14/09/2014

A BATALHA DE JERICÓ – controvérsia cronológica (2)

Embora a arqueologia comprove a veracidade da história bíblica, não há consenso quanto à cronologia da sua ocorrência.

Baseando-se nas conclusões das escavações mais recentes da arqueóloga inglesa Kathleen Kenyon, a maioria dos historiadores hoje defende que não existia nenhuma cidade em Jericó na época em que Josué era suposto conquistá-la!
Como chegaram a esta conclusão?

Devido à sua importância na história bíblica, Jericó – o sítio de Tell-es-Sultan - foi o segundo lugar em Israel, depois de Jerusalém, a ser alvo de escavações arqueológicas.
A primeira grande escavação em Jericó foi conduzida por uma expedição austro-alemã entre 1907 e 1911. O arqueólogo Carl Watzinger concluiu que Jericó não era ocupada (muito menos fortificada) na Idade do Bronze tardia (ca 1550-1200 a.C), altura em que Israel apareceu pela primeira vez em Canaã.

Nos anos 1930, o arqueólogo inglês John Garstang questionou estes resultados. Garstang foi o primeiro investigador a usar métodos modernos, embora ainda rudimentares quando comparado com as normas atuais. Escavou um muro ruído e uma área residencial, que designou de City IV, que foi violentamente destruída. Garstang concluiu que City IV foi destruída ca. 1400 a.C., baseando-se na cerâmica encontrada nos detritos da destruição e escarabeus egípcios encontrados em túmulos próximos, e na ausência de cerâmica micénica. Ele atribuiu a destruição aos israelitas.
As conclusões de Garstang precipitaram a controvérsia.

Recordemos que a maioria dos estudiosos apoia uma de duas datas para o êxodo, uma mais antiga que coloca o êxodo na 18ª dinastia do Egipto (ca.1450), ou outra mais recente, na 19ª dinastia (ca. 1260 a.C.).

Uns anos mais tarde, Garstang pediu a Kathleen Kenyon para rever e atualizar as suas descobertas. Ela escavou em Jericó na década de 1950, tendo introduzido técnicas rigorosas de escavação estratigráfica, análise pormenorizada de solos e camadas de detritos e um registo cuidadoso. Ela chegou mais ou menos à mesma conclusão que Watzinger. De acordo com Kenyon, a destruição da City IV de Garstang ocorreu, não cerca 1400 a.C., mas no final da Idade do Bronze média, cerca de 1550 a.C., isto é 150 anos antes. Portanto, se Jericó foi destruída em 1550 a.C. não haveria em 1400 a.C. uma cidade sequer para Josué conquistar. Nem na 18ª, nem na 19ª dinastia, portanto. As provas arqueológicas estavam, mais uma vez, aparentemente, em conflito com o relato bíblico. O que só tem ajudado a desacreditar o relato bíblico e a relegá-lo ao mito.

A publicação final da escavação feita por Kenyon só ficou disponível em 1982-83, já depois da sua morte. Com estes novos dados, Bryant Wood tentou fazer uma avaliação independente das conclusões de Kenyon (Wood, 1990).
Bryant Wood conclui que de facto existia uma cidade murada em Jericó até cerca de 1400 a.C., quando foi destruída, concluindo que Garstang estava certo, Kenyon não.

A crítica de Wood em relação à Kenyon prende-se com a sua metodologia. Kenyon baseou a sua opinião quase exclusivamente na ausência de cerâmica importada de Chipre e que era muito comum para o período do Bronze tardio (c.1550-1400). Embora mencione certos tipos de cerâmica usados nesse período, ela dá pouca importância a estas formas domésticas que aparecem regularmente nas fases finais da City IV e que foram encontradas em quantidade considerável para se poder trabalhar. Em vez disso, Kenyon preferiu enfatizar as cerâmicas importadas para tecer as suas conclusões cronológicas. Kenyon baseou a sua análise naquilo que não encontrou e não naquilo que encontrou. De acordo com ela, City IV deve ter sido destruído ca 1550 a.C. porque não encontrou cerâmica cipriota em Jericó. Ela comparou Jericó com grandes cidades como Megido situada nas principais rotas de comércio. Jericó, pelo contrário, era um sítio pequeno e bem longe das grandes rotas. 
Uma análise dos relatórios de Garstang e Kenyon mostra que ambos escavaram num bairro pobre da cidade onde apenas encontraram habitações modestas. Porque então alguém esperaria encontrar cerâmica exótica importada neste tipo de ambiente? Na opinião de Wood, tem de se dar atenção à cerâmica doméstica ordinária que se encontrou em abundância.

