07/01/2018

O IMPÉRIO GREGO (2). Os Ptolemeus

DE PTOLOMEU I A ANTÍOCO III O GRANDE

Nesta mensagem vamos ver o que se seguiu à morte de Alexandre, no tempo do “rei do sul”.
Para podermos seguir melhor a história, segue primeiro uma lista dos reis do norte e do sul. Com fundo azul, é indicado quem domina sobre a Judeia.

Dinastia Ptolemaica
“rei do sul”
Dinastia Selêucida
“rei do norte”
Sumos-sacerdotes em Israel
Ptolomeu I Soter  (305-285)
Seleuco I Nicator (312-282)

Onias I
Simão I o Justo
Ptolomeu II Filadelfo (285-246)
Antíoco I Soter (282-262)
Eleazar (irmão de Simão I)

Antíoco II Theos (262-247) x Berenice
Manassés (tio de Eleazar/irmão de Onias)
Ptomoleu III Evérgeta (246-221)
Seleuco II Calínico (247-227)
Onias II (filho de Simão)

Seleuco III Soter (227-224)

Ptolomeu IV Filopater (221-205)
Antíoco III o Grande (224-187)
Simão II
Ptolomeu V Epifânio (205-180)
195 a.C.
Onias III

Seleuco IV Filopater (187-176)


Antíoco IV Epifânio (176-164)
Jasão
Menelaus

Antíoco V (164-146)


Na primeira coluna retomo os versículos da tradução de João Ferreira de Almeida Edição Revista e Corrigida. Por vezes, a leitura é um pouco confuso. Por isso, usei também outras versões. Em alguns casos, juntei o versículo em inglês da New International Version (NIV) e/ou da Bíblia de Jerusalém (BJ), Nova edição revista e ampliada, Paulus Editora 2002.

Como fontes históricas, usei Josefo, Antiguidades e Guerras dos Judeus (tradução de William Whiston), e os livros deuterocanónicos 1 e 2 Macabeus.

Informações históricas foram retiradas de vários sites. Ver bibliografia no fim do artigo.

5- E se fortalecerá o rei do sul, e um dos seus príncipes; e este se fortalecerá, mais do que ele, e reinará, e grande será o seu domínio.

BJ- O rei do sul tornar-se-á poderoso. Mas um de seus príncipes o ultrapassará em poder e seu império será maior que o dele.

