22/04/2018

O IMPÉRIO GREGO (4). Antíoco IV Epifânio


Nota: A secção sobre Antíoco IV Epifânio ocupa os vs. 21 a 32. O rei do v.36 já não pode ser o mesmo. Antíoco é selêucida, rei do norte. A certa altura, o rei do v.36 entra numa luta com o rei do sul e o rei do norte (v.40), portanto é outra personagem.

Lembramos que Antíoco III, o Grande, tirou a Judeia do domínio do rei do sul (Egipto) e integrou-a no reino do norte (Síria). Antíoco III foi durante um tempo um rei bem-sucedido, mas meteu-se com Roma e sofreu grande derrota: a redução dos territórios sob seu domínio e uma pesada indemnização a pagar a Roma. Além disso, foi obrigado a deixar o seu filho Antíoco (que passaremos a conhecer na história como “Epifânio”) como refém político em Roma.

Com a morte de Antíoco III, Seleuco IV Filopater sucedeu o seu pai no trono em 187 a.C.. Este é o arrecadador de impostos de Dn 11:20. Os impostos eram para pagar a indemnização a Roma.
21- Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a dignidade real; mas ele virá caladamente, e tomará o reino com engano.
Antíoco Epifânio não era o herdeiro legítimo do trono. Subiu ao trono de maneira irregular. Ainda durante o reinado de Seleuco IV, o filho deste, Demétrio, o herdeiro legítimo, foi enviado para Roma, trocando de lugar com Antíoco como refém. Seleuco foi assassinado por Heliodoro, um alto oficial do seu reino, em 175 a.C., e este foi por sua vez aniquilado por Antíoco Epifânio. Com o legítimo herdeiro do trono em Roma, Epifânio aproveitou a oportunidade para tomar o poder com a ajuda do rei de Pérgamo, proclamando-se co-regente com outro filho de Seleuco, ainda criança, que manda assassinar. Ele nunca é referido como rei do norte, mas é o que ele é na realidade.

É qualificado como “vil” (desprezível, abjecto, ignóbil). Não respeitou os costumes dos judeus como o fez seu pai, Antíoco III, que permitiu que os judeus vivessem segundo a seu Lei e costumes. Josefo relata várias cartas de Antíoco III que testemunhavam da amizade e estima que ele tinha para com os judeus. Epifânio, pelo contrário, apoiou os corruptos entre os judeus, “os violadores do concerto” (v.32), deixando que lhe comprassem o posto de sumo-sacerdote por dinheiro.
Em 173 a.C. Antíoco pagou o restante da indemnização de guerra imposta pelos romanos e fortaleceu o seu poder: com os braços de uma inundação arrancou os seus inimigos diante dele (v.22). Também fez prosperar económica e socialmente o seu reino: 24- Virá, também, caladamente, aos lugares mais férteis da província, e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais; repartirá entre eles a presa, e os despojos, e a riqueza, e formará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo (v.24). “Por certo tempo”, porque haveria um limite ao seu poder e em certo momento o seu domínio sobre a Judeia (que é o que sempre está em foco) passará para outro.
“Quando Antíoco se viu consolidado no seu trono, pretendeu apoderar-se também do Egipto, a fim de reinar sobre os dois reinos. Invadiu, pois, o Egipto á frente de um exército poderoso, com carros, elefantes e cavaleiros e uma grande esquadra, e travou combate com o rei do Egipto. Ptolomeu, o qual recuou diante dele e fugiu, muitos tombando feridos. As cidades fortificadas do Egipto foram tomadas e Antíoco apoderou-se dos despojos do país” (1Mac 1:16-19).
Dn 11:25 a 27 falam desta primeira campanha, bem-sucedida, contra o Egipto.
25- E suscitará a sua força e o seu coração contra o rei do sul, com um grande exército, e o rei do sul se envolverá na guerra, com um grande e mui poderoso exército, mas não subsistirá, porque formarão projetos contra ele. 26- E os que comerem os seus manjares o quebrantarão; e o exército dele se derramará, e cairão muitos traspassados. 27- Também estes dois reis terão o coração atento para fazerem o mal e a uma mesma mesa falarão a mentira; ela, porém, não prosperará, porque o fim há-de ser no tempo determinado.
O que é que aconteceu?
Em 170-169 a.C. o Egipto quis reconquistar a Celessíria (região onde fazia parte a Judeia), e envolveu-se numa guerra com Antíoco que invade o Egipto. O Egipto tem um exército poderoso, mas não subsiste e o exército egípcio é derrotado pelo poderoso exército de Antíoco, que é como “uma inundação que arranca os inimigos diante dele” (v.22). Antíoco ocupa o país (exceto Alexandria) e captura o rei Ptolomeu VI Filometor (que é seu sobrinho) apresentando-se como o seu protetor. Em Alexandria, fora da influência de Antíoco, Ptolomeu VII (irmão de Ptolomeu VI) é proclamado rei do Egipto.
Agora, os dois reis (Epifânio e Ptolomeu VI) tinham uma coisa em comum: derrotar Ptolomeu VII e segurar o poder sobre o Egipto. Chegaram a um acordo, Ptolomeu VI foi colocado no trono como co-regente do Egipto com Antíoco. Mas na mesma mesa onde selaram o acordo, falaram mentira. Isto é, cada um tencionava trair o outro. Mas isto não prosperaria. No inverno de 169/168, os governantes ptolemaicos reconciliam-se, o que põe fim à ambição de Antíoco de manter os dois irmãos em guerra um contra o outro.
Antíoco veio a saber que o rei do Egipto havia tomado uma atitude hostil aos seus interesses e dirige novo ataque contra o Egipto, sitiando Alexandria (168 aC). Mas esta segunda campanha tem um desfecho muito diferente da primeira (vs.29-30).
29- No tempo determinado, tornará a vir contra o sul; mas não será na última vez como foi na primeira. 30- Porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza;
Entretanto, os Ptolemeus tinham feito uma aliança com Roma. Roma declarou o Egipto zona interdita, e enviou contra Antíoco “os navios de Quitim”. Antíoco foi humilhado e forçado a retirar os seus exércitos do Egipto e regressar.

