Eles utilizam o texto hebraico para construírem a sua cronologia padrão, e rejeitam outras versões como a Septuaginta e o Pentateuco Samaritano.
Além disso,
consideram todas as fontes não bíblicas apenas como secundárias. Estas
fontes incluem textos literários e tradições do antigo Médio Oriente, livros
apócrifos do Velho Testamento, as obras de Flávio Josefo, escritos talmúdicos,
inscrições em antigos monumentos, literatura clássica grega e romana,
observações e cálculos astronómicos, e os trabalhos de cronologistas antigos e
modernos.
Como diz Anstey, os resultados obtidos a partir do
depoimento destas outras testemunhas podem ser comparados (itálicos do próprio autor) com os resultados obtidos a
partir do relato do Velho Testamento, mas não podem ser elevados a padrão da
Verdade estabelecida, nem podem ser usados para corrigir o depoimento da testemunha principal, que é a testemunha
bíblica (Anstey, 2013: p.14-15).
«A designação “Texto Massorético”
é uma expressão criada e utilizada pelo mundo académico. Refere-se a um grupo
de manuscritos hebraicos da Bíblia, datados dos primeiros séculos da Idade Média
(VII a X), sendo que todos apresentam notáveis semelhanças entre si. Esses
documentos possuem um padrão elevado de uniformidade textual devido ao trabalho
consistente e meticuloso dos escribas judeus do período medieval, conhecidos
como massoretas, que elaboraram um rígido sistema de preservação e de
transmissão do texto da Bíblia Hebraica, sem corrupções e alterações
significativas.
A estrutura consonantal do Texto
Massorético remonta ao período do Segundo Templo (c. 520 a.C.-70 d.C.) e, desde
o ano 100, aproximadamente, todas as comunidades judaicas adotaram-no como a
forma textual definitiva e oficial das Sagradas Escrituras hebraicas. O texto
bíblico hebraico, tanto de judeus como de cristãos, baseia-se no Texto
Massorético estabelecido desde muitos séculos pelos escribas judeus na época
antiga e, mais tarde, pelos massoretas durante o período medieval.
O Texto
Massorético é composto pelos seguintes cinco componentes textuais estabelecidos
pelos massoretas:
A
estrutura consonantal.
Os
elementos paratextuais ou ortografias irregulares.
A
vocalização massorética.
A
acentuação massorética.
As anotações massoréticas (a massorá)
Atividade massorética. No período entre os séculos VII e X d.C. surgiram
novos eruditos, sucessores dos antigos escribas judeus e que se dedicaram a
copiar e transmitir o texto da Bíblia Hebraica, sendo conhecidos como
“massoretas”. Esse grupo desenvolveu um sistema estritamente rígido de controlo
do texto hebraico e empenhou-se em preservar toda letra de toda palavra da
Bíblia Hebraica e com isso, almejava prevenir os futuros escribas de cometerem
erros nos manuscritos da Bíblia Hebraica, visando conservar integralmente e
transmitir fielmente o texto bíblico.
Surgiram
vários grupos de massoretas e de sistemas massoréticos entre os séculos VII e
X. Os grupos eram divididos em dois ramos principais: massoretas orientais, localizados
na Babilônia e massoretas ocidentais, localizados na Palestina e em Tiberíades.
Foram elaborados três sistemas de vocalização, de acentuação e de observações
textuais: babilônico (séc. VII-IX), palestino (séc. VIII-IX) e tiberiense (séc.
IX-X). No decorrer do século X, as tradições babilônica e palestina caíram em
desuso, sendo suplantadas pela tradição tiberiense. Com a atividade massorética
desenvolvida em Tiberíades, o texto da Bíblia Hebraica, com vocalização,
acentuação e observações textuais, tornou-se definitivo.
Em
Tiberíades, entre os séculos IX e X, estiveram ativas duas famílias principais
de massoretas: Ben Asher e Ben Naftali. Ben Asher foi a que conseguiu suplantar
todos os demais grupos e famílias de massoretas, e seu sistema é empregado em
inúmeros manuscritos medievais, como também em todas as atuais edições
impressas da Bíblia Hebraica. Ambas as famílias mantinham pequenas variações
sobre a vocalização e acentuação do texto bíblico hebraico. Todavia, ambos os
clãs foram os responsáveis pela evolução do sistema massorético tiberiense.
