou em Jericó na década de 1950, tendo introduzido técnicas rigorosas de escavação estratigráfica, análise pormenorizada de solos e camadas de detritos e um registo cuidadoso. Ela chegou mais ou menos à mesma conclusão que Watzinger. De acordo com Kenyon, a destruição da City IV de Garstang ocorreu, não cerca 1400 a.C., mas no final da Idade do Bronze média, cerca de 1550 a.C., isto é 150 anos antes. Portanto, se Jericó foi destruída em 1550 a.C. não haveria em 1400 a.C. uma cidade sequer para Josué conquistar. Nem na 18ª, nem na 19ª dinastia, portanto. As provas arqueológicas estavam, mais uma vez, aparentemente, em conflito com o relato bíblico. O que só tem ajudado a desacreditar o relato bíblico e a relegá-lo ao mito.

A publicação final da escavação feita por Kenyon só ficou disponível em 1982-83, já depois da sua morte. Com estes novos dados, Bryant Wood tentou fazer uma avaliação independente das conclusões de Kenyon (Wood, 1990).
Bryant Wood conclui que de facto existia uma cidade murada em Jericó até cerca de 1400 a.C., quando foi destruída, concluindo que Garstang estava certo, Kenyon não.

A crítica de Wood em relação à Kenyon prende-se com a sua metodologia. Kenyon baseou a sua opinião quase exclusivamente na ausência de cerâmica importada de Chipre e que era muito comum para o período do Bronze tardio (c.1550-1400). Embora mencione certos tipos de cerâmica usados nesse período, ela dá pouca importância a estas formas domésticas que aparecem regularmente nas fases finais da City IV e que foram encontradas em quantidade considerável para se poder trabalhar. Em vez disso, Kenyon preferiu enfatizar as cerâmicas importadas para tecer as suas conclusões cronológicas. Kenyon baseou a sua análise naquilo que não encontrou e não naquilo que encontrou. De acordo com ela, City IV deve ter sido destruído ca 1550 a.C. porque não encontrou cerâmica cipriota em Jericó. Ela comparou Jericó com grandes cidades como Megido situada nas principais rotas de comércio. Jericó, pelo contrário, era um sítio pequeno e bem longe das grandes rotas. 
Uma análise dos relatórios de Garstang e Kenyon mostra que ambos escavaram num bairro pobre da cidade onde apenas encontraram habitações modestas. Porque então alguém esperaria encontrar cerâmica exótica importada neste tipo de ambiente? Na opinião de Wood, tem de se dar atenção à cerâmica doméstica ordinária que se encontrou em abundância.

Outra crítica de Wood a Kenyon é a associação que ela fez da destruição da City IV com a expulsão dos hicsos do Egipto em ca. 1570 a.C. Kenyon defende que não só Jericó mas outras cidades na região terminaram nas mãos dos hicsos ou dos egípcios em campanhas de perseguição aos hicsos quando estes foram expulsos do Egipto onde anteriormente governavam.
Aqui temos de lembrar que a 18ª dinastia foi a que se seguiu ao tempo de ocupação dos hicsos, tendo conseguido expulsá-los do Egipto. O primeiro dos faraós desta 18ª dinastia foi Amósis, seguido de Amenotepe, seguido de Tutmés, o faraó do êxodo (na opinião dos defensores da 18ª dinastia).

Wood terá razão quando diz que Jericó não pode ter sido ser destruída pelos egípcios. As descobertas feitas em Jericó comprovam-no. Nos restos queimados da City IV, tanto Garstang como Kenyon encontram muitos vasos que armazenavam grãos, indicando que havia muito alimento na cidade quando foi destruída. Isto é contrário ao que se sabe das táticas militares egípcias. As campanhas egípcias costumavam fazer-se antes do tempo da ceifa, quando a reserva de alimentos na cidade estaria no seu nível mais baixo. Os egípcios poderiam usar o produto dos campos para alimentar o seu exército, e destruir o que não queriam, aumentando ainda o sofrimento e as dificuldades para a população indígena. Isto não foi o caso em Jericó. Além disso, a estratégia egípcia para conquistar uma cidade fortificada seria através de um cerco longo. A grande provisão de alimento em Jericó indica que a cidade sucumbiu rapidamente, não depois de um longo cerco, e ocorreu depois do tempo da ceifa e não antes.
Por outro lado, Kathleen Kenyon poderá não estar muito longe da verdade. Recordemos a tese de Velikovsky, que temos apresentado, e que situa o êxodo muito antes, no final da 13ª dinastia (Império Médio), coincidindo com a invasão do Egipto pelos hicsos, isto é, os amalequitas (ver a mensagem sobre o êxodo e os amalequitas). Simultaneamente com a saída dos israelitas do Egipto, os hicsos/amalequitas dirigiam-se para o Egipto, eventualmente causando grande destruição pelo caminho. As conclusões de Kenyon estão em acordo com a cronologia defendida por Velikovsky em Ages in Chaos. Os israelitas chegaram a Jericó apenas uma geração depois do fim do Império Médio no Egipto, portanto ainda na Idade do Bronze Médio (http://www.varchive.org/ce/jericho.htm).

