A questão cronológica da profecia
das 70 semanas de Daniel
A profecia das 70 semanas de Daniel constitui um quebra-cabeça
cronológico, cuja razão principal deriva disto:
o número de anos entre o decreto de Ciro, que constitui o ponto de
partida lógico e natural do período de 70 semanas (490 anos), e que é tradicionalmente
datado 536 a.C. e o batismo de Jesus, no ano 30 d.C.
aproximadamente, que constitui o término da 69ª semana (483 anos),
ultrapassa largamente a duração da profecia (cerca de 83 anos).
Isto teve por consequência a procura de soluções, que passam por
alternativas ao decreto de Ciro como ponto de partida das 70 semanas, ou por
intercalar “lapsos” indeterminados de tempo entre o primeiro grupo de 7 semanas
e o segundo grupo de 62 semanas e/ou entre o fim do grupo de 62 semanas e a 70ª
semana.
Muitos daqueles que consideram que as 70 semanas devem ser interpretadas
à letra rejeitam, por isso, o decreto de Ciro como ordem de saída, e procuram
substituir este por outro decreto alternativo alguns anos mais tarde na história.
Em nosso ver, a interpretação bíblica não deixa margem para duvidar de
que o decreto de Ciro constitui efetivamente a “ordem de saída” para a
reconstrução de Jerusalém e, portanto, o ponto onde se iniciam os 490 anos da
profecia. Apresentaremos argumentos contra aqueles decretos alternativos.
Mas, se tomarmos por correta a data de 536 a.C. para o decreto de Ciro,
ficamos com um problema por resolver. As 70 semanas representam uma indicação
de tempo com conotações meramente simbólicas? Então porquê uma profecia com um
tempo muito específico? Teremos de intercalar lapsos de tempo? Mas como
justificar estes lapsos de tempo?
Por outro lado, se tomarmos por incorreta
a data de 536 a.C. para o decreto de Ciro, toda a história deveria ser revista.
Vários autores (Donovan Courville, Immanuel Velikovsky, David Rohl, Peter
James, Emmet Sweeney, e outros) já fizeram propostas revisionistas, mas não têm
tido aceitação no meio académico (ver artigo de John Crowe, The revision of Ancient history: a
perspective, in: http://www.sis-group.org.uk/ancient.htm
Deixaremos para mais tarde esta reflexão. A nossa abordagem, até agora, nestes
estudos, tem sido a de construir uma cronologia começando do início da história
do homem, e utilizando apenas informação bíblica para estabelecer datas. Não
temos, salvo em alguns casos para termos de comparação, usado datas “a.C.”
(obtidas retroativa e posteriormente) para esta cronologia. Por enquanto,
continuaremos nesta base. Porque é nesta base que Daniel e o povo judeu terão
feito os seus cálculos quanto à data expectada para a vinda do Messias.
O primeiro ano de Ciro era o ano
(aproximadamente) 3468 Anno Hominis, o ano
da saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém.
Sabe, e entende: desde a saída da ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e
sessenta e duas semanas: as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em
tempos angustiosos (Dn 9:25).
Tudo no texto bíblico indica que o ponto de
partida das setenta semanas – a saída da ordem para restaurar e para edificar
Jerusalém (v.25) – não pode ser outro que o decreto de Ciro autorizando os
judeus a regressarem à sua terra e reconstruírem o seu templo.
Este decreto constitui o ponto de transição
entre o fim do domínio babilónico e a libertação do cativeiro e,
simultaneamente, o começo de um novo período na existência nacional de Israel,
já não como nação soberana e independente, embora na sua própria terra, mas
como um povo unido pela sua religião debaixo da governação de um rei gentio.
O decreto de Ciro foi o decreto que veio em
cumprimento das profecias de Jeremias. “Logo que se cumprirem para Babilónia
setenta anos atentarei para vós”, escreveu Jeremias de Jerusalém aos exilados
na Babilónia (Jr 29:10). Isto significava que quando chegasse o fim do domínio
babilónico, terminaria o cativeiro dos judeus e o povo poderia voltar para casa
(Jr 25:8-12). Foi um decreto de liberdade.
Também 2 Crónicas 36:21-23 estabelece
claramente esta transição:
… para que se cumprisse a palavra do SENHOR,
pela boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os
dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram.
Porém, no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia
(para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela boca de Jeremias), despertou o
SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o
seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O
SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe
edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá; quem, dentre vós é de todo o
seu povo, que suba, e o SENHOR, seu Deus, seja com ele.”
