29/11/2015

Cronologia 7 semanas (5) – Ester

Na história de Ester, há, além da própria Ester, três figuras de importância: o rei Assuero, Mordecai e Haman.

Assuero
Já avançámos, numa anterior mensagem (Quem é o Artaxerxes de Esdras e Neemias?), que o rei Assuero no livro de Ester é o mesmo que o Artaxerxes de Esdras e Neemias, e que este é Dario o Persa. Em Annals of the World (1650), já o bispo Ussher situava Ester no reinado de Dario.
Geralmente, assume-se que o Assuero de Ester é Xerxes, o sucessor de Dario, talvez por causa da semelhança de nomes. Assuero e Xerxes seriam corrupções do persa Khshyarsha. Mas vários aspetos apontam para a identificação com Dario.
Alguns comentadores identificam Assuero com Cambises, o que é improvável, dado ele ser adverso aos judeus.
J. Jordan assinala seis pontos que defendem que Assuero é Dario (Jordan, J. - Esther: Historical & Chronological comments (V), Biblical Chronology, nº 6, 1996):
- Segundo a história, Dario teve de passar os primeiros dois anos do seu reinado a reprimir rebeliões. Assim tem lógica o facto de dar uma grande festa no seu terceiro ano.
- Depois disso, Dario fez várias campanhas militares. Assim, ao seu regresso a Susã (sexto ano), e apaziguado o seu furor contra Vasti, é um bom momento para escolher uma nova esposa.
- A frota naval de Dario tomou as ilhas de Samos, Chios e Lesbos e as restantes ilhas gregas. Segundo Heródoto, estas ilhas pagavam tributo a Dario. Outras fontes históricas dizem que Dario subjugou as ilhas no mar Egeu e que todas foram perdidas por seu filho Xerxes antes do 12º ano do seu reino, o que elimina a hipótese de Xerxes ser Assuero.
- Dario foi o rei persa que instituiu uma reforma económica, normalizou pesos, medidas e cunhagem, e impôs tributo sobre os povos que subjugou. A notícia sobre a imposição de tributo sobre toda a terra (Ester 10:1) não se pode aplicar a um rei persa anterior, e deve referir-se a Dario visto que se trata de um imposto sobre as terras do mar (e Xerxes já não ter domínio sobre estas).
- Dario é chamado Artaxerxes em Esdras e Neemias, como já tive ocasião de referir. Nas adições apócrifas de Ester, e na Septuaginta, o rei de Ester é chamado Artaxerxes.
- E, no livro apócrifo 1Esdras 3:1-2 lê-se «o rei Dario deu um banquete …». Este versículo é cópia do versículo de Ester 1:3, mas em vez de usar o nome Assuero, usa Dario.
- Além disso, no 20º ano de Artaxerxes/Dario, quando Neemias foi falar com o rei sobre a sua preocupação com Jerusalém, a rainha estava sentada ao lado dele (Ne 2:6). Este pormenor realmente só faz sentido aqui se a rainha era Ester.

Mordecai
Mordecai criou Ester, filha de seu tio, a qual não tinha pai nem mãe (Es 2:7). Portanto, Mordecai e Ester são primos. É possível, numa família grande, existirem grandes diferenças de idade entre primos, e sobrinhos serem mais velhos do que seus tios. Mordecai podia ter a mesma idade que o seu tio (pai de Ester), ou mesmo mais, se o pai de Mordecai era muito mais velho do que o seu irmão mais novo (pai de Ester) e Mordecai um dos filhos mais velhos. E se Ester era uma filha mais nova, é possível existir uma diferença de idade entre eles de mais de 50 anos, como terá sido o caso.
O nome de Mordecai encontra-se na lista dos que regressaram a Jerusalém com Zorobabel e Jeshua (Ed 2:2). Na ausência de outro qualificativo, podemos assumir que se trata do mesmo Mordecai do livro de Ester. Mordecai fora transportado de Jerusalém com os exilados deportados por Nabucodonosor com Jeconias (Joaquim), rei de Judá (Ester 2:5-6), no ano 3406. Assumindo que era recém-nascido quando foi deportado, Mordecai já tem 84 anos no 7º ano de Dario. Se Assuero fosse Xerxes, e Dario reinou 36 anos, Mordecai teria mais de 120 anos quando se deu o episódio de Haman (no ano 12º do rei) e a perseguição aos judeus. Esta longevidade não é consentânea com a época. Por isso, para defender que Assuero é Xerxes, há comentadores que argumentam que não foi Mordecai que fora transportado para Babilónia, mas sim Quis, um antepassado de Mordecai. Mordecai é identificado como benjamita, filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis (Es 2:5), o que muito bem pode indicar que a genealogia de Mordecai remonta a Quis, pai de Saul (1Sm 9:1-2). E a figura de Simei, da casa de Saul, aparece no tempo de David (2Sm 16:5-11; 19:16-23).

