22/02/2015

ASA E BAASA

Na sucessão de Jeroboão > Nadabe > Baasa relativamente a Roboão > Abias > Asa podemos perceber um princípio importante a ter em conta na cronologia dos reis.

Em primeiro lugar, temos de ter em conta o calendário hebraico, em que o ano começa no mês de Abib, o 1º mês (Ex 12:2), correspondendo a março-abril. Cada novo mês começava com a lua nova, por isso variava de ano a ano.

Assumimos também, como princípio, que os anos dos reis de Judá eram contados de Abib (também chamado Nisan) a Abib.

3046 AH
Abias/Abião começou a reinar no 18º ano de Jeroboão (2Cr 13:1; 1Rs 15:1-2).

Se Roboão reinou 17 anos e Abias começa a reinar no ano seguinte, que é também o 18º de Jeroboão), isto significa que podemos efetivamente adicionar os anos dos reis de Judá, tal como fizemos para chegar aos 390 anos, e ainda corroborado por Ezequiel 4.

Isto significa também que os meses que restam de um ano, entre a morte de um rei até ao início do reinado do novo rei, são contados como ano zero do novo rei. Oficialmente, a acessão ao trono só é contada a partir do novo ano (1 de Abib) a seguir à morte do rei anterior.

Abias reinou 3 anos.

No 20º ano de Jeroboão começa a reinar Asa. Este ano é ainda atribuído a Abias e, portanto, contado como ano 0 de Asa. (1Rs 15:9)

3050 AH
Jeroboão reinou 22 anos, o que nos leva ao 2º ano de Asa. Diz 1Rs 15:25 que Nadabe começou a reinar no 2º ano de Asa. Portanto, o 22º ano de Jeroboão é simultaneamente o 1º de Nadabe.

Nadabe reinou 2 anos (1Rs 15:25).

3051 AH
No 3º ano de Asa, Baasa mata Nadabe e reina em seu lugar (1Rs 15:28).

Observamos aqui que, em Israel, o último ano de um rei é, ao mesmo tempo, contado como o primeiro ano do rei que se lhe segue.

Fizemos um pequeno esquema para mais fácil compreensão. Do lado esquerdo, os anos dos reis de Judá, do lado direito, dos reis de Israel.


3043
15
 Roboão
15
 
3044
16
 
16
 
3045
17
 
17
 
3046
1
Abias
Abias/Abião começa a reinar no 18º ano de Jeroboão.
18
 Jeroboão
3047
2
 
19
 
3048
3
Asa 0
No 20º ano de Jeroboão começa a reinar Asa. (1Rs 15:9)
20
 
3049
1
 
= 1º ano oficial de Asa
21
 
3050
2
 
22
Nadabe 1
3051
3
 
No 3º ano de Asa Baasa mata Nadabe e começa a reinar.
2
Baasa 1
3052
4
 
2
 

Até aqui, não encontrámos grandes dificuldades.

A primeira anomalia cronológica com que nos deparamos na história dos reis de Judá e Israel é no tempo de Asa e Baasa:

3051 AH
Baasa começou a reinar no 3º ano de Asa, e reinou 24 anos (1Rs 15:28).

[3084 AH ?]
2Cr 16:1 – no ano 36º do reinado de Asa subiu Baasa, rei de Israel, contra Judá, e edificou a Ramá, para que a ninguém fosse permitido sair de junto de Asa, rei de Judá, nem chegar a ele.

Acontece que, no 36º ano de Asa, Baasa já tinha morrido há muitos anos (só reinou 24 anos), e estava-se já no tempo de Onri.

Algo está errado, ou tem de ser explicado.

Ussher e Nolen Jones resolveram o problema da seguinte maneira:

 
No início do seu reinado, Asa ordenou a Judá que buscasse o Senhor e observasse a lei, edificou cidades fortificadas, e houve paz durante dez anos (2Cr 14:1-8).

