Baseando-se nas conclusões das escavações mais recentes da
arqueóloga inglesa Kathleen Kenyon, a maioria dos historiadores hoje defende
que não existia nenhuma cidade em Jericó na época em que Josué era suposto
conquistá-la!
Como chegaram a esta conclusão?
Devido à sua importância na história bíblica, Jericó – o
sítio de Tell-es-Sultan - foi o segundo lugar em Israel, depois de Jerusalém, a
ser alvo de escavações arqueológicas.
A primeira grande escavação em Jericó foi conduzida por uma
expedição austro-alemã entre 1907 e 1911. O arqueólogo Carl Watzinger concluiu
que Jericó não era ocupada (muito menos fortificada) na Idade do Bronze tardia (ca
1550-1200 a.C), altura em que Israel apareceu pela primeira vez em Canaã.
Nos anos 1930, o arqueólogo inglês John Garstang questionou
estes resultados. Garstang foi o primeiro investigador a usar métodos modernos,
embora ainda rudimentares quando comparado com as normas atuais. Escavou um
muro ruído e uma área residencial, que designou de City IV, que foi
violentamente destruída. Garstang concluiu que City IV foi destruída ca. 1400
a.C., baseando-se na cerâmica encontrada nos detritos da destruição e escarabeus
egípcios encontrados em túmulos próximos, e na ausência de cerâmica micénica.
Ele atribuiu a destruição aos israelitas.
As conclusões de Garstang precipitaram a controvérsia.Uns anos mais tarde, Garstang pediu a Kathleen Kenyon para rever e atualizar as suas descobertas. Ela escavou em Jericó na década de 1950, tendo introduzido técnicas rigorosas de escavação estratigráfica, análise pormenorizada de solos e camadas de detritos e um registo cuidadoso. Ela chegou mais ou menos à mesma conclusão que Watzinger. De acordo com Kenyon, a destruição da City IV de Garstang ocorreu, não cerca 1400 a.C., mas no final da Idade do Bronze média, cerca de 1550 a.C., isto é 150 anos antes. Portanto, se Jericó foi destruída em 1550 a.C. não haveria em 1400 a.C. uma cidade sequer para Josué conquistar. Nem na 18ª, nem na 19ª dinastia, portanto. As provas arqueológicas estavam, mais uma vez, aparentemente, em conflito com o relato bíblico. O que só tem ajudado a desacreditar o relato bíblico e a relegá-lo ao mito.
A publicação final da escavação feita por Kenyon só ficou
disponível em 1982-83, já depois da sua morte. Com estes novos dados, Bryant
Wood tentou fazer uma avaliação independente das conclusões de Kenyon (Wood,
1990).
Bryant Wood conclui que de facto existia uma cidade murada
em Jericó até cerca de 1400 a.C., quando foi destruída, concluindo que Garstang
estava certo, Kenyon não.
A crítica de Wood em relação à Kenyon prende-se com a sua
metodologia. Kenyon baseou a sua opinião quase exclusivamente na ausência de cerâmica importada de Chipre
e que era muito comum para o período do Bronze tardio (c.1550-1400). Embora
mencione certos tipos de cerâmica usados nesse período, ela dá pouca
importância a estas formas domésticas que aparecem regularmente nas fases finais
da City IV e que foram encontradas em quantidade considerável para se poder trabalhar.
Em vez disso, Kenyon preferiu enfatizar as cerâmicas importadas para tecer as
suas conclusões cronológicas. Kenyon baseou a sua análise naquilo que não encontrou e não naquilo que
encontrou. De acordo com ela, City IV deve ter sido destruído ca 1550 a.C.
porque não encontrou cerâmica cipriota em Jericó. Ela comparou Jericó com
grandes cidades como Megido situada nas principais rotas de comércio. Jericó,
pelo contrário, era um sítio pequeno e bem longe das grandes rotas.
Uma análise dos relatórios de Garstang e Kenyon mostra que
ambos escavaram num bairro pobre da cidade onde apenas encontraram habitações
modestas. Porque então alguém esperaria encontrar cerâmica exótica importada
neste tipo de ambiente? Na opinião de Wood, tem de se dar atenção à cerâmica
doméstica ordinária que se encontrou em abundância.