Outra crítica de Wood a Kenyon é a associação que ela fez da destruição da City IV com a expulsão dos hicsos do Egipto em ca. 1570 a.C. Kenyon defende que não só Jericó mas outras cidades na região terminaram nas mãos dos hicsos ou dos egípcios em campanhas de perseguição aos hicsos quando estes foram expulsos do Egipto onde anteriormente governavam.
Aqui temos de lembrar que a 18ª dinastia foi a que se seguiu ao tempo de ocupação dos hicsos, tendo conseguido expulsá-los do Egipto. O primeiro dos faraós desta 18ª dinastia foi Amósis, seguido de Amenotepe, seguido de Tutmés, o faraó do êxodo (na opinião dos defensores da 18ª dinastia).

Wood terá razão quando diz que Jericó não pode ter sido ser destruída pelos egípcios. As descobertas feitas em Jericó comprovam-no. Nos restos queimados da City IV, tanto Garstang como Kenyon encontram muitos vasos que armazenavam grãos, indicando que havia muito alimento na cidade quando foi destruída. Isto é contrário ao que se sabe das táticas militares egípcias. As campanhas egípcias costumavam fazer-se antes do tempo da ceifa, quando a reserva de alimentos na cidade estaria no seu nível mais baixo. Os egípcios poderiam usar o produto dos campos para alimentar o seu exército, e destruir o que não queriam, aumentando ainda o sofrimento e as dificuldades para a população indígena. Isto não foi o caso em Jericó. Além disso, a estratégia egípcia para conquistar uma cidade fortificada seria através de um cerco longo. A grande provisão de alimento em Jericó indica que a cidade sucumbiu rapidamente, não depois de um longo cerco, e ocorreu depois do tempo da ceifa e não antes.
Por outro lado, Kathleen Kenyon poderá não estar muito longe da verdade. Recordemos a tese de Velikovsky, que temos apresentado, e que situa o êxodo muito antes, no final da 13ª dinastia (Império Médio), coincidindo com a invasão do Egipto pelos hicsos, isto é, os amalequitas (ver a mensagem sobre o êxodo e os amalequitas). Simultaneamente com a saída dos israelitas do Egipto, os hicsos/amalequitas dirigiam-se para o Egipto, eventualmente causando grande destruição pelo caminho. As conclusões de Kenyon estão em acordo com a cronologia defendida por Velikovsky em Ages in Chaos. Os israelitas chegaram a Jericó apenas uma geração depois do fim do Império Médio no Egipto, portanto ainda na Idade do Bronze Médio (http://www.varchive.org/ce/jericho.htm).

Entre as linhas de prova que Wood apresenta em defesa da conclusão de Garstang - destruição da City IV em aprox. 1400 a.C. no final do que os arqueólogos chamam a Idade do Bronze Final I -, estão os objetos de cerâmica, escarabeus egípcios e a datação por radiocarbono. 
Foi feito, pelo British Museum, um teste do carbono-14 numa peça de madeira queimada encontrada nas ruinas. Foi datada 1410 a.C., com uma margem de 40 anos para mais ou para menos. Mais tarde, este valor foi considerado um erro e corrigido para uma data muito anterior 1590 ou 1527 +/- 110 B.C. Testes adicionais noutras amostras de cereal e carvão resultaram em datas entre 1690 e 1520, outros de 1347 +/- 85 anos. Estas diferenças de valor encontradas só parecem provar que a datação por radiocarbono não é muito fiável. Por causa destas inconsistências, a maioria dos arqueólogos preferem datas históricas a datas C14.

