04/11/2019

O TEMPO DAS PRAGAS NO EGIPTO (revisto)


Em 5-4-2014 publiquei uma mensagem sobre este assunto, em que apresentei a teoria de Floyd Nolen Jones relativamente ao tempo que passou desde a primeira até à última das pragas do Egipto. Floyd Nolen Jones (p.70) apresenta um quadro com a cronologia das pragas e demonstra uma duração de 40 dias contados a partir da primeira “praga” (a vara que se tornou em serpente) até a noite da morte dos primogénitos.

Após uma nova análise dos capítulos de Êxodo 7 a 12, defendo uma tese um pouco diferente.
Segundo a leitura que faço da narrativa bíblica, o tempo que passou desde que Moisés e Aarão foram falar a Faraó pela primeira vez (Ex 5:1-5) até à noite da morte dos primogénitos é de 28 dias, ou seja de uma “lua”, um mês lunar.

Analisemos novamente a história, dia a dia, no livro do Êxodo:

Dia 1 – Moisés e Aarão vão falar com Faraó pela primeira vez (5:1-5). Naquele mesmo dia (5:6), Faraó deu ordem para que daqui em diante não mais se desse palha aos israelitas para fazerem os tijolos, como ontem e anteontem.
Esta ordem foi implementada logo no mesmo dia porque no dia seguinte,

Dia 2 – Os filhos de Israel foram açoitados, dizendo-lhes os capatazes de Faraó: Por que não acabastes vossa tarefa ontem e hoje (5:14), fazendo tijolos como antes? Por isso, os oficiais dos filhos de Israel foram clamar a Faráo, que não lhes deu ouvidos e encontraram-se com Moisés e Aarão quando saíram de Faraó (5:20).

Dia 3 – Deus ordena Moisés para ir falar com Faraó. Moisés está inseguro (eis que sou incircunciso dos lábios, como pois me ouvirá Faraó?) e põe Aarão para seu profeta. Então Moisés e Aarão entraram a Faraó e Aarão lançou a sua vara que se tornou em serpente (6:1-13, 28-30; 7:1-13). Faraó recusou ouvir e o Senhor diz a Moisés para ir a Faraó, pela manhã (7:15).

Dia 4 – Quando Faraó saiu às águas pela manhã, Moisés já estava à espera dele na beira do rio (7:15). Aarão é mandado estender a sua vara sobre as águas do Egipto. Moisés e Arão fizeram o que o Senhor lhes tinha ordenado, e a água se tornou em sangue. Os peixes morreram, o rio cheirou mal, não se podia beber (7:19-24).

Dias 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 – Cumpriram-se 7 dias, depois que o Senhor feriu o rio.

Dia 12 – Depois disse o Senhor a Moisés para novamente ir ter com Faraó. Subiram rãs que cobriram a terra. Faraó chamou a Moisés e Arão para tirar as rãs. Moisés pergunta a Faraó quando é que ele havia de rogar para que as rãs fossem retiradas e ficassem somente no rio. Faraó respondeu: amanhã (8-9-10).

Dia 13 – Moisés clamou ao Senhor conforme tinha combinado com Faraó no dia anterior. Morreram as rãs, que foram ajuntados em montões. Porém, Faraó viu que havia alívio, e não os ouviu.

Dia 14 – Sem qualquer aviso prévio a Faraó, Moisés e Arão foram instruídos para estender a vara e houve piolhos por toda a terra. O coração de Faraó continua endurecido (8:16-19). Disse mais o Senhor a Moisés: Levanta-te pela manhã cedo (8:20), e põe-te diante de Faraó; eis que ele sairá às águas.

Dia 15 – Então, pela manhã cedo (8:20), segundo a ordem do Senhor, Moisés apresenta-se a Faraó. Desta vez o Senhor vai enviar enxames de moscas, mas fará distinção entre o povo do Egipto e o povo de Israel. “Amanhã se dará este sinal” (Ex 8:24).

Dia 16 – Ex 8:24 – vieram grandes enxames de moscas. Faraó chamou a Moisés. Moisés disse: eis que saio de ti, e orarei ao Senhor, que estes enxames de moscas se retirem amanhã (8:29).

Dia 17 – Os enxames de moscas se retiraram conforme a palavra de Moisés (8:31). Mas ainda esta vez Faraó endureceu o coração.

Dia 18 – Novo aviso de Moisés a Faraó: pestilência sobre o gado, com distinção entre os rebanhos do Egipto e os dos israelitas (9:1-4). Amanhã fará o Senhor isto na terra (9:5).

Dia 19 – No dia seguinte (9:6), todo o gado dos egípcios morreu. Faraó enviou ver, e eis que do gado de Israel não morrera nenhum, mas Faraó continua endurecido (9:7).

Dia 20 – Sem aviso, Moisés e Arão tomaram cinza de forno e o atiraram para o céu e tornou-se em tumores nos homens e nos animais (9:8-12).

