Nota: A secção sobre Antíoco IV Epifânio ocupa os vs. 21 a 32.
O rei do v.36 já não pode ser o mesmo. Antíoco é selêucida, rei do norte. A
certa altura, o rei do v.36 entra numa luta com o rei do sul e o rei do norte
(v.40), portanto é outra personagem.
Lembramos que Antíoco III, o Grande, tirou a Judeia do
domínio do rei do sul (Egipto) e integrou-a no reino do norte (Síria). Antíoco
III foi durante um tempo um rei bem-sucedido, mas meteu-se com Roma e sofreu
grande derrota: a redução dos territórios sob seu domínio e uma pesada
indemnização a pagar a Roma. Além disso, foi obrigado a deixar o seu filho Antíoco
(que passaremos a conhecer na história como “Epifânio”) como refém político em
Roma.
Com a morte de Antíoco III, Seleuco IV Filopater sucedeu o seu pai no trono em 187
a.C.. Este é o arrecadador de impostos de Dn 11:20. Os impostos eram para pagar
a indemnização a Roma.
21- Depois, se levantará em seu lugar um
homem vil, ao qual não tinham dado a
dignidade real; mas ele virá caladamente, e tomará
o reino com engano.
Antíoco Epifânio não era o herdeiro legítimo do trono. Subiu
ao trono de maneira irregular. Ainda durante o reinado de Seleuco IV, o filho deste,
Demétrio, o herdeiro legítimo, foi enviado para Roma, trocando de lugar com
Antíoco como refém. Seleuco foi assassinado por Heliodoro, um alto oficial do seu
reino, em 175 a.C., e este foi por sua vez aniquilado por Antíoco Epifânio. Com
o legítimo herdeiro do trono em Roma, Epifânio aproveitou a oportunidade para
tomar o poder com a ajuda do rei de Pérgamo, proclamando-se co-regente com
outro filho de Seleuco, ainda criança, que manda assassinar. Ele nunca é referido
como rei do norte, mas é o que ele é na realidade.
É qualificado como “vil” (desprezível, abjecto, ignóbil). Não
respeitou os costumes dos judeus como o fez seu pai, Antíoco III, que permitiu
que os judeus vivessem segundo a seu Lei e costumes. Josefo relata várias
cartas de Antíoco III que testemunhavam da amizade e estima que ele tinha para
com os judeus. Epifânio, pelo contrário, apoiou os corruptos entre os judeus, “os
violadores do concerto” (v.32), deixando que lhe comprassem o posto de sumo-sacerdote
por dinheiro.
Em 173 a.C. Antíoco pagou o restante da indemnização de
guerra imposta pelos romanos e fortaleceu o seu poder: com os braços de uma
inundação arrancou os seus inimigos diante dele (v.22). Também fez prosperar
económica e socialmente o seu reino: 24- Virá, também, caladamente, aos
lugares mais férteis da província, e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os
pais de seus pais; repartirá entre eles a presa, e os despojos, e a riqueza, e
formará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo (v.24). “Por certo
tempo”, porque haveria um limite ao seu poder e em certo momento o seu domínio
sobre a Judeia (que é o que sempre está em foco) passará para outro.
“Quando Antíoco se viu consolidado no seu trono, pretendeu
apoderar-se também do Egipto, a fim de reinar sobre os dois reinos. Invadiu,
pois, o Egipto á frente de um exército poderoso, com carros, elefantes e cavaleiros
e uma grande esquadra, e travou combate com o rei do Egipto. Ptolomeu, o qual
recuou diante dele e fugiu, muitos tombando feridos. As cidades fortificadas do
Egipto foram tomadas e Antíoco apoderou-se dos despojos do país” (1Mac 1:16-19).
Dn 11:25 a 27 falam desta primeira campanha, bem-sucedida, contra
o Egipto.
25- E suscitará a sua força e o
seu coração contra o rei do sul, com um grande exército, e o rei do sul
se envolverá na guerra, com um grande e mui poderoso exército, mas não
subsistirá, porque formarão projetos contra ele. 26- E os que comerem os seus
manjares o quebrantarão; e o exército dele se derramará, e cairão muitos
traspassados. 27- Também estes dois reis terão o coração atento para fazerem o
mal e a uma mesma mesa falarão a mentira; ela, porém, não prosperará, porque o
fim há-de ser no tempo determinado.
O que é que aconteceu?