Antíoco e os judeus
Vamos agora ver como a história de Antíoco se interliga com a dos judeus
22- e serão quebrantados, como também o príncipe do concerto. 23- E, depois do concerto com ele, usará de engano; e subirá, e será fortalecido com pouca gente.
Quem é o príncipe do concerto do v.22?

A palavra traduzida “príncipe” é NAGIYD. É utilizada para um líder e chefe do povo, um rei, como David (1Sam 9:16; 2Sam 5:2 etc.), Jeroboão (1Rs 14:7), Ezequias (2Rs 20:5); para líderes de tribos (1Cr 27:16) e outros altos oficiais (1Cr 27:4).

A mesma palavra também é utilizada para líderes religiosos, nomeadamente o sumo-sacerdote, ou o filho do sumo-sacerdote, e outros cargos de supervisão no templo como o maioral dos tesouros. A palavra NAGIYD nem sempre é traduzida com a mesma palavra em português: maioral (1Cr 9:11;2Cr 31:13; Ne 11:11); sumo-sacerdote (2Cr 31:10); guia (1Cr 9:20); presidente (Jer 20:1); chefe (1Cr 12:27).

O príncipe do concerto aqui é o sumo-sacerdote. Qual é a história?

O sacerdote em funções no início do reinado de Antíoco Epifânio era Onias III. Onias é caluniado diante do rei por um filho de Tobias (descendente do Tobias do tempo de Neemias) como “grande amante de dinheiro” por ter recusado pagar impostos ao predecessor de Antíoco (Josefo conta a história em Ant.12.4). O irmão de Onias, que adotou um nome grego Jasão, começou a manobrar para obter o cargo de sumo-sacerdote, prometendo a Antíoco muito dinheiro se ele fosse nomeado. Antíoco consentiu e Onias é deposto (174 a.C.). Jasão torna Jerusalém numa cidade grega, com a conivência dos outros sacerdotes e dos liberais entre e povo. Diz no livro de 2Macabeus 4: “tão logo assumiu o poder, começou a fazer passar os seus irmãos de raça para o estilo de vida dos gregos. Suprimiu os privilégios reais benignamente concedidos aos judeus … abolindo as instituições legítimas, introduziu costumes contrários à lei … construiu a praça de esportes…Verificou-se desse modo tal ardor de helenismo e tão ampla difusão de costumes estrangeiros, por causa da exorbitante perversidade de Jasão, esse ímpio e de modo algum sumo-sacerdote, que os próprios sacerdotes já não se mostravam interessados nas liturgias do altar. Antes, desprezando o Santuário e descuidando-se dos sacrifícios, ….”.