Depois da morte de Alexandre em 323 a.C., segue-se um período de vários anos pela disputa do poder entre os seus generais. Não tendo Alexandre um sucessor, um regente foi indicado e as várias regiões governadas pelos generais na forma de satrapias. Na conferência de Triparadisus (320 a.C.) Ptolomeu é confirmado sátrapa do Egipto, Seleuco é nomeado sátrapa da Babilónia.
Depois de várias guerras entre os generais, a batalha decisiva foi disputada em 301 a.C., em Ipso, entre Antígono I Monoftalmos e uma coligação formada por Seleuco, Ptolomeu, Lisímaco, governador da Trácia, e Cassandra, da Macedónia. Ganhou a coligação. A maior parte dos territórios asiáticos foram atribuídos a Seleuco I Nicator. No entanto, antes que ele pudesse estabelecer o controlo sobre a Celessíria, a região foi ocupada por Ptolomeu I Soter, que se tinha estabelecido, em 305, como rei do Egipto (rei do sul).
Ptolomeu I Soter (o rei do sul) estabeleceu o seu domínio sobre a Celessíria em 301.
A Celessíria (área formada pelo Israel atual, os territórios Palestinianos, o Líbano e o sul da Síria), onde se incluía a Judeia, era uma região estrategicamente importante e ponto de conflito entre o norte e o sul.
Portanto, fortaleceu-se o rei do sul.
No período inicial destaca-se o reinado de Ptolomeu II Filadelfo, que durou cerca de 40 anos. Ele libertou os judeus que tinham sido levados para o Egipto e que estavam numa situação de escravidão (Ant.12.2.11). Foi no seu tempo que se formou a biblioteca de Alexandria; e que foi feita a tradução do Pentateuco para Grego por 70 anciãos (a Septuaginta) designados pelo sumo-sacerdote Eleazar, a pedido de Ptolomeu, para a biblioteca de Alexandria.
Josefo testemunha da existência de um bom relacionamento entre o rei do Egipto e o sumo-sacerdote dos judeus.
O mesmo v.5 fala de um dos seus príncipes, do rei do sul, que se fortalecerá mais do que ele. Quem é?
É aquele que será o “rei do norte”.
Na conferência de Triparadisus (320 a.C.), Seleuco, um dos generais de Alexandre, fora nomeado sátrapa da Babilónia. Mas em 316, ele teve de fugir da Babilónia quando Antígono Monoftalmos, outro dos generais de Alexandre, a conquistou. Seleuco encontrou refúgio no Egipto onde reinava Ptolomeu I Soter. De 316 a 312 Seleuco esteve ao serviço de Ptolomeu como general do seu exército. Em 312 (batalha de Gaza), Seleuco reconquistou a Babilónia, com o apoio de Ptolomeu, tornando-se Seleuco I Nicator.
Seleuco e sua dinastia, que é o “rei do norte”, começou como um dos príncipes do rei do sul. Mais tarde, o rei do norte haverá de fortalecer-se mais do que o do sul e reinar com grande domínio.
Durante todo o tempo do domínio egípcio sobre a Celessíria, os Selêucidas não deixaram de reivindicar o controlo da região, conduzindo a várias “guerras sírias”. São assim chamados os vários conflitos que opuseram os reinos Ptolemaico e Selêucida para o controlo da Celessíria, região estratégica para o acesso ao Egipto.
Na 1ª guerra síria (274-271), Antíoco I Soter (rei do norte) ganha temporariamente o controlo de territórios ptolemaicos na costa da Síria, incluindo a Judeia, mas perde-os rapidamente em 271. O domínio do rei do sul continua forte.
Quando Antíoco II Theos sucede ao seu pai, ele inicia a 2ª guerra síria (260-253).
6- Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão; e a filha do rei do sul virá ao rei do norte para fazer um tratado; mas não conservará a força do seu braço; nem ele persistirá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e os que a tiverem trazido, e seu pai, e o que a fortaleceu naqueles tempos.
BJ- Alguns anos mais tarde, eles celebrarão uma aliança, e a filha do rei do sul virá para junto do rei do norte para se ratificarem os acordos. Mas a força do seu braço não a sustentará, nem a sua descendência subsistirá; ela será entregue, ele com os da sua comitiva e o seu filho, bem como o que teve poder sobre ela.
A maior parte da informação sobre esta 2ª guerra síria (260-253) perdeu-se, mas o resultado da guerra não parece ter sido conclusivo. Para selar a paz, uma aliança é feita entre norte e sul através do casamento de Antíoco II com Berenice, filha do rei do sul Ptolomeu II Filadelfo. Para casar com Berenice, Antíoco rejeita a sua primeira mulher Laodice.
Quando Ptolomeu Filadelfo, pai de Berenice, morre, ela (o sul) não conserva a força do seu braço – isto é, a influência de Ptolomeu na corte síria – e Berenice é deixada sem proteção. Antíoco também morre e levanta-se um conflito pela sucessão entre o filho de Laodice e o filho, ainda criança (a descendência), de Berenice. Berenice e seu filho, bem como a sua comitiva, são assassinados.

7- Mas, do renovo das suas raízes, um se levantará em seu lugar, e virá com o exército, e entrará nas fortalezas do rei do norte, e operará contra elas, e prevalecerá.
8- E também os seus deuses, com a multidão das suas imagens, com os seus vasos preciosos de prata e ouro, levará cativos para o Egipto; e, por alguns anos, ele persistirá contra o rei do norte.
NIV- For some years he will leave the king of the north alone.
BJ- Por alguns anos manterá distância do rei do norte.
9- E entrará no reino do rei do sul, e tornará para a sua terra.
Para vingar a morte de Berenice, Ptolomeu III Evérgeta (o Benfeitor), irmão de Berenice (o renovo das suas raízes), declara a guerra ao recém-coroado filho de Laodice, Seleuco II Calínico, dando início à 3ª guerra síria (246-241).
Ptolomeu invade a Síria com um grande exército e levou os deuses e riquezas da Síria para o Egipto. Mas dificuldades no seu país impedem-no de conservar o controlo sobre a Síria, e ele torna para a sua terra e mantém a distância.
Seleuco Calínico consegue restabelecer o seu poder e faz uma tentativa de invadir o Egipto em 242 a.C., mas ele sofre uma derrota e retira-se (v.9).
10- Mas seus filhos intervirão, e reunirão grande número de exércitos: e um deles virá apressadamente, e inundará, e passará; e, voltando, levará a guerra até à sua fortaleza.

