Ez 4:1-8 narra como Deus
ordenou a Ezequiel, no 5º ano do cativeiro do rei Joaquim, de simular simbolicamente
um cerco contra a cidade de Jerusalém, como sinal para a casa de Israel.
Joaquim reinara apenas 3
meses e 10 dias (2Cro 36:9) quando fora deportado, por Nabucodonosor, para a
Babilónia, juntamente com outros elementos da população de Judá, onde se incluía,
entre outros, Ezequiel. Joaquim fora substituído no trono por Zedequias.
O simulacro do cerco de
Jerusalém por Ezequiel consistia em este deitar-se sobre o seu lado esquerdo
durante 390 dias, um dia para cada ano, para levar a iniquidade de Israel.
Depois de cumprir estes dias, Ezequiel devia deitar-se sobre o seu lado direito
para levar a iniquidade de Judá, 40 dias, cada dia por um ano.
Os 390 anos do simulacro
do cerco de Jerusalém profetizados por Ezequiel (Ez 4:1-8) correspondem aos
anos dos reis de Judá?
No cerco de Jerusalém, que havia de acontecer
poucos anos depois (começou no 9º ano de Zedequias) seria tirado o “sustento do
pão … comerão o pão por peso e com ansiedade … e se consumirão nas suas
iniquidades” (Ez 4:16-17). Jerusalém seria queimada a fogo, uma parte do povo
morreria à espada e à fome, outros seriam espalhados pelas nações (Ez 5). No
11º ano de Zedequias, realiza-se a profecia de Ezequiel: no 4º mês
(Tammuz,junho-julho), a cidade é e arrombada (2Rs25:3-7), no 5º mês (Ab,
julho-agosto), Jerusalém é queimada.
Podemos estabelecer a queda de Jerusalém às
mãos de Nabucodonosor como término dos 390 anos.
O que originou a contenda do Senhor com
Israel, dando início a este período que somaria 390 anos?
A iniquidade pela qual Israel foi
responsabilizada era o pecado de idolatria. Muito especificamente, este começou
com Jeroboão, filho de Nebate. Anteriormente, o Senhor indignara-se com
Salomão, porque ele desviou o seu coração do Senhor e seguiu outros deuses. Por
isso, Deus lhe tiraria parte do reino para dá-la ao seu servo (Jeroboão). No
entanto, isto só aconteceria nos dias do seu filho, Roboão (1Rs 11:9-13).
Quando o reino se dividiu, ficando 2 tribos (Judá
e Benjamim) com Roboão, e o restante se congregou a Jeroboão, este receou que o
povo fosse para Jerusalém, à casa do Senhor, e desviasse o coração dele. Por
isso, fez bezerros de ouro para o povo adorar como seus deuses, constituiu
sacerdotes que não eram da tribo de Levi e instituiu uma falsa festa no 8º mês,
imitando a festa dos tabernáculos do 7º mês (1Rs 25-33). Isto foi causa da
perdição da dinastia de Jeroboão, que chegaria rapidamente ao seu fim (1Rs 13:34),
e também de todo o Israel: 1Rs 14:15-16 – Também o Senhor ferirá a Israel para
que se agite como a cana se agita nas águas; arrancará a Israel desta boa terra
que havia dado a seus pais, e o espalhará para além do Eufrates, porquanto fez
os seus postes-ídolos, provocando o Senhor à ira. Abandonará a Israel por causa
dos pecados que Jeroboão cometeu, e pelos que fez Israel cometer.
A situação em Judá também não era muito
melhor, já desde os tempos de Roboão. Fez Judá o que era mau perante o Senhor;
e, com os pecados que cometeram, o provocaram a zelo, mais do que fizeram os
seus pais. Porque também os de Judá edificaram altos, estátuas, colunas e
postes-ídolos no alto de todos os elevados outeiros, e debaixo de todas as
árvores verdes Havia também na terra prostitutos-cultuais; fizeram segundo
todas as coisas abomináveis das nações que o Senhor expulsara diante dos filhos
de Israel (1Rs 14:22-24). Embora houvesse ao longo da história dos reis de Judá
várias tentativas de acabar com a idolatria (Asa, Josafá, Joás, Josias), as
reformas nunca foram inteiramente bem-sucedidas. Por exemplo, “os altos não
foram tirados” (1Rs 15:14; 2Rs 12:3; 2Cro 24:18).
Embora a monarquia estivesse dividida e, a
determinada altura, o reino de Israel conquistado pela Assíria e o povo
deportado, e Judá continuando ainda por 134 anos, a totalidade dos 390 anos
consideram a totalidade de Israel, todas as tribos (2Cro 12:1). Mesmo depois da
deportação das 10 tribos do reino de Israel, o reino de Judá continha muitos elementos
destas tribos que, em várias ocasiões, tinham migrado do norte para o sul (2Cro
11:13-14; 15:8-9; 35:17-18).
Parece-nos que os 390 anos do simulacro do
cerco em Ezequiel 4 para levar a iniquidade de Israel correspondem efetivamente
aos 390 anos resultantes da soma dos anos de reinado dos reis de Judá, já
descontados os 4 anos de coregência de Jeorão e Josafá, solucionando assim a
duração do período que vai do primeiro ano de Roboão e Jeroboão até à queda de
Jerusalém.
Resta outra pergunta. A que se referem os 40
anos respeitantes ao pecado de Judá que Ezequiel teve de levar sobre o seu lado
direito?
Uma hipótese – a verificar – é que estes 40
anos começam no 13º ano de Josias, quando a palavra do Senhor veio a Jeremias,
até ao 11º ano de Zedequias e o exílio de Jerusalém (Jr 1:1-3).
Os 40 anos se referem ao segundo cerco em 70 dC, da morte de Jesus até a destruição de Jerusalem.
ResponderEliminarEsta interpretação é sair totalmente do contexto histórico e profético onde Ezequiel está inserido. além disso, o número 40 e a duração de 40 dias ou anos é frequente na Bíblia.
EliminarEzequiel já estava deportado quando recebe a profecia. O deitar do lado esquerdo e do direito refere-se a olhar para o passado e para o futuro. São dois eventos.
ResponderEliminarDeus pede pra Ezequiel se alimentar somente nos 390 dias, sinal de que ele nao estará mais nos dias do cumprimento dos 40 dias...
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