Outra crítica de Wood a Kenyon é a associação que ela fez da
destruição da City IV com a expulsão dos hicsos do Egipto em ca. 1570 a.C.
Kenyon defende que não só Jericó mas outras cidades na região terminaram nas
mãos dos hicsos ou dos egípcios em campanhas de perseguição aos hicsos quando
estes foram expulsos do Egipto onde anteriormente governavam.
Aqui temos de lembrar que a 18ª dinastia foi a que se seguiu
ao tempo de ocupação dos hicsos, tendo conseguido expulsá-los do Egipto. O
primeiro dos faraós desta 18ª dinastia foi Amósis, seguido de Amenotepe,
seguido de Tutmés, o faraó do êxodo (na opinião dos defensores da 18ª
dinastia).
Wood terá razão quando diz que Jericó não pode ter sido ser
destruída pelos egípcios. As descobertas feitas em Jericó comprovam-no. Nos
restos queimados da City IV, tanto Garstang como Kenyon encontram muitos vasos
que armazenavam grãos, indicando que havia muito alimento na cidade quando foi
destruída. Isto é contrário ao que se sabe das táticas militares egípcias. As
campanhas egípcias costumavam fazer-se antes do tempo da ceifa, quando a
reserva de alimentos na cidade estaria no seu nível mais baixo. Os egípcios
poderiam usar o produto dos campos para alimentar o seu exército, e destruir o
que não queriam, aumentando ainda o sofrimento e as dificuldades para a
população indígena. Isto não foi o caso em Jericó. Além disso, a estratégia egípcia
para conquistar uma cidade fortificada seria através de um cerco longo. A
grande provisão de alimento em Jericó indica que a cidade sucumbiu rapidamente,
não depois de um longo cerco, e ocorreu depois do tempo da ceifa e não antes.
Por outro lado, Kathleen Kenyon poderá não estar muito longe
da verdade. Recordemos a tese de Velikovsky, que temos apresentado, e que situa
o êxodo muito antes, no final da 13ª dinastia (Império Médio), coincidindo com
a invasão do Egipto pelos hicsos,
isto é, os amalequitas (ver a mensagem sobre o êxodo e os amalequitas).
Simultaneamente com a saída dos israelitas do Egipto, os hicsos/amalequitas dirigiam-se
para o Egipto, eventualmente causando grande destruição pelo caminho. As
conclusões de Kenyon estão em acordo com a cronologia defendida por Velikovsky
em Ages in Chaos. Os israelitas
chegaram a Jericó apenas uma geração depois do fim do Império Médio no Egipto, portanto
ainda na Idade do Bronze Médio (http://www.varchive.org/ce/jericho.htm).
Entre as linhas de prova que Wood apresenta em defesa da
conclusão de Garstang - destruição da City IV em aprox. 1400 a.C. no final do
que os arqueólogos chamam a Idade do Bronze Final I -, estão os objetos de
cerâmica, escarabeus egípcios e a datação por radiocarbono.
Foi feito, pelo British Museum, um teste do carbono-14 numa
peça de madeira queimada encontrada nas ruinas. Foi datada 1410 a.C., com uma
margem de 40 anos para mais ou para menos. Mais tarde, este valor foi considerado
um erro e corrigido para uma data muito anterior 1590 ou 1527 +/- 110 B.C.
Testes adicionais noutras amostras de cereal e carvão resultaram em datas entre
1690 e 1520, outros de 1347 +/- 85 anos. Estas diferenças de valor encontradas
só parecem provar que a datação por radiocarbono não é muito fiável. Por causa
destas inconsistências, a maioria dos arqueólogos preferem datas históricas a
datas C14.