3063 AH
No 3º mês do 15º ano de Asa, todo o povo reuniu-se em Jerusalém para a festa de Pentecostes, e renovaram a aliança (2Cr 15:1-18). Isto foi consequência da vitória contra Zera, o etíope, que viera contra Judá no início do ano de Asa – isto é, na primavera, altura em que os reis saíam à guerra. Asa confiou em Deus e ganhou a batalha (2Cr 14:9-15)

Não houve guerra até ao 35º ano do reinado de Asa (2Cr 15:19), aparentemente durante 20 anos. Mas, no ano seguinte, no 36º ano do reinado de Asa, Baasa, vendo que Asa estava a restaurar ativamente o culto em Judá, edificou Ramá para impedir que os seus súbditos saíssem de junto dele para emigrarem para Judá (2Cr 16:1; 1Rs 15:16-17).

Ussher e Nolen Jones defendem que o “35º ano do reinado de Asa” não é o 35º ano de Asa propriamente dito, mas o 35º ano da dinastia, do reino de Judá. De facto, são exatamente 35 anos desde o início do reinado de Roboão até ao 15º ano de Asa, quando Zera veio contra Judá e que, logo a seguir, o povo se reuniu em Jerusalém no 3º mês. A palavre hebraica, MALKUT, é utilizada neste sentido noutras ocasiões, como ‘dinastia’ ou ‘reino’ em vez de ‘reinado’.

3064 AH
Rapidamente, no ano seguinte, Baasa reage, edificando Ramá. Não fazia sentido que o rei de Israel, quer fosse Baasa, quer Onri, reagisse com um atraso de 20 anos à ação restauradora de Judá com um fechar das suas fronteiras. Reagiria imediatamente, no 16º ano de Asa, que será então o 36º da dinastia a que Asa pertence, o 36º ano do reino de Judá.

Asa, para impedir a edificação de Ramá por Baasa, fez aliança com Ben-Hadade, rei da Síria, em vez de confiar no Senhor (2Cr 16:1-6) e considerar a advertência do profeta Azarias (2Cr 15:1-7). Asa é reprovado pelo profeta Hanani: nisto procedeste loucamente, por isso desde agora haverá guerras contra ti (2Cr 16:7-10).

1Rs 15:16-17 diz que houve guerra entre Asa e Baasa todos os seus dias, porque Baasa subiu contra Israel e edificou a Ramá.
Esta solução resolve também a incompatibilidade entre 2Cr 15:19 - Não houve guerra até ao 35º ano do reinado de Asa – e 1Rs 15:16-17 – Houve guerra entre Asa e Baasa todos os seus dias.
Asa reinou 41 anos. Do seu 36º ao 41º dificilmente se pode dizer que sejam “todos os seus dias”. Houve 10 anos de paz no início do seu reinado (2Cr 14:1).

 
Analisámos esta solução e concordámos que resolveu a dificuldade.

Não se tratando obviamente de um erro de escriba, resta, contudo, uma pergunta: porquê o autor das Escrituras recorre a estes números (35º e 36º ano desde o início da dinastia) nesta situação e não se refere diretamente ao 15º e 16º ano de Asa, como faz normalmente noutras situações no mesmo capítulo?

20/02/2015

ROBOÃO e SISAQUE

Com o período da monarquia dividida balizada e a sua duração definida em 390 anos (ver as duas mensagens anteriores), podemos começar a fazer o exercício de estabelecer a cronologia relativa dos reis, isto é os reis de Judá relativamente aos reis de Israel, como é dada ao longo dos livros de Reis e Crónicas.

Aconselhamos ao leitor que faça este exercício por si, porque assim se torna mais claro onde se encontram as (aparentes) anomalias e outros pontos difíceis.

É preciso ter em atenção que o calendário hebraico é diferente do nosso. O ano começa no mês de Abib, o 1º mês (Ex 12:2), correspondendo a março-abril. Cada novo mês começava com a lua nova, por isso variava de ano a ano.


O tempo de Roboão (Judá) e Jeroboão (Israel) não oferece muitas dificuldades, internamente. Mas surge mais uma questão a resolver em relação à cronologia consensual.

3029 AH
Roboão começa a reinar com a idade de 41 anos. Sabendo isto, deduzimos que Roboão nasceu antes de Salomão ser proclamado rei, visto que ele reinou 40 anos.
Roboão reinou 17 anos. (1Rs 11:43;2Cr 9:31). Jeroboão reinou 22 anos (1Rs 12:1-2; 1Rs 14:20).

