24/12/2014

O NASCIMENTO DE SALOMÃO REVISITADO

Quando nasce Salomão? Que idade tinha quando começou a reinar? São duas perguntas sem resposta clara nas Escrituras.

Em geral, Salomão é considerado o segundo filho de David e Bate-Seba, atendendo à ordem da narrativa. Alguns apontam para uma contradição: 2Sam 5:14 e 1Cr 3:5 dão a entender que Salomão foi o quarto filho. Também há desacordo quanto à idade de Salomão quando começou a reinar. Opiniões variam entre muito jovem, 15-16 anos, e jovem adulto de cerca de 23 anos.

Duas passagens chamaram a minha atenção: 2 Samuel 5:14-16 e 1 Crónicas 3:5, que contêm a lista dos filhos de David.
Primeiro são elencados, em ordem de nascimento, os filhos que lhe nasceram em Hebron. Logo a seguir, os quatro filhos que David teve com Bate-Seba.

1Cro 3:5 – Estes lhe nasceram em Jerusalém: Siméia, Sobabe, Natã e Salomão; estes quatro lhe nasceram de Bate-Sua, filha de Amiel.
Nesta lista, Salomão vem mencionado como último dos quatro filhos que Bate-Seba deu a David.

No entanto, pela sequência da narrativa em 2 Samuel 12, parece que Salomão é gerado pouco depois da morte da criança que nasceu do adultério de David e Bate-Seba (2 Sam 12:13-25).
Praticamente todos os comentários, incluindo Matthew Henry, Fausset, Jamieson & Brown, e também James Ussher, assumem sem qualquer interrogação que Salomão é o segundo filho de Bate-Seba (a seguir à criança que morreu), apesar de o seu nome ser mencionado em último. No entanto, quando olhamos para a lista dos filhos de David em 2 Samuel 5:14-16 e 1 Crónicas 3:5, isto não é assim tão evidente.

Floyd Nolen Jones faz uma pequena referência à possibilidade de Salomão ser o quarto filho, mas não desenvolve o assunto. Também a International Standard Bible Encyclopaedia refere Salomão como quarto ou quinto filho de Bate-Seba.
Podemos adotar como corretas as listas em 2 Samuel 5:14-16 e 1 Crónicas 3:5? Que elementos apoiam isto?

A lista no versículo anterior, dos 6 filhos nascidos em Hebron, insiste nitidamente na ordem de nascimento dos filhos (2Sam 3:2-5; 1Cro 3:1-4): Amnon, o primogénito, de Ainoã, a jezreelita. Quileabe (ou Daniel), o segundo, filho de Abigail, viúva de Nabal (1Sam 25) (Ainoã e Abigail já eram mulheres de David no tempo em que fugia de Saul.) Absalão, de Maaca, que era filha de Talmai, rei de Gesur. O terceiro. Adonias, filho de Hagite, o quarto. Sefatias, filho de Abital, o quinto e Itreão, filho de Eglá, o sexto.
Porque é que, no versículo seguinte, a ordem natural seria de repente invertida? Não parece fazer muito sentido.

Outro versículo que chamou a minha atenção, neste contexto, é 2 Samuel 13:37-39.
Possivelmente 2 Samuel 13:37-39 traz indícios de que Salomão é efetivamente o filho mais novo de Bate-Seba. Já veremos porquê. Precisamos para isso de ver a história de Amnon e Absalão, onde começam os problemas de David com os filhos. Como consequência do adultério de David com Batseba e o assassinato de Urias, David entra numa época de grandes problemas. “Agora, pois não se apartará a espada jamais da tua casa … (2Sam 12:10-12).

Amnon era o primogénito de David e, por isso, o natural herdeiro do trono.
Mas Amnon é assassinado, por ordem de Absalão, por vingança do crime contra Tamar, irmã de Absalão, isto 2 anos depois do acontecimento (2 Sam13).

Absalão fugiu, foi ter com Talmai (avô materno de Absalão), filho de Amiur, rei de Gesur. Absalão esteve 3 anos em Gesur.
Entretanto, David pranteava a seu filho Amnon todos os dias. Então (depois de perto de 3 anos aparentemente) David cessou de perseguir a Absalão, porque já se tinha consolado acerca de Amnon, que era morto (2Sam 13:39). Não terá David ficado consolado porque lhe nasceu finalmente o sucessor prometido?

Se o episódio de Amnon e Tamar teve lugar pouco depois da morte da primeira criança de David e Bate-Seba, e se Salomão é o quarto filho, no nascimento dele terão passado pelo menos 3 anos depois da morte da criança de Bate-Seba. Mas, entretanto, passaram quase 5 anos desde o episódio Amnon-Tamar até David ter ficado consolado acerca de Amnon: o assassinato de Amnon a mando de Absalão tem lugar 2 anos depois do episódio Amnon-Tamar, e Absalão está 3 anos em Gesur. O que deixa tempo suficiente para o nascimento dos filhos de Bate-Seba e de Salomão, o último.
Geralmente é assumido que o episódio de Amnon e Tamar ocorre depois do nascimento de Salomão. Mas, com esta hipótese, ocorre antes. Salomão nasce depois da morte de Amnon.

