Mas a partir de agora deixámos de poder contar o tempo com a
ajuda da idade de algum dos filhos de Jacó relativamente ao ano em que nasceu o
seu filho herdeiro, como era o caso em Génesis 7 e 11, e ainda até ao
nascimento de Jacó.
Como vamos conhecer a intervalo de tempo entre a morte de
José e o êxodo do Egipto?
Que elementos a Bíblia nos dá?
Em Gn 15:13-16, foi dito em sonho/visão a Abraão que a sua posteridade seria peregrina em
terra alheia, reduzida à escravidão, afligida 400 anos. Depois seria
julgada a gente a que tiveram de se sujeitar e eles sairiam com grandes
riquezas. Na quarta geração tornariam para a terra da Canaã.
Em Atos 7:6, Estêvão faz referência a este acontecimento e
menciona o mesmo lapso de tempo: «E falou Deus assim, que a sua descendência
seria peregrina em terra estrangeira, onde seriam escravizados e maltratados
por 400 anos».
Ex 12:40-41 introduz outro número: – Ora o tempo que os
filhos de Israel habitaram no Egipto foi de 430 anos. Aconteceu que, ao cabo
dos 430 anos, nesse mesmo dia, todas as hostes do Senhor saíram da terra
do Egipto. –
400? 430? Não é provável que seja um erro. Portanto, tratar-se-á
de dois assuntos diferentes.
Uma coisa é certa: O fim dos 400, bem como dos 430 anos é a
saída dos filhos de Israel do Egipto.
Mas quando começam?
Há duas grandes teorias. A mais frequente atribui uma duração
longa (400 ou 430 anos) à estadia de Israel no Egipto. A segunda defende uma
duração curta de 215 anos no Egipto.
Em Gálatas 3:17, Paulo afirma que a lei veio 430 anos depois
da promessa dada por Deus a Abraão. Isto significa que o princípio do
período de 430 anos é quando Deus fez a promessa a Abrão. Quando foi isto?
Quando Ele disse, a primeira vez, a Abrão «vai para a terra que te mostrarei …
de ti farei uma grande nação … em ti serão benditas todas as famílias da terra»
(Gn 12:1-3). Tinha Abrão então 75 anos (Gn 12:4); era o ano 2083.
A lei foi dada no terceiro mês depois da saída do Egipto (Ex
19). Portanto, o êxodo teve lugar em
2083 + 430= 2513. Biblicamente, é
inequívoco.
O tempo passado no Egipto
não foi de 400 ou 430 anos, mas de apenas 215
anos (2513 menos 2298, o ano da chegada de Jacó ao Egipto).
Isto pode ser confirmado. Gn 15:16 declara que “na quarta
geração tornarão para aqui”. Abrão estava em Canaã quando teve esta visão. Entre
o sair de Canaã – o que aconteceu quando Jacó e a sua família foram para o
Egipto – e o tornar «para aqui», ou seja voltar para Canaã, haveria 4 gerações.
Estas quatro gerações encontramo-las, por exemplo, em Êxodo
6:16-20, onde ficamos a saber alguns pormenores acerca dos filhos de Levi. Levi
entrou no Egipto, juntamente com os seus 3 filhos, Gérson, Coate e Merari (Gn
46:11). O filho de Coate, Anrão, casou com Joquebede e teve Miriã, Arão e
Moisés. Arão saiu do Egipto com seus filhos Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Ex
28:1).
Levi (geração mais velha a entrar no Egipto) – Coate – Anrão
– Arão (geração mais velha a sair do Egipto) : são 4 gerações, ou
Coate (geração mais nova a entrar no Egipto) – Anrão – Arão –
Eleazar/Itamar (geração mais nova a sair do Egipto) : também 4 gerações.
Estas 4 gerações provam que a duração da estadia de Israel no
Egipto não pode ter sido 400 ou 430 anos, por ser impossível transporem 400
anos.
Levi tinha aproximadamente 50 anos quando entrou no Egipto
no ano 2298 (nasceu aprox. 2248) e já tinha 3 filhos. Admitimos que Coate era
bebé quando entrou no Egipto. Coate viveu 133 anos. Não sabemos a idade de
Coate quando gerou Anrão, mas admitindo que o gerasse aos 133 anos, embora
improvável, e que também Anrão, que viveu 137 anos gerasse Moisés aos 137 anos,
mesmo assim não seria suficiente para cobrir 400 anos. 133 + 137 + 80 (idade de
Moisés no êxodo, Ex 7:7) = 350.
Esta genealogia de Levi é totalmente inconsistente com uma
duração longa de 400 ou 430 anos no Egipto.
