13/06/2023

A BÍBLIA: UM LIVRO DE HISTÓRIA

Porque é que a Bíblia é história? Porque é que a Bíblia tem de ser história?

 Mesmo entre cristãos, as opiniões dividem-se quanto à historicidade de muitas partes da Bíblia, particularmente do livro de Génesis, deixando-se levar pelos argumentos da “ciência”, de biólogos, geólogos e cosmólogos, de arqueólogos e historiadores.

Os evolucionistas ridicularizam o relato da criação e o criacionismo. A geologia uniformitarista defende que a terra tem bilhões de anos e rejeita um dilúvio universal. Os historiadores afirmam que eventos descritos na Bíblia nunca ocorreram, que pessoas não existiram, ou pelo menos não da maneira como está escrito e quando. O êxodo do Egipto, a conquista da terra de Canaã, a existência de Abraão e dos patriarcas Isaac e Jacob, e até a existência de David e Salomão é posta em causa.

Tudo o que é “anormal” e “sobrenatural”, tudo o que desafia as alegadas constantes da física é descartado como mito, lenda e ficção (as pragas do Egipto, a passagem pelo mar … e, no Novo Testamento, Jesus transformando água em vinho, Jesus andando sobre a água, Jesus calando a tempestade, a multiplicação dos pães, as curas, a ressurreição …).

Mas é no evento mais inacreditável e sobrenatural que reside a salvação e o fundamento da nossa fé.

Paulo afirma que «se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé … se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens (1Cor 15:17,19).

Se os eventos narrados na Bíblia não são verdade histórica, não têm consequências para a vida.

A razão da nossa fé está baseada neste facto histórico e ponto culminante do plano de Deus que se desenvolveu desde “antes da fundação do mundo” (Ap 13:8): Jesus ressuscitou!

«Se Cristo não ressuscitou, se os mortos não ressuscitam, que nos aproveita isso?» Quem não crê nisto, seja coerente: «Comamos e bebamos que amanhã morreremos» (1Cor 15:32).

Por outro lado, se a ressurreição é verdade, não será também todo o resto narrado na Bíblia?

A verdadeira fé cristã está fundamentada em factos históricos, não em invenções e fábulas. Se a Bíblia não é verdade, se os eventos descritos na Bíblia não são factos históricos, a nossa fé não vale nada. Tudo não passa de uma grande ilusão.

Se Deus não é o Criador, todo o resto é irrelevante. Não reconhecer o Deus Criador, não reconhecer que Deus criou o homem/Adão (e que este não é evolução de símio, de acaso e de seleção natural), abandonar um Adão histórico e negar a queda do homem, o pecado e o juízo é negar a razão por que Jesus veio à terra para redimir a humanidade: a cruz e a ressurreição de Jesus não fazem, então, sentido.

Por mais estranhas e impossíveis que algumas partes da bíblia possam parecer aos nossos olhos do século 21, impregnados com toda a informação que vem do mundo, da ciência, da filosofia, da literatura, do cinema, da televisão, das redes sociais, a Bíblia é história, é facto.

O nosso fundamento tem de ser a autoridade da Palavra de Deus, a verdade mais alta. Afinal, vem do nosso Deus que é o Criador de todas as coisas. É nele, em Cristo, que estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.

«E digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas … Tendo cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs subtilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo» (Col 2: 3-4, 8).


Quanto à autoridade das Escrituras, cito Herman C. Hanko (Issues in Hermeneutics. (Protestant Reformed Theological Journal, April and November, 1990, and April and November, 1991 http://www.prca.org/articles/issues_in_hermeneutics.html):

«A Escritura é diferente de qualquer outro livro. Não veio até nós para verificação. Não apresenta o seu caso para ser examinado através provas externas a ela para determinar se é ou não é credível. Não é um texto sobre a filosofia da história que apresenta opiniões extraordinárias sobre como devemos explicar a história; não apresenta opiniões que estão abertas a exame e questionamento. É a Palavra de Deus que vem para o homem como “assim diz o Senhor”. A Palavra traz com ela a autoridade do próprio Deus soberano perante quem todos os homens devem curvar-se em humildade. Depende dela o desfecho de céu ou inferno».

Quando Deus não é reconhecido, quando a autoridade das Escrituras é negada, há lugar a todo o tipo de interpretações.

… Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem, pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inexcusáveis, porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos (Rom 1:20-22).

Amontoarão para si doutores, conforme as suas próprias concupiscências. Desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas (2Tim 4:3-4).

 

As afirmações bíblicas, dizem (alguns), devem ser verificadas pela ciência. Isto significa colocar a criatura acima do Criador, a razão da mente humana acima de Deus, estabelecer a mente humana como norma e árbitro da verdade e do conhecimento.

O que o Senhor responde a esta presunção será porventura a mesma pergunta que fez a Job?

 -- Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? … (Job 38:4-5)

– Quem guiou o Espírito do Senhor? E que conselheiro o ensinou? Com quem tomou conselho, para que desse entendimento, e lhe mostrasse as veredas do juízo e lhe ensinasse sabedoria, e lhe fizesse notório o caminho da ciência? […] A quem, pois, fareis semelhante a Deus? Ou com que o comparareis? […] Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos: ele é o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda para neles habitar (Isaías 40:13-14,18, 22).