Quando Salomão nasceu, David deu-lhe o nome, Salomão (2Sam 12:24). David deu-lhe este nome em cumprimento de uma palavra do Senhor quando ele teve a intenção de levantar uma casa ao nome do Senhor: Eis que te nascerá um filho, que será homem sereno, porque lhe darei descanso de todos os seus inimigos em redor; portanto Salomão será o seu nome; paz e tranquilidade darei a Israel nos seus dias. Este edificará casa ao meu nome; ele me será por filho e eu lhe serei por pai; estabelecerei para sempre o trono do seu reino sobre Israel (1Cro 22:6-10). Quando nasceu e David lhe deu o nome, ele terá tido consciência de que este filho seria o seu sucessor (1Cro 28:5-7).
E terá ficado consolado…

É uma hipótese. Precisamos de ver se é cronologicamente viável.
Entendemos pelo texto que Salomão ainda era jovem quando começou a reinar. Quando David o apresenta à congregação, é ainda moço e inexperiente (1Cro 22:5; 29:1). Salomão diz na sua oração “não passo de uma criança” (1Rs 3:7). Salomão era jovem, mas David diz que “é homem prudente” (1Rs 2:9), e os seus primeiros atos manifestam já uma maturidade. Além disso, ele já tinha um filho pequeno quando começou a reinar. Roboão tinha 41 anos quando começou a reinar (1Rs 14:21), e Salomão reinou 40 anos. Ussher coloca o nascimento de Salomão em 2971. Se David morreu no ano 2989 aproximadamente, isto dá-lhe 18 anos. Nolen Jones situa-o em 2968, dando a Salomão 21 anos quando começou a reinar.

Mas como não nos é dado quando exatamente Salomão nasceu, precisamos de encontrar outros pontos cronológicos.
Depois de morto Amnon, Absalão passou 3 anos em Gesur. Joabe fez Absalão regressar a Jerusalém, mas David não o quis ver. Assim ficou ainda 2 anos em Jerusalém sem ver a face do rei. Finalmente, o rei chamou a Absalão, e o rei beijou a Absalão. Significando reconciliação? Ou mais, a indicação de que seria o próximo na linha de sucessão? De qualquer modo, Absalão começa a ganhar o povo para ele. “Furtava o coração dos homens de Israel” (2Sam 15:6).

“Ao cabo de quarenta (versões modernas dizem quatro) anos” (Sam 15:7), Absalão toma providências secretas para ser proclamado rei à revelia de David. Um versículo difícil. Que significam estes 40 anos? Outras versões dizem 40 dias, outras, 4 anos.
A versão siríaca lê “ao cabo de 40 dias”. 40 dias é considerado um erro por ser um tempo curto demais para Absalão ganhar para si os corações de Israel. Muitas traduções modernas dizem “quatro anos”, como Flávio Josefo. Quatro anos depois do regresso de Absalão a Jerusalém, ou depois de David o ter recebido, é um tempo aceitável para Absalão furtar os corações do povo e procurar proclamar-se rei.

Mas, todos os manuscritos hebraicos existentes leem “quarenta anos”. 40 em hebraico é representado pelas letras «aleph-resh-beth-ain-jod-mem», e é bastante diferente de 4 (as letras aleph-beth-resh-ain). Se é o texto hebraico que devemos ter em consideração (ver mensagens iniciais sobre a preservação do texto), trata-se então de saber: quarenta anos depois de quê?
40 anos para trás leva-nos ao reino de Saul. Floyd Nolen Jones encontra a explicação no contexto, em 2Sam 15:6 – ele furtava o coração dos homens de Israel. Isto é, Absalão furtou os corações que pertenciam a David e ganhava-os para ele, 40 anos depois que David ganhou os corações furtando-os a Saul. Quando é que David ganhou os corações e ligou a si os corações dos homens de Israel? Quarenta anos antes, começando pela vitória sobre o gigante filisteu, Golias, continuando pela sucessão de vitórias nos meses seguintes (1Sam 18:5,16,30).

AH 2937, aproximadamente, era a data da vitória de David sobre Golias, tendo David 18 anos.
40 anos depois é o ano de 2977. Isto permite-nos saber a idade de David na altura da rebelião de Absalão: 58 anos

A pergunta agora é: esta data permite que Salomão tenha idade suficiente para começar a reinar?
Devemos deduzir pelo menos os 2 anos que Absalão esteve em Jerusalém sem ver o rei, depois de voltar de Gesur, quando David cessou de perseguir Absalão porque já se tinha consolado, devido ao nascimento de Salomão (nossa hipótese). Depois de Absalão ter sido recebido por David, fez aparelhar para si um carro e cavalos …e começou ativamente a desviar o povo a seu favor (2Sam 15:1-6). Mas não sabemos quanto tempo isto durou até ganhar poder suficiente para tomar a iniciativa de reunir o povo em Hebron (2Sam 15:7-12) de tal modo que David teve de fugir de Jerusalém.

Portanto, este caminho não nos permite saber a idade de Salomão.
Ussher aponta o ano de 2969 para o adultério de David, Floyd Nolen Jones aponta para 2967 (ambos colocam o nascimento de Salomão no ano seguinte). Se adicionarmos o tempo da vingança de Absalão contra Amnon e o tempo passado em Gesur – cerca de 5 anos – isto traz o nascimento de Salomão para 2972 (2967 + 5) aproximadamente. Neste caso, Salomão teria 17 anos quando começou a reinar (ele começou a reinar em 2989). O que não me parece impossível. Teria mais ou menos a mesma idade que David quando este derrotou Golias.