11- Então o rei do sul se exasperará, e sairá, e pelejará contra ele, contra o rei do norte; ele porá em campo grande multidão e a multidão será entregue na sua mão.
NIV- Then the king of the south will march out in a rage and fight against the king of the North, who will raise a large army, but it will be defeated.

12- E, aumentando a multidão, o seu coração se exaltará; mas, ainda que derribará muitos milhares, não prevalecerá.
NIV- When the army is carried off, the king of the South will be filled with pride and will slaughter many thousands, yet he will not remain triumphant.
Mas os seus filhos (v.10) continuarão a contender pela Celessíria e acabarão por vencer.
Os filhos de Seleuco II Calínico são Seleuco III Soter e Antíoco III o Grande. Seleuco III Soter reinou apenas 3 anos e foi assassinado. Depois da sua morte, o reino passou para o seu irmão, Antíoco III o Grande.
Os filhos (plural) - os irmãos - prepararam-se para a guerra e juntaram um exército. Mas foi um deles, Antíoco III que invadiu e conquistou grandes partes da Celessíria na quarta guerra Síria (219-217).
Ptolomeu IV Filopater, o rei do sul, reage e sai com um grande exército contra as forças selêucidas de Antíoco III. Com um exército de 68.000 homens Antíoco luta contra o exército de 75.000 de Ptolomeu IV Filopater. Antíoco acaba por ser derrotado na batalha de Ráfia (217), na faixa de Gaza, e perde o controlo da Celessíria nas condições de paz.
Para Ptolomeu seria uma vitória apenas temporária (não prevalecerá), porque o Antíoco III haveria de voltar alguns anos mais tarde (v.13) – ao cabo de anos).
O seu coração se exaltará” pode ter a ver com a atitude de Ptolomeu Filopater descrita numa história contada no livro apócrifo de 3 Macabeus. Depois da vitória na batalha, regressando ao Egipto, Ptolomeu decidiu entrar no templo em Jerusalém, no santo dos santos. O sumo-sacerdote Simão opôs-se, bem como o povo. E em consequência Ptolemeu iniciou uma perseguição aos judeus, de que foram milagrosamente salvos. A historicidade desta história é questionada, no entanto, é bem possível que algo tenha acontecido.
E ajuda a explicar porque os judeus se apartaram dos egípcios para apoiar a vinda de Antíoco.
13- Porque o rei do norte tornará, e porá em campo uma multidão maior do que a primeira, e ao cabo de tempos, isto é, de anos, virá à pressa com grande exército e com muita fazenda.
NIV- For the king of the North will muster another army, larger than the first; and after several years, he will advance with a huge army fully equipped.
14- E, naqueles tempos, muitos se levantarão contra o rei do sul;
e os filhos dos prevaricadores do teu povo se levantarão para confirmar a visão; mas eles cairão.
NIV- In those times many will rise against the king of the South. The violent men among your own people will rebel in fulfillment of the vision, but without success.
A morte de Ptolemeu IV Filopater em 204 a.C. foi seguida por um sangrento conflito interno pela regência, sendo Ptolomeu V ainda uma criança, o que deixou o país enfraquecido e num estado próximo da anarquia. Aproveitando as vantagens desta agitação, Antíoco III prepara a 5ª guerra síria (202-195).
Antíoco III alia-se com Filipe V, rei da Macedónia, com o objetivo de conquistarem e repartirem entre eles as posses egípcias fora do Egipto.
Mas não são apenas os poderes políticos e militares macedónios e selêucidas que se levantam contra o rei do sul (v.14). Internamente, Ptolomeu V enfrenta graves problemas, agitação e sedição em todo o reino, bem como problemas económicos que conduzem ao aumento de impostos, alimentando ainda mais a revolta. Já em 206, a cidade de Tebas revoltara-se e ficou fora do controlo ptolemaico durante vinte anos.