Hamã
Hamã era agagita, adversário dos judeus (Es 3:10). Isto é, era descendente de Agague, o rei amalequita que foi vencido por Saul, embora este lhe poupasse a vida, mas depois foi morto por Samuel (1Sm 15). A promessa de Deus relativamente a Amaleque era: porque eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu (Ex 17:14). Saul teve a oportunidade, mas não o fez. Agora a vitória final sobre Amaleque será obtida através de Ester e Mordecai.


Cronologia dos acontecimentos no livro de Ester
No 6º ano de Assuero/Dario, por volta do 10º mês, Ester foi levada à casa do rei, onde havia de ser cuidada por 12 meses (Es 2:12), para cumprir os dias do seu embelezamento, antes de ser levada ao rei.

3490 AH – 7º ano de Dario
Assim foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no 7º ano do seu reinado. O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens; pôs-lhe na cabeça a coroa real, e a fez rainha em lugar de Vasti (Es 2:16-17). Durante doze meses, desde o 6º ano de Dario, ela havia sido preparada (Es 2:12).

3491 AH – 8º ano de Dario
Já sendo Ester rainha, Mordecai toma conhecimento de uma trama contra o rei e o revelou à rainha Ester que o disse ao rei, em nome de Mordecai.

3494 AH – 11º ano de Dario
Em atenção aos acontecimentos no 12º ano (Es 3:7), terá sido no 11º ano de Assuero/Dario que o rei engrandeceu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, e o exaltou, e lhe pôs o trono acima de todos os príncipes. (Es 3:1). Estava ordenado que todos tinham de se inclinar perante ele, mas Mordecai recusou-se. Ele declarou que era judeu.
Hamã ficou furioso porque Mordecai não se inclinava nem se prostrava perante ele planeou, não só atentar contra Mordecai, mas destruir todos os judeus, povo de Mordecai, que havia em todo o reino de Assuero (Es 2:5-6).
3495 AH – 12º ano de Dario
No 1º mês, mês de Nisan, lançou-se Pur, isto é, sortes perante Hamã, dia a dia, mês a mês, até ao 12º, que é o mês de Adar (Es 3:7).
Então, no final do ano, Hamã vai dizer a Assuero que há um povo que não cumpre as leis do rei e que não pode ser tolerado, pedindo-lhe para decretar que sejam mortos. O rei deu-lhe o seu anel e autorizou Hamã a levar a cabo o seu intento. Até então, Assuero não sabia que Ester era judia, porque Mordecai tinha-lhe instruída para não declarar a sua linhagem (Es 2:20).