Entre as linhas de prova que Wood apresenta em defesa da conclusão de Garstang - destruição da City IV em aprox. 1400 a.C. no final do que os arqueólogos chamam a Idade do Bronze Final I -, estão os objetos de cerâmica, escarabeus egípcios e a datação por radiocarbono. 
Foi feito, pelo British Museum, um teste do carbono-14 numa peça de madeira queimada encontrada nas ruinas. Foi datada 1410 a.C., com uma margem de 40 anos para mais ou para menos. Mais tarde, este valor foi considerado um erro e corrigido para uma data muito anterior 1590 ou 1527 +/- 110 B.C. Testes adicionais noutras amostras de cereal e carvão resultaram em datas entre 1690 e 1520, outros de 1347 +/- 85 anos. Estas diferenças de valor encontradas só parecem provar que a datação por radiocarbono não é muito fiável. Por causa destas inconsistências, a maioria dos arqueólogos preferem datas históricas a datas C14.

Os escarabeus são itens com importância cronológica. São pequenos amuletos egípcios na forma de um escaravelho e com uma inscrição na base (por vezes o nome de um faraó). Num cemitério a noroeste da cidade, Garstang encontrou uma série contínua de escarabeus estendendo-se do século 18 a.C. (13ª dinastia) ao século 14 a.C. (18ª dinastia). Estes últimos incluem nomes reais – Hatshepsut, Tutmés III, e Amenotepe III. A natureza contínua desta série de escarabeus sugere que o cemitério foi usado ativamente até ao fim do período de Bronze Final I. Isto contradiz Kenyon quando disse que a cidade foi abandonada depois de 1550.
Por outro lado, a presença de escarabeus do tempo de Hatshepsut, Tutmés e Amenotepe (18ª dinastia), se parece apoiar a data de Garstang e os defensores da data mais antiga do êxodo, parece agora contradizer a tese de Velikovsky de que o êxodo e a conquista de Jericó tiveram lugar muito mais cedo no final da 13ª dinastia. Mas já veremos o que Velikovsky tem para dizer sobre esta questão.

Entretanto, que concluímos nós destas contradições?
Wood data a destruição de Jericó ca. 1400 a.C. Para comparação, a data que Nolen Jones apresenta na sua cronologia (e que temos seguido e apoiado até agora) revela-se muito próxima da data defendida por Garstang e Wood: 1441 a.C. Porém, a datação de Wood fundamenta-se na cerâmica, a qual, por sua vez, está baseada na cronologia egípcia que o coloca na 18ª dinastia.

A data ca.1400 a.C. está próxima da data a que chegámos com os cálculos baseados na informação bíblica, mas as razões alegadas por Wood e Garstang baseados na cerâmica e nos escarabeus egípcios poderão não estar corretas, se Velikovsky e os revisionistas tiverem razão. A cronologia egípcia está fundamentalmente errada, por isso as conclusões baseadas na cerâmica e nos escarabeus não serão válidos.
Quanto a Kenyon, embora acerte com o período dos hicsos, a data que ela avança é demasiado cedo com os nossos cálculos baseados na Bíblia.

Outra questão é: como explicar a presença de escarabeus da 18ª dinastia se Jericó foi destruída durante o governo dos hicsos (14ª dinastia) e depois abandonada?