3033 AH
No 5º ano de Roboão, Sisaque, rei do Egipto, sobe contra Jerusalém, porque tinham transgredido contra o Senhor (1Rs 14:25-26; 2Cr 12:1-9). Sisaque tomou as cidades fortificadas que pertenciam a Judá; veio contra Jerusalém e tomou os tesouros do templo e da casa do rei. A partir desse momento, Judá passa a ser vassalo do Egipto: “Serão seus servos, para que conheçam a diferença entre a minha servidão e a servidão dos reinos da terra” (2Cr 12:8), ao mesmo tempo que Roboão “continuou reinando” (2Cr 12:13)

Quem era Sisaque?

A primeira vez que encontramos Sisaque é no tempo de Salomão. Jeroboão se rebelara contra Salomão, que por isso procurou matar a Jeroboão. Este fugiu para o Egipto, ter com Sisaque, onde permaneceu até à morte de Salomão (1Rs 11:26-40). A Septuaginta (versão grega do Velho Testamento feita no século III d.C. no Egipto) menciona que o rei Sisaque deu para mulher a Jeroboão, a irmã mais velha da sua própria mulher, chamada Ano. A história é, talvez, demasiado semelhante com a de Hadade e Tafnes (1Rs 11:19-20), mas não improvável, sendo o casamento uma maneira habitual de fazer aliados e de ganhar poder. Velikovsky traz como prova um vaso canópico (recipiente utilizado no Antigo Egipto para colocar órgãos retirados do morto) preservado no Metropolitan Museum of Art, com o nome de Ano. O vaso data do tempo de Tutmés III, da 18ª dinastia. Tutmés III era o sucessor de Hatshepsute. Lembramos que Velikovksy identificou Hatshepsute como a rainha de Sabá.
Jeroboão tinha certamente o apoio de Sisaque quando voltou para Israel e causou a divisão do reino depois da morte de Salomão. Quando Roboão tentou militarmente restituir o reino num ataque a Israel, foi desaconselhado pelo profeta Semaías, que assim provavelmente o salvou de comprar uma guerra com o Egipto de que não sairia ileso (1Rs 12:16-24).

Prevendo possivelmente um ataque vindo do Egipto, Roboão fortificou várias cidades e criou uma linha defensiva (2Cr11:5-12).

De acordo com o esquema cronológico defendido por Velikovsky, Sisaque era Tutmés III, o sucessor de Hatshepsute no trono do Egipto. Velikovsky apresenta várias provas desta identificação.

Sabe-se que Tutmés III empreendeu várias campanhas militares em Israel e na Síria, onde submeteu numerosas cidades, e de onde trouxe um valiosíssimo despojo. Tudo isto está gravado nas paredes do templo de Karnak no Egipto.

Segundo a cronologia consensual, as campanhas de Tutmés III eram dirigidas contra os povos que habitavam em Canaã muito tempo antes da chegada de Josué e das tribos de Israel, apesar de haver nesta interpretação várias questões não resolvidas.

Na sua primeira campanha em Israel, em Megido, Tutmés III enfrentou o rei de Kadesh, mas este escapou. Quem era este rei de Kadesh? Kadesh aparece em primeiro lugar numa lista de 119 cidades conquistadas por Tutmés, entre as quais se encontram os nomes das cidades que Roboão fortificou quando começou a reinar (2Cr 11:5-10). Não aparece o nome de Jebus ou Salem, como Jerusalém era chamada no tempo cananeu. Os historiadores identificam esta Kadesh com uma cidade situada no rio Orontes, na Síria, embora Tutmés não tivesse ido até ao norte da Síria na sua primeira campanha. Além disso, o nome vem em primeiro lugar na lista referente a Israel, não da Síria. A segunda cidade mencionada na lista é Megido, bem conhecida da Bíblia, esta já no tempo de Josué e dos reis de Canaã.  

A linha defensiva criada por Roboão e destinada a impedir tráfico indesejado desde o sul e oeste, ironicamente não dava proteção a Jerusalém se o inimigo viesse do norte (Beitzel, p.171). Segundo os anais de Tutmés III, que foram preservados, este conquistou primeiro as cidades de Judá, atacou Megido, e de Megido foi para Jerusalém, que se encontra a sul de Megido.

