Lembramos que, no segundo mês depois de Israel ter saído do Egipto,
travou uma batalha contra Amaleque, que ia no sentido contrário e foi invadir e
ocupar o Egipto. Os amalequitas foram identificados com os hicsos, segundo a
tese de Immanuel Velikovsky aprofundada em Ages
in Chaos (ver mensagem sobre o êxodo e os amalequitas).
Os hicsos/amalequitas governaram no Egipto no Período Intermédio que se
estende entre o Império Médio e o Império Novo, ou tempo da 14ª à 17ª
dinastia. De acordo com a Bíblia, no tempo do êxodo, Amaleque era o povo mais
poderoso entre as nações. No episódio de Balaque e Balaão, Balaão profetizou
que em Israel haveria “um rei que se levantará mais do que Agague” (Num 24:7) e
disse que Amaleque era “o primeiro das nações, porém o seu fim será destruição”
(Num 24:20). Se os amalequitas eram apenas, como muitas teses afirmam, uma
tribo de beduínos nómadas, porque são chamados “o primeiro entre as nações» e,
se nómadas, porque têm então uma “cidade” (1 Sam 15:4)?
O domínio e influência dos hicsos
não estava confinado ao Egipto. Selos oficiais, nomeadamente do rei Agague,
foram encontrados em vários países, até em Cnossos na Creta, o que levou os
historiadores a terem de admitir que os hicsos, mesmo se por um duração
limitada, comandavam um grande império ou, pelo menos, tinham uma extensa
influência política.
Na Bíblia, no período dos Juízes,
os amalequitas aparecem vez após vez, aliados aos filisteus e outros povos, contra
Israel (Jz 3:13; 6.13; 7:12;10:12;12:15), o que significa que estavam bem presentes
em Canaã.
Num 13:25 – os amalequitas e os
cananeus habitavam no Negev quando os israelitas estavam a caminho de Canaã
depois de saírem do Egipto.
Jz 3:12-13 – Eglom, rei dos
moabitas, ajuntou consigo os filhos de Amom e os amalequitas… livrou-os Eúde.
Jz 5:14 – Débora, no seu cântico
depois da vitória sobre Sísera, num versículo algo obscuro, refere-se a Efraim,
cujas raízes estão na antiga região de Amaleque.
Jz 6:3; 7:12 – cada vez que
Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, como também os povos do
oriente, subiam contra ele… livrou-os Gideão.
Jz 10:11-12 – Não vos livrei eu
dos egípcios, e dos amorreus, e dos filhos de Amom, e dos filisteus? E os sidónios,
e os amalequitas, e os amonitas, quando vos oprimiam e vós clamáveis a mim?
Jz 12:15 – Faleceu Abdom … e foi
sepultado em Piratom, na terra de Efraim, na região montanhosa dos amalequitas.
Esta presença contínua de
amalequitas em Canaã no tempo de Josué e Juízes contradiz a tese de que o êxodo
teria ocorrido, de acordo com a cronologia convencional, quer na 18ª (Tutmés),
quer na 19ª dinastia (Ramessés) do Império Novo. Não há qualquer alusão a
campanhas militares egípcias, ou qualquer referência ao Egito na história de
Israel, nem mesmo no tempo de David, até Salomão se casar com a filha de Faraó
(1 Rs 3:1). Se aquelas dinastias eram tão poderosas, e se dominavam em Canaã,
como afirmam os defensores da cronologia convencional, como é que não aparecem
na história de Israel no tempo de Juízes, Saul e David? Porque os que dominavam
em Canaã, eram os amalequitas/hicsos.
Parece-me que a tese de
Velikovsky, apoiada por outros (Donovan Courville, James Jordan,) merece algum
crédito, e a continuação da história ainda a irá reforçar.
I Samuel 15
1 Sam 15:4-7 – Saul convocou o
povo, e os contou em Telaim, duzentos mil homens de pé, e dez mil homens de Judá.
Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque,
pôs emboscadas no vale. E disse aos queneus: Ide-vos, retirai-vos e saí do meio
dos amalequitas para que eu vos não destrua juntamente com eles, porque usastes
de misericórdia com todos os filhos de Israel, quando subiram do Egipto. Assim
os queneus se retiraram do meio dos amalequitas. Então feriu Saul os
amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egipto.
Esta passagem relata a vitória de
Saul sobre Amaleque. Ele tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas; porém a todo
o povo destruiu ao fio da espada (v.8).
Mas mais do que uma grande
vitória de Israel sobre Amaleque, esta vitória significou, segundo defende Velikovsky,
a libertação do Egipto dos hicsos por Saul. Será apenas uma ironia da história que o
povo que foi escravizado foi o libertador dos que os escravizaram?