Velikovsky explica esta presença (ver artigo disponível em http://www.varchive.org/ce/jericho.htm)

Josué proclamou uma maldição sobre quem reedificasse Jericó: - Naquele tempo Josué fez o povo jurar e dizer: Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó: com a perda do seu primogénito lhe porá os fundamentos, e à custa do mais novo, as portas (Jos 6:26).
Durante cerca de cinco séculos não houve nenhuma tentativa de reconstruir a cidade maldita por Josué. No século 9 a.C., nos dias de Acabe, rei de Samaria, uma certo Hiel edificou Jericó. – Em seus dias [de Acabe] Hiel, o betelita, edificou a Jericó; quando lhe lançou os fundamentos, morreu-lhe Abirão, seu primogénito, quando lhe pôs as portas morreu Segube, seu último, segundo a palavra do Senhor, que falara por intermédio de Josué, filho de Num (1 Rs 16:34).
Segundo Velikovsky, não é de admirar que que os edifícios erigidos no tempo de Acabe e os túmulos encontrados nas escavações de Garstang e Kenyon datem do tempo de Amenotepe III e IV (Akhenaton) da 18ª dinastia, que eram contemporâneos de Acabe. Contrariamente a outros historiadores, Velikovksy é de opinião que na coleção de cartas de El-Amarna (capital de Akhenaton) há mais de 65 cartas de Acabe dirigidas a estes faraós. A reocupação de Jericó cerca de 600 anos depois da sua destruição é, para Velikovksy, um claro caso de completo acordo entre a arqueologia e o registo escrito.
E trata-se de mais uma evidência de que o êxodo não teve lugar na 18ª dinastia mas muito antes.
Sobre as cartas de el-Amarna havemos de voltar em tempo.

01/03/2014

O ÊXODO (3)

Retomando o fio da última mensagem, voltamos a Velikovsky que descobriu vários documentos que apoiam a concordância cronológica entre o Papiro Ipuwer e a história do êxodo. Apresento aqui um resumo.

- Aconteceu que, à meia-noite, feriu o Senhor todos os primogénitos na terra do Egipto … fez-se grande clamor no Egipto, pois não havia casa em que não houvesse morto (Ex 12:29-30).

- A residência caiu num minuto, diz o Papiro de Ipuwer.

De acordo com o livro do Êxodo, a última noite dos israelitas no Egipto foi uma noite em que a morte atacou repentinamente, fazendo vítimas em todas as casas egípcias. Segundo Velikovsky, só um terramoto podia derrubar num instante a residência do rei. E só uma catástrofe natural podia provocar tantas mortes em simultâneo.
A confusão que se seguiu ao sismo foi aproveitado pelos israelitas para fugirem, o que fizeram apressadamente. Com eles, partiu também um misto de gente (Ex 12 :38), egípcios que fugiram da catástrofe natural.

Eram guiados por uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite.
Não demorou muito até que o faraó se recompusesse e com o seu exército perseguisse os escravos fugidos. Encontraram-nos, encurralados, em Pi-Hahirote, junto ao mar (Ex 14). Um forte vento oriental soprou que fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca. Os israelitas passaram em seco, mas quando os egípcios seguiram atrás deles, o mar regressou e as águas cobriram-nos.  O retirar do mar pode explicar-se pela ocorrência de um tsunami provocado pelo sismo, e também estava possivelmente ligado às erupções vulcânicas (que também podem provocar tsunamis) que estavam acontecendo com grande frequência, e que explicam fenómenos como a coluna de fogo e a nuvem, a praga da chuva de pedras e a das trevas.