2Cr 12:2-5 relata que, no 5º ano de Roboão, Sisaque tomou primeiro as cidades fortificadas de Judá e, depois, veio a Jerusalém, onde se tinham ajuntado os príncipes por causa de Sisaque. A conquista das cidades muradas é a fase da guerra registada no início dos anais de Tutmés III. A segunda fase foi a subida a Kadesh. O nome Jerusalém não está na lista de Tutmés. Será Jerusalém Kadesh? É muito provável. Kadesh significa ‘santo’. Em inúmeros lugares nas Escrituras, Jerusalém é designada como a cidade ‘kadesh’, a cidade santa, no monte santo ... (2Cr 8:11; Sl 2:6; Joel 2.1; 3:17; Is 66:18; Dn 9:16,24,…).

Aconselhados pelo profeta Semaías, os príncipes de Judá não ofereceram resistência mas humilharam-se perante Sisaque, para não acontecer pior. Está escrito que Sisaque tomou os tesouros da casa do Senhor e da casa do rei, um despojo riquíssimo, que tinha sido reunido desde o tempo de Saul, David e Salomão.

O que Tutmés III levou para o Egipto encontra-se desenhado e descrito de maneira muito detalhada nos baixos-relevos do templo de Karnak, Deir el Bahari e em vários outros monumentos. Uma grande parte do despojo consistia em objetos religiosos tomados de um templo. Os relevos mostram objetos de ouro, prata e bronze, que são de uma riqueza e requinte, e quantidade, correspondendo em tudo às descrições que temos na Bíblia dos objetos feitos para o templo do Senhor pelos artesãos no tempo de Salomão (Velikovsky, pp.165-178).

Em anos e campanhas subsequentes, Tutmés III voltou a Israel para receber o tributo da terra de Punt (a mesma designação que foi usada por Hatshepsute) e Retenu (outra designação usada para Israel nas inscrições egípcias). Naquelas ocasiões ele trouxe mais riquezas, cavalos, carros, animais, ouro e prata, mirra, incenso, madeira e vinho, como também toda a coleção botânica e zoológica que Salomão tinha reunida de várias partes do mundo e estudada (1Rs 4:33).

Retenu, ou Rezenu, é frequentemente usada em inscrições egípcias do Império Médio para designar Israel. Rezenu é aparentemente a transcrição de um nome usado pela população residente para designar a sua terra. Pode ter origem no hebraico. “Eretz” significa terra, país, “Eretz Israel”. “Aretzenu” é a forma possessiva: nossa terra. O que os egiptólogos leem “Retenu” ou “Rezenu” é, provavelmente, o “Aretzenu” da Bíblia (por exemplo: Jos 9:11) (Velikovsky, p.185).

No templo de Karnak, além dos relevos descrevendo as campanhas militares de Tutmés III, há um relevo de uma campanha de Shoshenk, faraó fundador da 22ª dinastia (Tutmés III é 18ª dinastia), contra Israel. Este Shoshenk é identificado, na cronologia e história consensual, como sendo Sisaque. Contra isto está que a lista de cidades conquistadas por Tutmés contem nomes conhecidas da Bíblia, enquanto a lista de Shoshenk só contém nomes desconhecidos. Além disso, não há qualquer referência aos tributos e ao famoso despojo que teria trazido do templo de Jerusalém, contrariamente ao que mostram os relevos de Tutmés. O que é estranho, visto que os faraós egípcios gostavam muito de mostrar o seu poder e magnificência.

Isto leva-nos a outro aspeto que muitos estranham. O tipo de objetos, a riqueza da obra artística, a quantidade de ouro, prata e bronze que Tutmés III trouxe das suas campanhas a Israel, seriam prova de um avançado nível civilizacional das tribos canaanitas muito antes de Josué ter chegado à Canaã. Artesãos foram levados para o Egipto. O seu estilo influenciou o estilo do Egipto. É surpreendente que os povos de Canaã daquele tempo fossem artesãos de tão alto gabarito, a um nível bem mais alto até do próprio Egipto.

