Tendo Jesus
nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do
Oriente a Jerusalém, perguntando: Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com
efeito, vimos sua estrela no seu surgir e viemos para adorá-lo […] Então
Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a
respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. […] E eis que a
estrela que tinham visto no céu surgir ia à frente deles até que parou sobre
o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela,
alegraram-se imensamente. (Mt 2:1-10) (tradução Bíblia de Jerusalém, Edição
2002)
Alguns consideram
esta estrela uma fábula, algo que nunca existiu; outros consideram-na um
milagre, para o qual é inútil buscar uma explicação; ou algo parecido com a
nuvem de glória ou a coluna de fogo que conduziu os israelitas pelo deserto; há
quem defenda que Deus revelou profeticamente (ou em sonhos) aos magos o
significado do nascimento do Messias conduzindo-os até Ele, nada tendo que ver
com as estrelas; e outros há que consideram possível tratar-se de um fenómeno
celestial, astronómico, que realmente ocorreu e pôde ser visto no céu.
Facto é que
Mateus fala repetidamente de uma estrela e descreve o acontecimento numa linguagem
concreta, em circunstâncias que envolvem várias pessoas, não só os magos, como também
Herodes, os sacerdotes e os escribas, e que teve consequências reais e dramáticas
no massacre das crianças de Belém. Bem que nem Herodes, nem a sua corte,
pareçam ter sido conscientes da existência de uma estrela, ouvindo os magos,
ele não duvidou deles um momento, mas alarmou-se e convocou todos os principais
sacerdotes e escribas. Os judeus em Jerusalém não se aperceberam de um
acontecimento especial no céu noturno, mas quando os magos explicaram de que se
tratava, perceberam. São elementos que favorecem uma interpretação literal, da
ocorrência de um fenómeno observável, embora possa não ser compreendido se não
for explicado.
Vários tipos
de “estrelas” entram em linha de conta: estrelas fixas, planetas (estrelas
errantes), meteoros ou estrelas cadentes, cometas, novas ou supernovas. Naquele
tempo, toda observação era feita a olho nu. O telescópio só foi inventado
muitos séculos depois. Hoje, o uso de computadores
permite referenciar todos os movimentos solares, lunares, planetários e
estelares e relações entre eles dos últimos cinco mil anos.
Várias
explicações têm sido sugeridas.
No século 17, Kepler sugeriu que a estrela de Belém pudesse ser o
aparecimento de uma supernova depois de uma conjunção de Júpiter e Saturno, que
ele calculou ter ocorrido em 7 a.C. De acordo com cálculos modernos, em 7 a.C.
tiveram lugar três conjunções de Júpiter e Saturno: em 27 de maio, 6 de outubro
e 1 de dezembro.
Maunders (1908) também propõe que tenha sido uma estrela totalmente nova,
uma explosão gigante de uma estrela existente mas desconhecida (ainda não
existia o termo nova ou supernova), embora a narrativa lhe parece
astronomicamente demasiado incompleta para tirar qualquer conclusão.
Uma nova é
uma explosão nuclear de uma estrela. Aparece de repente, pode perdurar algum
tempo, diminuir de intensidade e apagar; surge no oriente como as outras
estrelas e pode ser espetacular. Mas não há registo de novas no período de 3/2
a.C., que apontámos em anteriores mensagens como período que delimita o
nascimento de Jesus. Além disso, uma nova teria sido visível e não poderia ter
sido ignorado por Herodes. A visão das estrelas no céu noturno não estava
dificultada como hoje por um excesso de iluminação.
A estrela de
Belém é também frequentemente associada ao cometa de Halley. Um cometa é um
objeto que tem uma órbita muito grande em volta do sol, com ciclos de muitos
anos. O cometa de Halley tem um período orbital de 75 anos. Passou perto da
terra entre 24 de agosto e 17 de outubro do ano 12 a.C.. Isto colocaria o
nascimento de Jesus demasiado cedo, mas é uma data apoiada por alguns.
Em tempos
antigos, cometas eram interpretados como sinais de mau presságio e destruição
(o que dificilmente pode ser dito da boa nova da vinda do Salvador), a sua
incursão no céu desrespeitando o movimento ordenado e cíclico dos astros.
Também não há registos (chineses ou de outras civilizações) que relatam cometas
em 3 ou 2 a.C.