Velikovsky estabelece uma relação entre o nome do lugar de Pi-Hahirote da Bíblia com um nome idêntico numa fonte egípcia, o monólito de El-Arish, encontrado na década de 1860 numa aldeia entre o Egipto e Palestina. Trata-se de uma pedra de granito preto inscrita com hieróglifos. Os eventos neles relatados dizem respeito a um certo rei Thom. Embora o texto esteja bastante mutilado, há uma descrição de uma terra em grande aflição, de um tempo de nove dias de escuridão em que ninguém se via um ao outro. A história é muito semelhante com a nona praga – das trevas – descrita em Êxodo 10:21-23, embora difira ligeiramente quanto ao número de dias que duraram as trevas. No meio da escuridão e da tempestade invasores aproximavam-se da fronteira do Egipto desde o deserto. A sua majestade foi para a batalha contra os companheiros de Apopi. Apopi era o deus das trevas. Mas o rei e o seu exército nunca voltaram. O rei pereceu na água, num remoinho. A história das trevas e da morte do faraó num remoinho é similar nas fontes egípcias e hebraicas. Mas a semelhança é ainda reforçada por um outro detalhe que não pode ser atribuído ao acaso. O lugar onde o rei foi lançado no ar pelo turbilhão e partiu para o céu chama-se Pi-Kharoti na pedra de El-Arish e Pi-hakirote nas Escrituras. Será o mesmo lugar. “Ha” em Pi-hakirote é o artigo definido. O rei que pereceu no remoinho era Thom ou Thoum. Velikovsky relaciona este nome com Pitom, uma das cidades-celeiros do Egipto edificadas pelos escravos israelitas (Ex 1:11). Pi-Tom significa a morada de Tom.
Entretanto, no Egipto, tudo estava em ruinas, muitos pereceram, não havia poder real, os armazéns do rei eram saqueados, conta Ipuwer, que fornece informação sobre o que aconteceu depois do sismo. Além da catástrofe natural, a situação tornou-se ainda pior pela invasão de um povo inimigo, vindo do deserto, num Egipto sem defesa. Várias expressões de Ipuwer indicam que o texto do papiro foi redigido pouco depois da catástrofe, enquanto os seus efeitos e os distúrbios ainda não tinham chegado ao fim.

Velikovsky refere mais um documento que traz uma descrição que em tudo faz lembrar tanto a história do Êxodo, como os acontecimentos do Papiro Ipuwer: o Papiro do Hermitage, preservado em São Petersburgo com o número 1116b recto. Num estilo profético, o sábio Neferrohu fala de um país em ruinas, onde nada resta. O sol está encoberto por nuvens. O rio está seco. Miséria. Asiáticos desceram no Egipto. Homens riem com um riso de dor. O desastre natural é combinado com a subjugação política do Egipto pelos Amu.
As semelhanças parecem óbvias entre as fontes egípcias e a Bíblia.

A pergunta que se levanta é: quando é que isto ocorreu? A resposta bíblica está à mão, no tempo do Êxodo. Mas na história do Egipto, quando é que se podem situar os acontecimentos descritos no Papiro de Ipuwer, no monólito de El-Arish e no Papiro do Hermitage?

09/02/2014

O ÊXODO (2)

Retomemos a investigação sobre a identidade do faraó em cujo reinado Israel saiu do Egipto...

Para fazer isto, um bom ponto de partida parece-me ser um estudo de Immanuel Velikovsky (1897-1979), «Ages in chaos», publicado pela primeira vez em 1952. Ele propôs uma cronologia revista para o antigo Egipto, Grécia, Israel e outras culturas do antigo Médio Oriente, no sentido de reconciliar a história bíblica e a arqueologia e cronologia egípcia convencional.
Em geral, as teorias de Velikovsky têm sido vigorosamente rejeitadas ou ignoradas pela comunidade académica. No entanto, os seus livros têm lançado o debate sobre a questão e outros autores (como Donovan Courville, Peter James e David Rohl) inspiraram-se em Velikovsky e desenvolveram as suas próprias propostas de revisão cronológica.

Velikovsky não foi o primeiro a apresentar alternativas à cronologia tradicional aceite no meio académico, baseada nas listas dinásticas de Maneto. Depois de Isaac Newton, alguns espíritos independentes se levantaram, nos séculos XIX e XX, para criticar as fraquezas da cronologia recebida para o Egipto e, através desta, a cronologia de todo o Médio Oriente, que se guia pela história do Egipto.
No século XIX: EW. Hengstenberg, Ernest Havet, J.Lieblin, Cecil Torr.

No século XX: A.S. Yahouda, Donovan Courville, John Dayton, Peter James, David Rohl, Roger Henry (ver resumos em BERTHOUD, 2006).
Mais informação sobre a questão da revisão da história, ver também CROWE, John (2007), The revision of ancient history. A perspective (http://www.sis-group.org.uk/ancient.htm).