Mas se colocarmos Tutmés III no tempo de Salomão e Roboão, muito é explicado. A conquista de Israel nos anais de Tutmés III coincidem com os relatos em Reis e Crónicas. O país foi invadido, as cidades fortificadas tomadas. Jerusalém (Kadesh) não foi tomada de assalto, mas rendeu-se. O templo e o palácio do rei foram saqueados, os objetos levados para o Egipto. A sua descrição encontra-se nas paredes do templo de Karnak.

Tudo indica que Sisaque não era Shoshenk, mas sim Tutmés III. A campanha de Shoshenk terá tido lugar numa altura posterior na história de Judá e Israel. Poderá ser que encontremos alguma referência mais tarde.

08/02/2015

O CERCO DE EZEQUIEL A JERUSALÉM

Na mensagem anterior, vimos como a soma dos anos de reinado dos reis de Judá, descontando 4 anos de coregência de Jeorão com Josafá, dava em números redondos 390 anos para a duração da monarquia dividida, desde Roboão/Jeroboão até à queda de Jerusalém no 11º ano de Zedequias, último rei de Judá.

Ez 4:1-8 narra como Deus ordenou a Ezequiel, no 5º ano do cativeiro do rei Joaquim, de simular simbolicamente um cerco contra a cidade de Jerusalém, como sinal para a casa de Israel.

Joaquim reinara apenas 3 meses e 10 dias (2Cro 36:9) quando fora deportado, por Nabucodonosor, para a Babilónia, juntamente com outros elementos da população de Judá, onde se incluía, entre outros, Ezequiel. Joaquim fora substituído no trono por Zedequias.

O simulacro do cerco de Jerusalém por Ezequiel consistia em este deitar-se sobre o seu lado esquerdo durante 390 dias, um dia para cada ano, para levar a iniquidade de Israel. Depois de cumprir estes dias, Ezequiel devia deitar-se sobre o seu lado direito para levar a iniquidade de Judá, 40 dias, cada dia por um ano.

Os 390 anos do simulacro do cerco de Jerusalém profetizados por Ezequiel (Ez 4:1-8) correspondem aos anos dos reis de Judá?

No cerco de Jerusalém, que havia de acontecer poucos anos depois (começou no 9º ano de Zedequias) seria tirado o “sustento do pão … comerão o pão por peso e com ansiedade … e se consumirão nas suas iniquidades” (Ez 4:16-17). Jerusalém seria queimada a fogo, uma parte do povo morreria à espada e à fome, outros seriam espalhados pelas nações (Ez 5). No 11º ano de Zedequias, realiza-se a profecia de Ezequiel: no 4º mês (Tammuz,junho-julho), a cidade é e arrombada (2Rs25:3-7), no 5º mês (Ab, julho-agosto), Jerusalém é queimada.

Podemos estabelecer a queda de Jerusalém às mãos de Nabucodonosor como término dos 390 anos.

O que originou a contenda do Senhor com Israel, dando início a este período que somaria 390 anos?

A iniquidade pela qual Israel foi responsabilizada era o pecado de idolatria. Muito especificamente, este começou com Jeroboão, filho de Nebate. Anteriormente, o Senhor indignara-se com Salomão, porque ele desviou o seu coração do Senhor e seguiu outros deuses. Por isso, Deus lhe tiraria parte do reino para dá-la ao seu servo (Jeroboão). No entanto, isto só aconteceria nos dias do seu filho, Roboão (1Rs 11:9-13).

Quando o reino se dividiu, ficando 2 tribos (Judá e Benjamim) com Roboão, e o restante se congregou a Jeroboão, este receou que o povo fosse para Jerusalém, à casa do Senhor, e desviasse o coração dele. Por isso, fez bezerros de ouro para o povo adorar como seus deuses, constituiu sacerdotes que não eram da tribo de Levi e instituiu uma falsa festa no 8º mês, imitando a festa dos tabernáculos do 7º mês (1Rs 25-33). Isto foi causa da perdição da dinastia de Jeroboão, que chegaria rapidamente ao seu fim (1Rs 13:34), e também de todo o Israel: 1Rs 14:15-16 – Também o Senhor ferirá a Israel para que se agite como a cana se agita nas águas; arrancará a Israel desta boa terra que havia dado a seus pais, e o espalhará para além do Eufrates, porquanto fez os seus postes-ídolos, provocando o Senhor à ira. Abandonará a Israel por causa dos pecados que Jeroboão cometeu, e pelos que fez Israel cometer.