Também entre o povo judeu, levantaram-se contra o rei do sul, em apoio ao rei do norte, como já referimos acima.
Além disso, muitos judeus eram de opinião que o governo selêucida era preferível ao egípcio, porque sentiam fortemente o peso dos impostos cobrados pelos Tobíadas, que apoiavam o lado do sul. Estes Tobíadas eram certamente da mesma família de Tobias do tempo de Zorobabel e Neemias. Josefo conta que no tempo de Ptolomeu Evérgeta, o sumo-sacerdote Onias II recusou pagar impostos ao rei (do sul). Segundo Josefo, porque que era um “grande amante de dinheiro” (Ant.12.4). José, filho de Tobias, repreendeu Onias por não cuidar da preservação do povo e de pôr a nação em perigo, não pagando. José prudentemente aliou-se ao rei do Egipto, oferecendo dinheiro ao rei e Ptolomeu concedeu-lhe a cobrança de impostos na Celessíria, o que ele fez pela força, durante 22 anos, e enriqueceu grandemente e tornou-se poderoso. Quando morre, no tempo de Seleuco Soter, o povo revolta-se. Os anciãos, o sumo-sacerdote Simão (filho de Onias) e grande parte do povo estão do lado oposto ao Egipto.
Serão estes aliados do Egipto os filhos dos prevaricadores? A palavra significa ladrões, violentos. Visto que eles caíram, devem ter sido aliados do rei do sul, que será o lado perdedor. Eles reivindicavam uma visão para justificar a sua tomada de posição, o roubo e a violência. Nisto lembram Ez 7:22-26 onde saqueadores (v.22) buscam do profeta uma visão (v.26) para justificarem os seus pecados (Jordan, p.555).
15- E o rei do norte virá, e levantará baluartes, e tomará a cidade forte; e os braços do sul não poderão subsistir, nem o seu povo escolhido, pois não haverá força que possa subsistir
NIV- Then the king of the North will come and build up siege ramps and will capture a fortified city. The forces of the South will be powerless to resist; even their best troops will not have the strength to stand.
16- O que, pois, há-de vir contra ele fará segundo a sua vontade, e ninguém poderá permanecer diante dele: e estará na terra gloriosa, e por sua mão se fará destruição
NIV- The invader will do as he pleases no one will be able to stand against him. He will establish himself in the Beautiful Land and will have the power to destroy it.
Alguns anos depois (v.13 ao cabo de tempos) da sua derrota em Rafia, Antíoco III volta ao ataque. Na batalha de Panias (que é Cesareia Filipe no Novo Testamento) em 200 a.C. Antíoco ocupa Celessíria.
Scopas, o general egípcio, foi derrotado em Panias e fugiu para Sidon, uma cidade fortificada, onde ele foi obrigado a entregar-se.
Josefo (Ant.12.130) relata que no tempo das guerras de Antíoco o Grande contra Ptolomeu Filopater e sue filho Ptolomeu Epífanes, os judeus e os habitantes de Celessíria sofreram muito porque o domínio sobre a região mudava constantemente pelo que os judeus se sentiam como um navio na tempestade, levado pelas ondas de um para outro lado.
Mas o sul não tinha forças para resistir. Os problemas internos levaram Ptolemeu a procurar uma rápida e desfavorável paz.  Com o fim de se focar na frente interna, Ptolemeu assinou um tratado de conciliação com Antíoco em 195 a.C., cedendo ao rei selêucida a posse da Celessíria.
Diz Josefo que os judeus (Ant.12.3.133), de sua própria vontade, passaram para Antíoco e o receberam na cidade de Jerusalém (v.14 levantaram-se contra o rei do sul). Assim, o rei do norte estava na terra gloriosa.
Começou o domínio do rei do norte sobre a Judeia.
Inicialmente os judeus granjearam o favor de Antíoco que lhes concedeu o direito de viverem de acordo com as suas próprias leis, mas no tempo de seu filho, Antíoco Epifânio, haverá destruição.