3496 AH – 13º ano de Dario
Com a autorização do rei, chamaram os secretários do rei no dia 13 do 1º mês. Em nome do rei, e com o seu selo, escreveram-se e enviaram-se cartas aos sátrapas do rei, aos governadores de todas as províncias e aos príncipes de cada povo; a cada província no seu próprio modo de escrever, e a cada povo na sua própria língua. A ordem era para que se destruíssem, matassem e aniquilassem de vez a todos os judeus moços e velhos, crianças e mulheres, em um só dia, no dia 13 do 12º mês, e que lhes saqueassem os bens. As cartas foram enviadas a todos os povos para que se preparassem para aquele dia (Es 3:12-15).
Depois de tomar conhecimento de tudo isto, Mordecai informa Ester e pede-lhe para ir falar com o rei e pedir misericórdia pelo seu povo.
Neste intervalo dão-se os acontecimentos descritos nos capítulos 4 a 8 de Ester.
A intervenção de Ester junto ao rei fez com que ele ordenou que se escrevesse aos judeus, em nome do rei, o que bem lhes parecesse, porque o anterior decreto selado com o seu anel, não podia ser revogado (Es 8:1-8).
Então, no dia 23 do 3º mês chamaram-se novamente os secretários do rei. E, segundo tudo quanto ordenou Mordecai, se escreveu um édito para os judeus, para os sátrapas, para os governadores e para os príncipes das províncias que se estende da Índia a Etiópia, 127 províncias. Nas cartas o rei concedia aos judeus de cada cidade que se reunissem e se dispusessem para defender a sua vida, para destruir, matar e aniquilar de vez toda a qualquer força armada do povo da província que viessem contra eles, crianças e mulheres, e que se saqueassem os seus bens, num mesmo dia, em todas as províncias do rei Assuero, no dia 13 do 12º mês. A carta, que determinava a proclamação do édito em todas as províncias, foi enviada a todos os povos, para que os judeus se preparassem para aquele dia, para se vingarem dos seus inimigos (Es 8:9-14).
Houve alegria e regozijo entre os judeus, e muitos dos povos da terra se fizeram judeus, porque o temor dos judeus tinha caído sobre eles (Es 8:15-17).
O dia 13 do 12º mês era o dia em que os inimigos dos judeus contavam assenhorear-se deles, mas sucedeu o contrário, pois foram os judeus que se assenhorearam dos que os odiavam. Em todas as províncias se ajuntaram para dar cabo daqueles que lhes procuravam o mal; e ninguém podia resistir-lhes, porque o terror que inspiravam caiu sobre todos aqueles povos. Os príncipes das províncias, os sátrapas e governadores e oficiais do rei auxiliavam os judeus.
Feriram, pois os judeus a todos os seus inimigos, a golpes de espada, com matança e destruição; e fizeram dos seus inimigos o que bem quiseram.
Na cidadela de Susã, os judeus mataram 500 homens e os 10 filhos de Hamã; nas províncias, mataram 75.000.
Em Susã, no dia 14, os judeus tiveram autorização de fazer segundo o mesmo édito, e mataram mais 300 homens (Es 9:13-15).
No dia 14 do mês, descansaram e o fizeram dia de banquetes. Em Susã, no dia 15.
Na sequência desta vitória sobre o inimigo, Mordecai ordenou aos judeus que comemorassem o dia 14 e o dia 15 do mês de Adar, 12º mês, como os dias em que os judeus tiveram sossego dos seus inimigos (Es 9:20-21). A festa passou a chamar-se Purim, porque Haman tinha lançado Pur, isto é, sortes, para destruir os judeus. Mas o seu intento recaiu sobre a sua própria cabeça.


Depois disto, o rei Assuero impôs tributo sobre a terra, e sobre as terras do mar (Es 10:1). É provável que seja a este tributo que se refere Neemias 5:4. Mais um ponto a favor da identificação de Assuero com Dario/Artaxerxes de Neemias.
Os acontecimentos no 12º ano de Assuero e a esmagadora vitória dos judeus, tiveram consequências positivas para os judeus. Mordecai foi exaltado. Foi o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e estimado pela multidão de seus irmãos, tendo procurado o bem-estar do seu povo e trabalhado pela prosperidade de todo o povo da sua raça (Es 10).
Cronologicamente, o livro de Ester situa-se antes do livro de Neemias.
Por isso, quando Neemias vai ter com o rei no 20º ano de Artaxerxes/Dario/Assuero, ainda os acontecimentos dramáticos de poucos anos antes estavam frescos na memória, e é compreensível a facilidade com que Neemias recebe autorização e apoio para ir a Jerusalém, ajudar os judeus. A rainha estava sentada junto ao rei e Mordecai, se ainda vivo, era o segundo do rei Assuero.

21/11/2015

Cronologia 7 semanas (4) – Esdras

No último mês do 6º ano de Dario (3489 AH), terminou a edificação da casa.