Podemos comparar também com outro rei de Judá: Josias (2 Crónicas 34:1-3). Josias, no 8º ano do seu reinado, sendo ainda moço, isto é, tinha 16 anos, começou a buscar o Deus de David. No 12º ano começou a purificar Judá e Jerusalém dos atos, dos postes-ídolos e das imagens de escultura e fundição. Ainda jovem, também mostrou um grande amor ao Senhor e uma maturidade nas ações.
Concluindo: revisitámos o nascimento de Salomão. Apresentámos uma hipótese, porém, não conseguimos reunir elementos suficientes para a defender inequivocamente.

30/11/2014

DAVID. Elementos cronológicos

Saul começou a reinar em 2909 AH. Reinou 40 anos (At 13:21).

David tinha 30 anos quando começou a reinar (2Sam 5:4). Nasceu, portanto, no 10º ano do reinado de Saul.
Isto revela que há uma enorme diferença de idade entre Jónatas e David. Jónatas já era um guerreiro no exército quando Saul começou a reinar, ou pelo menos no segundo ano (1Sam 13:3), significando que tinha pelo menos 20 anos de idade. Assumindo que David derrotou Golias quando tinha aproximadamente 18 anos, Jónatas teria cerca de 48 anos nessa altura, quando os dois fizeram aliança.

Isto leva-nos à questão da idade de David quando enfrentou Golias.
Não nos é dito que idade David tinha quando foi ungido por Samuel no seio da sua família. Tinha idade suficiente para estar sozinho no campo para guardar as ovelhas, mas não entrava em linha de conta aos olhos da sua família, porque não estava em casa com todos os seus irmãos quando Jessé foi convidado por Samuel ao sacrifício (1Sam 16:1-13).

Quando David é chamado para tocar harpa para Saul, porque este era atormentado por um espírito maligno (1Sam 16:14-23), David é descrito como “forte e valente, homem de guerra, sisudo em palavras, de boa aparência”. Esta não é uma descrição de um rapaz de 15 anos como geralmente apresentado, embora tivesse certamente menos de 20 anos porque não estava alistado no exército.
Nessa altura, foi feito escudeiro de Saul (1Sam 16:21). Há quem defenda que esta passagem deveria aparecer cronologicamente depois do episódio de Golias. Um escudeiro estaria com um oficial como ajudante na batalha, como por exemplo em Jz 9:54, 1Sam 14:6-7; 31:6. Floyd Nolen Jones pensa que o versículo deve ser interpretado como David estando “em formação”, sendo treinado, não havendo naquela passagem qualquer referência a David estando alistado para a guerra.

David ia a Saul para tocar harpa para ele, e voltava para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém (1Sam 17:15), quando os filisteus se juntaram e Golias desafiou Israel. Apenas os três filhos mais velhos de Jessé seguiam Saul. David, não. Como “homem de guerra, forte e valente” estaria certamente no exército se tivesse mais de 20 anos. O que também é comprovado pela reação zangada dos irmãos em relação ao aparecimento de David no local da batalha (1Sam 17:28-29). Não faria sentido se tivesse idade suficiente.
David teria na altura menos de 20 anos, mas não muito menos.

David matara um leão e um urso quando apascentava as ovelhas (1Sam 17:34-37). Jones alega que Jessé, que era um pastor experimentado que conhecia bem os perigos e animais selvagens, não enviaria um rapaz pequeno, digamos 10-14 anos sozinho, a guardar o gado nestas circunstâncias. E David estava sozinho nessas ocasiões. Foram estas ações que lhe valeram a recomendação dos servos de Saul, de que era “forte e valente, homem de guerra”.
David é descrito e visto como “moço” (1Sam 17:33,42) quando comparado com Golias, um guerreiro experimentado e fisicamente forte. Mas não é demasiado pequeno ou franzino para experimentar a armadura de Saul. E Saul era um homem de estatura mais alta que a média, que “sobressaia de todo o povo do ombro para cima” (1Sam 10:23). David vestiu a armadura e experimentou-a, mas como nunca a tinha usado, naturalmente não se sentia à vontade com ela para enfrentar o gigante em combate. David era um jovem fisicamente plenamente desenvolvido.

Além disso, o contexto refere que Saul oferecia a sua filha em casamento a quem matasse Golias, o que chamou a atenção de David. Pouco tempo depois David casou efetivamente com Mical.
Quando David matou Golias tinha menos de 20 anos, mas provavelmente não muito menos. Depois passou a seguir Saul na guerra e, conduzindo-se com prudência, Saul o pôs sobre tropas do seu exército (1Sam 18:5). David, como jovem oficial, rapidamente conheceu muito sucesso e era respeitado por todos (1Sam 18:6-16), de modo que Saul tentou matá-lo e David teve de fugir.

Não é referido quantos anos David andou fugindo de Saul. Quando casa com Mical, já estava em maus lençóis (1Sam 18.21-29)! Apenas sabemos que antes de Saul morrer e David ser ungido rei em Hebron, ele esteve um ano e quatro meses com Aquis de Gate, na terra dos filisteus, estabelecendo-se na cidade de Ziclague no sul (1Sam 27:1-7). O tempo que David passou com Saul no seu exército com o tempo que passou fugindo será cerca de 10 anos.
2949 (data aproximada) – morte de Saul e início do reino de David em Hebron.

