19/09/2013

A preservação do texto - 2

Martin Anstey, James Jordan e Floyd Nolen Jones, que constam da nossa bibliografia principal, defendem o Texto Massorético Hebraico como o texto que tem preservado as palavras inspiradas por Deus.

Eles utilizam o texto hebraico para construírem a sua cronologia padrão, e rejeitam outras versões como a Septuaginta e o Pentateuco Samaritano.

Além disso, consideram todas as fontes não bíblicas apenas como secundárias. Estas fontes incluem textos literários e tradições do antigo Médio Oriente, livros apócrifos do Velho Testamento, as obras de Flávio Josefo, escritos talmúdicos, inscrições em antigos monumentos, literatura clássica grega e romana, observações e cálculos astronómicos, e os trabalhos de cronologistas antigos e modernos.
Como diz Anstey, os resultados obtidos a partir do depoimento destas outras testemunhas podem ser comparados (itálicos do próprio autor) com os resultados obtidos a partir do relato do Velho Testamento, mas não podem ser elevados a padrão da Verdade estabelecida, nem podem ser usados para corrigir o depoimento da testemunha principal, que é a testemunha bíblica (Anstey, 2013: p.14-15).


O Texto Massorético: o que é? Quais os argumentos que falam a seu favor?

17/09/2013

A preservação do texto - 1


Um primeiro ponto fundamental que convém esclarecer prende-se com o texto bíblico utilizado pelos cronologistas para construírem a sua cronologia. Qual é o texto correto?

Isto é importante porquê?

Porque se verificou que, dependente do texto utilizado (três textos entram em linha de conta: o Texto Massorético, a Septuaginta e o Pentateuco Samaritano), o número de anos decorridos na cronologia será diferente. Um exemplo do livro de Génesis torna isto claro.

16/09/2013

Introdução


Este blogue pretende ser um espaço de estudo e reflexão, e de partilha, sobre temas e problemáticas de cronologia bíblica.

É uma área vastíssima, onde distinguimos vários campos de reflexão:

A cronologia da criação, com o debate entre evolucionistas e criacionistas. A influência das teorias evolucionistas, da geologia, da ciência moderna, no pensamento cristão. As interpretações de Génesis 1 no desejo de conciliar as Escrituras e os achados da ciência. O debate na ordem do dia, no meio cristão, entre os defensores da designada teoria “quadro” (framework hypothesis) e os seus opositores…

A cronologia do Velho Testamento, com o questionamento da historicidade do texto bíblico e da validade das referências cronológicas que contem. A força da cronologia secular e académica, da crítica textual. A rejeição da cronologia bíblica tradicional. Porém, um apelo, embora ainda fraco, à revisão da cronologia secular…

As tentativas de vários autores de estabelecer uma cronologia padrão (standard chronology) do Velho Testamento, com todas as dificuldades inerentes. As variantes textuais e as traduções. O Texto Massorético ou a Septuaginta. Aparentes contradições ou alegados erros de escriba no próprio texto bíblico…

Assuntos e questões não faltam.

 
Como aparece este blogue?

Em 2008, escrevi um artigo cujo objetivo era fazer uma análise aprofundada da profecia das 70 Semanas de Daniel. O estudo conduziu à necessidade de abordar o problema cronológico inseparável desta profecia, por ser este o principal causador da divergência de interpretações.
O período das “setenta semanas” da profecia de Daniel, a sua duração, o seu ponto de início e o seu término, estão entre os pontos mais difíceis de toda a cronologia bíblica. Nenhuma interpretação decisiva e convincente tem sido apresentada até hoje.

Na parte II desse artigo, explico a cronologia do referido período - que inclui a cronologia de Esdras e Neemias - como o entendi, com a ajuda de vários autores, referidos na bibliografia. Apresento uma conclusão, que se constitui, na realidade, como uma hipótese de trabalho… Quando lá chegarmos … cronologicamente.
O trabalho de muitos meses sobre a profecia de Daniel pôs-me em contacto direto com a disciplina da cronologia bíblica, principalmente através da Biblical Chronology Newsletter de James Jordan (1989-1998) e da obra de Martin Anstey, Romance of Biblical Chronology (1913), ambos disponíveis online.

Há cerca de um ano, resolvi retomar o estudo da cronologia bíblica de um modo mais sistemático, seguindo passo a passo as indicações cronológicas fornecidas no Velho Testamento, com o intuito de ver se era possível construir uma cronologia desde Adão até Jesus (ou seja, quantos anos decorreram desde a criação de Adão até Jesus e situar os eventos e personagens bíblicas nessa cronologia) com base, apenas, na informação fornecida no texto bíblico. E evitando, por enquanto, as questões e os debates ligados à semana da criação.

