08/02/2015

O CERCO DE EZEQUIEL A JERUSALÉM

Na mensagem anterior, vimos como a soma dos anos de reinado dos reis de Judá, descontando 4 anos de coregência de Jeorão com Josafá, dava em números redondos 390 anos para a duração da monarquia dividida, desde Roboão/Jeroboão até à queda de Jerusalém no 11º ano de Zedequias, último rei de Judá.

Ez 4:1-8 narra como Deus ordenou a Ezequiel, no 5º ano do cativeiro do rei Joaquim, de simular simbolicamente um cerco contra a cidade de Jerusalém, como sinal para a casa de Israel.

Joaquim reinara apenas 3 meses e 10 dias (2Cro 36:9) quando fora deportado, por Nabucodonosor, para a Babilónia, juntamente com outros elementos da população de Judá, onde se incluía, entre outros, Ezequiel. Joaquim fora substituído no trono por Zedequias.

O simulacro do cerco de Jerusalém por Ezequiel consistia em este deitar-se sobre o seu lado esquerdo durante 390 dias, um dia para cada ano, para levar a iniquidade de Israel. Depois de cumprir estes dias, Ezequiel devia deitar-se sobre o seu lado direito para levar a iniquidade de Judá, 40 dias, cada dia por um ano.

Os 390 anos do simulacro do cerco de Jerusalém profetizados por Ezequiel (Ez 4:1-8) correspondem aos anos dos reis de Judá?

No cerco de Jerusalém, que havia de acontecer poucos anos depois (começou no 9º ano de Zedequias) seria tirado o “sustento do pão … comerão o pão por peso e com ansiedade … e se consumirão nas suas iniquidades” (Ez 4:16-17). Jerusalém seria queimada a fogo, uma parte do povo morreria à espada e à fome, outros seriam espalhados pelas nações (Ez 5). No 11º ano de Zedequias, realiza-se a profecia de Ezequiel: no 4º mês (Tammuz,junho-julho), a cidade é e arrombada (2Rs25:3-7), no 5º mês (Ab, julho-agosto), Jerusalém é queimada.

Podemos estabelecer a queda de Jerusalém às mãos de Nabucodonosor como término dos 390 anos.

O que originou a contenda do Senhor com Israel, dando início a este período que somaria 390 anos?

A iniquidade pela qual Israel foi responsabilizada era o pecado de idolatria. Muito especificamente, este começou com Jeroboão, filho de Nebate. Anteriormente, o Senhor indignara-se com Salomão, porque ele desviou o seu coração do Senhor e seguiu outros deuses. Por isso, Deus lhe tiraria parte do reino para dá-la ao seu servo (Jeroboão). No entanto, isto só aconteceria nos dias do seu filho, Roboão (1Rs 11:9-13).

Quando o reino se dividiu, ficando 2 tribos (Judá e Benjamim) com Roboão, e o restante se congregou a Jeroboão, este receou que o povo fosse para Jerusalém, à casa do Senhor, e desviasse o coração dele. Por isso, fez bezerros de ouro para o povo adorar como seus deuses, constituiu sacerdotes que não eram da tribo de Levi e instituiu uma falsa festa no 8º mês, imitando a festa dos tabernáculos do 7º mês (1Rs 25-33). Isto foi causa da perdição da dinastia de Jeroboão, que chegaria rapidamente ao seu fim (1Rs 13:34), e também de todo o Israel: 1Rs 14:15-16 – Também o Senhor ferirá a Israel para que se agite como a cana se agita nas águas; arrancará a Israel desta boa terra que havia dado a seus pais, e o espalhará para além do Eufrates, porquanto fez os seus postes-ídolos, provocando o Senhor à ira. Abandonará a Israel por causa dos pecados que Jeroboão cometeu, e pelos que fez Israel cometer.

A situação em Judá também não era muito melhor, já desde os tempos de Roboão. Fez Judá o que era mau perante o Senhor; e, com os pecados que cometeram, o provocaram a zelo, mais do que fizeram os seus pais. Porque também os de Judá edificaram altos, estátuas, colunas e postes-ídolos no alto de todos os elevados outeiros, e debaixo de todas as árvores verdes Havia também na terra prostitutos-cultuais; fizeram segundo todas as coisas abomináveis das nações que o Senhor expulsara diante dos filhos de Israel (1Rs 14:22-24). Embora houvesse ao longo da história dos reis de Judá várias tentativas de acabar com a idolatria (Asa, Josafá, Joás, Josias), as reformas nunca foram inteiramente bem-sucedidas. Por exemplo, “os altos não foram tirados” (1Rs 15:14; 2Rs 12:3; 2Cro 24:18).

Embora a monarquia estivesse dividida e, a determinada altura, o reino de Israel conquistado pela Assíria e o povo deportado, e Judá continuando ainda por 134 anos, a totalidade dos 390 anos consideram a totalidade de Israel, todas as tribos (2Cro 12:1). Mesmo depois da deportação das 10 tribos do reino de Israel, o reino de Judá continha muitos elementos destas tribos que, em várias ocasiões, tinham migrado do norte para o sul (2Cro 11:13-14; 15:8-9; 35:17-18).

Parece-nos que os 390 anos do simulacro do cerco em Ezequiel 4 para levar a iniquidade de Israel correspondem efetivamente aos 390 anos resultantes da soma dos anos de reinado dos reis de Judá, já descontados os 4 anos de coregência de Jeorão e Josafá, solucionando assim a duração do período que vai do primeiro ano de Roboão e Jeroboão até à queda de Jerusalém.

Resta outra pergunta. A que se referem os 40 anos respeitantes ao pecado de Judá que Ezequiel teve de levar sobre o seu lado direito?

Uma hipótese – a verificar – é que estes 40 anos começam no 13º ano de Josias, quando a palavra do Senhor veio a Jeremias, até ao 11º ano de Zedequias e o exílio de Jerusalém (Jr 1:1-3).

4 comentários:

  1. Os 40 anos se referem ao segundo cerco em 70 dC, da morte de Jesus até a destruição de Jerusalem.

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    1. Esta interpretação é sair totalmente do contexto histórico e profético onde Ezequiel está inserido. além disso, o número 40 e a duração de 40 dias ou anos é frequente na Bíblia.

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  2. Ezequiel já estava deportado quando recebe a profecia. O deitar do lado esquerdo e do direito refere-se a olhar para o passado e para o futuro. São dois eventos.

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  3. Deus pede pra Ezequiel se alimentar somente nos 390 dias, sinal de que ele nao estará mais nos dias do cumprimento dos 40 dias...

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