Em 1912, o
teólogo alemão Franz Steinmetzer sugeriu que a estrela sobre Belém era o caso
de um planeta em posição “estacionária” (isto
é, o planeta parece parar quando inverte o seu movimento visto da terra; é um
efeito visual que ocorre porque a terra se move mais rapidamente em volta do
sol do que o planeta), e que o
planeta que mais se adequava era o planeta Júpiter.
Em
1968, Roger W. Sinnott, no jornal de astronomia Sky and Telescope, foi o primeiro a chamar a atenção para uma conjunção
pouco usual de Júpiter e Vénus em 17 de junho 2 a.C.. Uma conjunção ocorre
quando dois ou mais astros atingem coordenadas celestes muito próximas,
parecendo cruzar-se no céu. Numa
observação a olho nu vir-se-ia apenas uma estrela. Era na verdade uma “estrela
dupla” que pareceu fundir-se numa única “estrela”, mais brilhante, à medida que
os planetas se aproximavam do horizonte ocidental.
Em
1980 foi organizado um simpósio no Observatório planetário de Griffith, nos
Estados Unidos, conduzido pelo cronologista e historiador da Bíblia Jack
Finegan, para discutir o significado histórico de uma sequência invulgar de
eventos astronómicos ocorridos nos anos 3 e 2 a.C.. No planetário foi mostrado
o que se podia ver no céu há cerca de 2000 anos na Babilónia e em Jerusalém. Concluiu-se
que os eventos astronómicos abrangendo um período de 18 meses, desde agosto de 3
a.C. a dezembro de 2 a.C., foram de tal significado histórico e astronómico que
houve necessidade de reavaliar os relatos históricos e a cronologia (que
favoreciam uma data anterior a 4 a.C. para o nascimento de Jesus) à luz desta
descoberta.
Estes
eventos astronómicos de 3 e 2 a.C. enquadram-se no período que os primeiros
historiadores cristãos diziam ser quando Jesus nasceu, e que nas anteriores
mensagens temos apontado como provável data. E podem ter sido estes sinais
astronómicos que os magos reconheceram como sendo a estrela do Rei dos Judeus
(Mt 2:2). Eles viram a sua estrela no Oriente, ou no seu surgir (no céu do lado oriental), como também pode ser
traduzido, e voltaram a vê-la em várias ocasiões a caminho para ocidente (da
Babilónia para Jerusalém). Do oriente para ocidente, a estrela os precedia (Mt 2:9), até que a viram de
novo, parada onde estava o menino.
Astronomia
e a Bíblia
Génesis
1:14 – Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, … e sejam eles
para sinais, para estações (tempos
determinados), para dias e anos. “Sinais” significa algo adicional e para lá
daquilo que evidenciam e expressam na sua natureza e funções naturais (Seiss).
Mas
não confundamos. Não se trata de astrologia – a falsa arte de predizer o futuro
pelos movimentos e posições dos astros -, prática proibida pela Bíblia como
outras práticas divinatórias (Dt 18:10-14;
Is 47:13-14). A astrologia é uma corrupção da
revelação original.
Salmo
19 diz que os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos…não há
linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som, no entanto, por
toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do
mundo. As estrelas mostram conhecimento, mostram os desígnios de Deus. O
Salmo 147 diz que o Senhor chama todas as estrelas pelos seus nomes. Portanto, os nomes das estrelas não foram dados
pelos homens. Autores modernos (Rolleston, Bullinger, Seiss, Wierwille) e
outros mais antigos sugerem que há no firmamento do céu uma revelação anterior
à Palavra escrita. Cassini
(1625-1712), na sua História da Astronomia diz que é
impossível duvidar de que astronomia foi inventada desde o início do mundo; a
história, tanto profana como sagrada, testifica desta verdade. Seiss procura demonstrar
que a história da Serpente, da Mulher (Virgem), do Dragão, da Cruz (todas estas
figuras são constelações), conhecida desde o princípio da humanidade, está
escrita nas estrelas, no enquadramento original da astronomia.
Não
diz Hebreus 1:1 que Deus falou outrora de
muitas maneiras, aos pais, e pelos profetas, e no fim através do Filho. Não
poderá Ele ter falado através das estrelas e constelações? Quando Deus criou os
céus e a terra, Ele fixou as estrelas nos seus lugares, as constelações, e os
planetas (estrelas errantes) no seu curso, e deu-lhes nomes específicos. Esta
informação foi primeiro dada a Adão, e depois passada de geração em geração. Com
o passar do tempo, o verdadeiro significado dos “sinais” de Deus se foi perdendo
e se corrompendo, e originaram as mitologias, astrologias e outras práticas e
crenças.