A situação em Judá também não era muito melhor, já desde os tempos de Roboão. Fez Judá o que era mau perante o Senhor; e, com os pecados que cometeram, o provocaram a zelo, mais do que fizeram os seus pais. Porque também os de Judá edificaram altos, estátuas, colunas e postes-ídolos no alto de todos os elevados outeiros, e debaixo de todas as árvores verdes Havia também na terra prostitutos-cultuais; fizeram segundo todas as coisas abomináveis das nações que o Senhor expulsara diante dos filhos de Israel (1Rs 14:22-24). Embora houvesse ao longo da história dos reis de Judá várias tentativas de acabar com a idolatria (Asa, Josafá, Joás, Josias), as reformas nunca foram inteiramente bem-sucedidas. Por exemplo, “os altos não foram tirados” (1Rs 15:14; 2Rs 12:3; 2Cro 24:18).

Embora a monarquia estivesse dividida e, a determinada altura, o reino de Israel conquistado pela Assíria e o povo deportado, e Judá continuando ainda por 134 anos, a totalidade dos 390 anos consideram a totalidade de Israel, todas as tribos (2Cro 12:1). Mesmo depois da deportação das 10 tribos do reino de Israel, o reino de Judá continha muitos elementos destas tribos que, em várias ocasiões, tinham migrado do norte para o sul (2Cro 11:13-14; 15:8-9; 35:17-18).

Parece-nos que os 390 anos do simulacro do cerco em Ezequiel 4 para levar a iniquidade de Israel correspondem efetivamente aos 390 anos resultantes da soma dos anos de reinado dos reis de Judá, já descontados os 4 anos de coregência de Jeorão e Josafá, solucionando assim a duração do período que vai do primeiro ano de Roboão e Jeroboão até à queda de Jerusalém.

Resta outra pergunta. A que se referem os 40 anos respeitantes ao pecado de Judá que Ezequiel teve de levar sobre o seu lado direito?

Uma hipótese – a verificar – é que estes 40 anos começam no 13º ano de Josias, quando a palavra do Senhor veio a Jeremias, até ao 11º ano de Zedequias e o exílio de Jerusalém (Jr 1:1-3).

07/02/2015

A MONARQUIA DIVIDIDA

Já vimos que há, nas Escrituras, indicações que permitem determinar pontos cronológicos chave e, como que, dividir a história em grandes blocos. Podemos falar de um “crono-esqueleto”. A partir deste esqueleto cronológico podem resolver-se pontos difíceis e por vezes aparentemente contraditórios.

Resumimos como chegámos às datas chave:

0
Considerando como ponto 0, o dia em que Deus criou o homem.
Nota: Tenho optado por usar o termo Anno Hominis (AH), ano do homem, e não Anno Mundi (AM) como muitos fazem, em razão de não estar convicta de uma criação em “tempo real” de 6 dias de 24 horas como alguns defendem.
 
1656
Da criação até ao dilúvio, é fácil. Trata-se de adicionar os anos dados em Génesis 5 (, até ao ano 600 da vida de Noé quando se deu o dilúvio.
 
 
 
 
 
2083
Do dilúvio até à aliança com Abrão – quando Abrão parte para Canaã depois da morte do pai e recebe a promessa quando chega a Canaã.
A contagem retoma dois anos depois do dilúvio (que temos de adicionar), quando nasce Arfaxade. Do nascimento de Arfaxade até à morte de Terá, que viveu 205 anos, são 427 anos. Atos 7:4 diz que Abrão foi para Canaã com a morte do seu pai.
(pormenores ver cronologia e mensagem dezembro 2013 – o nascimento de Abraão)
 
2513
Da aliança com Abraão até à dádiva da lei: 430 anos (Gal 3:17; Gn 12:10; 15:13; Ex 12:40). A lei é dada no ano em que Israel sai do Egipto.
 
2992
No 480º ano (ou seja, 479 anos completos) depois de saírem os filhos de Israel do Egipto, Salomão, no 4º ano do seu reinado, iniciou a construção do templo, no mês de Zive, que é o segundo mês (1 Reis 6:1)
3029
Salomão começa a reinar no ano 2989 e reina 40 anos. Depois da sua morte o reino é dividido.