O livro de Esdras, que continua a narração
histórica de 2 Crónicas, abre com o decreto de Ciro. É este decreto que
desencadeou a grande viragem na história do povo judeu após o cativeiro na
Babilónia, e que inicia o tempo da restauração de Israel. Os livros de Esdras e
Neemias relatam o regresso a Jerusalém e a reedificação do templo, da cidade e
dos muros no meio de feroz oposição.
Contra
aqueles que afirmam que Ciro apenas deu ordem para reconstruir o templo e não a
cidade, um argumento fundamental, que reforça a tese de que o decreto de Ciro
foi efetivamente a ordem de saída para
restaurar e edificar Jerusalém, é uma profecia de Isaías, que fora dada
duzentos anos antes pelo profeta Isaías, e que menciona Ciro (Koresh em Hebraico) pelo seu nome (Is
44:21 – 45:17). Deus fala:
[Eu sou o Senhor] que confirma a palavra do
meu servo e cumpro o conselho dos meus mensageiros; que digo de Jerusalém: ela será habitada; e das cidades de Judá:
elas serão edificadas; e levantarei as suas ruínas; que digo à profundeza das
águas: Seca-te, e eu secarei os teus rios;
que digo de Ciro: ele é meu pastor e
cumprirá tudo o que me apraz; que digo
também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado (Is
44:26-28).
Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a
quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face […] eu irei adiante
de ti […] Por amor do meu servo Jacob, e de Israel, meu escolhido, eu te chamei
pelo teu nome, e te pus o sobre nome, ainda que não me conheces (Is 44:1-4)
Deus falou
diretamente a Ciro, a quem chama o seu “ungido” (Is 45:1). Esdras 1:2 relata o
que Ciro disse de si próprio: Assim diz
Ciro, rei da Pérsia: o SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra;
e Ele me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém. E ainda em
Isaías 45:13, Deus diz de Ciro: Eu o despertei em justiça e todos os
seus caminhos endireitarei, ele edificará a minha cidade e soltará os
meus cativos não por preço nem por presentes. Ciro, como o “ungido” do
Senhor, prefigura Jesus, o Messias. O Messias é aquele que salva e liberta o
seu povo, edifica o seu templo, a sua Igreja (Mt 16:18), e a sua cidade
celestial.
Babilónia,
na qualidade de cabeça da estátua dos impérios gentios no sonho de
Nabucodonosor (Dn 2), é representativa de todos os impérios seguintes. Por
isso, a libertação do cativeiro da Babilónia prefigura a libertação definitiva
por Cristo. Ciro, o libertador, é figura de Cristo, em que ele liberta o povo
do cativeiro, edifica Jerusalém e o templo (Is 44:48) e inaugura uma nova era
na história de Israel. Porque Babilónia é representativa dos que guardam Israel
cativo, a libertação e restauração é frequentemente falada em termos de
libertação do cativeiro da Babilónia. Por exemplo, o capítulo 40 de Isaías, que
anuncia consolo para o povo de Deus e a “voz que clama no deserto”, que Mateus
3:2-3 aplica a João Baptista, está diretamente relacionado ao cativeiro da
Babilónia. No trecho imediatamente anterior (Is 39:5-8), Isaías dissera ao rei
Ezequias que Israel seria levado para Babilónia.
É evidente
que Ciro não agiu por si próprio. Deus despertou o seu espírito; Deus está no
controlo de todas as coisas (Dn 11:1). É a palavra de Deus que dá a ordem. O
termo que é traduzido como “ordem” é, literalmente, “palavra” (DABHAR).
É isso que o
anjo Gabriel viera anunciar a Daniel: no
princípio das tuas súplicas, saiu a ordem (DABHAR) e eu vim para to declarar,
porque és mui amado. O anjo viera anunciar que a libertação estava próxima.
A ordem (palavra) da saída do povo já fora dada por Deus em resposta à oração de
Daniel.
É nossa
opinião que as Escrituras não deixam lugar a quaisquer dúvidas quanto ao
decreto de Ciro como ponto de partida das 70 semanas. Ainda mais porque, contra
a oposição que se levantara à construção, os judeus sempre se defenderam
recorrendo à permissão dada por Ciro no seu primeiro ano (Ed 3:7; 4:3;
5:13-17). Assim também a autorização de Dario, no segundo ano do seu reinado,
de retomarem as obras fundamenta-se no decreto de Ciro (Ed 6:1-3).