Em 170-169 a.C. o Egipto quis reconquistar a Celessíria
(região onde fazia parte a Judeia), e envolveu-se numa guerra com Antíoco que
invade o Egipto. O Egipto tem um exército poderoso, mas não subsiste e o exército
egípcio é derrotado pelo poderoso exército de Antíoco, que é como “uma
inundação que arranca os inimigos diante dele” (v.22). Antíoco ocupa o país
(exceto Alexandria) e captura o rei Ptolomeu VI Filometor (que é seu sobrinho)
apresentando-se como o seu protetor. Em Alexandria, fora da influência de Antíoco,
Ptolomeu VII (irmão de Ptolomeu VI) é proclamado rei do Egipto.
Agora, os dois reis (Epifânio e Ptolomeu VI) tinham uma coisa
em comum: derrotar Ptolomeu VII e segurar o poder sobre o Egipto. Chegaram a um
acordo, Ptolomeu VI foi colocado no trono como co-regente do Egipto com Antíoco.
Mas na mesma mesa onde selaram o acordo, falaram mentira. Isto é, cada um
tencionava trair o outro. Mas isto não prosperaria. No inverno de 169/168, os
governantes ptolemaicos reconciliam-se, o que põe fim à ambição de Antíoco de
manter os dois irmãos em guerra um contra o outro.
Antíoco veio a saber que o rei do Egipto havia tomado uma
atitude hostil aos seus interesses e dirige novo ataque contra o Egipto,
sitiando Alexandria (168 aC). Mas esta segunda campanha tem um desfecho muito
diferente da primeira (vs.29-30).
29- No tempo determinado, tornará a vir contra o sul; mas não
será na última vez como foi na primeira. 30- Porque virão contra ele navios de
Quitim, que lhe causarão tristeza;
Entretanto, os Ptolemeus tinham feito uma aliança com Roma.
Roma declarou o Egipto zona interdita, e enviou contra Antíoco “os navios de
Quitim”. Antíoco foi humilhado e forçado a retirar os seus exércitos do Egipto
e regressar.
Antíoco e os judeus
Vamos agora ver como a história de Antíoco se interliga com a
dos judeus
22- e serão quebrantados, como também o príncipe do concerto.
23- E, depois do concerto com ele, usará de engano; e subirá, e será
fortalecido com pouca gente.
Quem é o príncipe do concerto do
v.22?
A palavra traduzida “príncipe” é NAGIYD. É utilizada para um
líder e chefe do povo, um rei, como David (1Sam 9:16; 2Sam 5:2 etc.), Jeroboão
(1Rs 14:7), Ezequias (2Rs 20:5); para líderes de tribos (1Cr 27:16) e outros
altos oficiais (1Cr 27:4).
A mesma palavra também é utilizada para líderes religiosos,
nomeadamente o sumo-sacerdote, ou o filho do sumo-sacerdote, e outros cargos de
supervisão no templo como o maioral dos tesouros. A palavra NAGIYD nem sempre é
traduzida com a mesma palavra em português: maioral (1Cr 9:11;2Cr 31:13; Ne
11:11); sumo-sacerdote (2Cr 31:10); guia (1Cr 9:20); presidente (Jer 20:1);
chefe (1Cr 12:27).
O príncipe do concerto aqui é o sumo-sacerdote. Qual é a
história?
O sacerdote em funções no início do reinado de Antíoco
Epifânio era Onias III. Onias é caluniado diante do rei por um filho de Tobias (descendente
do Tobias do tempo de Neemias) como “grande amante de dinheiro” por ter
recusado pagar impostos ao predecessor de Antíoco (Josefo conta a história em
Ant.12.4). O irmão de Onias, que adotou um nome grego Jasão, começou a manobrar
para obter o cargo de sumo-sacerdote, prometendo a Antíoco muito dinheiro se ele
fosse nomeado. Antíoco consentiu e Onias é deposto (174 a.C.). Jasão torna
Jerusalém numa cidade grega, com a conivência dos outros sacerdotes e dos
liberais entre e povo. Diz no livro de 2Macabeus 4: “tão logo assumiu o poder,
começou a fazer passar os seus irmãos de raça para o estilo de vida dos gregos.
Suprimiu os privilégios reais benignamente concedidos aos judeus … abolindo as
instituições legítimas, introduziu costumes contrários à lei … construiu a
praça de esportes…Verificou-se desse modo tal ardor de helenismo e tão ampla
difusão de costumes estrangeiros, por causa da exorbitante perversidade de
Jasão, esse ímpio e de modo algum sumo-sacerdote, que os próprios sacerdotes já
não se mostravam interessados nas liturgias do altar. Antes, desprezando o
Santuário e descuidando-se dos sacrifícios, ….”.