Três anos depois (171 a.C.), Jasão envia um certo Menelau, irmão de Simão o benjamita, levar o dinheiro do tributo a Antíoco. Mas não contou que Menelau aproveitasse a oportunidade para comprar o sumo-sacerdócio para si próprio, mesmo não sendo de descendência sacerdotal. Agora Jasão é afastado. Menelau continua a política de Jasão. Subtraiu objetos de ouro do templo para enriquecimento próprio e para pagar subornos e manter-se no poder. Onias III, que estava exilado, ficou a saber e repreendeu-o publicamente, o que levou a que Onias fosse assassinado a mando de Menelau (2Mac 4:23-35).

Por esta altura, Antíoco conduzia a sua primeira campanha contra o Egipto, que lhe rendeu muito despojo de guerra.
28- Então tornará para a sua terra, com grande riqueza, e o seu coração será contra o santo concerto; e fará o que lhe aprouver, e tornará para a sua terra.
Porque, depois disto, se dirigiu Antíoco à Judeia com o coração contra o santo concerto?

Circulavam falsos rumores que Antíoco tinha morrido. Jasão, que tinha sido afastado do sumo-sacerdócio aproveitou isto e reuniu mil homens e desferiu um ataque contra a cidade, entregando-se sem piedade à chacina dos seus concidadãos, na tentativa de retomar o controlo. Mas não conseguiu no seu intento e foi obrigado a fugir. Chegando estas informações a Antíoco, este ficou com a impressão de que a Judeia estava em revolta contra ele. Dirigiu-se com o seu exército a Jerusalém “enfurecido em seu íntimo como uma fera” e apoderou-se da cidade à força das armas. Executou uma grande matança, oitenta mil pessoas foram mortas no espaço de três dias, e outros muitos milhares vendidos como escravos. Não contente com isso, Antíoco teve a ousadia de penetrar no templo, guiado por Menelau, e roubou parte dos tesouros do templo para encher os seus cofres do dinheiro necessitado para as suas campanhas militares. Após o que se apressou para regressar à sua terra, deixando superintendentes em Jerusalém para manter a ordem e Menelau como sumo-sacerdote, que dominava sobre os seus concidadãos de modo ainda mais atroz que os outros (a história é contada em 2Mac 5; e por Josefo em Ant,12,5).

Dois anos depois, de regresso da desafortunada segunda campanha no Egipto, Antíoco volta-se novamente contra Jerusalém.
30- […] e voltará, e se indignará contra o santo concerto, e fará como lhe apraz; e ainda voltará e atenderá aos que tiverem desamparado o santo concerto. 31- E sairão a ele uns braços, que profanarão o santuário e a fortaleza, e tirarão o contínuo sacrifício, estabelecendo a abominação desoladora. 32- E aos violadores do concerto, ele com lisonjas perverterá,
Antíoco enviou um oficial com a missão de forçar os judeus a abandonarem as leis de seus pais e mandou profanar o santuário. O templo encheu-se de lascívias e das orgias cometidas pelos pagãos que se divertiam com meretrizes, introduzindo coisas ilegais nos átrios sagrados. O altar estava coberto de oferendas proibidas pela lei. Não se podia mais celebrar o sábado, nem guardar as festas, nem simplesmente confessar que se era judeu … (2Mac 6:1-8).
A “abominação desoladora” estava instalada. Não porque Antíoco entrou no santuário para roubar o ouro ou porque mandou sacrificar porcos no altar, como muitos interpretam, mas porque foram os próprios sacerdotes ao violarem a aliança. Descuidavam-se dos sacrifícios, permitiram a profanação do templo e foram coniventes com a nomeação de um sumo-sacerdote fraudulento. Abominações desoladoras são os atos cometidos pelos próprios judeus no templo.