Em Hebron, David reina 7 anos e 6 meses em Hebron, tendo sido reconhecido como rei apenas pela tribo de Judá (2 Sa 2:1-4). Entretanto, Abner, capitão do exército de Saul, tomou Is-Bosete, filho mais novo de Saul, com 40 anos (nasceu na época em que Saul começou a reinar), e o constituiu rei sobre Israel (2Sam 2:8-11). Segue-se guerra entre Judá e as restantes tribos.
No seu 8º ano, depois do assassinato de Abner, por Joabe, e de Is-Bosete, todas as tribos de Israel vieram a David em Hebron, e ungiram a David rei sobre Israel. David então toma Jerusalém que ainda estava ocupada pelos jebuseus e faz dela a “cidade de David” (2Sam 4,5:1-12).

15/11/2014

Eli e descendentes


Foram indicados para oficiar como sacerdotes Arão e seus filhos, a saber Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Ex 28:1).

Arão, e seu irmão Moisés e irmã Miriã, eram filhos de Anrão e Joquebede (Ex 6:20). Joquebede era filha de Levi, que lhe nasceu no Egipto (Num 26:59).

Nadabe e Abiú morreram quando trouxeram fogo estranho perante o Senhor. Não tiveram filhos. Ficaram na linha para o sacerdócio, Eleazar e Itamar, que oficiaram como sacerdotes diante de Arão, seu pai (Lv 10; Num 3:1-4; 26:61; 1 Cro 24:1-2).

 
No tempo em que os Juízes julgavam em Israel, o único sacerdote a oficiar no tabernáculo a que é feito referência é Eli, e seus filhos Hofni e Finéias. Finéias, filho de Eleazar, apareceu no tempo de Josué (Jos 22) e depois da morte de Josué, no episódio da guerra com Benjamim na sequência da morte da concubina do levita (Jz 19 e 20). Mas este episódio teve lugar na época anterior à opressão de Cusã-Risataim (ver anteriores mensagens sobre Juizes).

Tomamos conhecimento de Eli em 1 Samuel, quando Elcana e sua mulher Ana subiram a Siló, onde se encontrava então o tabernáculo. Deus ouviu a oração de Ana, e nasceu Samuel, que se tornaria profeta.

Eli morreu quando a arca foi capturada pelos filisteus no seguimento da batalha catastrófica de Ebenezer. Anteriormente, já calculámos em que ano isto aconteceu no ano 2883 AH. Eli tinha 98 anos, nasceu portanto em 2785.

Isto significa que Eli nasceu no tempo em que Gideão era juiz. Portanto, tendo vivido tantos anos, foi contemporâneo de muitos juízes - Gideão, Abimeleque, Tola, Jair, Jefté, Ibsá (época em que nasceu Sansão), Elom e Abdom – e passado por vários períodos de opressão.
 

Eli é do “braço” sacerdotal de Itamar, filho de Arão (1Cro24:3).

Eli tinha dois filhos, Hofni e Finéias, cujo comportamento era tudo menos irrepreensível.

Eli foi advertido através de um homem de Deus (1Sam 2:27-36) com as seguintes palavras:

“Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai para que não haja mais velho nenhum em tua casa. O homem, porém, da tua linhagem a quem eu não afastar do meu altar, será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma: e todos os descendentes da tua casa morrerão na flor da idade. Ser-te-á por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e Finéias: ambos morrerão no mesmo dia “ (vs.31-33).

Como isto aconteceu é narrado no decurso da história de Saul, David e Salomão.
 

ELI

 
FINÉIAS                                                              HOFNI

Hofni e Finéias morreram na batalha de Ebenezer, quando a arca foi capturada.

Nesse tempo, a mulher de Finéias deu à luz um filho, ao que deu o nome Icabode (ISam 4:19-2). Icabode tinha um irmão, chamado Aitube (1Sam 14:3).

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                                       AITUBE                                ICABODE
                                             |

                                    AÍAS, também chamado AIMELEQUE (1Sam 22:9,11)

No tempo de Saul, o sacerdote era Aías. Aías, filho de Aitube, irmão de Icabode, filho de Finéias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia a estola sacerdotal (1Sam 14:3).

Quando David fugia de Saul, foi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque (1Sam 21:1-9). Estando lá também Doegue o edomita, este foi informar Saul. Saul acusou Aimeleque de traição e mandou matar os sacerdotes de Nobe (1Sam 22:6-23). Apenas Abiatar, um dos filhos de Aimeleque, conseguiu salvar-se e fugiu para David que lhe dá proteção (1Sam22:20-23;23:6).

                                        |
                                       ABIATAR

Abiatar ficou fiel a David durante a rebelião de Absalão, tendo levado a arca de volta para Jerusalém quando David fugira. Juntamente com Zadoque, ficaram na cidade, servindo de informadores a David. Por meio dos filhos deles, Aimaás e Jónatas, mandavam notícias a David do que ouviam na cidade. (2Sam 15:24-29,35-36; 17:16-21;19:11).

Porém, mais tarde, sendo David já velho e Adonias conspirava para usurpar o trono, Abiatar seguiu e ajudava Adonias, juntamente com Joabe, o comandante do exército de David (1Rs 1:5-8). Enquanto Zadoque permaneceu fiel a David.

Zadoque e Abiatar foram sacerdotes durante todo o tempo do reino de David (2Sam20:25).

Quando Salomão sobe ao trono, ele expulsa Abiatar do sacerdócio (1Rs 2:22,26-27,35). A linhagem sacerdotal de Arão fica agora reduzida a linhagem de Eleazar.

