14/05/2017

A ESTRELA DE BELÉM (2)

Continuação de A ESTRELA DE BELÉM (1)

Nas mensagens sobre O ANO DA MORTE DO REI HERODES e O RECENSEAMENTO DE QUIRINO apontámos para 3 / 2 a.C. como ano provável do nascimento de Jesus.
As evidências indicam que Herodes morreu em 1 a.C., e não em 4 a.C., e que um recenseamento em todo o Império Romano terá tido lugar por altura da atribuição do título de Pater Patriae a Augusto em janeiro de 2 a.C.
Em 3 e 2 a.C., sobre um período de 18 meses, ocorreu uma sequência de eventos astronómicos extraordinários, quase todos envolvendo o planeta Júpiter, conhecido como o planeta Rei.
Poderá Júpiter ser a “sua estrela”, a que conduziu os magos a Belém?
Sabemos que Júpiter é um planeta. Mas acontece que, na linguagem bíblica, não há diferenciação entre estrelas e planetas. A observação era feita a olho nu. Os planetas eram “estrelas errantes” (asteres planetai - Jud 13), pois as outras estrelas parecem fixas em relação umas das outras devido à sua grande distância da terra. Os planetas estão muito próximos de modo que conseguimos seguir os seus movimentos.
Na mitologia, Júpiter era o pai dos deuses, aquele que dominava sobre tudo. Júpiter é associado com realeza. O nome hebraico para o planeta Júpiter é SSEDEQ, o que significa justiça. Jr 23:5,6; 33:15-16. Será este um sinal (Gn1:14) apropriado para o Messias?
“… o facto permanece que estes homens sábios dos Gentios vieram efetivamente até Jerusalém, e depois a Belém, para encontrar e adorar o Salvador recém-nascido, movidos e conduzidos por sinais astronómicos, que eles nunca podiam ter entendido se não tivesse havido, associado às estrelas, alguma promessa e profecia evangélica definida que podiam ler, e acreditar que vinha de Deus “ (Seiss, p.6).

As ocorrências astronómicas dos anos 3 e 2 a.C.
Para a descrição da sequência dos eventos astronómicos recorro a Ernest Martin, The Star of Bethlehem: The Star that Astonished the World (1991), que dá uma descrição detalhada dos movimentos dos planetas nesse período.

1.      Em 12 de agosto do ano 3 a.C., cerca de uma hora e vinte antes do nascer do sol, ocorreu uma conjunção de Júpiter e Vénus, no céu oriental. Os dois planetas estavam muito próximos, a 0.07 graus de distância visto da terra.
Fonte da imagem: http://www.astronomynotes.com" >Nick Strobel's Astronomy Notes

2.      Cerca de um mês depois, em 11 de setembro, o planeta Mercúrio (o Mensageiro) deixa a sua posição com o Sol e posiciona-se em estreita conjunção com Vénus (a Mãe). Isto aconteceu quando o Sol acabou de entrar na constelação de Virgo (a Virgem) e Júpiter (planeta Rei) estava a entrar na constelação de Leo (o Leão).
Todos estes signos astrais ecoam temas bíblicos. Deus é chamado “ o Sol de justiça” (Malaquias 4:2). Jesus é chamado “estrela da manhã” (Ap 22:16). O Salvador havia de nascer de uma virgem (Virgo) na tribo de Judá (o Leão) e seria introduzido por um mensageiro (João Baptista) (Mal 3.1; Mc 1:2.).
3.      Depois de 11 de setembro, ocorrem 3 conjunções envolvendo Júpiter e Régulo num período de 8 meses:
14 de setembro 3 a.C.,
17 de fevereiro
8/9 de maio 2 a.C.
Regulus (ou Régulo) é a estrela alfa e mais brilhante da constelação de Leo. Na realidade trata-se de um sistema de quatro estrelas. Significa pequeno rei em Latim. Esta designação vem dos Persas, que dividiam o céu em 4 partes, usando 4 estrelas como referência para marcar o início das estações do ano. Essas estrelas eram chamadas de “estrelas reais”: Aldebaran (em Touro), Regulus (em Leão), Antares (em Escorpião) e Fomalhaut (em Peixe Austral). Regulus é chamada de Pequeno Rei porque, entre as 4 estrelas reais, é a que brilha menos.
Mas era também conhecida por Cor Leonis (em Latim, o coração do leão), em árabe Qalb Al Asad, pela posição que esta estrela ocupa no corpo da figura celestial. Em línguas semíticas, a palavra REGEL significa “pé”, evocando Gn 49:10 – O cetro não se arredará de Judá (simbolizado como Leão), nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló.
Três vezes o planeta Rei entra em conjunção com a estrela Real (Régulo) na constelação real (Leo).
Esta conjunção tripla ocorre devido ao movimento retrógrado aparente do planeta Júpiter, que faz com que Júpiter e Régulo se cruzem no céu três vezes durante um período de poucos meses. O movimento de retrogressão é um efeito ótico em que os planetas parecem inverter o seu movimento. Isto ocorre porque a terra é uma plataforma que se move, e que se move mais rapidamente em volta do sol do que Júpiter, neste caso. Da mesma maneira que, quando ultrapassamos um carro na estrada, este parece andar em sentido contrário à medida que fica para trás.
O efeito visível deste movimento retrógrado mostrou Júpiter fazendo um movimento circular, do tipo “coroação”, acima de Régulo (imagem retirada de Ernest Martin). Tudo isto na constelação de Leo, o signo zodiacal de Judá.