Daniel 11:31 diz que braços saíram que profanaram o santuário e tiraram o sacrifício costumado e estabeleceram a abominação desoladora. Estes braços não são de Antíoco, mas dos violadores da aliança claro que lisonjeados por Antíoco porque serve a sua política. Os violadores da aliança só podem ser aqueles que são da aliança. A transgressão dos sacerdotes fez com que Antíoco impusesse a remoção do sacrifício contínuo – mas não era nada que já não estivesse a acontecer desde o tempo de Jasão – e proibisse os judeus de praticarem a sua religião (sacrifícios, a circuncisão, etc.) e trouxesse o exército para executar matanças.

Quando estes atos abomináveis são trazidos para dentro do santuário, é o lugar santo onde Deus habita (ou que representa a sua habitação) que é profanado. Deus não recebe coisas abomináveis. Quando estas entram no seu templo, Deus abandona o seu santuário e quando não há mais nada a fazer, destrói-o.

Há várias ocorrências disto na Bíblia. Os sacerdotes filhos de Eli trouxeram o pecado bem dentro do tabernáculo. Não se importavam com o Senhor (v.12). Não só roubavam do que o povo vinha sacrificar, como se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação, e fizeram transgredir o povo (1Sm 2:12-25). Em consequência, Deus trouxe um inimigo contra Israel, os filisteus, e abandonou o seu santuário (a arca da sua presença foi levada pelos filisteus), e o sumo-sacerdote Eli e os seus filhos foram mortos e os seus descendentes como que “vomitados” do serviço no santuário (1 Sm 2:30-34; 3:11-14).

No tempo de Ezequiel, o mesmo aconteceu. Ezequiel viu em visão (Ez 8-11:13) as abominações cometidas dentro do templo pelos sacerdotes. Vês o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui, para que me afaste do meu santuário (Ez 8:6-18)? Os próprios sacerdotes trouxeram religiões estranhas (idolatria) dentro do templo. Em consequência, Ezequiel viu a glória do Senhor levantar-se e sair do templo (Ez 9:3; 10:18). E também viu na sua visão Deus ordenar ao homem vestido de linho para espalhar brasas acesas sobre a cidade. Deus trouxe os caldeus e Nabucodonosor contra Israel, para destruir o templo e a cidade, levar o povo para o exílio e matar o sumo-sacerdote (Jr 4:1;7:30; 13:27; 52:24-26; Ez 5:9,11;6:11; 8:1-18; 2 Cr 36:14-17).

Foram as abominações cometidas no templo pelos sacerdotes de Israel que contaminaram o lugar santo e fizeram com que Deus retirasse a sua presença e desolasse a sua casa. Abominações não são ações cometidas por estranhos à aliança, mas são cometidas na presença de Deus pelo próprio povo de Deus, representados pelos seus sacerdotes. Porque os filhos de Judá fizeram o que era mau perante mim, diz o Senhor: puseram os seus ídolos abomináveis na casa que se chama pelo meu nome, para a contaminarem (Jr 7:30).

Israel era separado das outras nações para serem sacerdotes diante de Deus. Deus habitava no meio deles. Na terra, tanto israelitas como estrangeiros e outros habitantes podiam cometer abominações. Mas no templo, apenas israelitas (representados pelos seus sacerdotes) tinham acesso, por isso só eles podiam cometer atos abomináveis. Como sacerdotes e levitas, o seu dever era “guardar” a santidade do santuário, assim como Adão fora incumbido de guardar o jardim para não deixar entrar a corrupção que o contaminaria. Adão não guardou o jardim/santuário e foi expulso. Os sacerdotes e levitas não guardaram o tabernáculo, também não guardaram o templo, mas estabeleceram nele a abominação que resultou na desolação.

Assim, não era a presença de exércitos inimigos no templo, quer filisteus, quer Nabucodonosor, quer os porcos sacrificados por Antíoco, mas esta presença e a ação profanadora do inimigo era a consequência visível da abominação cometida por Israel. A abominação trazia um juízo, executado mediante o exército de um povo estranho.
Eis o dia, eis que vem (v.10) … o dia da indignação do Senhor (v.19) … De tais preciosas joias fizeram o seu objeto de soberba e fabricaram suas abomináveis imagens e seus ídolos detestáveis; portanto eu fiz que isso lhes fosse por sujeira, e o entregarei na mão dos estrangeiros, por presa, e aos perversos da terra por despojo; eles o profanarão. Desviarei deles o meu rosto, e profanarão o meu recesso; nele entrarão profanadores, e o saquearão (Ez 7:20-22)
Mas ainda não era o “tempo do fim”. A invasão de Antíoco foi só um aviso.