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                                      JÓNATAS, filho de Abiatar (2Sam 15:27)

Jónatas é o último descendente de Eli de que é feito menção. Não sabemos o que aconteceu com ele.


Uma certa confusão pode resultar da leitura paralela de 1 Cro 18:16 e 24;6, 31, onde é feito referência a Abiatar e Aimeleque. No entanto, contrariamente ao que aparece na narrativa em 2Samuel e 1 Reis, Abiatar é mencionado como o sacerdote que ajudou David em Nobe e Aimeleque como filho de Abiatar. Isto parece ser uma simples troca de nomes pelo cronista. Troca de nomes retomada por Marcos 2:26.

01/11/2014

SAUL E OS AMALEQUITAS

Disse Samuel a Saul … Assim diz o Senhor dos Exércitos: Castigarei a Amaleque pelo que fez a Israel; ter-se oposto a Israel no caminho, quando este subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver; nada lhe poupes, porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos. (1Sam 15).

Lembramos que, no segundo mês depois de Israel ter saído do Egipto, travou uma batalha contra Amaleque, que ia no sentido contrário e foi invadir e ocupar o Egipto. Os amalequitas foram identificados com os hicsos, segundo a tese de Immanuel Velikovsky aprofundada em Ages in Chaos (ver mensagem sobre o êxodo e os amalequitas).
Os hicsos/amalequitas governaram no Egipto no Período Intermédio que se estende entre o Império Médio e o Império Novo, ou tempo da 14ª à 17ª dinastia. De acordo com a Bíblia, no tempo do êxodo, Amaleque era o povo mais poderoso entre as nações. No episódio de Balaque e Balaão, Balaão profetizou que em Israel haveria “um rei que se levantará mais do que Agague” (Num 24:7) e disse que Amaleque era “o primeiro das nações, porém o seu fim será destruição” (Num 24:20). Se os amalequitas eram apenas, como muitas teses afirmam, uma tribo de beduínos nómadas, porque são chamados “o primeiro entre as nações» e, se nómadas, porque têm então uma “cidade” (1 Sam 15:4)?

O domínio e influência dos hicsos não estava confinado ao Egipto. Selos oficiais, nomeadamente do rei Agague, foram encontrados em vários países, até em Cnossos na Creta, o que levou os historiadores a terem de admitir que os hicsos, mesmo se por um duração limitada, comandavam um grande império ou, pelo menos, tinham uma extensa influência política.
Na Bíblia, no período dos Juízes, os amalequitas aparecem vez após vez, aliados aos filisteus e outros povos, contra Israel (Jz 3:13; 6.13; 7:12;10:12;12:15), o que significa que estavam bem presentes em Canaã.

Num 13:25 – os amalequitas e os cananeus habitavam no Negev quando os israelitas estavam a caminho de Canaã depois de saírem do Egipto.
Jz 3:12-13 – Eglom, rei dos moabitas, ajuntou consigo os filhos de Amom e os amalequitas… livrou-os Eúde.

Jz 5:14 – Débora, no seu cântico depois da vitória sobre Sísera, num versículo algo obscuro, refere-se a Efraim, cujas raízes estão na antiga região de Amaleque.
Jz 6:3; 7:12 – cada vez que Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, como também os povos do oriente, subiam contra ele… livrou-os Gideão.

Jz 10:11-12 – Não vos livrei eu dos egípcios, e dos amorreus, e dos filhos de Amom, e dos filisteus? E os sidónios, e os amalequitas, e os amonitas, quando vos oprimiam e vós clamáveis a mim?
Jz 12:15 – Faleceu Abdom … e foi sepultado em Piratom, na terra de Efraim, na região montanhosa dos amalequitas.

Esta presença contínua de amalequitas em Canaã no tempo de Josué e Juízes contradiz a tese de que o êxodo teria ocorrido, de acordo com a cronologia convencional, quer na 18ª (Tutmés), quer na 19ª dinastia (Ramessés) do Império Novo. Não há qualquer alusão a campanhas militares egípcias, ou qualquer referência ao Egito na história de Israel, nem mesmo no tempo de David, até Salomão se casar com a filha de Faraó (1 Rs 3:1). Se aquelas dinastias eram tão poderosas, e se dominavam em Canaã, como afirmam os defensores da cronologia convencional, como é que não aparecem na história de Israel no tempo de Juízes, Saul e David? Porque os que dominavam em Canaã, eram os amalequitas/hicsos.
Parece-me que a tese de Velikovsky, apoiada por outros (Donovan Courville, James Jordan,) merece algum crédito, e a continuação da história ainda a irá reforçar.

I Samuel 15
1 Sam 15:4-7 – Saul convocou o povo, e os contou em Telaim, duzentos mil homens de pé, e dez mil homens de Judá. Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque, pôs emboscadas no vale. E disse aos queneus: Ide-vos, retirai-vos e saí do meio dos amalequitas para que eu vos não destrua juntamente com eles, porque usastes de misericórdia com todos os filhos de Israel, quando subiram do Egipto. Assim os queneus se retiraram do meio dos amalequitas. Então feriu Saul os amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egipto.

Esta passagem relata a vitória de Saul sobre Amaleque. Ele tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas; porém a todo o povo destruiu ao fio da espada (v.8).
Mas mais do que uma grande vitória de Israel sobre Amaleque, esta vitória significou, segundo defende Velikovsky, a libertação do Egipto dos hicsos por Saul. Será apenas uma ironia da história que o povo que foi escravizado foi o libertador dos que os escravizaram?

