07/01/2018

O IMPÉRIO GREGO (1) Alexandre o Grande

Nos estudos bíblicos, geralmente, pouca atenção é dada ao chamado período “intertestamentário”, entre os últimos livros do VT, Esdras, Neemias, Ester e Malaquias, que pertencem ao período persa, e o nascimento de Jesus. No entanto, Daniel, que viveu todo o período babilónico, em exílio na própria Babilónia, ocupando um elevado cargo no reino, profetiza acerca deste período, com algum detalhe.
Aos quatro reinos sucessivos, sob o domínio dos quais viviam os judeus a seguir à monarquia, chamei de “tempo dos gentios”. Por sua infidelidade à aliança, Israel perdeu a sua autonomia, mas continua debaixo da misericórdia de Deus e encontra-se sob a proteção destes reinos gentios.

Perto do fim do domínio da Babilónia, no primeiro ano de Belshazar, Daniel tem uma visão (Dn 7). Depois do domínio do leão com asas de águia (Babilónia), viria um segundo animal, o urso (Pérsia), e o terceiro, o leopardo, com quatro asas de ave nas suas costas, e quatro cabeças (Dn 7:6).

É deste período que vamos agora tratar.

Noutra visão, no terceiro ano de Belshazar (Dn 8), Daniel vê o carneiro (Pérsia), e “um bode que vinha do ocidente, com uma ponta notável entre os olhos” o qual quebrou a força do carneiro. Este bode engrandeceu-se em grande maneira, mas no auge do seu poder, a grande ponta foi quebrada e subiram quatro, também notáveis no seu lugar. E de uma delas saiu uma ponta pequena.

Com a visão, Daniel recebe a interpretação: O bode peludo é o rei da Grécia; e a ponta grande que tinha entre os olhos, é o primeiro rei; o ter sido quebrada, levantando-se quatro em lugar dela, significa que quatro reinos se levantarão da mesma nação, mas não com a força dela (Dn 8:22).

Alexandre Magno (o Grande), o primeiro rei

Ao derrotar o rei da Pérsia, Alexandre Magno dá início ao terceiro reino (ventre e coxas de cobre) da estátua que Nabucodonosor viu no seu sonho no início do seu reinado (Dn 2:32, 39).

Depois da morte de seu pai, Filipe II da Macedônia (uma região a norte da Grécia), em 336 a.C., Alexandre sucede-o e inicia uma conquista muito rápida, em apenas dez anos, do Médio Oriente, e de toda a Ásia até à Índia. Isto só foi possível porque o seu pai tinha preparado o caminho. Transformara um país fraco e atrasado numa monarquia forte, com um grande exército equipado com armas e táticas então revolucionárias. Foi conquistando a Grécia (era o tempo de Aristóteles e Demóstenes) e tinha o sonho de conquistar a Pérsia.

O caminho da Macedônia para Ásia passava pelo Helesponto (hoje tem a designação de Dardanelos), o estreito que liga o mar Egeu e o Mar de Mármara. Dali partiu à conquista do Médio Oriente. Depois de duas vitórias sobre o exército persa, no rio Granico e na batalha de Isso, Dario o rei persa fugiu. Alexandre não o perseguiu, mas marchou primeiro para sul, através da Síria, tomando Damasco, Sidon, e Tiro, depois de um cerco de sete meses, em 332 a.C., e depois Gaza.

Josefo (Ant.11.317-339) conta que quando estava cercando Tiro, Alexandre escreveu ao sumo-sacerdote judeu pedindo provisões para o seu exército. O sumo-sacerdote recusou, tendo jurado fidelidade ao rei persa. Alexandre ficou muito zangado e ameaçou com uma expedição contra Jerusalém. Depois do cerco de Tiro e a conquista de Gaza, Alexandre marchou para Jerusalém. Ouvindo isto, o sumo-sacerdote Jadua ficou aterrorizado e ordenou ao povo que oferecesse sacrifícios e pedisse a Deus que os livrasse. A seguir, num sonho, Deus disse-lhe para ter coragem, adornar a cidade e abrir as portas, e que o povo, trajado de vestes brancas, e os sacerdotes nos seus trajos e ornamentos próprios, recebessem Alexandre. Assim fizeram. Saíram em procissão, os sacerdotes e a multidão do povo, e encontraram Alexandre num lugar chamado Safa, de onde se tinha uma vista sobre Jerusalém e o templo. O exército, que estava na expectativa de saquear a cidade, ficou admirado quando viu Alexandre aproximar-se do sumo-sacerdote, saudá-lo e adorar a Deus, após o que entrou pacificamente na cidade e ofereceu sacrifícios no templo. De acordo com Josefo, Alexandre disse que, quando estava na Macedônia considerando como poderia obter o domínio na Ásia, ele teve um sonho em que viu este mesmo sumo-sacerdote com as suas vestimentas, que o exortou a passar o mar, que ele lhe daria o domínio sobre a Pérsia. Ainda de acordo com Josefo, os judeus teriam mostrado a Alexandre o livro de Daniel onde estava escrito que alguém destruiria o reino dos Persas, e ele entendeu que fosse ele próprio.