Os macabeus
Antíoco submeteu, com suas lisonjas, os violadores da aliança, mas o povo que conhece o seu Deus se tornou forte e fez proezas (Dn 11:32). Os violadores da aliança não se preocuparam em estar a quebrar as leis de Deus. Mas quanto aos outros, o livro de Macabeus relata histórias de coragem, de como judeus fiéis, coagidos a violarem a lei, enfrentavam perseguições e torturas.
Entretanto, a resistência é organizada pelos macabeus, uma família sacerdotal que, sob a liderança inicial de Judas Macabeu, conseguiram juntar um grande número de homens e formar um exército de guerrilha, “o pequeno socorro” (v.34). Sendo poucos, lutaram contra o exército sírio muito maior. Conseguiram purificar o templo e restaurar o culto, o que levou à instituição da festa de Hanukkah. Dizem os livros de 1 Macabeus que a purificação do santuário sucedeu no 25º dia do mês de Quisleu, no mesmo mês e dia em que três anos antes, Antíoco havia feito construir, sobre o altar dos holocaustos, a Abominação da desolação e que os pagãos o tinham profanado (1Mac 1:54; 4:52-54).
Nota: Os livros dos Macabeus não fazem parte do cânone da Bíblia, mas são uma fonte importante para a história daquele tempo. Josefo segue 1Mac nas suas Antiguidades. 1Macabeus é um livro que canta as proezas dos Macabeus em muitas (demasiadas) palavras lisonjeiras, tentando mostrá-los como verdadeiros herdeiros do trono de David e legítimos sumos-sacerdotes.
Ajudados com poucos, ou com pequeno socorro- o exército dos macabeus eram poucos e com poucos ganharam do exército sírio muito maior. Esta é uma interpretação. Outra interpretação diz que o socorro foi pequeno, ou insuficiente, porque os macabeus, embora conseguissem restaurar o templo e reconquistar por algum tempo a independência de Israel, tomaram para si o trono (que não lhes pertencia de direito porque eles não eram descendência de David, nem da casa de Judá) e tomaram também para si, ilegitimamente, o cargo de sumo-sacerdote, ao qual também não tinham direito, não sendo da linhagem de Zadoque.
Desde Menelau, nunca mais um sumo-sacerdote legítimo da casa de Zadoque ministrou em Israel. É isto o que significa o príncipe da aliança foi quebrado.
Mesmo quando o templo foi purificado depois da profanação pelas forças de Antíoco, a abominação foi só parcialmente resolvida. O legítimo sumo-sacerdote nunca mais foi reinstalado no cargo. Verdadeiros abusos introduziram-se desde o tempo do rei Herodes, nomeando e destituindo arbitrariamente os sumos-sacerdotes. Quando, depois da deposição de Arquelau (6 d.C.), a Judeia passou a ser uma província romana, cada novo procurador nomeava um novo sumo-sacerdote. Josefo (Ant.20) escreve que o número de sumos-sacerdotes, desde os dias de Herodes até ao dia em que Tito tomou e queimou o templo e a cidade (cerca de 107 sete anos), foi de 28, alguns dos quais só ocuparam o cargo durante escassos meses. A maior parte deles eram familiares de Anás que, embora tivesse efetivamente sido sumo-sacerdote durante cerca de 7 anos (7-13 d.C.), conservou na prática a autoridade até à sua morte.
Note-se que em Daniel 11, contrariamente ao livro de Macabeus, não há menção de uma restauração depois do estabelecer da abominação desoladora. Esta restauração só acontecerá com Jesus.
Os vs.32 a 35 fala de “entendidos entre o povo que ensinarão a muitos, mas cairão, e serão provados e purificados, ….

33- E os entendidos entre o povo ensinarão a muitos; todavia cairão pela espada, e pelo fogo, e pelo cativeiro, e pelo roubo, por muitos dias. 34- E, caindo eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas. 35- E alguns dos entendidos cairão, para serem provados, e purificados, e embranquecidos, até ao fim do tempo, porque será ainda no tempo determinado.
Isto caracteriza a condição dos judeus desde os dias de Antíoco Epifânio ao tempo de Herodes (11:36) e depois até à vinda do reino com Jesus.