Com Roboão, filho de Salomão, e Jeroboão, filho de Nebate, começa o período da monarquia dividida.
Porque Salomão se afastara do Senhor, seguindo outros deuses, Deus lhe tiraria o reino para dá-lo ao seu servo (1Rs 11:9-13), no tempo do seu filho. Jeroboão, filho de Nebate, foi um dos adversários que Deus levantou contra Salomão (1Rs 11:26). Jeroboão era um oficial de Salomão, valente e trabalhador, colocado sobre todo o trabalho forçado. Através do profeta Aías, foi-lhe prometido governar sobre dez tribos no tempo do filho de Salomão. Mas Jeroboão levantou a mão contra o rei, pelo que Salomão procurou matá-lo. Por isso Jeroboão fugiu para o Egipto, foi ter com Sisaque, rei do Egipto, onde permaneceu até à morte de Salomão (1Rs 11:26-40).

Quando Jeroboão ouviu que Roboão fora feito rei, regressou a Israel, de onde o mandaram chamar (1Rs 12:1-3). Subentende-se que as dez tribos que se congregaram a Jeroboão já estavam numa situação de descontentamento desde os tempos de Salomão. A dureza da posição de Roboão apenas precipitou a divisão (1Rs 12:3-20).

Deduzimos que o primeiro ano de Roboão (reino de Judá) coincide com o primeiro ano de Jeroboão (reino de Israel).

A pergunta aqui é: existem dados claros na Palavra que nos permitem estabelecer um número exato de anos para o período da monarquia dividida, isto é, desde Roboão/Jeroboão até à deportação de Israel para Assíria no 6º ano de Ezequias / 9º ano de Oséias (2Rs 18:9-11), e depois até à queda de Jerusalém sob Nabucodonosor, rei da Babilónia?

Um primeiro problema com que nos deparamos é quando adicionamos os anos dos reis de Judá e os de Israel até ao 6º ano de Ezequias e 9º de Oséias, quando Israel sucumbe sob o domínio assírio e o povo é deportado.

Roboão
17
1Rs 14:21
Jeroboão
22
1Rs 14:20
 
Abias
3
1Rs 15:1-2
Nadabe
2
1Rs 15:25
 
Asa
41
1Rs 15:9-10
Baasa
24
1Rs 15:33
 
Josafá
25
1Rs 22:41-42
Elá
2
1Rs 16:6,8
 
Jeorão
8
2Rs 8:16-17
Zinri
7 dias
1Rs 16:15
 
Acazias
1
2Rs 8:26
Onri
12
1Rs 16:23
 
(Atalia)
6
2Rs11:3-4
Acabe
22
1Rs 16:29
 
Joás
40
2Rs 12:1
Acazias
2
1Rs 22:52
 
Amazias
29
2Rs 14:2
Jorão
12
2Rs 3:1
 
Uzias
52
2Rs 14:21;15:2
Jeú
28
2Rs 10:36
 
Jotão
16
2Rs 15:33
Jeoacaz
17
2Rs 13:1
 
Acaz
16
2Rs 16:2
Jeoás
16
2Rs 1310
 
Ezequias
6
2Rs 18:10
Jeroboão II
41
2Rs 14:23
 
260
anos
Zacarias
6 meses
2Rs 15:8
 
 
 
 
Salum
1 mês
2Rs 15:13
 
 
 
 
Menaém
10
2Rs 15:17
 
 
 
 
Pecaías
2
2Rs 15:23
 
 
 
 
Peca
20
2Rs 15:27
 
 
 
 
Oséias
9
2Rs 17:1
 
 
 
 
 
241
anos
 

Judá totaliza 260 anos, enquanto Israel 241 anos, 7 meses e7 dias.

Qual a lista que devemos seguir, que dá o número de anos correto?

Há várias razões que favorecem Judá.

Em primeiro lugar, a linhagem de Judá é descendência de David e Salomão, a quem o trono fora prometido. Acrescenta-se a isto Gn 49:10 – O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló.