Três anos depois (171 a.C.), Jasão envia um certo Menelau,
irmão de Simão o benjamita, levar o dinheiro do tributo a Antíoco. Mas não
contou que Menelau aproveitasse a oportunidade para comprar o sumo-sacerdócio
para si próprio, mesmo não sendo de descendência sacerdotal. Agora Jasão é
afastado. Menelau continua a política de Jasão. Subtraiu objetos de ouro do
templo para enriquecimento próprio e para pagar subornos e manter-se no poder.
Onias III, que estava exilado, ficou a saber e repreendeu-o publicamente, o que
levou a que Onias fosse assassinado a mando de Menelau (2Mac 4:23-35).
Por esta altura, Antíoco conduzia a sua primeira campanha
contra o Egipto, que lhe rendeu muito despojo de guerra.
28- Então tornará para a sua terra, com grande riqueza, e o seu coração
será contra o santo concerto; e fará o que lhe aprouver, e tornará para
a sua terra.
Porque, depois disto, se dirigiu Antíoco à Judeia com o
coração contra o santo concerto?
Circulavam falsos rumores que Antíoco tinha morrido. Jasão,
que tinha sido afastado do sumo-sacerdócio aproveitou isto e reuniu mil homens
e desferiu um ataque contra a cidade, entregando-se sem piedade à chacina dos
seus concidadãos, na tentativa de retomar o controlo. Mas não conseguiu no seu
intento e foi obrigado a fugir. Chegando estas informações a Antíoco, este
ficou com a impressão de que a Judeia estava em revolta contra ele. Dirigiu-se com
o seu exército a Jerusalém “enfurecido em seu íntimo como uma fera” e
apoderou-se da cidade à força das armas. Executou uma grande matança, oitenta
mil pessoas foram mortas no espaço de três dias, e outros muitos milhares vendidos
como escravos. Não contente com isso, Antíoco teve a ousadia de penetrar no
templo, guiado por Menelau, e roubou parte dos tesouros do templo para encher
os seus cofres do dinheiro necessitado para as suas campanhas militares. Após o
que se apressou para regressar à sua terra, deixando superintendentes em
Jerusalém para manter a ordem e Menelau como sumo-sacerdote, que dominava sobre
os seus concidadãos de modo ainda mais atroz que os outros (a história é contada
em 2Mac 5; e por Josefo em Ant,12,5).
Dois anos depois, de regresso da desafortunada segunda
campanha no Egipto, Antíoco volta-se novamente contra Jerusalém.
30- […] e voltará, e se indignará contra o santo concerto,
e fará como lhe apraz; e ainda voltará e atenderá aos que tiverem desamparado o
santo concerto. 31- E sairão a ele uns braços, que profanarão o santuário e a
fortaleza, e tirarão o contínuo sacrifício, estabelecendo a abominação desoladora.
32- E aos violadores do concerto, ele com lisonjas perverterá,
Antíoco enviou um oficial com a missão de forçar os judeus a
abandonarem as leis de seus pais e mandou profanar o santuário. O templo
encheu-se de lascívias e das orgias cometidas pelos pagãos que se divertiam com
meretrizes, introduzindo coisas ilegais nos átrios sagrados. O altar estava
coberto de oferendas proibidas pela lei. Não se podia mais celebrar o sábado,
nem guardar as festas, nem simplesmente confessar que se era judeu … (2Mac
6:1-8).
A “abominação desoladora” estava instalada. Não porque
Antíoco entrou no santuário para roubar o ouro ou porque mandou sacrificar
porcos no altar, como muitos interpretam, mas porque foram os próprios
sacerdotes ao violarem a aliança. Descuidavam-se dos sacrifícios, permitiram a
profanação do templo e foram coniventes com a nomeação de um sumo-sacerdote
fraudulento. Abominações desoladoras são os atos cometidos pelos próprios
judeus no templo.
Daniel 11:31 diz que braços
saíram que profanaram o santuário e tiraram o sacrifício costumado e
estabeleceram a abominação desoladora. Estes braços não são de Antíoco, mas dos
violadores da aliança claro que lisonjeados por Antíoco porque serve a sua
política. Os violadores da aliança só podem ser aqueles que são da aliança. A
transgressão dos sacerdotes fez com que Antíoco impusesse a remoção do
sacrifício contínuo – mas não era nada que já não estivesse a acontecer desde o
tempo de Jasão – e proibisse os judeus de praticarem a sua religião (sacrifícios,
a circuncisão, etc.) e trouxesse o exército para executar matanças.