Leste                                                            Oeste

Júpiter passa por Régulo de 12 em 12 anos. Nada de especial, mas três conjunções é muito raro. E também a localização do movimento circular migra através dos anos, atravessando outras constelações.
4.      Passados estes movimentos, em 17 de junho de 2 a.C., ocorre uma nova conjunção de Júpiter e Vénus, (a primeira ocorreu em 11 de setembro do ano anterior) na constelação de Leo, agora ainda mais espetacular. E no tempo exato da lua cheia.
Esta conjunção acontece aproximadamente de 12 em 12 anos, mas raramente atinge esta proximidade. A olho nu, e naquele tempo toda a observação era feita assim, não se podiam distinguir as duas estrelas, parecendo apenas uma muito brilhante.


Fonte da imagem: http://www.astronomynotes.com" >Nick Strobel's Astronomy Notes
Os Magos, que estariam na Mesopotâmia, teriam testemunhado esta união planetária no horizonte ocidental, precisamente na direção da Judeia. Uma hora mais tarde, os planetas pareceriam estar ainda mais próximos aos observadores na Judeia. Nunca viram uma conjunção tão brilhante e não haveria outra por muitas gerações.
5.      Em 27 de agosto, na mesma região do céu, perto da constelação de Leo, há uma aglomeração de 4 planetas (Júpiter, Mars, Vénus e Mercúrio) numa relação longitudinal em estreita proximidade. Todos os planetas primários (exceto Saturno) estavam agora aglomerados na constelação de Leo.
Quando os magos chegaram a Jerusalém, Jesus já tinha nascido. Disseram que viram a sua estrela no oriente (Mt 2:1, 9), ou seja viram-na no horizonte do lado do oriente. Outra tradução diz “no seu surgir”. As palavras gregas EN TE ANATOLE significam literalmente “no surgir”. O nascer helíaco ou nascimento heliacal, como é chamado na astronomia, de um corpo celeste é o momento em que este se torna visível no horizonte imediatamente antes do nascer do Sol. É o que aconteceu em 12 de agosto de 3 a.C..
Se os magos observaram o surgir de Júpiter no oriente em 12 de agosto 3 a.C., eles podiam observar o movimento do planeta em direção ao ocidente. Podiam, literalmente, ter “seguido” Júpiter. Eles disseram que a estrela os precedia (Mt 2:9). O tempo imperfeito do v.9 sugere que a estrela estava continuamente a guiá-los.
Quando chegaram a Jerusalém, foram enviados por Herodes a Belém (Mt 2:8), porque era onde o Messias havia de nascer (Miq 5:2). Partindo, e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino. A estrela parou (ou aparentou parar aos olhos do observador na terra) o seu andamento. Planetas aparentam “param” em determinados momentos, quando iniciam uma retrogressão ou progressão. Pode ser que Mateus mostrou simplesmente que Júpiter ficou estacionário no seu movimento pelas estrelas fixas no momento em que atingiu o zénite sobre Belém.
6.      Isto aconteceu no final de 2 a.C., entre 4 de dezembro e 9 de janeiro 1 a.C. (Wierwille), e terá sido em 25 de dezembro 1 a.C. (Ernest Martin)!

Isto parece que resolveu pelo menos uma questão. 25 de dezembro não é a data de nascimento de Jesus, mas o dia em que os magos chegaram a Belém e ofereceram as suas dádivas.

(continua)

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