Saul chegou à cidade de Amaleque (v.5). É um facto conhecido da história que a capital fortificada dos hicsos era Avaris, e pode ser esta cidade onde Saul chegou.
Avaris estava situada, segundo Maneto citado por Josefo, a oriente do braço de Bubastis do rio do Egipto, num ponto estratégico de onde controlava tanto o Egipto como a Síria. Segundo Flávio Josefo, Salitis, o primeiro rei da primeira dinastia de faraós hicsos, fortificou Avaris e estabeleceu ali um exército de 240.000 homens armados para proteger a sua fronteira (citado por Velikovsky, p.82, e Engberg,1927, p.5). Além disso, os hicsos mantinham guarnições em locais estratégicos, o que também explica a constante presença de amalequitas em Canaã no tempo de Juízes. Uma destas praças-fortes terá sido na região montanhosa de Efraim (Jz 5:14; 12:15).

Que elementos no texto apoiam que Saul conquistou Avaris?
Saul “pôs emboscadas no vale”. A palavra traduzida “vale” é NAKHAL, geralmente traduzido ribeiro, rio, ou leito de rio. Em várias ocasiões na Bíblia aparece NAKHAL MIZRAIM, o rio do Egipto (Num 34:5; Jos 15:4,47; 1Rs 8:65;2Rs 24:7, Is 27:12). Pelo contexto de 1 Sam 15:4-7 (Saul foi em direção ao sul, até Sur, defronte do Egipto), este “nakhal” onde Saul pôs emboscadas junto à cidade de Amaleque, provavelmente se refere ao rio do Egipto. No sul, onde Saul feriu os amalequitas, não há rios, apenas o rio do Egipto. No inverno é uma torrente; no verão, está seco. O que explico que Saul pôde por emboscadas no vale/leito do rio.

O deserto de Sur (Ex 15:22) era caminho de três dias do Egipto. Foi por onde os israelitas caminharam logo a passar o mar Vermelho.
Antes de atacar a cidade, Saul avisou os queneus para que saíssem da cidade a fim de não serem destruídos com os amalequitas. Os queneus eram descendentes do sogro de Moisés (Jz 1:16), que tinham subido da cidade das palmeiras (Jericó), com os filhos de Judá, ao deserto de Judá, que está a sul de Arade, e habitaram ali, entre os cananeus, em Arade (Num 21:1 – Arade, no Neguebe, isto é, no sul). Os queneus sempre trataram bem a Israel (Num 10:29) e Israel não os faria mal.

Existem duas fontes egípcias sobre a libertação do Egipto dos hicsos. A tábua de Carnarvon, que regista a participação do faraó vassalo Kamés em ação contra os hicsos, assistido por tropas estrangeiras.
Outra fonte é uma inscrição na parede do túmulo de Amósis, oficial do faraó com o mesmo nome, que participaram na expulsão dos hicsos. Esta inscrição tem a forma de uma narrativa de batalhas e sítios. De acordo com este documento, não foram príncipes egípcios rebeldes só que libertaram o país dos hicsos, mas os libertadores foram guerreiros vindos de fora. A inscrição fala de “um” (pronome indefinido) que lutou na água no leito de Avaris, que lutou no Egipto e capturou Avaris, mas não menciona o nome deste estrangeiro.

Depois da derrota de Avaris, uma parte dos amalequitas fugiu para Sharuhen, que foi sitiada durante 3 anos por Amósis e tomada pelo faraó Amósis I, o primeiro da 18ª dinastia.
Sharuhen (Saruém) é uma cidade na herança de Simeão (Jos 19:6). Isto explica que também os filhos de Simeão lutaram e “feriram o restante dos que escaparam dos amalequitas” e habitaram naquela região (1 Cro 4:43).

A derrota dos hicsos ocorreu em dois sítios, sucessivamente. Primeiro, em Avaris, depois em Sharuhen, para onde parte dos amalequitas se retirou. Apesar da vitória de Saul e morte de Agague, não foram todos destruídos. Os que escaparam retiraram-se para o sul de Canaã, e lá estavam quando David fugia de Saul alguns anos depois da vitória em Avaris. David lutou contra os amalequitas (1 Sam 27:8), que eram os moradores da terra desde Telã na direção de Sur até à terra do Egipto. Exatamente para onde foi Saul quando os derrotou pouco antes.

21/10/2014

JUÍZES

Apresentamos um esquema que é um resumo das anteriores mensagens  sobre o período dos Juízes.

Esquema do primeiro período de Juízes, desde a conquista de Hesbon (antes da passagem do Jordão) até à vitória de Jefté sobre os amonitas.