Judá foi o reino mais fiel. Israel nunca deixou “os pecados de Jeroboão, filho de Nebate” e teve 19 reis de 9 dinastias diferentes. Enquanto todos os reis de Judá pertencem a uma só dinastia.

Ainda, o reino de Judá continuou ainda por 134 anos até, por sua vez, sucumbir a Nabucodonosor da Babilónia. Não tem lógica contar primeiro os anos de Israel para depois continuar com Judá.


Roboão
17
1Rs 14:21
Abias
3
1Rs 15:1-2
Asa
41
1Rs 15:9-10
Josafá
25
1Rs 22:41-42
Jeorão *
8
2Rs 8:16-17
Acazias
1
2Rs 8:26
(Atalia)
6
2Rs11:3-4
Joás
40
2Rs 12:1
Amazias
29
2Rs 14:2
Uzias
52
2Rs 14:21;15:2
Jotão
16
2Rs 15:33
Acaz
16
2Rs 16:2
Ezequias
29
2Rs 18:1-2
Manassés
55
2Rs 21:1
Amon
2
2Rs 21:19
Josias
31
2Rs 22:1
Jeoacaz
3 meses
2Rs 23:31
Jeoaquim
11
2Rs 23:36
Joaquim
3 meses e 10 dias
2Rs 24:8; 2Cro 36:9
Zedequias
11
2Rs 24:18
393

A soma dos anos dos reis de Judá são 393 anos, 6 meses e 10 dias.

Nestes anos, há uma coregência. Jeorão, filho de Josafá, começou a reinar “reinando ainda Josafá em Judá” (2Rs 8:16). Portanto, uma parte dos 8 anos do reinado de Jeorão é coincidente com os últimos anos de Josafá. Quantos anos governaram juntos?

2Rs 3:1 – Jorão, filho de Acabe, começa a reinar no 18º ano de Josafá

2Rs 8:16 - No ano 5º de Jorão, reinando ainda Josafá, começa a reinar Jeorão, filho de Josafá. Era da idade de 32 anos e reinou 8 anos.

A partir destes versículos, façamos um pequeno esquema para melhor entendimento:

Jeorão                  Josafá                   Jorão, filho de Acabe

                              18º ano                1º ano
                                          19º ano               
                                          20º ano               
                                          21º ano               
            1º ano                  22º ano               
            2º ano                  23º ano                
            3º ano                  24º ano                
            4º ano                  25º ano (Josafá reinou 25 anos)
                                                                     
                                                                     10º
                                                                     11º
                                                                     12º

Verificamos assim que há 4 anos de coregência, portanto, há 4 anos a mais na contagem inicial. O total de anos para o reino de Judá é, então, de 389 anos, 6 meses e 10 dias, portanto, em números redondos, 390 anos.

Quero chamar a atenção para um outro versículo, que parece deitar abaixo o cálculo anterior.

2Rs 1:17 – Jorão (filho de Acabe) começou a reinar no 2º ano de Jeorão, filho de Josafá (que é o 18º de Josafá).

Se é assim, 7 dos 8 anos do reinado de Jeorão coincidiriam com Josafá. No entanto, vemos em 2Rs 8:25, que é só no 12º ano de Jorão, filho de Acabe, que começou a reinar Acazias, filho de Jeorão. Isto significa que, antes de um período de co-rex, ainda havia um período designado de pro-rex. Uma situação semelhante acontece com Acazias. Diz em 2 Rs 9:29 que no ano 11º de Jorão, filho de Acabe, começara Acazias a reinar sobre Judá.

É difícil fazer um cálculo exato, porque apenas é dado o número de anos, não de meses, e não sabemos em que mês determinado rei começa a reinar. Há sempre pequenas margens de erro. Por isso é tão difícil acertar os reinados dos de Judá e os de Israel, tendo constituído uma dor de cabeça para os cronologistas. Mas, sabendo o número total de anos do período, torna-se mais fácil, embora não se posssa esperar uma cronologia absolutamente correta.

 
No entanto, só ficaremos satisfeitos com estes 390 anos quando o mesmo valor possa ser alcançado por outra via. De facto, existe outra passagem bíblica que pode corroborar esta solução dos 390 anos.

Disto trataremos na próxima mensagem.