Quanto a Ex 12:40, que parece dar a entender que o tempo
(total) que os filhos de Israel habitaram no Egipto foi de 430 anos, a tradução
dada pela King James Bible (e várias outras traduções) diz assim:
«Now the sojourning of the children of Israel, who dwelt in
Egypt, was four hundred and thirty years»,
ou seja: a peregrinação dos filhos de Israel, que habitaram no Egipto, era de
430 anos. Atenção às vírgulas: a peregrinação total era de 430 anos, não a
duração da estadia no Egipto.
A peregrinação começou com Abraão quando ele foi para Canaã.
Abraão peregrinou, habitou em tendas, bem como Isaque e Jacó peregrinaram em
Canaã antes descerem para o Egipto (Hb 11:9).
Analisando Gn 15:13, o versículo é conhecido como uma
introversão (Anstey, p.128; Jones, p.59):(A) A tua posteridade será peregrina em terra alheia
(B) E será reduzida à escravidão
(B) E será afligida
(A) Quatrocentos anos
(A)e (A) correspondem ao mesmo evento. Definem todo o período
em que a posteridade de Abrão (portanto, a partir de Isaque) seria peregrina em
terra alheia, 400 anos. (B) e (B) são parentéticos e referem-se a outros
eventos inseridos na totalidade dos 400 anos, mas relacionados apenas com o
tempo de escravidão e a aflição. O tempo de escravidão e de aflição no Egipto foi
apenas uma parte do tempo, no máximo 128 anos. José morreu depois de ter vivido
71 anos no Egipto e Israel viveu em paz no Egipto durante aquele tempo. Ex 1:6
dá a entender que a aflição só começou depois de José e todos os seus irmãos
terem falecidos. Ex 1:8 diz que se levantou um novo rei sobre o Egipto, que não
conhecera a José, mas não diz quando isto foi. Pelo episódio do nascimento de
Moisés (Ex 2) entendemos que os tempos já estavam muito difíceis pelo menos 80
anos antes do Êxodo.
2298 –
entrada de Jacó no Egipto
(período de 71 anos)2369 – morte de José
2385 – morte de Levi
(período de 48 anos)
2433 – nascimento de Moisés
(período de 80 anos)
2513 – saída do Egipto
Também podemos dizer que os tempos de aflição não se limitaram
ao tempo da escravidão. Abrão receou várias vezes pela sua vida. Isaque passou
por tempos de aflição, épocas de fome (Gn 26:1), de problemas com os reis dos
filisteus (Gn 26:6-11), problemas por causa de poços e contendas por água (Gn
26:15-22). Jacó com medo de Esaú fugiu para Padam-Aram; foi afligido por Labão
durante 20 anos (Gn 31:38-42); ao voltar a Canaã a sua filha foi violada; …
Entretanto, ficou resolvido o período de 430 anos entre a promessa de Deus a Abrão no início da sua peregrinação em Canaã e o ano da saída do Egipto. Mas ainda ficamos com um ponto de interrogação. A que se referem então os 400 anos de que o Senhor falou a Abrão (Gn 15:13 e Atos 7:6)? Foi-lhe dito que a sua posteridade seria afligida por 400 anos. Se os 430 anos incluíam o tempo de peregrinação de Abrão, este período já não o faz.
Do êxodo (AH 2513) menos 400 anos leva-nos ao ano de 2113.
Nesse ano, Isaque tem 5 anos. Ussher, Anstey e Jones estão de acordo em dizer
que foi então que Abrão deu um grande banquete, no dia em que Isaque foi
desmamado (Gn 21:8). Sara viu que Ismael, o filho de Hagar, a egípcia, troçava
de Isaque. Ismael, que era o filho mais velho de Abraão, reclamava o direito de
herança. Mas Sara diz a Abrão para rejeitar a escrava e seu filho, porque em Isaque
era chamada a sua descendência (Gn 21:9-12). A partir desse dia Isaque é oficialmente
a posteridade de Abraão e o seu herdeiro, e nesse momento inicia-se o período
de 400 anos.
Resumindo datas:
2083 Saída de Abrão para Canaã. Idade: 75 anos.
Recebe a promessa quando chega a Canaã (Gn 12: At 7:5). Ponto de partida dos
430 anos até à dádiva da Lei (Gal 4:17)
2113 Isaque é desmamado. Abraão dá um grande
banquete. Isaque é oficialmente herdeiro de de Abraão (Gn21:8). Início dos 400
anos até à saída de Israel do Egipto2298 Jacó e a sua família vão para o Egipto. Início do período de 215 anos no Egipto
2369 José morre aos 110 anos
2433 Nascimento de Moisés
2513 Israel sai do Egipto. No terceiro mês da sua saída, Deus dá-lhes a Lei (Ex 19).
Fim dos períodos de 400 e 430 anos. Fim de 215 anos no Egipto.