 
 
Cusan
 
Eglom
 
Jabim e Sísera
 
Midia-
nitas
 
 
 
 
Filisteus
 
 
8
 
18
 
20
 
7
 
 
 
 
18
7
45
40
80
40
40
3
23
22
Conquista
da terra
Josué
+
Anciãos
Incl.
Jz 17-18
Otniel
Eúde
Débora
Gideão
Abi-
Me-
leque
Tola
Jair
< 2552 (conquista de Hesbon)
 
Fim 300 anos – Jefté: 2852>

 
Esquema do segundo período de Juízes, desde a vitória de Jefté até ao começo do reino de Saul:

 
 
40 anos domínio dos filisteus
 
 
 
2
10
8
20
 
6
7
10
8
20
6
Jefté
Ibsá
Elom
Abdom
Sansão
e
Samuel
Samuel

<2852                                                                                                                                                  2909 (Saul)>

No final do livro de Juízes, a seguir a Sansão, há duas narrativas. Porém, estas narrativas pertencem ao primeiro período. Vejamos.
Juízes 17 e 18

O episódio de Juizes 17 e 18, sobre o sacerdote de Micá e a tribo dos danitas, não está inserido cronologicamente na história, mas situa-se no período após a divisão da terra entre as tribos.
Jz 18:1 – Naqueles dias não havia rei em Israel, e a tribo dos danitas buscava para si herança em que habitar; porquanto até àquele dia entre as tribos de Israel não lhe havia caído por sorte a herança.

Quando a terra foi dividida em Siló (Josué 18 e 19) depois de 7 anos de conquista, os israelitas não tinham submetido e dominado todos os seus habitantes (Jos 18:3). Era o caso, entre outros, dos amorreus, que forçaram os filhos de Dã até às montanhas, não os deixando estabelecer-se no vale (Jz 1:34).
O território que saiu a Dã saiu-lhes pequeno, pelo que os filhos de Dã saíram do seu território a fim de conquistarem mais espaço para si. Pelejaram contra Lesém, e a tomaram, e a feriram ao fio da espada; e, tendo-a possuído, habitaram nela e lhe chamaram Dã, segundo o nome de Dã, seu pai (Josué 19:40-48).

Esta história é em tudo parecida com Jz 18, a expedição dos 600 homens armados que subiram e acamparam em Quiriate-Jearim, em Judá, e chamaram a este lugar Maané-Dã (Jz 18:12), e destruíram a cidade de Lais, a que chamaram Dã (Jz 18:29). A cidade chamada Lesém em Josué 19 é a mesma que Laís em Juizes 18.
Mais tarde encontramos Sansão em Maané-Dã (Jz 13:25), mais uma prova que, embora o episódio venha a seguir à história de Sansão, é anterior a Sansão.

Juízes 19 a 20
Narra a história sórdida do levita e a sua concubina, que resultou na quase aniquilação da tribo de Benjamim.

O que há nesta passagem que nos pode fornecer algumas indicações cronológicas?
Jz 19:1 – Naqueles dias, em que não havia rei em Israel, houve um homem levita …

Este versículo parece encaixar a história num tempo próximo da anterior, iniciando a narrativa com uma frase quase idêntica com Jz 18:1.
Jz 19:10-11 – Jerusalém é chamada Jebus, e designada como “cidade dos jebuseus”.

Os israelitas tiveram dificuldades em conquistar Jebus. Na divisão da terra, Jerusalém fora atribuída em parte a Judá (Jos 15:8) e em parte a Benjamim (Jos18:28). Os filhos de Judá tomaram a cidade e puseram fogo nela (Jz 1:8), porém não conseguiram expulsar os jebuseus e habitaram juntos. Também os filhos de Benjamim não expulsaram os jebuseus (Jz 1.21também tentaram, mas não conseguiram expulsar totalmente os jebuseus. Foi David que conseguiu finalmente tomar a cidade aos jebuseus (1 Cro 11:4-9).
Jz 20:1, 18,26 – o povo congregou-se em Mispá e Betel, a consultar o Senhor. Estes locais geográficas também não nos adiantam muito. Betel significa, simplesmente, casa de Deus, não especificando algum lugar geográfico. Terá sido o lugar onde estava o tabernáculo, provavelmente Siló. Mispá era uma cidade nos confins de Judá e Benjamim (Jos 15.38;18:26), onde era frequente fazer grandes assembleias nacionais (Jos 18:26;Jz 20:1, 1Sam 7:5-16) porque se situava a curta distância de Siló, cerca de 6 km.

Jz 20:28- Finéias, filho de Eleazar, filho de Arão, ministrava naqueles dias.
Em Números 25, no 40º ano depois do êxodo, na altura da conquista de Hesbon, Finéias, já sacerdote (Num 25:7), portanto já com pelo menos 30 anos, mostrou-se zeloso para o Senhor no episódio da prostituição do povo com as filhas dos moabitas.

Também na guerra contra os midianitas, Finéias, filho do sacerdote Eleazar, participou na expedição punitiva (Num 31:6), levando consigo os utensílios sagradas, a saber as trombetas para o toque de rebate.
Já na terra de Canaã, Finéias atuou como intermediário e investigador no caso do altar levantado pelas tribos de Ruben, Gade e meio Manassés que voltaram para o outro lado do Jordão (Jos 22:13, 32).

Eleazar, filho de Arão e pai de Finéias faleceu depois de Josué (Jos 24:33). Isto coloca Finéias como sacerdote durante o governo dos anciãos que sobreviveram a Josué.
Isto coloca a história do levita, da concubina e da quase exterminação da tribo de Benjamim no período dos anciãos que continuaram vivos depois de Josué, antes de se iniciar a dominação de Cusâ-Risataim. A degeneração moral nessa época ilustra claramente que «os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o Senhor”, suscitando a Sua ira e consequente entrega nas mãos de Cusã-Risataim (Js 3:7-8).