Os escarabeus são itens com importância cronológica. São pequenos amuletos egípcios na forma de um escaravelho e com uma inscrição na base (por vezes o nome de um faraó). Num cemitério a noroeste da cidade, Garstang encontrou uma série contínua de escarabeus estendendo-se do século 18 a.C. (13ª dinastia) ao século 14 a.C. (18ª dinastia). Estes últimos incluem nomes reais – Hatshepsut, Tutmés III, e Amenotepe III. A natureza contínua desta série de escarabeus sugere que o cemitério foi usado ativamente até ao fim do período de Bronze Final I. Isto contradiz Kenyon quando disse que a cidade foi abandonada depois de 1550.
Por outro lado, a presença de escarabeus do tempo de Hatshepsut, Tutmés e Amenotepe (18ª dinastia), se parece apoiar a data de Garstang e os defensores da data mais antiga do êxodo, parece agora contradizer a tese de Velikovsky de que o êxodo e a conquista de Jericó tiveram lugar muito mais cedo no final da 13ª dinastia. Mas já veremos o que Velikovsky tem para dizer sobre esta questão.

Entretanto, que concluímos nós destas contradições?
Wood data a destruição de Jericó ca. 1400 a.C. Para comparação, a data que Nolen Jones apresenta na sua cronologia (e que temos seguido e apoiado até agora) revela-se muito próxima da data defendida por Garstang e Wood: 1441 a.C. Porém, a datação de Wood fundamenta-se na cerâmica, a qual, por sua vez, está baseada na cronologia egípcia que o coloca na 18ª dinastia.

A data ca.1400 a.C. está próxima da data a que chegámos com os cálculos baseados na informação bíblica, mas as razões alegadas por Wood e Garstang baseados na cerâmica e nos escarabeus egípcios poderão não estar corretas, se Velikovsky e os revisionistas tiverem razão. A cronologia egípcia está fundamentalmente errada, por isso as conclusões baseadas na cerâmica e nos escarabeus não serão válidos.
Quanto a Kenyon, embora acerte com o período dos hicsos, a data que ela avança é demasiado cedo com os nossos cálculos baseados na Bíblia.

Outra questão é: como explicar a presença de escarabeus da 18ª dinastia se Jericó foi destruída durante o governo dos hicsos (14ª dinastia) e depois abandonada?

Velikovsky explica esta presença (ver artigo disponível em http://www.varchive.org/ce/jericho.htm)

Josué proclamou uma maldição sobre quem reedificasse Jericó: - Naquele tempo Josué fez o povo jurar e dizer: Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó: com a perda do seu primogénito lhe porá os fundamentos, e à custa do mais novo, as portas (Jos 6:26).
Durante cerca de cinco séculos não houve nenhuma tentativa de reconstruir a cidade maldita por Josué. No século 9 a.C., nos dias de Acabe, rei de Samaria, uma certo Hiel edificou Jericó. – Em seus dias [de Acabe] Hiel, o betelita, edificou a Jericó; quando lhe lançou os fundamentos, morreu-lhe Abirão, seu primogénito, quando lhe pôs as portas morreu Segube, seu último, segundo a palavra do Senhor, que falara por intermédio de Josué, filho de Num (1 Rs 16:34).
Segundo Velikovsky, não é de admirar que que os edifícios erigidos no tempo de Acabe e os túmulos encontrados nas escavações de Garstang e Kenyon datem do tempo de Amenotepe III e IV (Akhenaton) da 18ª dinastia, que eram contemporâneos de Acabe. Contrariamente a outros historiadores, Velikovksy é de opinião que na coleção de cartas de El-Amarna (capital de Akhenaton) há mais de 65 cartas de Acabe dirigidas a estes faraós. A reocupação de Jericó cerca de 600 anos depois da sua destruição é, para Velikovksy, um claro caso de completo acordo entre a arqueologia e o registo escrito.
E trata-se de mais uma evidência de que o êxodo não teve lugar na 18ª dinastia mas muito antes.
Sobre as cartas de el-Amarna havemos de voltar em tempo.