Bibliografia
www.britannica.com
https://www.ancient.eu (Ancient History Encyclopedia)
Wikipedia
BEITZEL, Barry J. The New Moody Atlas of the Bible. Chicago: Moody Publishers (2009)
JAMIESON, FAUSSET & BROWN. Commentary on Daniel 11. https://www.blueletterbible.org/
JORDAN, James B. The handwriting on the wall. A commentary on the book of Daniel, American Vision, Powder Springs, Georgia (2007)
JOSEPHUS. The works of Josephus. Translated by William Whiston. New updated edition. 1987.

O IMPÉRIO GREGO (1) Alexandre o Grande

Nos estudos bíblicos, geralmente, pouca atenção é dada ao chamado período “intertestamentário”, entre os últimos livros do VT, Esdras, Neemias, Ester e Malaquias, que pertencem ao período persa, e o nascimento de Jesus. No entanto, Daniel, que viveu todo o período babilónico, em exílio na própria Babilónia, ocupando um elevado cargo no reino, profetiza acerca deste período, com algum detalhe.
Aos quatro reinos sucessivos, sob o domínio dos quais viviam os judeus a seguir à monarquia, chamei de “tempo dos gentios”. Por sua infidelidade à aliança, Israel perdeu a sua autonomia, mas continua debaixo da misericórdia de Deus e encontra-se sob a proteção destes reinos gentios.

Perto do fim do domínio da Babilónia, no primeiro ano de Belshazar, Daniel tem uma visão (Dn 7). Depois do domínio do leão com asas de águia (Babilónia), viria um segundo animal, o urso (Pérsia), e o terceiro, o leopardo, com quatro asas de ave nas suas costas, e quatro cabeças (Dn 7:6).

É deste período que vamos agora tratar.

Noutra visão, no terceiro ano de Belshazar (Dn 8), Daniel vê o carneiro (Pérsia), e “um bode que vinha do ocidente, com uma ponta notável entre os olhos” o qual quebrou a força do carneiro. Este bode engrandeceu-se em grande maneira, mas no auge do seu poder, a grande ponta foi quebrada e subiram quatro, também notáveis no seu lugar. E de uma delas saiu uma ponta pequena.

Com a visão, Daniel recebe a interpretação: O bode peludo é o rei da Grécia; e a ponta grande que tinha entre os olhos, é o primeiro rei; o ter sido quebrada, levantando-se quatro em lugar dela, significa que quatro reinos se levantarão da mesma nação, mas não com a força dela (Dn 8:22).

Alexandre Magno (o Grande), o primeiro rei

Ao derrotar o rei da Pérsia, Alexandre Magno dá início ao terceiro reino (ventre e coxas de cobre) da estátua que Nabucodonosor viu no seu sonho no início do seu reinado (Dn 2:32, 39).

Depois da morte de seu pai, Filipe II da Macedônia (uma região a norte da Grécia), em 336 a.C., Alexandre sucede-o e inicia uma conquista muito rápida, em apenas dez anos, do Médio Oriente, e de toda a Ásia até à Índia. Isto só foi possível porque o seu pai tinha preparado o caminho. Transformara um país fraco e atrasado numa monarquia forte, com um grande exército equipado com armas e táticas então revolucionárias. Foi conquistando a Grécia (era o tempo de Aristóteles e Demóstenes) e tinha o sonho de conquistar a Pérsia.

O caminho da Macedônia para Ásia passava pelo Helesponto (hoje tem a designação de Dardanelos), o estreito que liga o mar Egeu e o Mar de Mármara. Dali partiu à conquista do Médio Oriente. Depois de duas vitórias sobre o exército persa, no rio Granico e na batalha de Isso, Dario o rei persa fugiu. Alexandre não o perseguiu, mas marchou primeiro para sul, através da Síria, tomando Damasco, Sidon, e Tiro, depois de um cerco de sete meses, em 332 a.C., e depois Gaza.

Josefo (Ant.11.317-339) conta que quando estava cercando Tiro, Alexandre escreveu ao sumo-sacerdote judeu pedindo provisões para o seu exército. O sumo-sacerdote recusou, tendo jurado fidelidade ao rei persa. Alexandre ficou muito zangado e ameaçou com uma expedição contra Jerusalém. Depois do cerco de Tiro e a conquista de Gaza, Alexandre marchou para Jerusalém. Ouvindo isto, o sumo-sacerdote Jadua ficou aterrorizado e ordenou ao povo que oferecesse sacrifícios e pedisse a Deus que os livrasse. A seguir, num sonho, Deus disse-lhe para ter coragem, adornar a cidade e abrir as portas, e que o povo, trajado de vestes brancas, e os sacerdotes nos seus trajos e ornamentos próprios, recebessem Alexandre. Assim fizeram. Saíram em procissão, os sacerdotes e a multidão do povo, e encontraram Alexandre num lugar chamado Safa, de onde se tinha uma vista sobre Jerusalém e o templo. O exército, que estava na expectativa de saquear a cidade, ficou admirado quando viu Alexandre aproximar-se do sumo-sacerdote, saudá-lo e adorar a Deus, após o que entrou pacificamente na cidade e ofereceu sacrifícios no templo. De acordo com Josefo, Alexandre disse que, quando estava na Macedônia considerando como poderia obter o domínio na Ásia, ele teve um sonho em que viu este mesmo sumo-sacerdote com as suas vestimentas, que o exortou a passar o mar, que ele lhe daria o domínio sobre a Pérsia. Ainda de acordo com Josefo, os judeus teriam mostrado a Alexandre o livro de Daniel onde estava escrito que alguém destruiria o reino dos Persas, e ele entendeu que fosse ele próprio.