Quando estes atos abomináveis são trazidos para dentro do
santuário, é o lugar santo onde Deus habita (ou que representa a sua habitação)
que é profanado. Deus não recebe coisas abomináveis. Quando estas entram no seu
templo, Deus abandona o seu santuário e quando não há mais nada a fazer, destrói-o.
Há várias ocorrências disto na Bíblia. Os sacerdotes filhos
de Eli trouxeram o pecado bem dentro do tabernáculo. Não se importavam com o
Senhor (v.12). Não só roubavam do que o povo vinha sacrificar, como se deitavam
com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação, e fizeram
transgredir o povo (1Sm 2:12-25). Em consequência, Deus trouxe um inimigo
contra Israel, os filisteus, e abandonou o seu santuário (a arca da sua
presença foi levada pelos filisteus), e o sumo-sacerdote Eli e os seus filhos foram
mortos e os seus descendentes como que “vomitados” do serviço no santuário (1
Sm 2:30-34; 3:11-14).
No tempo de Ezequiel, o mesmo aconteceu. Ezequiel viu em
visão (Ez 8-11:13) as abominações cometidas dentro do templo pelos sacerdotes. Vês
o que eles estão fazendo? As grandes abominações que a casa de Israel faz aqui,
para que me afaste do meu santuário (Ez 8:6-18)? Os próprios sacerdotes
trouxeram religiões estranhas (idolatria) dentro do templo. Em consequência,
Ezequiel viu a glória do Senhor levantar-se e sair do templo (Ez 9:3; 10:18). E
também viu na sua visão Deus ordenar ao homem vestido de linho para espalhar
brasas acesas sobre a cidade. Deus trouxe os caldeus e Nabucodonosor contra
Israel, para destruir o templo e a cidade, levar o povo para o exílio e matar o
sumo-sacerdote (Jr 4:1;7:30; 13:27; 52:24-26; Ez 5:9,11;6:11; 8:1-18; 2 Cr
36:14-17).
Foram as abominações cometidas no templo pelos sacerdotes de
Israel que contaminaram o lugar santo e fizeram com que Deus retirasse a sua
presença e desolasse a sua casa. Abominações não são ações cometidas por
estranhos à aliança, mas são cometidas na presença de Deus pelo próprio povo de
Deus, representados pelos seus sacerdotes. Porque
os filhos de Judá fizeram o que era mau perante mim, diz o Senhor: puseram os
seus ídolos abomináveis na casa que se chama pelo meu nome, para a contaminarem
(Jr 7:30).
Israel era separado das outras nações para serem sacerdotes
diante de Deus. Deus habitava no meio deles. Na terra, tanto israelitas como
estrangeiros e outros habitantes podiam cometer abominações. Mas no templo, apenas
israelitas (representados pelos seus sacerdotes) tinham acesso, por isso só eles
podiam cometer atos abomináveis. Como sacerdotes e levitas, o seu dever era
“guardar” a santidade do santuário, assim como Adão fora incumbido de guardar o
jardim para não deixar entrar a corrupção que o contaminaria. Adão não guardou
o jardim/santuário e foi expulso. Os sacerdotes e levitas não guardaram o tabernáculo,
também não guardaram o templo, mas estabeleceram nele a abominação que resultou
na desolação.
Assim, não era a presença de exércitos inimigos no templo,
quer filisteus, quer Nabucodonosor, quer os porcos sacrificados por Antíoco,
mas esta presença e a ação profanadora do inimigo era a consequência visível da
abominação cometida por Israel. A abominação trazia um juízo, executado
mediante o exército de um povo estranho.
Eis o dia, eis que vem (v.10) … o dia da indignação do Senhor
(v.19) … De tais preciosas joias fizeram o seu objeto de soberba e fabricaram
suas abomináveis imagens e seus ídolos detestáveis; portanto eu fiz que isso
lhes fosse por sujeira, e o entregarei na mão dos estrangeiros, por presa, e
aos perversos da terra por despojo; eles o profanarão. Desviarei deles o meu
rosto, e profanarão o meu recesso; nele entrarão profanadores, e o saquearão
(Ez 7:20-22)
Mas ainda não era o “tempo do fim”. A invasão de Antíoco foi
só um aviso.