Dia 21 – Pela manhã cedo (9:13), Moisés apresenta-se novamente a Faraó. Eis que amanhã por este tempo (9:18) farei chover saraiva mui grave.

Dia 22 – Moisés estende a vara para o céu e o Senhor deu trovões e saraiva em toda a terra do Egipto, exceto na terra de Gosen. Faraó manda chamar Moisés. Moisés promete que os trovões e a saraiva cessarão quando ele sair da cidade (9:29-33). A praga cessou, mas Faraó continua endurecido. Depois disse o Senhor a Moisés; entra a Faraó (10:1)

Dia 23- Assim foram Moisés e Arão novamente a Faraó: se recusares deixar ir o meu povo, eis que amanhã trarei gafanhotos (10:4) ao teu território. Depois de avisar Faraó, Moisés virou-se e saiu da presença de Faraó (10:6). Os oficiais de Faraó tentam convencê-lo a deixar ir os israelitas, porque o Egipto está arruinado (v.7). Moisés e Arão são levados outra vez a Faraó e expulsos da presença (10:8-11). Moisés estendeu a sua vara, e o Senhor trouxe um vento oriental todo aquele dia e aquela noite (10:13).

Dia 24 – Pela manhã (10:13), o vento oriental trouxe os gafanhotos, que cobriram a superfície da terra e devoraram tudo. Faraó apressou-se a chamar Moisés (10:16). Quando Moisés saiu da presença de Faraó, o Senhor trouxe um forte vento ocidental que levantou os gafanhotos e os lançou no mar Vermelho. Porém, o coração de Faraó continua endurecido.

Dia 25, 26, 27 – Ex 10:21-23 – Sem aviso a Faraó, o Senhor disse a Moisés para estender a mão para o céu, e virão trevas espessas sobre toda a terra do Egipto por 3 dias (10:22). Os filhos de Israel tinham luz nas suas habitações. Mas entre os egípcios, não viu um ao outro, e

Dia 28 – Depois dos dias em que ninguém se levantou do seu lugar (10:23), Faraó manda chamar Moisés. Mais uma vez Faraó não aceita as exigências de Moisés. A partir desse momento, nunca mais se verão (10:26-27).
Antes de se retirar da presença de Faraó, Moisés, ainda o avisa “A meia-noite passarei pelo meio do Egito e todo o primogénito na terra do Egipto morrerá. Haverá grande clamor como nunca houve”. E Moisés saiu de Faraó em ardor de ira (11:4-8).

Noite de 28 para 29 - E aconteceu, à meia-noite, que o Senhor feriu a todos os primogénitos na terra do Egipto (12:29).
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Entre o capítulo 11 – a última visita de Moisés a Faraó – e Ex 12:29 – quando começa a noite da morte dos primogénitos, há um parêntese. O Senhor fala a Moisés “este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano” (12:2) e instrui-o sobre a celebração da Páscoa (12:3-28).

Floyd Nolen Jones interpreta isto como um intervalo de 10 dias entre o último aviso a Faraó e a concretização da ameaça.

No entanto, julgo que a narrativa não dá lugar a um intervalo. Moisés disse a Faraó que aconteceria à meia-noite. Podemos pensar, mas não disse em que dia exatamente. Contudo, quando olhamos para o ritmo da narrativa do mês que passou, a rapidez alucinante em que as pragas se seguiram umas às outras, não há razão para crer que houve um intervalo de dias entre o aviso e a execução.

Em meu ver, a noite de 28 a 29 do tempo das pragas é o começo do dia 14 de Abib, a noite em que tinham que comer o cordeiro, e essa mesma noite fugiriam.

10 de Abib (12:3), o dia em que cada casa tinha que tomar para si um cordeiro, era o primeiro dia da praga das trevas (dia 25). Mas para o povo de Israel não era problema; eles tinham luz nas suas casas (10:23).

1 de Abib, o primeiro dia do mês que, para Israel, passaria a ser o primeiro dos meses do ano (12:2)  corresponde ao dia 16 do tempo das pragas, que era o dia da praga das moscas. O que distingue este dia e esta praga dos anteriores é que é a primeira praga em que a terra de Gosen, onde habitava o povo de Israel, era separada (8:23). Não estava sujeita às pragas que os egípcios sofreram. Isto assinala o começo de um novo período para o povo de Israel, “o princípio dos meses, o primeiro dos meses do ano”.

A instrução sobre a Páscoa (Ex 12) terá sido dada a Moisés nesse princípio de mês, ou mesmo antes, e não depois do aviso a Faraó da morte dos primogénitos porque não se coaduna com o correr da narrativa.

Desde a primeira vez que Moisés e Aarão foram falar com Faraó até a noite dos primogénitos foram 28 dias, o que equivale a um mês lunar.