Desenvolvimento
do Textus Receptus. A
tradição massorética que se tornou predominante sobre as demais foi aquela
preservada e desenvolvida pela família Ben Asher. O Texto Massorético que
chegou até nós reflete o sistema de vocalização e de acentuação desta mesma
família de massoretas. Os manuscritos massoréticos que surgiram até o século
XII demonstram uma tendência a se aterem e a reproduzirem um único sistema, o
de Ben Asher ou o de Ben Naftali. Manuscritos surgidos em épocas posteriores
ainda preservam a tradição de Ben Asher, mas não de uma forma estritamente pura
ou absolutamente fiel. Tais documentos refletem traços de outras tradições
massoréticas de Tiberíades, principalmente, a de Ben Naftali, além de outras
escolas. Por volta do começo do século XIV, surge um Texto Massorético misto,
que é o resultado de diversas fontes massoréticas, tornando-se comum e
constantemente reproduzido pelos escribas judeus do final da Idade Média. Esta
forma híbrida é denominada como Textus Receptus (lat. texto recebido), que foi mais tarde impresso nas edições produzidas
pelos judeus e pelos cristãos durante os séculos XV e XVI. A edição de Jacó ben
Ḥayyim, produzida na primeira parte do
século XVI, foi considerada, tanto por judeus quanto por cristãos, o Textus Receptus da Bíblia Hebraica até o início do século
XX.»
(O artigo completo encontra-se em
http://bibliahebraica.com.br/wp-content/uploads/2010/09/Texto_massoretico.pdf)
Estudos exaustivos na questão têm conduzido Jones a concluir
que este Texto hebraico preservado foi melhor e mais fielmente traduzido em
Inglês pelos tradutores de 1611 d.C. da King James Bible. Também a tradução em
Português de João Ferreira de Almeida baseia-se no Texto Massorético. Porém,
muitas versões modernas, “revistas e corrigidas” usam outros textos e versões
para as suas alegadas correções. No que concerne referências de cronologia, não
me pareceu existirem muitas divergências entre as versões recentes de João
Ferreira de Almeida e o texto da KJB utilizado por Jones na sua obra Chronology of the Old Testament. Mas eventuais
situações de discordância serão abordadas se for o caso.
Porque é que o Texto hebraico é mais fiável do que a
Septuaginta, tradução em língua grega do Velho Testamento hebraico?
Anstey considera o texto massorético, a autenticidade dos
relatos e a exatidão do texto no seu presente estado de preservação como um
dado garantido, e não perde tempo a justificar a sua escolha. Justifica, no
entanto, porque rejeita a Septuaginta.
A Septuaginta (frequentemente abreviado como LXX) é uma
tradução das Escrituras hebraicas em Grego helenístico, que foi (terá sido?)
feita ca. 250-180 a.C. na Alexandria, no Egipto. É uma tradução feita por
judeus de Alexandria (não por judeus da Palestina), que eram notórios por suas
tendências helenizantes, o desejo de simplificar dificuldades, a sua prática de
alterar o texto a fim de remover o que consideravam contradições.
Para uma análise mais aprofundada da Septuaginta, visto que
o assunto sai do âmbito deste nosso estudo, aconselhamos a leitura de
Jones, Floyd Nolen (2000). The Septuagint: a critical analysis. Texas: Kingsword Press 6ª edição (primeira
edição 1989). Acessível em http://www.christianmissionconnection.org/The_Septuagint_A_Critical_Analysis.pdf
Referiremos aqui apenas algumas das conclusões de Jones:
Para este autor, a diferença entre judeus da Palestina e
judeus de Alexandria é que os primeiros não ousariam acrescentar ou alterar uma
única letra do original. Historicamente, eles sempre consideraram a Palavra
Escrita como sagrada, tendo autoridade final. O texto é fixo e absoluto. Daí o
cuidado dos escribas preservarem o mais exatamente possível todas as letras, as
palavras precisas, porque a interpretação e a compreensão dependiam disto. Os
judeus alexandrinos tinham uma atitude diferente para com as Escrituras. Eles
estavam imersos na cultura helenística, onde as filosofias gregas e várias religiões
se misturavam. Uma fortaleza do paganismo, por assim dizer. As Escrituras
saíram do seu “lar” natural, para fora da “igreja” a quem as Palavras foram
confiadas, e tornaram-se objeto de estudo de críticos, universidades,
académicos. Nesta nova matriz, o texto bíblico é visto como uma mera peça de
literatura mundial. Duas “bíblias” diferentes emergiram, embora Deus tenha dado
apenas um texto – um “texto sagrado”.