Muitos duvidam da historicidade desta narrativa porque não se encontra em nenhum outro documento escrito, mas é razoável assumir que Jerusalém foi tomada pacificamente, tendo os líderes judeus se submetido voluntariamente a Alexandre. E assim evitaram a destruição.

Jadua é uma figura bíblica; é o último sacerdote registado no livro de Neemias. É descendente de Jeshua que veio com Zorobabel a Jerusalém depois do exílio. Jeshua gerou a Joiaquim, e Joiaquim gerou a Eliasib, e Eliasib gerou a Joiada. E Joiada gerou a Jónatas, e Jónatas gerou a Jadua (Ne 12:10-11).

Depois de submeter o Egipto, Alexandre dirige-se então contra os Persas. Na batalha de Gaugamela, em 331 a.C., Alexandre obtém a vitória decisiva sobre os Persas.

Através das suas conquistas, Alexandre divulga a cultura e língua grega através da Ásia Menor, Egipto, Mesopotâmia até Índia, iniciando a era helenística.

Em 323 a.C. Alexandre morre subitamente, no auge do seu poder.

Depois da morte de Alexandre, segue-se um período de disputas pelo governo do império entre os seus diádocos, generais e comandantes das regiões administrativas do império de Alexandre. Na batalha de Ipso, em 301 a.C., o império ficou definitivamente desintegrado, a as regiões divididas entre os vitoriosos: Seleuco, Lisímaco, Cassandro e Ptolomeu.

Na história bíblica, no capítulo 11 de Daniel, intervêm apenas o “rei do sul” e o “rei do norte”.

O “rei do sul” é a dinastia ptolemaica, fundada por Ptolomeu I Soter (= Salvador), que governará o Egipto (Dn 11:8,42) até ao ano 30 a.C., com a morte de Cleópatra VII.

O “rei do norte” representa a dinastia selêucida, fundada por Seleuco I Nicator, que governa a Síria.
Um dos principais pontos de disputa entre o norte e o sul era o controlo sobre a região estratégica da Celessíria (área formada pelo Israel atual, os territórios Palestinianos, o Líbano e o sul da Síria), onde se incluía portanto a Judeia.

Nas próximas mensagens vamos seguir a história deste período, passo a passo, através do capítulo 11 de Daniel. A profecia de Daniel 11 vê-se realizada literalmente na história dessa época.

Em grandes linhas, depois da morte de Alexandre, a Judeia é dominada por mais de 100 anos pelo Egipto (Dn 11:5-9). Com Antíoco III o Grande inicia-se o domínio sírio sobre a Judeia (Dn 11:10-20), primeiro pacífico, mas depois complicado para os judeus sob o governo de Antíoco Epifânio (Dn 11:21-32). A profanação do templo conduz a uma revolta (Dn 11:32b-35), liderada pelos Macabeus, que darão início a um período de relativa autonomia sob a dinastia dos Asmoneus até à intervenção de Roma e o governo de Herodes. A história dos Macabeus está descrita nos livros deuterocanónicos 1 e 2 Macabeus, que constituem a fonte principal para este período.

Podemos ver, nesta sucessão de reinos que dominavam sobre a Judeia, as quatro cabeças do leopardo (Dn 7:6). O primeiro reino, o do próprio Alexandre o Grande; o segundo, o domínio egípcio (ptolemaico); o terceiro, o domínio sírio (selêucida); o quarto, a dinastia dos Macabeus (ou Asmoneus).

Daniel 8:5, 8-9, 21-22 mostra o bode com uma ponta grande. Quando a ponta grande é quebrada, sobem 4 no seu lugar, e de uma delas uma ponta pequena. A ponta grande é Alexandre. As quatro pontes pequenas são reinos consecutivos que governaram sobre a Judeia: 1) o reino logo após a morte de Alexandre governado por um regente, 2) o domínio egípcio dos Ptolomeus; 3) o domínio sírio dos Selêucidas; 4) a governação dos Asmoneus. A ponta pequena que sai de uma destas quatro pontas (da terceira) é Antíoco Epifânio, que é o “homem vil” de Daniel 11:21-32.

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