 
No segundo período de Juizés:
Os 20 anos do julgado de Sansão iniciam na época em que a arca foi tomada. Isto situa o nascimento de Sansão no final de Ibsá ou início de Elom. A Manoá e a mulher, o Anjo do Senhor disse: ele começará a livrar a Israel do poder dos filisteus (Jz 13:5). Isto não faria sentido para eles se ainda não estivessem debaixo do domínio dos filisteus.

Depois da morte de Sansão, tem lugar a batalha de Ebenezer em que Israel sai vitorioso e termina o domínio de 40 anos dos filisteus.
Isto permite calcular que estes 40 anos de domínio filisteu começaram durante o julgado de Ibsá, porque “Tendo os filhos de Israel tornado a fazer o que era mau perante o Senhor, este os entregou nas mãos dos filisteus por quarenta anos” (Jz 13:1). A razão para isto foi a seguinte: Ibsá tinha trinta filhos e trinta filhas, que casou fora; e de fora, trouxe trinta mulheres para seus filhos (Juizes 12:8-10). Parece que Ibsá desobedeceu em tudo aos mandamentos do Senhor, casando os seus filhos com outros povos.

05/10/2014

O REI SAUL

No Velho Testamento, não há uma indicação direta da duração do reinado de Saul. Em Atos 13:21 ficamos a saber que foram 40 anos.

Primeiro temos de procurar a conexão com o tempo dos Juízes. Retomemos a história:
Dominavam os filisteus em Israel (domínio de 40 anos – Jz 13:1).

Samuel era profeta. Eli sumo-sacerdote (1 Sam 3).
Ano 2882?: Israel saiu à peleja contra os filisteus (1Sam 4:1), numa tentativa de se livrarem do seu domínio. Mas Israel foi derrotado e a arca capturada pelos filisteus. O sacerdote Eli e os filhos morreram. Depois de 7 meses, a arca regressou, no tempo da sega do trigo (1 Sam 6), mas não voltou a Silo, onde estava antes (1 Sam 4:3). Ficou em Quiriate-Jearim, na casa de Aminadabe, onde ficaria 20 anos.

2883: Por volta desse tempo, dá-se o início do julgado de 20 anos de Sansão. Conforme o Anjo do Senhor dissera aos pais de Sansão, ele começou a livrar a Israel do poder dos filisteus (Jz 13:5).
Samuel terá sido juiz simultaneamente com Sansão (1Sam 7:15 – E julgou Samuel todos os dias de sua vida a Israel).

2903: Sansão morre, levando na sua morte muitos filisteus.
O profeta Samuel congrega o povo em Mispa e chama-o a arrepender-se (1Sam 7:3-6), vinte anos depois de a arca ter voltado do cativeiro entre os filisteus.

Ouvindo os filisteus que Israel estava congregado em Mispa, subiram contra Israel, presumivelmente como retaliação pela morte dos cerca de 3000 filisteus no templo de Dagon. Desta vez, os filisteus são derrotados em Ebenezer. Termina o domínio de 40 anos dos filisteus (1 Sam 7:7-14).
Samuel continua a sua função dupla como profeta e juiz até que Saul é proclamado rei (ano 2909 AH), depois de o povo ter pedido um rei “como o têm todas as nações” (1 Sam 8:5,20).

Saul é primeiro ungido em privado por Samuel (1Sam 10:1-16), e depois em público, em Mispa (1Sam 10:17-27). Quando Naás, rei dos filhos de Amom, subiu contra Jabes-Gileade (1Sam 6), Saul levantou-se em libertador (o Espírito de Deus se apossou de Saul – v.6 – do modo como acontecia com os juízes). Esta vitória valeu-lhe a renovação do reino, em Gilgal (1 Sam 11:14-15). Porém, o povo foi lembrado de que pedido de um rei não agradara a Deus e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia, no tempo da sega dos trigos (1Sam 12:17).
Um ano reinara Saul em Israel (1Sam 13:1).

No segundo ano do seu reinado, Saul procedeu mal. Não esperou a chegada de Samuel, pelo que lhe foi dito que “agora não subsistirá o teu reino” (1Sam 13:2-14). – O Senhor buscou para si uma homem que lhe agrada, e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou”. Nesse segundo ano do reinado de Saul, David ainda não tinha nascido sequer.
Como sabemos isto? Se Saul começou a reinar no ano 2909 e reinou 40 anos; se David tinha 30 anos quando começou a reinar em Hebron depois da morte de Saul (2Sam 5:4); David só nasceu cerca de 10 anos depois que Saul começou a reinar (ano 2919).

Mas apesar de não se confirmar o reino para a descendência de Saul, este assumiu o reino, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, os filhos de Amom, e Edom; contra os reis de Zobá e os filisteus; e para onde quer que se voltava era vitorioso. Houve-se varonilmente e feriu os amalequitas, e libertou a Israel da mão dos que o saqueavam (1Sam 14:47-48).
A desobediência no caso dos amalequitas (1Sam 15) marcou a rejeição definitiva de Saul. A partir daquele momento, Samuel nunca mais viu Saul até ao dia da sua morte.

A este episódio segue-se a unção de David, enquanto jovem rapaz, no seio da sua família (1Sam 16:1-13). Na altura, David tinha menos de 20 anos.
O estabelecimento da idade de David quando matou Golias é considerado uma referência importante da qual depende a datação de outros eventos bíblicos. Embora as Escrituras não forneçam a data exata, traz informação suficiente para permitir determinar uma data bastante aproximada, como veremos numa mensagem próxima.

Mas antes disso, temos de voltar a Saul e os amalequitas.