Em Alexandria, no Egipto, ocorreu uma transição em que a Bíblia cessou de ter o
estatuto de texto sagrado, depositado e alojado no seio da igreja, para ser,
apenas um texto religioso.
Nos tempos do Velho Testamento, eram os escribas levíticos
que copiavam e preservavam as Escrituras. Jesus testemunhou que este método de
preservação do texto foi bem sucedido (Mt. 5:18).
Quanto ao rigor do Velho Testamento hebraico hoje, o bispo
Benjamim Kennicott analisou 581 manuscritos do Velho Testamento, envolvendo 280.000.000
letras. Destas 280.000.000, havia 900.000 variantes. Isto parece muito, mas é
apenas uma variante em 316 letras, o que é apenas 1/3 de 1%. Mas há mais.
Destas 900.000 variantes, 750.000 são de ortografia. Isto tem a ver com os
pontos vocálicos usados na pronúncia acrescentados pelos massoretas (ver nota 1).
Isto deixa-nos apenas com 150.000 variantes em 280.000.000 letras ou uma só variante
em 1.580 letras, um grau de rigor de .0006. A maior parte das variantes
encontra-se em apenas uma pequena parte dos manuscritos; de facto, a maior
parte são originárias de apenas uma cópia corrupta.
Os Manuscritos do Mar Morto de Isaías concordam com o Texto
Massorético hebraico, juntamente com os pontos vocálicos. O mais antigo Texto
Massorético que possuímos data de ca. 900 d.C.
e mostra que quase não há alterações no livro de Isaías. Isaías 53, por
exemplo, contem apenas uma palavra de três letras sobre a qual existem dúvidas,
depois de quase 1.100 anos de cópias. Num capítulo de 166 palavras, apenas 17
eram diferentes – 10 de ortografia e 4 conjunções.
Atualmente, o Texto Massorético é o verdadeiro texto, não os
Manuscritos do Mar Morto, apesar de estes serem mais antigos de 1000 anos. O
material encontrado no Mar Morto não foi escrito por judeus a quem foi dado por
Deus o encargo de as proteger. Não eram da tribo de Levi. Erem Essénios, um
culto judaico de ascéticos cujos ensinos estavam contaminados com heresias.Jones lembra os seus leitores do facto básico que os oráculos divinos do Velho Testamento foram confiados aos judeus (Rom 3:1-3), nunca aos gregos. Por isso, é a escrito hebraica que é a palavra inspirada, verdadeira e infalível do Deus vivo.
Após uma análise crítica pormenorizada do que é designado como “Septuaginta” (ou LXX, porque teria sido traduzido por 70 eruditos na Alexandria a pedido de Ptolomeu ….), e uma comparação entre a Septuaginta e o Texto Massorético (como traduzido na King James Bible) Jones conclui que a Septuaginta – como existe hoje – é altamente deficiente como tradução. A tentativa de reconstruir o texto hebraico (o que muitas versões modernas procuram fazer) de uma tradução inaceitável seria análogo a reconstruir o Texto do Novo Testamento Grego a partir da Bíblia Viva (Living Bible).
Ainda, os vários manuscritos da Septuaginta mostram diferenças
consideráveis entre eles e discordam do Texto Massorético em muitos lugares. Nem
podemos ter a certeza que os manuscritos LXX que temos hoje e que datam de ca. 350 d.C.
sejam uma cópia fiel do original de ca. 285-250 a.C. , se tal tradução realmente
existiu.
O terceiro texto que entra em consideração é o
Pentateuco Samaritano, embora a sua influência seja muito menos significativa
do que a da Septuaginta. É o texto hebraico que muitos acreditam ter sido traduzido
em Samaritano no tempo de Ezequias (séc. VIII a.C). O manuscrito preservado
encontra-se em Nabloous (Shechem), mas deve datar do século IX d.C.
O texto modifica o Texto Hebraico de acordo com as noções prevalentes
entre os descendentes da população mista introduzida na Samaria pelos reis da Assíria
(2 Rs 17:24) no século VIII a.C. até ao “grande e afamado Asnapar” no tempo da
Pérsia (Esdras 4:10). Representa tendências prevalentes entre os samaritanos do
século IX ao II a.C. Em geral, o texto é considerado muito inferior ao Texto
Massorético.
(1) O alfabeto hebraico tem apenas consoantes.
Para facilitar a leitura e pronúncia, pontos vocálicos foram introduzidos. São
pequenos pontos e tracinhos colocados em cima, em baixo ou à frente das letras
(consoantes) e que fazem a função de vogais.
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