DE JOSUÉ A SALOMÃO (5) - Juizes

Os cálculos que temos efetuado para o período de Josué-Juízes baseiam-se no valor dado em 1 Reis 6:1, de 480 anos, para o tempo desde o êxodo até ao 4º ano de Salomão em que se iniciou a construção do templo.

Também vimos que a declaração de Jefté dos 300 anos (Jz 11:26) sustenta os 480 anos (1 Rs 6.1), constituindo de facto a chave cronológica para o período dos Juízes. Permite resolver o fosso entre a entrada em Canaã e a divisão da terra sob Josué e o início da opressão de Cusâ-Risataim. E divide todo o período em dois, de modo que uma solução possa ser encontrada.
A solução que encontrámos nas mensagens anteriores pareceu-nos clara e simples, e razoável.

Há, porém, outro versículo - Atos 13:20 – que, aparentemente, contradiz a solução encontrada baseada em 1 Rs 6.1:
Atos 13:17-21 (Ferreira de Almeida edição revista e corrigida 1968) – O Deus deste povo de Israel escolheu os nossos pais, e exaltou o povo, sendo eles estrangeiros na terra do Egipto; e com braço poderoso os tirou dela: E suportou os seus costumes no deserto, por espaço de quase quarenta anos. E, destruindo sete nações, na terra de Canaã, deu-lhes por sorte a terra deles. E, depois disto, por quase quatro centos e cinquenta anos, lhes deu juízes, até ao profeta Samuel. E depois, pediram um rei, e Deus lhes deu, por quarenta anos, a Saúl …

Segundo o v.20, e isto tem constituído um problema cronológico sério para muitos, a duração do tempo dos Juízes (só Juízes) seria de 450 anos, enquanto segundo 1 Rs 6:1 são apenas 323 anos desde a morte dos anciãos até ao início do reinado de Saul. O período total desde o êxodo até ao 4º ano de Salomão seria então pelo menos 581 anos (40 (deserto) +7 (guerras até à divisão da terra) + 450 (juízes) + Saul (40) + David (40) + 4 = 581), em vez de 480. Trata-se de uma cronologia mais longa.
Como resolver esta contradição? Trata-se de uma contradição? Resolvemos a situação corretamente? Ou temos de rever o nosso cálculo?

A solução, na realidade, é simples. Outras versões da bíblia, com uma tradução ligeiramente diferente do v.20 (nomeadamente, a New International Version (NIV), o English Standard Bible (ESB) e uma versão de Ferreira de Almeida que utilizo, (mas o uso fez desaparecer a página com as referências) lançam alguma luz sobre o assunto. E a própria cronologia, que temos seguido até agora, confirma.
A mesma passagem que citámos acima (At 13: 17-21) lê assim:

O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais, e exaltou o povo durante sua peregrinação na terra do Egipto, donde os tirou com braço poderoso; e suportou-lhes os maus costumes por cerca de 40 anos no deserto; e, havendo destruído sete nações na terra de Canaã, deu-lhes essa terra por herança, vencidos cerca de 450 anos. Depois disto lhes deu juízes até o profeta Samuel. Então eles pediram um rei, …
Nesta tradução lê-se que, vencidos cerca de 450 anos, ou seja, depois de passados 450 anos, Deus deu-lhes a terra por herança., e depois deu-lhes juízes. Temos, portanto, que contar para trás 450 anos.

Já o Bispo Ussher tinha chegado à seguinte conclusão:
Os 450 anos de Atos 13:20 não se referem à duração do tempo de Juízes, mas ao tempo desde que “o Deus deste povo escolheu os nossos pais”(v.17) até ao tempo em que lhes deu Juízes.

Quando é que podemos datar a escolha? Remete-nos a Abraão e Isaque, certamente.
Vejamos.