Saul chegou à cidade de Amaleque (v.5). É um facto
conhecido da história que a capital fortificada dos hicsos era Avaris, e pode
ser esta cidade onde Saul chegou.
Avaris estava situada, segundo
Maneto citado por Josefo, a oriente do braço de Bubastis do rio do Egipto, num
ponto estratégico de onde controlava tanto o Egipto como a Síria. Segundo
Flávio Josefo, Salitis, o primeiro rei da primeira dinastia de faraós hicsos,
fortificou Avaris e estabeleceu ali um exército de 240.000 homens armados para
proteger a sua fronteira (citado por Velikovsky, p.82, e Engberg,1927, p.5).
Além disso, os hicsos mantinham guarnições em locais estratégicos, o que também
explica a constante presença de amalequitas em Canaã no tempo de Juízes. Uma
destas praças-fortes terá sido na região montanhosa de Efraim (Jz 5:14; 12:15).
Que elementos no texto apoiam que
Saul conquistou Avaris?
Saul “pôs emboscadas no vale”. A
palavra traduzida “vale” é NAKHAL, geralmente traduzido ribeiro, rio, ou leito
de rio. Em várias ocasiões na Bíblia aparece NAKHAL MIZRAIM, o rio do Egipto
(Num 34:5; Jos 15:4,47; 1Rs 8:65;2Rs 24:7, Is 27:12). Pelo contexto de 1 Sam
15:4-7 (Saul foi em direção ao sul, até Sur, defronte do Egipto), este “nakhal”
onde Saul pôs emboscadas junto à cidade de Amaleque, provavelmente se refere ao
rio do Egipto. No sul, onde Saul feriu os amalequitas, não há rios, apenas o
rio do Egipto. No inverno é uma torrente; no verão, está seco. O que explico
que Saul pôde por emboscadas no vale/leito do rio.
O deserto de Sur (Ex 15:22) era
caminho de três dias do Egipto. Foi por onde os israelitas caminharam logo a passar
o mar Vermelho.
Antes de atacar a cidade, Saul
avisou os queneus
para que saíssem da cidade a fim de não serem destruídos com os amalequitas. Os
queneus eram descendentes do sogro de Moisés (Jz 1:16), que tinham subido da
cidade das palmeiras (Jericó), com os filhos de Judá, ao deserto de Judá, que
está a sul de Arade, e habitaram ali, entre os cananeus, em Arade (Num 21:1 –
Arade, no Neguebe, isto é, no sul). Os queneus sempre trataram bem a Israel
(Num 10:29) e Israel não os faria mal.
Existem duas fontes egípcias
sobre a libertação do Egipto dos hicsos. A tábua de Carnarvon, que regista a
participação do faraó vassalo Kamés em ação contra os hicsos, assistido por
tropas estrangeiras.
Outra fonte é uma inscrição na parede do túmulo de Amósis, oficial do faraó com o mesmo nome, que participaram na expulsão dos hicsos. Esta
inscrição tem a forma de uma narrativa de batalhas e sítios. De acordo com este documento, não foram príncipes egípcios rebeldes só que libertaram o país dos
hicsos, mas os libertadores foram guerreiros vindos de fora. A inscrição fala
de “um” (pronome indefinido) que lutou na água no leito de Avaris, que lutou no
Egipto e capturou Avaris, mas não menciona o nome deste estrangeiro.
Depois da derrota de Avaris, uma
parte dos amalequitas fugiu para Sharuhen, que foi sitiada durante 3 anos por
Amósis e tomada pelo faraó Amósis I, o primeiro da 18ª dinastia.
Sharuhen (Saruém) é uma cidade na
herança de Simeão (Jos 19:6). Isto explica que também os filhos de Simeão
lutaram e “feriram o restante dos que escaparam dos amalequitas” e habitaram
naquela região (1 Cro 4:43).
A derrota dos hicsos ocorreu em
dois sítios, sucessivamente. Primeiro, em Avaris, depois em Sharuhen, para onde
parte dos amalequitas se retirou. Apesar da vitória de Saul e morte de Agague,
não foram todos destruídos. Os que escaparam retiraram-se para o sul de Canaã, e
lá estavam quando David fugia de Saul alguns anos depois da vitória em
Avaris. David lutou contra os amalequitas (1 Sam 27:8), que eram os moradores
da terra desde Telã na direção de Sur até à terra do Egipto. Exatamente para
onde foi Saul quando os derrotou pouco antes.
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