Verifiquei que existem muitos pontos difíceis, bem como muitos obstáculos e armadilhas a uma resposta simples e direta.
Cronologia bíblica é um objeto de estudo pouco conhecido do cristão em geral. Mas é importante, mais importante e mais sério do que nos damos conta.

Cronologia é uma disciplina da história, frequentemente designada como a espinha dorsal da história. É a ciência de situar eventos históricos na sua ordem de ocorrência no tempo e em relação uns com os outros.
“Sem ela seria impossível compreender a sequência de eventos históricos, quer bíblicos quer não bíblicos. Visto que a cronologia é o fundamento em que a história assenta e o esqueleto que lhe dá estrutura e forma, os eventos da história só conseguem ser significativos e corretamente compreendidos enquanto forem mantidos dentro da sequência temporal correta. Quando a sequência temporal é alterada, a interpretação dos eventos é distorcida, deixando de ser fiável”. (Jones, Floyd Nolen. The chronology of the Old Testament. USA: Master Books Edition, 2009/1993, p.1)

A Bíblia é, também, um livro de história. Se a sua cronologia não é fiável, se não é verdadeira, a própria historicidade da Bíblia cai por terra, e pode, com isso, minar os fundamentos da nossa fé.
A cronologia bíblica tem sofrido muitos ataques, como ainda veremos. Penso, portanto, que esta matéria merece a nossa maior atenção.

Uma palavra de Edward J. Young a este respeito:
«Someone has aptly compared the Bible to an anvil against which the hammer blows of unbelief are constantly beating. But although the hammers crack and break frequently, and must be replaced, the anvil stands. It cannot be shattered.

Through the centuries many attacks have been levelled against the Word of God. Sometimes it would almost seem as if these attacks would destroy the Scriptures. Yet in His good providence, God has seen to it that His Word abides; while the attacks which are made upon it soon die away and are almost forgotten, except by theologians and church historians—repositories of the broken hammers.»

Edward J. Young, “The Accuracy of Genesis,” His 17.6 (March 1957): 23-26. Acedido em http://www.biblicalstudies.org.uk/
 
«Alguém tem comparado a Bíblia a uma bigorna contra a qual batem constantemente as marteladas da descrença. Mas embora os martelos estalem e partam muitas vezes, devendo ser substituídos, a bigorna permanece. Não pode ser destruída.
Ao longo dos séculos, a Palavra de Deus tem sido alvo de muitos ataques. Por vezes até parece que estes ataques conseguem destruir as Escrituras. Mas Deus tem providenciado para que a Sua Palavra prevaleça, enquanto os ataques rapidamente diminuem e quase são esquecidos, exceto por teólogos e historiadores da igreja – repositórios de martelos partidos».

 
Como procederemos  neste blogue?

Proponho fazer o mesmo caminho que encetei há um ano, mas agora com mais alguns conhecimentos e uma melhor visão sobre as muitas questões relativas ao tema. Mas também mais perguntas.
Começando no livro de Génesis, seguiremos as referências cronológicas, tentaremos construir uma cronologia das pessoas e eventos bíblicos, recorrendo, naturalmente, a fontes bibliográficas. Analisaremos as dificuldades e questões que se levantam, e abordaremos outros assuntos de algum modo relacionados com a nossa matéria de estudo, à medida que progredirmos na história.

Além de diversas fontes e bibliografia que irei mencionar quando for oportuno, a bibliografia principal utilizada na nossa viagem cronológica incluirá os seguintes autores:

ANSTEY, Martin (1913). The Romance of Bible Chronology. An Exposition of the meaning, and a Demonstration of the Truth, of every Chronological statement contained in the Hebrew Text of the Old Testament. London, Edinburgh and New York: Marshall Brothers, Ltd. Disponível em http://www.amen.org.uk/anstey/

JORDAN, James (1989-1998). Biblical Chronology Newsletter. Disponível através de  http://onlinebooks.library.upenn.edu/webbin/serial?id=biblicalchron

JONES, Floyd Nolen (2009-1993).The Chronology of the Old Testament. USA: Masterbooks.



Estes três autores (Anstey, Jordan e Jones) pertencem à escola tradicional de cronologia bíblica. Esta escola considera as Escrituras como a fonte factual contra a qual todo outro material deve ser avaliado. O objetivo dos membros desta escola é de construir uma cronologia “padrão” da Bíblia, de Adão a Jesus, a partir dos dados cronológicos contidos no Texto Massorético Hebraico do Velho Testamento, independentemente de outras fontes.

Do lado oposto, está a escola moderna ou também designada “assíria”, que tenta estabelecer a sua cronologia procurando pontos de contacto, eventos sincrónicos, entre o registo bíblico e os registos assírios, babilónicos e egípcios. No entanto, este procedimento baseia-se no pressuposto de que os vários registos não bíblicos são fontes cronológicas absolutamente fidedignas e corretas, preferidas sobre o texto bíblico. Há autores cristãos que se incluem nesta categoria.