Velikovsky estabeleceu concordâncias entre a história do antigo Egipto e a histórica bíblica de Israel. Mas as suas conclusões não são resultado de uma aplicação direta da cronologia bíblica à história do Egipto, porque este método não se adaptava ao seu objetivo, visto que os dados cronológicos de um e outro não são concordantes (como já vimos). Velikovsky considerou os documentos bíblicos como documentos históricos (o que não é o caso da maior parte dos historiadores). Ele tentou encontrar na história conhecida do Egipto eventos que correspondessem aos que nos relatam os anais de Israel, porém sem ter em consideração o esquema cronológico convencionalmente utilizado. Encontrou concordâncias, em grande número e bastante espetaculares.
Em «Ages in chaos», Velikovsky fornece os resultados das suas investigações sobre a sincronização entre a história bíblica do povo de Israel e a do antigo Egipto. Lamentavelmente, em 1952, ele não explicou claramente os mecanismos corretivos que permitiram que ele chegasse a uma restruturação da cronologia. Só 20 anos depois, em 1973, com o volume seguinte «Peoples of the sea», ele explicou como tão grandes erros cronológicos puderam introduzir-se na história oficial do antigo Médio-Oriente. Entretanto, Velikovsky foi altamente criticado e desacreditado.

«Ages in chaos» inicia com o livro do Êxodo e a procura de registos egípcios que contêm a mesma informação.
O êxodo do Egipto é uma das memórias fundamentais do povo de Israel. Nas Escrituras é repetidamente feito menção deste acontecimento (por exemplo, nos Salmos 77, 78, 105, 106).

Por outro lado, os anais do Egipto, segundo afirmam, não preservaram qualquer registo da estadia dos israelitas ou da sua partida. Não se sabe quando aconteceu o êxodo, se na verdade aconteceu. Para muitos historiadores, esta história é um mito, tese que parece ser corroborada pela ausência de testemunhos arqueológicos, em monumentos egípcios e em papiros. O êxodo terá sido um evento menor, sem importância, na história do Egipto. A descrição das pragas, da morte dos primogénitos, da passagem pelo mar e morte do exército egípcio seria apenas uma narrativa metafórica.
Mas Velikovsky considerou que, sendo o êxodo um evento tão importante na história de um povo, alguma base de verdade tinha que ter. Das várias passagens bíblicas que falam do êxodo, e de tradições rabínicas, concluiu que o que aconteceu foi na realidade uma catástrofe natural, com atividade sísmica e vulcânica, de grande magnitude. A terra do Egipto ficou destruída. Não haveria nenhum registo nos anais do Egipto?

Velikovsky encontrou um documento, em escrita hierática, conhecido como o Papiro Ipuwer. Em 1828, o documento foi adquirido pelo Museu de Leiden, onde ainda se encontra. Faltam partes do texto. Em 1909, foi traduzido por Alan Gardiner e designado como «The admonitions of an Egyptian Sage». Gardiner defendeu que as evidências internas do documento apontavam para o caráter histórico da situação nele descrito. O Egipto estava em aperto, o seu sistema social desorganizado e a violência enchia o país. A população indefesa caiu nas mãos de invasores cruéis. Os ricos perderam tudo e dormiam ao relento e os pobres apoderaram-se das suas riquezas. Não se tratava de um mero distúrbio local mas de um desastre nacional de grandes proporções. O papiro contém lamentações e uma descrição de ruina e horror. As palavras são de Ipuwer, que se dirige no seu discurso a um rei. Perdeu-se a introdução do texto, pelo que não se sabe o nome do rei a quem Ipuwer se dirigiu.
O papiro Ipuwer contém evidências de um cataclismo natural acompanhado de tremores de terra.

Papiro   2:8 – A terra gira como a roda de um oleiro
             2:11 – As cidades são destruídas. O Alto Egipto tornou-se seco.
             3:13 – Tudo é ruinas.
             4:2 - … anos de ruído. Não há fim ao ruído.
             6:1 – Oh, se a terra pudesse cessar do ruído, e não haver mais tumulto.
             7:4 – A residência caiu num minuto

Explica Velikovsky que, em hebraico, a palavra ‘raash’ significa ruído, comoção, bem como terramoto. Terramotos são geralmente acompanhados de um fenómeno acústico, barulhos subterrâneos. Aparentemente o abalo teve muitas réplicas, e o país ficou em ruinas. O barulho e tumulto eram produzidos pela terra. A residência real foi destruída num minuto, o que só podia acontecer com um grande tremor de terra.
Antes da publicação de Velikovsky em 1952, nunca tinha sido estabelecida uma comparação entre este documento e a Bíblia. Velikovsky aponta paralelos entre o papiro de Ipuwer e as pragas no livro do Êxodo. Vejamos:

Papiro 2:5-6 – A terra está coberta de feridas. Há sangue por todo o lado.
Ex 7:21 – Houve sangue por toda a terra do Egipto.
Papiro 2:10 – O rio está em sangue.
Ex 7:20 – Toda a água do rio se tornou em sangue.

