22/05/2017

A ESTRELA DE BELÉM (3)

Continuação de A ESTRELA DE BELÉM (1) e (2)

Na mensagem anterior, vimos uma sequência de eventos astronómicos envolvendo o planeta Júpiter – o planeta Rei – culminando em 25 de dezembro com Júpiter numa posição estacionária e zenital sobre Belém.
Conjunções de planetas são eventos relativamente frequentes. Especial é a frequência e estreita proximidade dos planetas nas conjunções, bem como a sua localização numa mesma região do céu, nomeadamente nas constelações de Leo e Virgo, o que não pode deixar de formar em nossa mente associações com a simbologia e mensagem bíblica.
Se associarmos os eventos astronómicos com os eventos da narrativa bíblica, vemos que 25 de dezembro (ou uma data aproximada) foi o dia em que os magos chegaram a Belém.

Há indicações de que Jesus já tinha nascido quando os magos chegaram a Belém:
- O menino já não estava na manjedoura onde Maria o colocou depois de ter dado à luz (Lc 2:7) e onde os pastores o acharam (Lc 2:12, 15-16), mas ele estava numa casa (Mt2:11).
- A palavra com que a criança Jesus é identificada em Mateus 2 é diferente da que é usada na narrativa do nascimento e da visita dos pastores em Belém em Lucas 2.
Em Lc 2:12, 16, 21 é usada a palavra grega BREPHOS, que se refere a uma criança recém-nascida, ou ainda não nascida no caso da criança no ventre de Isabel (Lc 1:41, 44).
Na narrativa dos magos em Mt 2:8, 9, 11, 13, 14, 20, 21, é usada a palavra PAIDION, que se aplica normalmente a crianças. A mesma palavra é usada em Lc 2:40 – Crescia o menino (paidion) e se fortalecia. Por outro lado, PAIDION é usado em Lc 1:59 para o filho de Isabel e Zacarias, quando o foram circuncidar.
- Depois de inquirir da estrela que os magos viram, Herodes mandou matar as crianças com menos de dois anos de idade (Mt 2:16). O primeiro avistamento de Júpiter em estreita conjunção com Vénus foi em 12 de agosto 3 a.C.. Os magos chegaram a Jerusalém em dezembro de 2 a.C., cerca de 17 meses depois. Como as estrelas não davam certeza quanto a qual das conjunções significava o nascimento da criança, Herodes, para não correr riscos, deve ter arredondado o prazo a 2 anos.

A tradição de 25 de dezembro:
A origem da tradição de comemorar o nascimento de Jesus em 25 de dezembro não é muito clara.
A mais antiga referência a uma data para o nascimento de Jesus é de Hipólito de Roma (c.170-c.240) no seu Comentário sobre Daniel. O dia que ele indica é “oito dias antes das calendas de janeiro, uma quarta-feira, no 42º ano do reino de Augusto, 5500 anos desde Adão”, o que corresponde ao dia 25 de dezembro, e o 42º ano de Augusto é 3/2 a.C. (Finegan, #562). Um calendário romano do ano 354, Depositio martyrum, e um sermão no ano 386 de João Crisóstomo (pregador em Antioquia e mais tarde bispo de Constantinopla) referem a mesma data para a celebração do nascimento de Jesus em Belém (Finegan, #563).
Outra tradição data o nascimento de Jesus a 6 de janeiro, “treze dias depois do solstício de inverno”, segundo Epifânio (315-403). O solstício de inverno calhava então em 25 de dezembro. Clemente de Alexandria calculou a data de 18 de novembro (Finegan, #554). Outras referências antigas situam o nascimento de Jesus em abril, maio ou junho (Finegan, #554).
A opinião mais generalizada coloca a concepção na primavera e o nascimento no inverno (Finegan, #560, 569).
Relativamente ao dia 25 de dezembro, o que se destaca é uma possível associação com o dia do solstício de inverno, quando os dias começam de novo a crescer. A data atual do solstício é 21 de dezembro, mas naquele tempo 25 de dezembro era considerado o dia certo. Esse dia era um festival pagão em muitos lugares. Em Roma, existiam as Saturnálias que se festejavam por volta desse dia e, em 274, o Imperador Aureliano instituiu o festival de Deus Sol Invictus, o “sol invicto” sendo declarado a divindade oficial do Império. Quando o Imperador Constantino (323-337) aceitou o Cristianismo, 25 de dezembro passou a ser comemorado como nascimento de Cristo (Finegan, #568).
As datas de 25 de dezembro e 6 de janeiro podem ter sido fixadas por causa da associação com a data então aceite do solstício de inverno e com a expressa finalidade de substituir os festivais pagãos.
Eu interrogo-me se a data de 25 de dezembro não estará na realidade relacionada com o reconhecimento dos eventos astronómicos que levaram os magos a Belém. Eventos que foram depois esquecidos. E visto que 25 de dezembro teria sido a data em que os magos chegaram a Belém, deduziu-se que o nascimento de Jesus tenha acontecido nesses mesmos dias.

