Qual o significado do ritual da festa dos tabernáculos
(SUKKOTH) no sétimo mês?
SUKKOTH é a forma plural de SUKKAH (subst.f.). O que é uma
SUKKAH?
O que foi ordenado fazer naquela festa?
Lv 23:40 - Ao primeiro dia,
tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos de árvores
espessas e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus
por sete dias.
Lv 23:42-43 - Sete dias
habitareis debaixo de SUKKOTH; todos os naturais em Israel habitarão em
SUKKOTH; para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de
Israel em SUKKOTH, quando os tirei da terra do Egipto.
Pelo material mencionado em Lv 23 usado para fazer os
SUKKOTH, deduzimos que SUKKOTH não são tendas no sentido de habitações amovíveis
feitas de pano grosso ou lona.
Encontramos a palavra SUKKAH no sentido de abrigos ou refúgios construídos no campo com ramos de árvores, madeira e
folhagem como cabanas para o gado (Gn 33:17), ou abrigos para os que guardam o
gado nos campos (Jó 26:18; Is 1:8). Jonas, por exemplo, fez para si uma SUKKAH,
onde se assentou debaixo da sua sombra (Jonas 4:5). Também são os abrigos (nas
nossas traduções aparece com tendas) levantados por um exército no campo (1Rs
20:12,16; 2Sam 11:11).
Porque é que na festa os israelitas eram chamados a viver em
SUKKOTH em lembrança da saída do Egipto?
É estranho porque na narrativa do êxodo não há menção de os israelitas no
deserto viverem em SUKKOTH, mas sim em tendas (OHEL) (Ex 16:16; 33:8, 10).
Também Abraão habitava em tendas (Gn 12:8;13:3, 5; etc.), o que é aliás o habitáculo
normal para nómadas e quem vive no deserto, não a SUKKAH. É difícil encontrar
ramos de árvores formosas no deserto. O tabernáculo que Moisés levantou no
deserto também é referido com a palavra OHEL.
A palavra SUKKAH aparece também em relação à habitação de Deus:
Sl 18:11 – Fez das
trevas o seu lugar oculto; o pavilhão
(SUKKAH) que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus.
Jó 36:29 – Porventura, também se poderão entender as
extensões das nuvens, e os trovões da sua tenda
(SUKKAH)?
Is 4:5-6 – E criará o Senhor, sobre toda a habitação do
monte de Sião, e sobre as suas congregações, uma nuvem de dia, e um fumo, e um
resplandor de fogo chamejante de noite, porque sobre toda a glória haverá
proteção. E haverá um tabernáculo
(SUKKAH) para sombra contra o calor
do dia, e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e contra a chuva.
Observamos aqui que a SUKKAH do Senhor vem sempre associada
a nuvens.
Também nas seguintes passagens, onde são utilizadas
variantes de SUKKAH provindo da mesma raiz/verbo SAKAK, está presente a associação com
nuvens:
Sl 105:39 – Estendeu uma nuvem por coberta (MASAK).
Sl 27:5 – No dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão (SOK).
Lam 3:44 – Cobriste-te
(SAKAK) de nuvens para que não passe a nossa oração.
O verbo SAKAK significa tecer, especialmente ramos
de árvores para construir uma cobertura ou sebe. Daí que também significa
geralmente cobrir, proteger, defender.
É usado para os querubins que cobrem (SAKAK) a arca com as suas asas (Ex 25:20; 37:9;1Rs 8:7; 1Cr
28:18) e o véu que cobre a arca (Ex
40:3, 21). Sl 91:4 – ele te cobrirá
(SAKAK) com as suas penas.
Sl 140:7 – Senhor Deus, fortaleza da minha salvação, tu cobriste (SAKAK) a minha cabeça no dia
da batalha.
Sl 5:11 – Alegrem-se todos os que confiam em ti; exultem
eternamente, porquanto tu os defendes
(SAKAK).
Este cobrir com ramos de árvores produz sombra. Jó 40:22 –
as árvores sombrias o cobrem (SAKAK)
com sua sombra. A SUKKAH de Jonas produziu sombra. As nuvens produzem sombra.
Como é que isto se relaciona com a narrativa do êxodo?
Porque esta é a memória evocada com a festa de SUKKOTH: para que saibam as vossas
gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em SUKKOTH, quando os tirei da
terra do Egipto (Lv 23:43).
SUKKOTH foi o primeiro lugar onde os israelitas se juntaram
e acamparam depois de terem saído de Ramesses.
Ex 12:37 – Partiram os filhos de Israel de Ramesses para
SUKKOTH, coisa de seiscentos mil de pé, somente de varões.
Num 33:5 – Partidos, pois, os filhos de Israel de Ramesses,
acamparam-se em SUKKOTH.
Ex 13:20 – Assim partiram de SUKKOTH, e acamparam em Etam, à
entrada do deserto.
Esta é o único momento na narrativa do êxodo e da caminhada
pelo deserto que aparece a palavra SUKKOTH.
Acontece que é também aqui que aparece pela primeira vez a
nuvem que protegeu/cobriu Israel na sua fuga dos inimigos e que os guiou no
deserto.
Rabi Akiba interpretou o termo não como um (nome de) lugar,
mas à luz do versículo: os israelitas partiram de SUKKOTH, isto é das nuvens em
que tinham estado acampados e que depois os conduziram pelo deserto. A SUKKAH
simboliza a nuvem de glória debaixo da qual viveu a geração do êxodo. Segundo a
interpretação rabínica, a SUKKAH é símbolo da nuvem de glória do Senhor e a
festa representa a experiência de viver na sua sombra.
Ainda, a proximidade entre SUKKOTH e o dia da Expiação (YOM
KIPPUR), que fala de remissão dos pecados, a SUKKAH restaura o relacionamento
harmonioso e amoroso entre Deus e seu povo. Debaixo da SUKKAH, a pessoa está na
presença de Deus porque o pecado foi perdoado e o relacionamento restaurado, e
por isso pode alegrar-se.
Uma última questão relaciona-se com a cronologia: a duração
da festa, 7 dias, corresponde à duração da estadia dos israelitas em SUKKOTH?
É possível, nenhuma data específica é mencionada entre o dia
15 do 1º mês em que iniciaram a saída (Num 33:3) e o dia 15 do 2º mês já depois
de terem atravessado o mar (Ex16:1).
É possível, porque foi o lugar em que todos os israelitas se
juntaram, provavelmente vindo de lugares diferentes, antes de verdadeiramente
iniciar a caminhada e – presume-se –
terão necessitado de alguns dias para tomar medidas organizacionais e
logísticas para um tão grande grupo de refugiados, para usar um termo atual.
O nome dado ao lugar, SUKKOTH, além de se referir à proteção do Senhor, poderá também ser o nome dado a este primeiro acampamento, porventura muito improvisado e rudimentar, um mero refúgio no deserto, por causa da pressa com que tiveram de fugir.
A festa dos pães asmos tem a mesma duração de 7 dias. Ambos
são memoriais da libertação do Egipto (Ex 12:39-42; Lv 23:49-43) mas com um
foco diferente.
Possível, mas certamente tem igualmente um significado
simbólico relacionado com o número sete.
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Omnipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei (Salmo 91:1-2).
Bibliografia
Jeffrey L. RUBENSTEIN,
The symbolism of the Sukkah. Judaism 43 (1994).
Disponível em https://as.nyu.edu/content/dam/nyu-as/faculty/documents/SymbolismSukka.pdf
James JORDAN, The Oddness of the Feast of Booths. Biblical Horizons Newsletter 90 (December 1996)
Léxicos de Gesenius e Strong's (www.blueletterbible.org)