Já definimos que em 2559 AH se deu a divisão da terra entre as tribos por sorte, depois de destruídas 7 nações (At 13:19). 2559 menos 450 anos dá 2109. Segundo a nossa cronologia, em 2108 nasceu Isaque; em 2113 Isaque foi desmamado e Abraão deu um grande banquete (Gn 21:8) e Deus confirma que “em Isaque será chamada a tua semente” (Gn 21:12). Isaque era a semente escolhida com quem Deus ia estabelecer a sua aliança (Gn 17:19, 21). Tanto um evento como outro  -o nascimento ou o banquete - corroboram os cerca de 450 anos de Atos 13:20.
Além disso, o número de gerações neste período de tempo, como aparecem em algumas genealogias, impedem uma cronologia longa.

Resumimos o que escreve Nolen Jones (p.75):
Aminadabe, descendente de Judá, tinha um filho chamado Naasson e uma filha Eliseba, que casou com Aarão (Ex 6:23). Naasson era contemporâneo de Moisés e líder (príncipe) da tribo de Judá na altura do êxodo (Num 1:7; 2:3; 7:12; 10:14). Salmon, seu filho, entrou na terra de Canaã com Josué e casou com Raabe (que escondeu os espias em Jericó, Mt 1:5). Salmon pertencia à nova geração (visto que não morreu no deserto); ainda não teria nascido, ou de qualquer modo teria menos de 20 anos quando se fez o primeiro censo onde contaram todos que tinham mais de 20 anos de idade (Num 1). Salmon gerou Boaz; Boaz (com Rute), gerou Obede; Obede gerou Jesse; e Jessé é o pai de David. Jessé era vivo no tempo de Samuel e Saul (1 Sam 16:1-5). Isto significa que o tempo desde a entrada em Canaã até ao último Juiz e primeiro rei cobre as vidas de apenas 4 homens: Salmon, Boaz, Obede e Jessé.

Um cenário de 480 anos (solução 1Rs 1:6), com apenas 4 vidas para preencher o tempo e assumindo que Salmon tivesse cerca de 20 anos na altura da entrada em Canaã, requer que Salmon tenha gerado Boaz com cerca de 100 anos de idade. Também Boaz terá gerado Obede por volta desta idade (pelo texto de Rute entende-se que já não era mancebo da idade dela; Rute 3:10). Jesse teria gerado David com cerca de 86 anos de idade, e ter sido cerca de 100 quando David (15 anos) foi ungido por Samuel. Idades comparativas dos contemporâneos que atingiram idades elevadas: Moises 120, Aarão 123, Josué 110, Eúde ca. 110, Eli 98 e David, “velho” com 70 anos de idade. O tempo de vida começou a diminuir gradualmente depois do dilúvio, e no tempo de David chegou finalmente à expectativa de vida atual. Mas mesmo este cenário exige uma série de nascimentos quase milagrosos com a gestação de filhos aos 100 anos. Um cenário com um tempo mais longo ainda (450 anos para apenas o tempo de Juízes, segundo uma certa interpretação de At 13:20) seria totalmente impossível.
Encontramos um resultado semelhante na genealogia de Moisés (1 Cron 26:24-28) através do seu segundo filho, Eliezer, até Selomith, que tinha a cargo os tesouros de David. Um cenário possível indica que cada um dos descendentes de Moisés terá tido um filho por volta de 80 anos de idade (solução curta). A solução longa significaria expandir para 110 a idade de gestação do filho, neste caso, e para 130 no caso dos descendentes de Judá. Não são valores razoáveis quando comparados com a duração de vida naquela época da história.

Naasson
Salmon
Boaz
Obede
Jessé
David
Moisés
Eliezer
Reabias
Isaías
Jorão
Zicri
Selomith

 

Concluindo:
1 Rs 6:1 é claro na sua identificação da duração do tempo e permite uma solução razoável da cronologia.

Atos 13:20 apresenta traduções diversos. Um princípio da hermenêutica é sempre de preferir um versículo claro que não permite outra leitura sobre um versículo cujo contexto é ambíguo ou de difícil interpretação. Os 450 anos referidos neste versículo dizem respeito aos anos passados desde a concretização da escolha de Deus em Isaque até ao tempo de Juízes.