Um exemplo de como o significado inicial das
constelações foi pervertido é a constelação de Coma, um decanato da constelação
de Virgo (além das 12 constelações do zodíaco, há mais 36 constelações chamadas
decanatos (= partes), 3 para cada signo do zodíaco, que são boreais ou
austrais, isto é estão posicionados a norte ou a sul da faixa zodiacal). O nome
antigo COMAH significa Desejado, mas nos mapas astrais modernos aparece com o
nome de Coma de Berenice, ou Cabeleira de Berenice. A história conta que
Berenice, mulher de Ptolomeu III Eurgetes, rei do Egipto no século 3 a.C., fez
o voto de oferecer o seu cabelo à deusa Vénus se o marido voltasse salvo de uma
expedição perigosa. O cabelo, que foi colocado no Templo de Vénus, foi roubado
e, para confortar Berenice, Conão de Samos, um astrónomo da Alexandria (283-222
a.C.) disse que Júpiter o tinha tomado e feito dele uma constelação.
A transição das línguas antigas para as mais modernas
ajudaram a ocultar o significado inicial. O nome hebraico era COMAH (desejado),
mas os Gregos tinham uma palavra para cabelo, Co-me, que foi transferido para o
Latim coma, e assim veio até nós como "Coma Berenice" (o Cabelo de Berenice),
em vez de “Desejado”, como em Ageu 2:7
“o desejado das nações” (Bullinger).
A
palavra Zodíaco vem do Grego ZOIDIAKOS, mas não tem origem em ZOE, viver, mas na raiz primitiva através do
Hebraico SODI, que em Sânscrito significa um caminho. A etimologia do zodíaco é conectada com um caminho (Bullinger), e não mais é que o
caminho por onde o sol parece mover-se entre as estrelas passando pelas 12
constelações do zodíaco no decurso de um ano; 30 graus cada mês e no fim do 12º
mês aparece de novo onde começou no primeiro mês.
Este
caminho do sol é a eclíptica. As constelações aparecem numa faixa de 16 graus
de largura na eclíptica (cerca de 8 graus acima e 8 abaixo). É também o caminho
por onde passam os planetas.
Fonte da imagem: http://earthsky.org/astronomy-essentials/what-is-the-zodiac
Os
doze signos do zodíaco são os mesmos, tanto com respeito ao significado do nome
quanto à sua ordem, em todas as antigas nações do mundo. O que prova uma origem
comum. As figuras são perfeitamente arbitrárias; não há nada nos grupos de
estrelas que remotamente sugere a semelhança das figuras que lhes dão nome. O
signo de Virgo, por exemplo. Não há nada que sugere uma forma humana, menos
ainda se é homem ou mulher. É assim para todos os signos. A imagem, por isso, contem o significado original,
e deve ter sido desenhada em volta de certos grupos de estrelas, numa ordem que
as pudesse identificar para lembrar, memorizar, preservar e passar para a
posteridade (Bullinger).
Este
é um assunto muito interessante para aprofundar (ver a bibliografia), mas temos
que voltar à questão da cronologia do nascimento de Jesus.
Na
próxima mensagem, vamos ver as ocorrências astronómicas dos anos 3 e 2 a.C. e o
seu significado simbólico, e em que medida nos podem ajudar a estabelecer a
cronologia do nascimento de Jesus.
Bibliografia
Frances Rolleston, Mazzaroth; or, The Constellations (1863; new ed.,
London: Rivingtons, 1882);
E.W. Bullinger, The Witness of the Stars (1893; reprint ed., Grand
Rapids: Kregel, 1967)
Joseph A. Seiss, The Gospel in the Stars (1882; illus. ed., Grand
Rapids: Kregel, 1972)
Clyde L. Ferguson, The Star and the Bible (Hicksville, N.Y.: Exposition
Press, 1978).
Victor Paul Wierwille. Jesus Christ our promised seed (1982) American
Christian Press The Way International New Knoxville Ohio
Martin, Ernest E., The star that astonished the world (1991)
E. Walter Maunder, The astronomy of the Bible: an elementary commentary
on the astronomical references of holy scripture (1908)
Observatório Astronómico de Lisboa. O nome das constelações.
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