Os macabeus
Antíoco submeteu, com suas lisonjas, os violadores da
aliança, mas o povo que conhece o seu Deus se tornou forte e fez proezas (Dn
11:32). Os violadores da aliança não se preocuparam em estar a quebrar as leis
de Deus. Mas quanto aos outros, o livro de Macabeus relata histórias de coragem,
de como judeus fiéis, coagidos a violarem a lei, enfrentavam perseguições e
torturas.
Entretanto, a resistência é organizada pelos macabeus, uma
família sacerdotal que, sob a liderança inicial de Judas Macabeu, conseguiram
juntar um grande número de homens e formar um exército de guerrilha, “o pequeno
socorro” (v.34). Sendo poucos, lutaram contra o exército sírio muito maior.
Conseguiram purificar o templo e restaurar o culto, o que levou à instituição
da festa de Hanukkah. Dizem os livros de 1 Macabeus que a purificação do
santuário sucedeu no 25º dia do mês de Quisleu, no mesmo mês e dia em que três
anos antes, Antíoco havia feito construir, sobre o altar dos holocaustos, a
Abominação da desolação e que os pagãos o tinham profanado (1Mac 1:54; 4:52-54).
Nota: Os livros dos Macabeus não fazem parte do cânone da
Bíblia, mas são uma fonte importante para a história daquele tempo. Josefo
segue 1Mac nas suas Antiguidades. 1Macabeus é um livro que canta as proezas dos
Macabeus em muitas (demasiadas) palavras lisonjeiras, tentando mostrá-los como
verdadeiros herdeiros do trono de David e legítimos sumos-sacerdotes.
Ajudados com poucos, ou com pequeno socorro- o exército dos
macabeus eram poucos e com poucos ganharam do exército sírio muito maior. Esta
é uma interpretação. Outra interpretação diz que o socorro foi pequeno, ou
insuficiente, porque os macabeus, embora conseguissem restaurar o templo e
reconquistar por algum tempo a independência de Israel, tomaram para si o trono
(que não lhes pertencia de direito porque eles não eram descendência de David,
nem da casa de Judá) e tomaram também para si, ilegitimamente, o cargo de
sumo-sacerdote, ao qual também não tinham direito, não sendo da linhagem de
Zadoque.
Desde Menelau, nunca mais um sumo-sacerdote legítimo da casa
de Zadoque ministrou em Israel. É isto o que significa o príncipe da aliança foi quebrado.
Mesmo quando o templo foi purificado depois da profanação pelas
forças de Antíoco, a abominação foi só parcialmente resolvida. O legítimo
sumo-sacerdote nunca mais foi reinstalado no cargo. Verdadeiros abusos
introduziram-se desde o tempo do rei Herodes, nomeando e destituindo
arbitrariamente os sumos-sacerdotes. Quando, depois da deposição de Arquelau (6
d.C.), a Judeia passou a ser uma província romana, cada novo procurador nomeava
um novo sumo-sacerdote. Josefo (Ant.20) escreve que o número de
sumos-sacerdotes, desde os dias de Herodes até ao dia em que Tito tomou e
queimou o templo e a cidade (cerca de 107 sete anos), foi de 28, alguns dos
quais só ocuparam o cargo durante escassos meses. A maior parte deles eram
familiares de Anás que, embora tivesse efetivamente sido sumo-sacerdote durante
cerca de 7 anos (7-13 d.C.), conservou na prática a autoridade até à sua morte.
Note-se que em Daniel 11, contrariamente ao livro de
Macabeus, não há menção de uma restauração depois do estabelecer da abominação
desoladora. Esta restauração só acontecerá com Jesus.
Os vs.32 a 35 fala de “entendidos entre o povo que ensinarão
a muitos, mas cairão, e serão provados e purificados, ….
33- E os entendidos entre o povo ensinarão a muitos; todavia
cairão pela espada, e pelo fogo, e pelo cativeiro, e pelo roubo, por muitos
dias. 34- E, caindo eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se
ajuntarão a eles com lisonjas. 35- E alguns dos entendidos cairão, para serem
provados, e purificados, e embranquecidos, até ao fim do tempo, porque será
ainda no tempo determinado.
Isto caracteriza a condição dos judeus desde os dias de Antíoco
Epifânio ao tempo de Herodes (11:36) e depois até à vinda do reino com Jesus.