1) a identidade do faraó que colocou José numa posição de
autoridade e que recebeu tão bem a família de Jacó e permitiu que se
estabelecesse na melhor terra de Gosen no Egito e
2) a identidade do faraó que tentou impedir a saída dos
israelitas.
Não há consenso entre os historiadores sobre quem eram estes
faraós.
Para melhor entendermos o porquê desta falta de consenso,
precisamos primeiro de comparar a cronologia da história de Israel com a
cronologia da história egípcia.
Já definimos em anos a.C. quando Israel entrou e quando saiu
do Egipto (ver mensagem anterior).
Agora, precisamos de conhecer a cronologia da história egípcia.
A história do Egipto é tradicionalmente dividida em períodos e dinastias. Segue
uma listagem simplificada destes períodos e dinastias com datas aproximadas a.C., a fim de podermos
entender onde se insere tradicionalmente
a história de Israel.
Cronologia
convencional (a.C.)
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Eventos bíblicos
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PERÍODO PRE-DINÁSTICO
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5500-3200
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PERÍODO PROTO-DINÁSTICO
Dinastia 0
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3200-3100
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PERÍODO ARCAICO
1ª e 2ª dinastia
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3100-2686
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ANTIGO IMPÉRIO
3ª a 6ª dinastia
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2686-2181
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2348: dilúvio
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1º PERÍODO INTERMÉDIO
7ª a 10ª dinastia
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2181-2055
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IMPÉRIO MÉDIO
11ª dinastia
12ª dinastia
13ª dinastia
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2055-1650
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1706: a família de Jacó entra no Egipto
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2º PERÍODO INTERMÉDIO
14ª a 17ª dinastia (Hicsos)
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1650-1550
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1571: nascimento Moisés
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IMPÉRIO NOVO
18ª dinastia (1570-1320)
§ Amósis (1570-1546)
§ Amenotepe I
(1546-1527)
§ Tutmés I (1527-1515)
§ Tutmés II (1515-1498)
§ Hatchepsute (1498-1483)
§ Tutmés III (1504-1450)
§ Amenotepe II (1450-1412)
§ Tutmés IV (1412-1402)
§ Amenotepe III (1402-1364)
§ Akhenaton (1350-1334)
§ Semencaré
(1334)
§ Tutankamon (1334-1325)
§ Ai (1325-1321)
19ª dinastia
§ Ramsés I (ca. 1320)
§ Seti I (1318-1304)
§ Ramsés II (1304-1237)
§ Merneptá (1236-1223)
§ Amenmes
§ Seti II
§ Siptah (1208-1202)
§ Rainha Tausert (1202-1200)
20ª dinastia
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1550-1069
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1491: Êxodo
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3º PERÍODO INTERMÉDIO
21ª a 24ª dinastia
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1059-747
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EPOCA BAIXA
25ª a 30ª dinastia
(Até Alexandre o Grande
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747-332
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PERIODO PTOLOMAICO
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332-30
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As principais hipóteses avançadas são as seguintes:
1. Os israelitas são identificados com os Hicsos
(2º Período Intermédio), e o êxodo com a expulsão dos Hicsos, também conhecidos
como os Reis-pastores.
2. Os israelitas saíram do Egipto no tempo de
Amenotepe III (ou antes), e invadiram a Palestina no tempo de Akhenaton,
identificados como os Habiru.
Esta interpretação baseia-se em cartas encontradas nos anais de El-Amarna
(cidade fundada por Akhenaton), escritas de Jerusalém e avisando o faraó de uma
invasão de Habiru.
3. Os israelitas entraram do Egipto no tempo dos
Hicsos, também um povo estrangeiro, presumivelmente de origem semita – por isso
teriam sido favoráveis aos israelitas. Quando os Hicsos foram expulsos,
levantou-se um novo rei que não conhecia José.
a.
Êxodo na 18ª dinastia:
Amósis foi o faraó que iniciou a opressão depois da morte de José. Tutmés
III seria o faraó do êxodo. Hatchepsute, filha de Tutmés, seria a rainha que
educou Moisés na corte egípcia. (Esta hipótese corresponde a uma interpretação que
dá um período curto de estadia de Israel no Egipto, ca. 215 anos.
b.
Êxodo na 19ª dinastia:
A
opressão culminou no tempo de Ramsés II, para quem os israelitas construíram
Ramessés e Pitom. O êxodo ocorreu no tempo do seu filho e sucessor Merneptá.