Muitos duvidam da historicidade desta narrativa porque não se encontra em nenhum outro documento escrito, mas é razoável assumir que Jerusalém foi tomada pacificamente, tendo os líderes judeus se submetido voluntariamente a Alexandre. E assim evitaram a destruição.

Jadua é uma figura bíblica; é o último sacerdote registado no livro de Neemias. É descendente de Jeshua que veio com Zorobabel a Jerusalém depois do exílio. Jeshua gerou a Joiaquim, e Joiaquim gerou a Eliasib, e Eliasib gerou a Joiada. E Joiada gerou a Jónatas, e Jónatas gerou a Jadua (Ne 12:10-11).

Depois de submeter o Egipto, Alexandre dirige-se então contra os Persas. Na batalha de Gaugamela, em 331 a.C., Alexandre obtém a vitória decisiva sobre os Persas.

Através das suas conquistas, Alexandre divulga a cultura e língua grega através da Ásia Menor, Egipto, Mesopotâmia até Índia, iniciando a era helenística.

Em 323 a.C. Alexandre morre subitamente, no auge do seu poder.

Depois da morte de Alexandre, segue-se um período de disputas pelo governo do império entre os seus diádocos, generais e comandantes das regiões administrativas do império de Alexandre. Na batalha de Ipso, em 301 a.C., o império ficou definitivamente desintegrado, a as regiões divididas entre os vitoriosos: Seleuco, Lisímaco, Cassandro e Ptolomeu.

Na história bíblica, no capítulo 11 de Daniel, intervêm apenas o “rei do sul” e o “rei do norte”.

O “rei do sul” é a dinastia ptolemaica, fundada por Ptolomeu I Soter (= Salvador), que governará o Egipto (Dn 11:8,42) até ao ano 30 a.C., com a morte de Cleópatra VII.

O “rei do norte” representa a dinastia selêucida, fundada por Seleuco I Nicator, que governa a Síria.
Um dos principais pontos de disputa entre o norte e o sul era o controlo sobre a região estratégica da Celessíria (área formada pelo Israel atual, os territórios Palestinianos, o Líbano e o sul da Síria), onde se incluía portanto a Judeia.

Nas próximas mensagens vamos seguir a história deste período, passo a passo, através do capítulo 11 de Daniel. A profecia de Daniel 11 vê-se realizada literalmente na história dessa época.

Em grandes linhas, depois da morte de Alexandre, a Judeia é dominada por mais de 100 anos pelo Egipto (Dn 11:5-9). Com Antíoco III o Grande inicia-se o domínio sírio sobre a Judeia (Dn 11:10-20), primeiro pacífico, mas depois complicado para os judeus sob o governo de Antíoco Epifânio (Dn 11:21-32). A profanação do templo conduz a uma revolta (Dn 11:32b-35), liderada pelos Macabeus, que darão início a um período de relativa autonomia sob a dinastia dos Asmoneus até à intervenção de Roma e o governo de Herodes. A história dos Macabeus está descrita nos livros deuterocanónicos 1 e 2 Macabeus, que constituem a fonte principal para este período.

Podemos ver, nesta sucessão de reinos que dominavam sobre a Judeia, as quatro cabeças do leopardo (Dn 7:6). O primeiro reino, o do próprio Alexandre o Grande; o segundo, o domínio egípcio (ptolemaico); o terceiro, o domínio sírio (selêucida); o quarto, a dinastia dos Macabeus (ou Asmoneus).

Daniel 8:5, 8-9, 21-22 mostra o bode com uma ponta grande. Quando a ponta grande é quebrada, sobem 4 no seu lugar, e de uma delas uma ponta pequena. A ponta grande é Alexandre. As quatro pontes pequenas são reinos consecutivos que governaram sobre a Judeia: 1) o reino logo após a morte de Alexandre governado por um regente, 2) o domínio egípcio dos Ptolomeus; 3) o domínio sírio dos Selêucidas; 4) a governação dos Asmoneus. A ponta pequena que sai de uma destas quatro pontas (da terceira) é Antíoco Epifânio, que é o “homem vil” de Daniel 11:21-32.