A água estava suja e as pessoas não a podiam beber.
Papiro 2:10 – os homens recusaram provar – os seres humanos, e tinham sede.

Ex 7:24 – Todos os egípcios cavaram junto ao rio para encontrar água que beber; pois das águas do rio não podiam beber.
No rio, os peixes morriam, mas os insetos e répteis multiplicaram-se.

Ex 7:21 – O rio cheiro mal.
Papiro 3:10-13 – eis nossa água! Eis nossa felicidade! O que vamos fazer? Tudo está em ruinas! »

Ambos os textos falam da destruição dos campos:

Ex. 9:25 – A chuva de pedras feriu tudo quanto havia no campo … homens … animais … árvores.
Papiro 4:14 – As árvores estão quebradas.
Papiro 6:1 – Não se encontra nem fruta, nem hortaliças …

Fogo acompanhava a chuva de pedras.
Ex 9:23-24 – Fogo desceu sobre a terra … fogo misturado com a chuva de pedras.
Papiro 2:10 – Na verdade, portas, colunas e muros foram consumidos pelo fogo.

O fogo que consumia a terra não era aceso por mão humana mas caiu do céu e continuou a sua destruição.
Ex 9:31 – O linho e a cevada foram feridos, pois a cevada já estava na espiga, e o linho em flor. Porém o trigo e o centeio não sofreram dano.

Mas foi a praga seguinte que provocou a total aridez dos campos. Segundo o Papiro Ipuwer e o livro do Êxodo (9.31-32 e 10.15), foi impossível fornecer ao rei o tributo de trigo e centeio. Também morreram os peixes (Ex 7:21).
Papiro 10:3-6 – O Baixo Egipto chora. O palácio está sem rendimentos. Trigo, centeio, gansos e peixes a que tem direito.

Os campos estão inteiramente devastados:
Ex 10:15 – Não restou nada verde nas árvores, nem na erva do campo.
Papiro 6:3 – Na verdade, a sementeira pereceu em todo o lado.
Papiro 5:12 – Tudo o que ontem ainda era visível pereceu. A terra está tão desnudada como depois do corte do linho.

Uma devastação tão repentina não podia ter sido resultado de seca, mas de granizo, ou gafanhotos. A erva e o fruto dos campos são devorados pelos gafanhotos (Sl 105:34-35).
Papiro 6:1 – Não se encontra fruta nem erva … fome

Também o gado foi atingido.
Ex 9:3 – Eis que a mão do Senhor será sobre o teu rebanho que está no campo … com pestilência gravíssima …
Papiro 9:3 –Todos os animais, os seus corações choram. O gado geme …

A nona praga cobriu o Egipto de trevas espessas (Ex10:22).
Papiro 9:11 – O país é sem luz.

Velikovsky foi criticado por tirar muitas das palavras do seu contexto e colocá-las ao lado de versículos bíblicos como paralelos contemporâneos. No entanto, uma análise de Henry Zecher, “The Papyrus Ipuwer, Egyptian Version of the Plagues – A New Perspective,” publicado em The Velikovskian (1997), desafiou a opinião de Velikovsky de que o papiro era uma versão egípcia das pragas, mas não invalidou o sincronismo. Zecher propôs que o relato de Ipuwer era a Parte 2 de uma história em duas partes, da qual Moisés escreveu Parte 1. Parte 1 é a fuga dos israelitas e Parte 2 descreve a invasão do Egipto pelos Hicsos logo a seguir ao êxodo e a devastação do país. Velikovsky identificou os Hicsos como os amalequitas da Bíblia (Ex 17:8-16), com quem Israel pelejou em Refidim depois de ter atravessado o mar.
Velikovsky descobriu outros documentos e que apoiam esta concordância cronológica entre o Papiro Ipuwer e a história do êxodo. De que trataremos nas próximas mensagens.