3490 AH – 7º ano de Dario

1º mês
No início do ano seguinte, celebrou-se a dedicação da casa (Ed 6:16-18).
Entretanto, no início deste mesmo mês, no primeiro dia, no 7º ano de Dario/Artaxerxes, Esdras começa a sua viagem para Jerusalém (Ed 7:9), carregado com prata e ouro para ornar o templo e também com o objetivo de ensinar em Israel os estatutos e juízos do Senhor (Ed 7 e 8).
Esdras, que estava entre os que primeiro foram a Jerusalém com Zorobabel e Jesua (Ne 12:1), terá em alguma altura regressado a Babilónia, possivelmente com a tarefa de ir procurar apoio e meios para ornar a casa.
Com Esdras, subiram sacerdotes, levitas e servidores do templo. Esdras ajuntou-os perto do rio que corre para Aava, onde ficaram acampados três dias (Ed 8:15). Partiram de Aava no dia 12 do 1º mês (Ed 8:31).
5ºmês
O grupo de Esdras chegou a Jerusalém no primeiro dia do quinto mês (Ed 7:8). Isto significa que a viagem durou 4 meses (vs.8-9).
9º mês
Os capítulos 9 e 10 de Esdras sobre o caso dos casamentos mistos ocorrem depois da chegada de Esdras a Jerusalém, provavelmente no mesmo ano, havendo apenas referência ao mês da ocorrência, e não ao ano (Ed 10:9,16).
O problema que se levantou foram os casamentos mistos de judeus com outros povos. O povo de Israel, e os sacerdotes e os levitas, não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações, isto é, dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amoreus, pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e assim se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras, e até os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão (Ed 9.1-2). Esdras ficou atónito com esta situação. Lembramos que este era um dos mandamentos especificamente visado na aliança que selaram no primeiro ano do regresso a Jerusalém (Ne 10:30).
No dia 20 do 9º mês, ajuntaram-se todos em Jerusalém por causa desta questão. Era tempo de grandes chuvas (Ed 10:9). Como o assunto não se podia resolver em um dia, Esdras elegeu um grupo de homens que se reuniram no 1º dia do 10º mês para inquirir.

10º mês
No 1º dia do 10º mês iniciam-se os trabalhos de grupo de inquiridores indicados por Esdras (Ed 10:16).
Neste 10º mês (tebete) do 7º ano de Assuero/Dario, Ester é levada ao rei e, algum tempo depois certamente, é coroada rainha em lugar de Vasti (Es 2:16-18).

3491 AH – 8º ano de Dario
A inquirição relativamente aos casamentos com mulheres estrangeiras foi concluída no 1º dia do primeiro mês.

01/11/2015

Cronologia 7 semanas (3) – o templo reconstruído

No primeiro ano da sua chegada a Jerusalém (ano 3468AH, que é também o primeiro ano dos 49 anos que são as primeiras 7 semanas da profecia de Daniel), no 7º mês, edificaram o altar (Ed 3:3), e começaram a oferecer holocaustos, mas ainda não estavam postos os fundamentos do templo (Ed 3:6). Pagaram então aos pedreiros e aos carpinteiros, e também aos sidónios e tírios para trazerem madeira do Líbano, por mar, segundo a permissão dada por Ciro (Ed 3:7).

3469 AH – o segundo ano do regresso (= 3º ano de Ciro)
No princípio do ano (1º mês), foi revelado a Daniel uma palavra que envolvia grande conflito. Daniel entendeu a palavra, e pranteou durante três semanas (Dn 10:1-3), até que no dia 24 do 1º mês, Daniel teve uma visão quando estava à borda do rio Tigre. Durante estes 21 dias, o anjo que falou a Daniel lutou contra o príncipe do reino da Pérsia, que lhe resistiu e, ajudado por Miguel, obteve a vitória sobre os reis da Pérsia (Dn 10:13).
Será que o conflito estava relacionado com a oposição que estava a formar-se contra a edificação do templo?

Daniel vê um homem vestido de linho. Este “homem”, claramente Jeová, está sobre o rio tal como estava sobre o rio Quebar na visão de Ezequiel 1. O significado em Ezequiel era que Deus tinha deixado o seu templo (Ez 8-10) e estava com o seu povo no exílio. O significado da visão em Daniel 10-12 (3º ano de Ciro) é que Deus continuava no exílio e não tinha voltado ao seu templo, que ainda não estava reconstruído. Mas Ele está sobre as águas, como o Espírito em Génesis 1, a preparar uma nova criação (Jordan, J. - Esther: Historical & Chronological comments (IV), Biblical Chronology, nº 6, 1996)