O que sugerem os eventos astronómicos de 3 e 2 a.C.?
Relembremos as datas da sequência de eventos:
Data 
Conjunção de planetas
12 agosto 3 a.C.
Vénus-Júpiter
11 setembro 3 a.C.
Mercúrio-Vénus
14 setembro 3 a.C.
Júpiter-Régulo
17 fevereiro 2 a.C.
Júpiter-Régulo
8 maio  2 a.C.
Júpiter-Régulo
17 junho 2 a.C.
Júpiter-Vénus
26 agosto  2 a.C.
Mars-Júpiter- Vénus- Mercúrio
25 dezembro 2 a.C.
Júpiter estacionário sobre Belém

Observamos que há duas conjunções dos planetas Júpiter e Vénus com um intervalo de cerca de 10 meses, a primeira em 12 de agosto 3 a.C. e a última em 17 de junho 2 a.C.. Um encontro de Júpiter, o planeta Rei, com Vénus, que representa a Mãe. Por exemplo, para os caldeus e os magos, Vénus era Ishtar, a mãe, a deusa da fertilidade.
Em 11 de setembro de 3 a.C. houve uma conjunção dos planetas Mercúrio e Vénus. Mercúrio é o Mensageiro. Podemos ver aqui a anunciação, o anjo Gabriel enviado a Maria (Lc 2:26-32)?
Além desta conjunção, o céu de 11 de setembro 3 a.C. lembra Apocalipse 12:1 – Viu-se um grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida de sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz.
Esta passagem é altamente simbólica, mas ao mesmo tempo é possível olhar para a constelação de Virgo no céu e ver um “sinal” astronómico.
No período do nascimento de Jesus, o Sol no seu curso anual entrou na posição da cabeça da mulher em 13 de agosto aprox. e saiu dos seus pés aprox. 2 de outubro. Mas João viu a cena quando a mulher estava “vestida” ou “adornada” com o sol. Isto deverá indicar que a posição do sol na visão era algures a meio-corpo. A lua devia estar na localização exata debaixo dos pés quando o sol estava a meio do corpo. No ano 3 a.C. isto aconteceu durante uma hora e meio, como observado da Judeia ou de Patmos, no crepúsculo de 11 de setembro. O relacionamento começou às 18:15 (pôr do sol) e durou até 19:45 (pôr da lua). É o único dia em todo o ano que o fenómeno astronómico descrito no Apocalipse podia acontecer (MARTIN, capítulo 6).
O que é de destacar aqui é o facto de a lua estar no início da fase crescente, ou seja, indica o começo de um novo mês lunar. Esse dia era o primeiro dia de Tishri, o novo ano judaico, Rosh ha-Shanah, o Dia das Trombetas (Lev 23:23-26). Seria um dia expressivo para a chegada do Messias na terra, e por isso apontado por vários autores contemporâneos como o dia do nascimento de Jesus.
Fonte da imagem: Victor Paul Wierwille. Jesus Christ our promised seed (1982)

Olhando para os eventos astronómicos, apresentam-se várias alternativas para o nascimento de Jesus:
4 a.C.
3 a.C.
2 a.C.
J
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O
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A
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1) 25 de dezembro (chegada dos magos) como data do nascimento, situando a concepção na primavera, no mês de março.
2) 11 de setembro (Dia das Trombetas) como dia do nascimento, situando a chegada dos magos em dezembro 15 meses depois.
3) 11 de setembro como dia da anunciação (conjunção de Mercúrio e Vénus) e concepão. Isto situaria o nascimento 9 meses depois, o que corresponde à segunda conjunção Júpiter-Vénus em 17 de junho.

Em meu ver, a terceira opção – o nascimento em junho – é a mais aceitável, pelas seguintes razões:
Lc 1:26 diz que no 6º mês foi o anjo Gabriel enviado a Maria, a Nazaré na Galileia. Geralmente, é interpretado como sendo o 6º mês da gravidez de Isabel, por causa do v.36 que diz – E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril.
Mas, em meu ver, é mais provável Lc 1:26 significar simplesmente que o acontecimento descrito em Lc 1:26-38 teve lugar no 6º mês do ano, que é o mês de Elul (agosto-setembro). E 11 de setembro enquadra-se aqui perfeitamente.
Se o anjo Gabriel foi ter com Maria no 6º mês do ano, nem 25 de dezembro nem 11 de setembro são opção para o dia de nascimento porque situam a concepção longe do 6º mês.
Com a concepção em setembro, Jesus pode ter nascido no 3º mês do ano seguinte, que é Sivan (maio-junho). E aqui enquadra-se a conjunção Júpiter-Vénus de 17 de junho.
Esse mês será também o da Festa das Semanas ou Pentecostes, que ocorre 50 dias depois da Páscoa (Lv 23). É uma ocasião igualmente simbolicamente significativa. E uma boa ocasião para José e Maria irem a Belém; e por isso uma boa razão para não haver lugar na estalagem (Lc 2:7), visto que muitos Judeus se deslocavam a Jerusalém para esta Festa. Belém fica muito próximo de Jerusalém.
Ap 12:1, sendo um versículo simbólico (e certamente não específico da figura de Maria, mas com uma abrangência muito maior), não obriga a situar o nascimento de Jesus em 11 de setembro. Podemos interpretar este versículo como condensando numa só frase todo o período de gravidez, desde a concepção até ao dar à luz, não invalidando o significado do Dia das Trombetas como início de uma nova era com a encarnação de Jesus.
Se Jesus nasceu em junho, ele teria então cerca de 6/7 meses aquando da chegada dos magos.
Jesus nasceu quando José e Maria foram a Belém para alistar-se, conforme requerido pelo decreto de César Augusto convocando toda a população do império para recensear-se (Lc 2:1-6). Lembramos que em fevereiro de 2 a.C. Augusto recebeu o título de Pater Patriae, havendo uma grande probabilidade que o “recenseamento de Quirino” tenha a ver com este facto (ver mensagem O RECENSEAMENTO DE QUIRINO). Era requerido de todas as pessoas, cidadãos romanos e outros, em todo o Império e suas províncias, um juramento de lealdade. Se o decreto emanou do próprio Augusto, penso ser possível concluir que o censo foi conduzido depois de fevereiro.


Assim, as evidências bíblicas, históricas e astronómicas parecem convergir em junho de 2 a.C. para a data do nascimento de Jesus