02/02/2014

O ÊXODO (1)

Voltando às duas questões que deixámos por responder na mensagem anterior:

1) a identidade do faraó que colocou José numa posição de autoridade e que recebeu tão bem a família de Jacó e permitiu que se estabelecesse na melhor terra de Gosen no Egito e
2) a identidade do faraó que tentou impedir a saída dos israelitas.

Não há consenso entre os historiadores sobre quem eram estes faraós.
Para melhor entendermos o porquê desta falta de consenso, precisamos primeiro de comparar a cronologia da história de Israel com a cronologia da história egípcia.

Já definimos em anos a.C. quando Israel entrou e quando saiu do Egipto (ver mensagem anterior).
Agora, precisamos de conhecer a cronologia da história egípcia. A história do Egipto é tradicionalmente dividida em períodos e dinastias. Segue uma listagem simplificada destes períodos e dinastias com datas aproximadas a.C., a fim de podermos entender onde se insere tradicionalmente a história de Israel.

Cronologia convencional (a.C.)
Eventos bíblicos
PERÍODO PRE-DINÁSTICO
5500-3200
 
PERÍODO PROTO-DINÁSTICO
Dinastia 0   
3200-3100
 
PERÍODO ARCAICO
1ª e 2ª dinastia
3100-2686
 
ANTIGO IMPÉRIO
3ª a 6ª dinastia
2686-2181
 
2348: dilúvio
1º PERÍODO INTERMÉDIO
7ª a 10ª dinastia                  
2181-2055
 
IMPÉRIO MÉDIO
11ª dinastia
12ª dinastia
13ª dinastia
2055-1650
 
1706: a família de Jacó entra no Egipto
2º PERÍODO INTERMÉDIO
14ª a 17ª dinastia (Hicsos)
1650-1550
 
1571: nascimento Moisés
IMPÉRIO NOVO          
18ª dinastia (1570-1320)
§  Amósis (1570-1546)
§  Amenotepe  I (1546-1527)
§  Tutmés I (1527-1515)
§  Tutmés II (1515-1498)
§  Hatchepsute (1498-1483)
§  Tutmés III (1504-1450)
§  Amenotepe II (1450-1412)
§  Tutmés IV (1412-1402)
§  Amenotepe III (1402-1364)
§  Akhenaton (1350-1334)
§  Semencaré  (1334)
§  Tutankamon (1334-1325)
§  Ai (1325-1321)
19ª dinastia
§  Ramsés I (ca. 1320)
§  Seti I  (1318-1304)
§  Ramsés II (1304-1237)
§  Merneptá (1236-1223)
§  Amenmes
§  Seti II
§  Siptah (1208-1202)
§  Rainha Tausert (1202-1200)
20ª dinastia
1550-1069
 
 
 
 
 
1491: Êxodo
3º PERÍODO INTERMÉDIO
21ª a 24ª dinastia
1059-747
 
EPOCA BAIXA
25ª a 30ª dinastia
(Até Alexandre o Grande
747-332
 
PERIODO PTOLOMAICO
332-30
 
Fonte: http://ancienthistory.about.com/od/pharaohs/a/DynastiesEgypt.htm

As principais hipóteses avançadas são as seguintes:
1.     Os israelitas são identificados com os Hicsos (2º Período Intermédio), e o êxodo com a expulsão dos Hicsos, também conhecidos como os Reis-pastores.

2.     Os israelitas saíram do Egipto no tempo de Amenotepe III (ou antes), e invadiram a Palestina no tempo de Akhenaton, identificados como os Habiru.
       Esta interpretação baseia-se em cartas encontradas nos anais de El-Amarna (cidade fundada por Akhenaton), escritas de Jerusalém e avisando o faraó de uma invasão de Habiru.

3.     Os israelitas entraram do Egipto no tempo dos Hicsos, também um povo estrangeiro, presumivelmente de origem semita – por isso teriam sido favoráveis aos israelitas. Quando os Hicsos foram expulsos, levantou-se um novo rei que não conhecia José.

a.       Êxodo na 18ª dinastia:

Amósis foi o faraó que iniciou a opressão depois da morte de José. Tutmés III seria o faraó do êxodo. Hatchepsute, filha de Tutmés, seria a rainha que educou Moisés na corte egípcia. (Esta hipótese corresponde a uma interpretação que dá um período curto de estadia de Israel no Egipto, ca. 215 anos.

b.      Êxodo na 19ª dinastia:

A opressão culminou no tempo de Ramsés II, para quem os israelitas construíram Ramessés e Pitom. O êxodo ocorreu no tempo do seu filho e sucessor Merneptá. (Esta hipótese corresponde a uma interpretação que dá um período longo de mais de 400 anos para a estadia de Israel no Egipto.)