Os escarabeus são itens com importância cronológica. São
pequenos amuletos egípcios na forma de um escaravelho e com uma inscrição na
base (por vezes o nome de um faraó). Num cemitério a noroeste da cidade,
Garstang encontrou uma série contínua de escarabeus estendendo-se do século 18
a.C. (13ª dinastia) ao século 14 a.C. (18ª dinastia). Estes últimos incluem nomes reais – Hatshepsut, Tutmés III, e Amenotepe III. A natureza contínua desta série de escarabeus sugere que o
cemitério foi usado ativamente até ao fim do período de Bronze Final I. Isto
contradiz Kenyon quando disse que a cidade foi abandonada depois de 1550.
Por outro lado, a presença de escarabeus do tempo de
Hatshepsut, Tutmés e Amenotepe (18ª dinastia), se parece apoiar a data de
Garstang e os defensores da data mais antiga do êxodo, parece agora contradizer
a tese de Velikovsky de que o êxodo e a conquista de Jericó tiveram lugar muito
mais cedo no final da 13ª dinastia. Mas já veremos o que Velikovsky tem para dizer
sobre esta questão.
Entretanto, que concluímos nós destas contradições?
Wood data a destruição de Jericó ca. 1400 a.C. Para
comparação, a data que Nolen Jones apresenta na sua cronologia (e que temos
seguido e apoiado até agora) revela-se muito próxima da data defendida por Garstang e Wood:
1441 a.C. Porém, a datação de Wood fundamenta-se na cerâmica, a qual, por sua
vez, está baseada na cronologia egípcia que o coloca na 18ª dinastia.
A data ca.1400 a.C. está próxima da data a que chegámos com
os cálculos baseados na informação bíblica, mas as razões alegadas por Wood e
Garstang baseados na cerâmica e nos escarabeus egípcios poderão não estar
corretas, se Velikovsky e os revisionistas tiverem razão. A cronologia egípcia está fundamentalmente
errada, por isso as conclusões baseadas na cerâmica e nos escarabeus não serão
válidos.
Quanto a Kenyon, embora acerte com o período dos hicsos, a
data que ela avança é demasiado cedo com os nossos cálculos baseados na Bíblia.
Outra questão é: como explicar a presença de escarabeus da
18ª dinastia se Jericó foi destruída durante o governo dos hicsos (14ª
dinastia) e depois abandonada?
Velikovsky explica esta presença (ver artigo disponível em http://www.varchive.org/ce/jericho.htm)
Velikovsky explica esta presença (ver artigo disponível em http://www.varchive.org/ce/jericho.htm)
Josué proclamou uma maldição sobre quem reedificasse Jericó:
- Naquele tempo Josué fez o povo jurar e dizer: Maldito diante do Senhor seja o
homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó: com a perda do seu
primogénito lhe porá os fundamentos, e à custa do mais novo, as portas (Jos
6:26).
Durante cerca de cinco séculos não houve nenhuma tentativa
de reconstruir a cidade maldita por Josué. No século 9 a.C., nos dias de Acabe,
rei de Samaria, uma certo Hiel edificou Jericó. – Em seus dias [de Acabe] Hiel,
o betelita, edificou a Jericó; quando lhe lançou os fundamentos, morreu-lhe
Abirão, seu primogénito, quando lhe pôs as portas morreu Segube, seu último,
segundo a palavra do Senhor, que falara por intermédio de Josué, filho de Num
(1 Rs 16:34).
Segundo Velikovsky, não é de admirar que que os edifícios erigidos
no tempo de Acabe e os túmulos encontrados nas escavações de Garstang e Kenyon datem do tempo de Amenotepe III e IV
(Akhenaton) da 18ª dinastia, que eram contemporâneos de Acabe. Contrariamente a
outros historiadores, Velikovksy é de opinião que na coleção de cartas de
El-Amarna (capital de Akhenaton) há mais de 65 cartas de Acabe dirigidas a
estes faraós. A reocupação de Jericó cerca de 600 anos depois da sua destruição
é, para Velikovksy, um claro caso de completo acordo entre a arqueologia e o
registo escrito.
E trata-se de mais uma evidência de que o êxodo não teve lugar
na 18ª dinastia mas muito antes.
Sobre as cartas de el-Amarna havemos de voltar em tempo.