06/09/2014

A BATALHA DE JERICÓ (1)

As descobertas arqueológicas (nomeadamente, de John Garstang entre 1930-36 e de Kathleen Kenyon na década de 1950) apoiam em todos os detalhes a precisão histórica do relato bíblico no livro de Josué (ver Wood, 1990).

Há claras evidências de uma destruição violenta da cidade.
Os arqueólogos encontraram muros que colapsaram para o lado de fora. Os muros não foram derrubados de fora para dentro - o que teria sido o caso se tivessem sido derrubados pelos invasores – os israelitas -, mas os muros ruíram para fora (Jos 6:20). Assim, criaram uma rampa de tijolos que permitiram aos israelitas subirem à cidade, cada qual em frente de si (Jos 6:20).

As descobertas de Kathleen Kenyon provam que os muros de Jericó efetivamente ruíram.  Além disso, ela descreve que a cidade foi também queimada, e isto depois de terem ruído os muros, exatamente como a Bíblia relata (Jos 6:24):

«The destruction was complete. Walls and floors were blackened or reddened by fire, and every room was filled with fallen bricks, timbers, and household utensils; in most rooms the fallen debris was heavily burnt, but the collapse of the walls of the eastern rooms seems to have taken place before they were affected by the fire» (citado por Wood, 1990).

A queda do muro da cidade pode bem ter sido resultado de um tremor de terra. Há amplas evidências de atividade sísmica naquela região e época. Jericó é localizado no vale do Jordão, uma região instável onde tremores de terra são frequentes.

Além de cerâmica, o item que foi encontrado em maior quantidade nas escavações foi cereal. Garstang e Kenyon encontraram grandes quantidades de cereais armazenados nas casas. O que é um caso excecional na arqueologia da Palestina. Que conclusões tirar desta ampla presença de cereal?
A presença destas quantidades de cereais na cidade destruída é consistente com o relato bíblico. Demonstra que a cidade não caiu em consequência de um cerco de longa duração. Foram apenas sete dias de acordo com a Bíblia.  Cereais eram um bem precioso na antiguidade. A colheita de um ano tinha que durar até à próxima ceifa. Normalmente, os cereais seriam pilhados pelos conquistadores. Aqui, porém, a grande quantidade de grãos encontrados nas ruinas é consistente com o mandamento de Deus de que nada na cidade podia ser tomado, a não ser metais preciosos para o tesouro da casa do Senhor (Jos 6:24). Os israelitas foram proibidos de saquearem a cidade, o que explicaria a presença do cereal.

A quantidade de cereais encontrada indica também que tinha sido recentemente colhido. De facto, estava-se na época da ceifa quando os israelitas passaram o Jordão (Jos 3:15 – o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da sega).
Um outro aspeto que comprova a veracidade da história bíblica tem a ver com a localização estratégica do local. A partir de Jericó há acesso ao coração de Canaã. Qualquer força militar tentando penetrar na região montanhosa central desde o oriente teria, necessariamente, de tomar primeiro Jericó. O que Josué e os Israelitas fizeram.

Tudo isto parece não deixar dúvidas quanto à veracidade histórica da batalha de Jericó. A arqueologia comprova o relato bíblico.
No entanto, a datação tem constituído, e permanece para muitos, um problema, tanto no meio cristão tradicional como no meio académico. A cronologia bíblica está mais uma vez em conflito com a cronologia correntemente aceite. O problema é o mesmo que já abordámos em mensagens anteriores em relação à data do êxodo.

Continuação na próxima mensagem.


Bibliografia
Bryant G. Wood. (1990). Did the Israelites Conquer Jericho? A New Look at the Archaeological Evidence. Biblical Archaeology Review, Vol. XVI, No. 2, March/April 1990, pp. 44-58. Acedido em 11-07-2014  http://www.biblearchaeology.org/post/2008/05/01/Did-the-Israelites-Conquer-Jericho-A-New-Look-at-the-Archaeological-Evidence.aspx