Existem outras variantes, todas situando o êxodo quer na 18ª quer na 19ª dinastia. Porém, não há consenso entre os historiadores, porque todas estas hipóteses apresentam incongruências. Não me queria deter na análise dos prós e contras das várias hipóteses, pois existe um problema maior.
O êxodo foi para Israel o evento mais importante da sua história como povo. A ele era feito referência vez após vez, nos Salmos, pelos Profetas, …. A Páscoa foi instituída por essa ocasião.

Porém, os anais do Egipto não preservaram qualquer registo relativo à estadia ou partida dos israelitas, levando muitos a afirmar que se trata de uma mera lenda, no mínimo uma exageração de um acontecimento menor. Têm-se procurado explicações naturais para os fenómenos descritos na Bíblia.
O êxodo foi um evento acompanhado por grandes e violentas convulsões da natureza, que destruíram a terra e culminaram com a morte de muitos egípcios (primogénitos) e a derrota de um exército. O que na realidade é estranho é não existir no Egipto no tempo daquelas 18ª e 19ª dinastia qualquer testemunho nem da estadia, nem da saída dos israelitas, nem das pragas, nem da destruição.

Mas não acaba ali. Também, dizem, não existem provas de que Jericó teria sido destruído naquela época. Há arqueólogos e historiadores que chegam a dizer que David e Salomão não existiram.
Esta ausência de registos e provas arqueológicas poderia levar a deduzir que toda a história de Israel é uma fábula.

Onde reside o problema? (ver Berthoud, 2006)
- Por um lado, temos uma narrativa bíblica que pretende ser histórica e que, além disso, está fortemente estruturada no plano cronológico.

- Por outro lado, há dados arqueológicos cujas datas são baseadas numa cronologia egípcia, constituída de acordo com documentos diversos do século III a.C. pelo sacerdote egípcio Maneto (= a cronologia convencional como dada na tabela acima)
- Nenhuma concordância precisa existe entre estes dois. Isto é: nenhum evento na história de Israel tem uma concordância contemporânea na história do Egipto.

Disto podemos deduzir várias hipóteses, tal como atualmente percebidos no mundo académico:
1)      A cronologia oficial/convencional está correta e por conseguinte a história bíblica de Israel é um mito.

2)      Os eventos descritos pela Bíblia são verdadeiros e a cronologia que encontramos na Bíblia é exata. Por conseguinte, devem existir na história egípcia factos correspondentes aos factos atestados pela Bíblia. Se não os encontramos hoje é porque procuramos no momento histórico errado, porque há uma décalage importante entre a cronologia bíblica, que é exata, e a cronologia oficialmente reconhecida para o antigo Egipto, que é falsa historicamente.

3)      Podemos continuar a tentar aceitar a cronologia oficial e procurar acomodar os factos bíblicos.

4)      Finalmente, podemos ignorar a questão e evitar o perigo intelectual e espiritual de nos confrontar com a historicidade ou não historicidade do Velho Testamento, fazer a exegese dos textos bíblicos de modo independente não ligando a história bíblica com os eventos da história. Esta decisão tem a seguinte consequência:

La religion chrétienne, dans une telle perspective, dégagée des réalités de l’histoire, prend alors, sans même s’en rendre compte, l’allure d’un système gnostique suspendu en l’air, hors de la réalité créée». (Berthoud, 2006)
« A religião cristã, nesta perspetiva, solta das realidades da história, toma então, sem se dar conta, a aparência de um sistema gnóstico suspenso no ar, fora da realidade criada”.


Para nós,
os eventos descritos pela Bíblia são verdadeiros e a cronologia que encontramos na Bíblia está correta.
Por conseguinte, devem existir na história egípcia factos correspondentes aos factos atestados pela Bíblia.

Se não os encontramos hoje é porque procuramos no momento histórico errado, porque existe uma décalage importante entre a cronologia bíblica, que está certa, e a cronologia oficialmente reconhecida para o antigo Egipto, que está errada.
É necessário rever a cronologia oficial/convencional.