Desde o 7º mês do ano anterior, tinha começado a preparação dos materiais para a construção.
No segundo ano da sua vinda à casa de Deus em Jerusalém, no segundo mês, começaram a obra do templo e constituíram levitas para a superintender (Ed 3:8-9). Mas, rapidamente, quando os adversários de Judá ouviram que os que voltaram do cativeiro edificavam o templo, chegaram-se a Zorobabel dizendo que queriam edificar com eles. Zorobabel recusou. Então as gentes da terra desanimaram o povo de Judá, inquietando-o no edificar e alugaram contra eles conselheiros para frustrarem o seu plano (Ed 4:1-4). A oposição começou logo nos dias de Ciro, e continuou até ao reinado de Dario, rei da Pérsia (Ed 4:5).
A obra da casa de Deus cessou até ao 2º ano de Dario, rei da Pérsia (Ed 4:24). Naquele ano, Ageu e Zacarias começam a profetizar e só nesse ano são lançados os fundamentos do templo (Ag 2:18).
Portanto, Esdras 3:10-13 está fora da ordem cronológica da narrativa. Numa primeira leitura do v.10 (quando os edificadores lançaram os alicerces do templo …), parece que os alicerces da casa foram lançados pouco tempo depois do começo dos preparativos, ainda no segundo ano do regresso dos judeus a Jerusalém (Ed 3:8-10). Contudo, o lançamento dos alicerces do templo ocorre muitos anos mais tarde. Em Ageu encontramos a data do lançamento dos alicerces: no segundo ano do rei Dario, no 24º dia do 9º mês (Ageu 2:10, 18).
Esdras 4:6-22 fala de acusações e cartas.
A primeira acusação contra os habitantes de Judá e de Jerusalém foi no princípio do reinado de “Assuero” (Ed 4:6).
Este Assuero pode ser Ciro ou Cambises, que reinou depois de Ciro. Mas, provavelmente, trata-se de Ciro, porque não houve qualquer reação à acusação escrita. Foi Ciro que deu a ordem de regresso e a autorização para construir o templo.
Lembremos brevemente a questão dos nomes dos reis persas (ver mensagem: Quem é o Artaxerxes de Esdras e Neemias?). Os nomes Dario, Xerxes, Assuero ou Artaxerxes não são nomes pessoais, mas nomes de trono, títulos. Os reis persas costumavam usar mais do que um nome ou título; documentos arqueológicos da época confirmam isto. Visto que os judeus viviam então na proximidade da cultura persa dominante, era natural que usassem estes nomes de trono da maneira como os persas faziam. Além disso, os nomes que são hoje universalmente usados são os nomes que os historiadores gregos, como Heródoto, deram aos vários monarcas persas e que não são mais do que corruptelas gregas de palavras persas. Assim sendo, os nomes Dario, Xerxes, Assuero e Artaxerxes podem referir-se a qualquer um deles. A fim de descobrir quem é quem, é necessário recorrer ao contexto do texto bíblico.
Segundo a história, Ciro reinou 9 anos (de 538 a 530 a.C.). Depois dele, Cambises reinou 8 anos (529 a 522). Entre Cambises e Dario I, um certo Smerdis/Gaumata usurpou o poder, durante apenas 7 meses, até que Dario o conseguiu derrotar em 522. Dario I, Histaspes, reinou 36 anos (521 a 486 a.C.).
Duas cartas são mencionadas nos dias de “Artaxerxes”, uma escrita por Bislão, Mitredate e Tabeel, escrita em caracteres aramaicos e na língua siríaca (Ed 4:7) e a segunda por Reum e Sinsai (Ed 4:8-16). A segunda carta mereceu uma resposta por parte do rei. Este Artaxerxes poderá ser Cambises, a não ser que Ciro tivesse voltado com a sua palavra atrás, proibindo que se edifique a cidade, o que é pouco provável porque “a lei dos medos e dos persas não se pode revogar”(Dn 6:8) e por causa do que foi profetizado por Isaías (Is 45:13). Alguns entendem que se trata de Ciro, por aquilo que Reum escreve: os judeus que subiram de ti vieram a nós a Jerusalém (v.12). Também é possível que se trate de Dario, no princípio do seu reino.
Na resposta à carta de Reum e Sinsai, o rei dá ordem a fim de que os judeus parem o trabalho e não edifiquem mais a cidade a não ser com autorização dele (Ed 4:17-22).
O que podemos deduzir com certeza é que os judeus cessaram a edificação da casa de Deus logo no início, mas a construção da cidade, dos muros e das casas entretanto prosseguiu (Ed 4:12, 24; 5:3; Ag 1:4).
… …

3485 AH - o segundo ano de Dario, rei da Pérsia

Nota: 
As datas a partir do segundo ano de Dario foram revistas em razão de uma questão cronológica relativa ao reinado deste rei de que não me apercebi, e que necessita de ser esclarecida, embora em nada altere fundamentalmente a cronologia e narrativa da história destas 7 semanas como apresentadas nesta e nas mensagens a seguir.