(Esta hipótese corresponde a uma interpretação que dá um período longo de mais
de 400 anos para a estadia de Israel no Egipto.)
Existem outras variantes, todas situando o êxodo quer na 18ª
quer na 19ª dinastia. Porém, não há consenso entre os historiadores, porque
todas estas hipóteses apresentam incongruências. Não me queria deter na análise
dos prós e contras das várias hipóteses, pois existe um problema maior.
O êxodo foi para Israel o evento mais importante da sua
história como povo. A ele era feito referência vez após vez, nos Salmos, pelos
Profetas, …. A Páscoa foi instituída por essa ocasião.
Porém, os anais do
Egipto não preservaram qualquer registo relativo à estadia ou partida dos
israelitas, levando muitos a afirmar que se trata de uma mera lenda, no
mínimo uma exageração de um acontecimento menor. Têm-se procurado explicações
naturais para os fenómenos descritos na Bíblia.
O êxodo foi um evento acompanhado por grandes e violentas convulsões
da natureza, que destruíram a terra e culminaram com a morte de muitos egípcios
(primogénitos) e a derrota de um exército. O que na realidade é estranho é não
existir no Egipto no tempo daquelas 18ª e 19ª dinastia qualquer testemunho nem
da estadia, nem da saída dos israelitas, nem das pragas, nem da destruição.
Mas não acaba ali. Também, dizem, não existem provas de que
Jericó teria sido destruído naquela época. Há arqueólogos e historiadores que
chegam a dizer que David e Salomão não existiram.
Esta ausência de registos e provas arqueológicas poderia
levar a deduzir que toda a história de Israel é uma fábula.
Onde reside o problema? (ver Berthoud, 2006)
- Por um lado, temos uma narrativa bíblica que pretende ser
histórica e que, além disso, está fortemente estruturada no plano cronológico.
- Por outro lado, há dados arqueológicos cujas datas são
baseadas numa cronologia egípcia, constituída de acordo com documentos diversos
do século III a.C. pelo sacerdote egípcio Maneto (= a cronologia convencional como dada na tabela acima)
- Nenhuma concordância precisa existe entre estes dois. Isto
é: nenhum evento na história de Israel tem uma concordância contemporânea na
história do Egipto.
Disto podemos deduzir várias hipóteses, tal como atualmente
percebidos no mundo académico:
1)
A cronologia oficial/convencional está correta e
por conseguinte a história bíblica de Israel é um mito.2) Os eventos descritos pela Bíblia são verdadeiros e a cronologia que encontramos na Bíblia é exata. Por conseguinte, devem existir na história egípcia factos correspondentes aos factos atestados pela Bíblia. Se não os encontramos hoje é porque procuramos no momento histórico errado, porque há uma décalage importante entre a cronologia bíblica, que é exata, e a cronologia oficialmente reconhecida para o antigo Egipto, que é falsa historicamente.
3) Podemos continuar a tentar aceitar a cronologia oficial e procurar acomodar os factos bíblicos.
4) Finalmente, podemos ignorar a questão e evitar o perigo intelectual e espiritual de nos confrontar com a historicidade ou não historicidade do Velho Testamento, fazer a exegese dos textos bíblicos de modo independente não ligando a história bíblica com os eventos da história. Esta decisão tem a seguinte consequência:
“La
religion chrétienne, dans une telle perspective, dégagée des réalités de
l’histoire, prend alors, sans même s’en rendre compte, l’allure d’un système
gnostique suspendu en l’air, hors de la réalité créée». (Berthoud, 2006)
« A religião cristã,
nesta perspetiva, solta das realidades da história, toma então, sem se dar
conta, a aparência de um sistema gnóstico suspenso no ar, fora da realidade
criada”.Para nós,
os eventos descritos pela Bíblia são verdadeiros e a
cronologia que encontramos na Bíblia está correta.
Por conseguinte, devem existir na história egípcia factos
correspondentes aos factos atestados pela Bíblia.
Se não os encontramos hoje é porque procuramos no momento
histórico errado, porque existe uma décalage importante entre a cronologia
bíblica, que está certa, e a cronologia oficialmente reconhecida para o antigo
Egipto, que está errada.
É necessário rever a cronologia oficial/convencional.
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