16/04/2018

O IMPÉRIO GREGO (3). Antíoco III o Grande


O fim de Antíoco III o Grande e o seu sucessor Seleuco Filopater

17-E porá o seu rosto para vir com a força de todo o seu reino, e com ele os retos, e fará o que lhe aprouver: e lhe dará uma filha das mulheres, para a corromper; mas ela não subsistirá, nem será para ele.
NIV- He will determine to come with the might of his entire kingdom and will make an alliance with the king of the South. And he will give him a daughter in marriage in order to overthrow the kingdom, but his plans will not succeed or help him.
Como vimos na mensagem anterior, Antíoco III marchou com sucesso contra o Egipto – isto enquanto Roma fez guerra a Filipe V na Segunda Guerra Macedônia (200-196), e por isso o Egipto não podia contar com o apoio de Roma.
Ptolomeu assinou um tratado de conciliação com Antíoco em 195 a.C., cedendo ao rei selêucida a posse da Celessíria. Antíoco deu também a sua filha Cleópatra em casamento a Ptolomeu V. O Egipto tornou-se praticamente um protetorado selêucida.
Mas Antíoco não seria para sempre vitorioso.
18- Depois, virará o seu rosto para as ilhas, e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar o seu opróbrio contra ele, e ainda fará tornar sobre ele o seu opróbrio.
NIV- Then he will turn his attention to the coastlands and will take many of them, but a commander will put an end to his insolence and will turn his insolence back upon him.
Depois de ser vitorioso contra o Egipto, Antíoco III queria alargar as suas fronteiras para a Ásia Menor e Europa, “as ilhas”. Conquistou cidades costeiras que faziam parte dos domínios ptolemaicos e cidades gregas independentes. Em 192 a.C. invadiu a Grécia. Roma não gostou e exigiu a sua retirada. Antíoco recusou, insolente, e travou uma guerra de vários anos contra Roma, mas foi definitivamente vencido nas Termópilas (191 a.C.) e em Magnésia (190 a.C.). Com o tratado de Apameia (188 a.C.), entre Antíoco III e a República de Roma, que se seguiu às vitórias navais romanas e rodenses sobre a marinha selêucida, o império selêucida perdeu toda a Ásia a oeste do Tauro (Ásia Cistáurica), deixando de ter influência no Mediterrâneo.
O tratado também obrigava o rei a pagar uma indemnização a Roma, a ceder os elefantes que tinha no exército e a entregar o seu filho Antíoco IV (que será mais tarde Antíoco Epifânio) como refém.
19- Virará, então, o seu rosto para as fortalezas da sua própria terra, mas tropeçará, e cairá, e não será achado.
After this, he will turn back toward the fortresses of his own country but will stumble and fall, to be seen no more.
Para tentar obter parte do dinheiro da indemnização que tinha que pagar aos Romanos, Antíoco III voltou-se para a sua própria terra. Terá sido assassinado em 187 a.C. num templo de Baal, ao procurar apoderar-se dos seus tesouros.
20- E, em seu lugar, se levantará quem fará passar um arrecadador pela glória real; mas em poucos dias será quebrantado, e isto sem ira e sem batalha.
His successor will send out a tax collector to maintain the royal splendor. In a few years, however, he will be destroyed, yet not in anger or in battle.
Em seu lugar, levantou-se o seu filho e sucessor, Seleuco Filopater. Para obter dinheiro para pagar a pesada indemnização a Roma, Seleuco envia o seu comandante Heliodoro como arrecadador para obter dinheiro no templo de Jerusalém. O sumo-sacerdote Onias opôs-se, e com ele todo o povo. 2 Macabeus 3 relata a história de como Heliodoro acaba por regressar sem o tesouro do templo, mediante uma narrativa que recorre a uma intervenção sobrenatural de anjos.
No mesmo ano, em 175 a.C., no seu regresso a Jerusalém, Heliodoro mata o rei Seleuco.
Seleuco reinou apenas doze anos, o que foram “poucos dias” comparados com os 37 anos do reino de Antíoco III, seu antecessor.