A nova cronologia revista, e a explicação desta revisão, encontra-se na mensagem CRONOLOGIA DE ESDRAS-NEEMIAS (revisto) de agosto 2016.

Uma série de eventos ocorrem neste ano.
No 6º mês, no primeiro dia do mês, Deus falou a Zorobabel, governador de Judá e a Josué, o sumo-sacerdote, através do profeta Ageu. Acaso é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas (Ag 1:4)? Apesar da proibição de edificar a cidade (Ed 4:21), percebe-se que os judeus tinham continuado a construir as suas casas, enquanto a obra do templo estava parada. O Senhor despertou o espírito de Zorobabel e de Josué, filho de Jozadaque (chamado Jesua no livro de Esdras e Neemias; e a não confundir com Jesua o levita) e de todo o povo; eles encheram-se de ousadia e puseram-se ao trabalho na casa do Senhor no dia 24 desse mesmo mês (Ag 1:14-15; Ed 5:1-2).
No 7º mês, no dia 21, veio novamente a palavra do Senhor a Ageu (Ag 2:1-9), dizendo: Quem há entre vós que, tendo edificado, viu esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é ela como coisa de nada aos vossos olhos? Deus veio encorajar o povo na construção que tinham iniciado há menos de um mês antes: O meu Espírito habita no meio de vós; não temais.
No 8º mês, veio a palavra do Senhor ao profeta Zacarias (Zc 1:1-6) com uma advertência.
No 9º mês, no dia 24 do mês, a palavra de Deus veio novamente a Ageu. Foi naquele dia que foram postos os fundamentos do templo: Considerai, eu vos rogo, desde este dia em diante, desde o 24º dia do mês nono, desde o dia em que se fundou o templo do Senhor (Ag 2:18). Quando os edificadores lançaram os alicerces do templo do Senhor, apresentaram-se os sacerdotes, e os levitas, com trombetas e címbalos para louvarem ao Senhor. Cantavam e rendiam graças por se terem lançado os alicerces da sua casa. Porém, muitos que viram a primeira casa choraram em alta voz, mas outros gritaram com alegria, de maneira que não se podiam discernir as vozes de alegria e as vozes de choro (Ed 3:10-13). 

É nessa época que Tatenai, o governador daquém do Eufrates, começou a ficar preocupado e foi perguntar aos judeus: Quem vos deu ordem para reedificardes esta casa e restaurardes este muro? (Ed 5:3-4). O muro, neste caso, é o muro do templo e não da cidade.
Os judeus explicaram a Tatenai que quem lhes deu a ordem foi Ciro, no primeiro ano do seu reinado, e que dissera a Sesbazar (que é outro nome para Zorobabel): faze reedificar a casa de Deus no seu lugar (Ed 5:13-15). O que Tatenai escreve (v.16) mostra que a carta foi escrita depois de os alicerces já terem sido lançados: Então veio o dito Sesbazar, e lançou os fundamentos da casa de Deus, a qual está em Jerusalém; e daí para cá se está edificando, e ainda não está acabada. Os olhos de Deus estavam sobre os judeus e estes não foram obrigados a parar até que viesse resposta de Dario (Ed 5:3-5) à carta de Tatenai (Ed 5:5).
O rei Dario mandou fazer uma busca nos arquivos reais em Babilónia. Mas foi na fortaleza de Acmeta na província da Média que se encontrou um rolo com um memorial que dizia que Ciro (por Daniel chamado Dario o medo) baixou um decreto no seu primeiro ano para edificar a casa de Deus em Jerusalém. E Dario respondeu a Tatenai (Ed 6:1-12), ordenando: Não interrompais a obra desta casa de Deus, para que o governador dos judeus e os seus anciãos reedifiquem a casa de Deus no seu lugar (v.7).
É aqui que podemos compreender a visão de Zacarias, ainda no 2º ano de Dario, no 11º mês, aos 24 dias do mês (Zc 1:1-17): a visão do homem montado num cavalo vermelho, parado entre as murteiras. Este homem é o Anjo do Senhor, uma revelação pré-encarnada de Jesus Cristo. A sua aparição manifesta a sua presença com o povo da aliança na sua batalha histórica. Os outros cavalos são o seu exército celestial. Percorreram a terra e viram que toda a terra estava agora repousada e tranquila. A obra do templo podia ser concluída sem mais oposição. 

3487 AH- 3º ano de Dario/Assuero

O rei Assuero, que é Dario, na cidadela de Susã, dá um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, no qual se representou o escol da Pérsia e da Média. Recusando a rainha Vasti obedecer à ordem do rei, foi deposta (Es 1).

3487 AH – 4º ano de Dario
Defini a data de 3487 AH para o 4º ano de Dario. A explicação para esta data está em Zacarias 7:1-5.
No 4º ano do rei Dario, no dia 4 do 9º mês, vieram Sarezen e Régen-Meleque, homens enviados aos sacerdotes e aos profetas em Jerusalém com a seguinte pergunta: Continuaremos nós a chorar, com jejum, no 5º mês, como temos feito por tantos anos (Zc 7:1-3)? A preocupação era se ainda precisavam de continuar a chorar e jejuar, agora que os fundamentos do templo já tinham sido colocados.
Responde o Senhor através de Zacarias: Quando jejuastes e pranteastes, no quinto e no sétimo mês, durante estes 70 anos, acaso foi para mim que jejuastes (Zc 7:4-5)? A resposta de Zacarias inclui uma informação cronológica: já jejuaram durante 70 anos.
O jejum do 5º mês rememorava a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, o do 7º mês a morte de Gedalias, que fora nomeado governador sobre os que permaneciam em Judá. A data destes acontecimentos já foi definida como 3417. O primeiro jejum do 5º mês foi então em 3418. Em 3487 terá ocorrido o 70º jejum. A pergunta é feita no 9º mês, portanto ainda neste ano de 3487, que é então o 4º ano de Dario.
Esta informação, acrescida de outra referência a 70 anos (Zc1:12) permite-nos calcular a data do 2º ano de Dario, ano em que se lançaram os fundamentos da casa de Deus.
Na visão do dia 24 do 11º mês do 2º ano de Dario, o anjo do Senhor faz uma pergunta: Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais estás indignado faz já 70 anos (Zc 1:12)?
Se 3487 AH corresponde ao 4º ano de Dario, então 3485 é o 2º ano de Dario. A destruição de Jerusalém ocorreu no 11º ano de Zedequias. No 9º ano de Zedequias, no 10º mês tinha começado o cerco à cidade. Este é outro período de 70 anos.
Vemos assim que há vários períodos de 70 anos: 1) do 3º ano de Jeoaquim com o desterro dos primeiros judeus ao decreto de Ciro, autorizando o regresso dos exilados; 2) do início do cerco a Jerusalém ao 2º ano de Dario, quando são lançados os fundamentos do templo; 3) da destruição de Jerusalém ao 4º ano de Dario.

3489 AH – 6º ano de Dario

Será por volta do 10º mês que Ester foi levada à casa do rei Assuero/Dario, onde havia de ser cuidada por 12 meses (Es 2:12), para cumprir os dias do seu embelezamento, antes de ser levada ao rei.

Assim os judeus edificaram a casa e a terminaram no sexto ano de Dario (23 anos depois do regresso), no terceiro dia do mês de Adar, que é o 12º mês.

3490 AH – 7º ano de Dario
Celebraram a dedicação da casa (Ed 6:16-18), que deve ter tido lugar no mês seguinte, que é o 1º mês (Abib) do ano seguinte, à semelhança do que disse Deus a Moisés relativamente ao tabernáculo: No primeiro dia do primeiro mês levantarás o tabernáculo da tenda da congregação (Ex 40:2). E também celebraram a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos (Ed 6:19-22).
Durante todo este tempo, Zorobabel era governador. Foi ele que lançou os alicerces e acabou a casa (Zc 5:9).