As praças e as circunvalações se
reedificarão em tempos angustiosos
A seguir à
ordem de Ciro, uma parte do povo judeu voltou à sua terra. Sob a direção de
Zorobabel e Jeshua iniciaram as obras de reedificação do templo, da cidade e
dos muros, quando se levantou oposição e a obra cessou. Embora os adversários
conseguissem fazer parar a obra durante vários anos, esta foi retomada e
terminada com sucesso.
Sete
semanas, isto são 49 anos, seriam necessárias para reedificar a cidade, as
praças e circunvalações, em tempos angustiosos. Os livros de Esdras e Neemias,
e dos profetas Ageu e Zacarias, dão conta dos tempos difíceis da reconstrução
da cidade, do templo e dos muros. À luz de Daniel 9:25, os acontecimentos
descritos nestes livros decorreram dentro dos limites das primeiras 7 semanas da
profecia.
As praças,
ou ruas, encontram-se dentro da cidade; fazem parte dela. As circunvalações, por
vezes traduzido tranqueiras, fosso ou muros, referem-se ao sistema de
fortificações em redor da cidade. A Septuaginta usa a palavra grega τειχος, que
significa muro, muralha. Trata-se obviamente dos muros da cidade, cuja
reconstrução foi conduzida por Neemias. Tanto a reconstrução do templo, que
sofreu forte oposição e mesmo interrupção durante vários anos, como a restauração
dos muros, que foi levada a cabo com as armas na mão, decorreram em tempos angustiosos. A finalização da
obra, a aliança que foi assinada (Ne 9:38; 10) e a festa de dedicação dos muros
(Ne 12:27-43) representam o fim das primeiras sete semanas. Numa próxima
mensagem, trataremos pormenorizadamente da cronologia destas 7 semanas, ou 49
anos.
Alternativas ao decreto de Ciro
À luz do
texto bíblico, é natural concluir que a ordem de saída para edificar Jerusalém
é o decreto de Ciro, e que a cidade e os muros foram, de seguida, reedificados
em 49 anos (isto é, nas primeiras 7 das 70 semanas).
Mas o desfasamento
cronológico de 80 anos já referido, não obstante as manifestas provas bíblicas
a favor do decreto de Ciro, parecem colocar obstáculos a esta interpretação,
conduzindo a que se procurassem soluções alternativas para funcionar como
“ordem de saída”.
Para facilitar a
compreensão, juntamos a seguinte lista dos reis persas que interessam ao nosso
estudo e as datas da cronologia consensual:
Ciro reinou (538 a 530) 9 anos
Cambises 529 a
522) 8 anos
(Entre Cambises e Dario I,
Smerdis/Gaumata usurpou o poder até que Dario o conseguiu derrotar em 522.
Reinou apenas 7 meses.)
Dario I Histaspes (521 a 486) 36 anos
Xerxes (485 a 465) 21 anos
Os livros de
Esdras e Neemias referem vários documentos oficiais, posteriores ao de Ciro,
que estão todos, de alguma maneira, relacionados com a reedificação de
Jerusalém e/ou do templo. Entraram em consideração os seguintes:
1. O decreto de
Dario Hystaspes no segundo ano do seu reinado.
Desde o tempo de
Ciro começaram as tentativas das gentes locais para parar a construção (Ed
4:5). A oposição levou à interrupção das obras durante vários anos, até que no
segundo ano de Dario, o profeta Ageu incitou o povo a retomar o trabalho.
Quando recomeçaram a edificar, Tatenai, o governador daquém do Eufrates, foi
logo inquirir quem os autorizou a reedificar a casa e restaurar o muro, e
escreveu a avisar Dario. Dario mandou procurar nos arquivos, onde se encontrou
o decreto de Ciro. Nesta sequência, Dario, no segundo ano do seu reinado, autorizou
o recomeço das obras do templo. A história está contada em Esdras 4-6 e Ageu 1.
2. O decreto de
Artaxerxes, alegadamente Artaxerxes I Longimano, no sétimo ano do seu reinado.
Passadas a
construção e dedicação do templo no sexto ano de Dario, Esdras, o escriba,
subiu a Jerusalém com uma carta do rei Artaxerxes (Ed 7:11-26), autorizando que
ele fosse a Jerusalém, juntamente com quem quisesse do povo de Israel, para
levar prata e ouro oferecido pelo rei, e ofertas do povo para a casa de Deus,
para comprar com esse dinheiro animais para o sacrifício, para recolocar no
templo os utensílios e para nomear magistrados e juízes. Conclui Esdras assim: Bendito seja o Senhor Deus de nossos pais,
que deste modo moveu o coração do rei para ornar
a casa do Senhor, a qual este em Jerusalém (Ed 7:27-28).
3. O decreto de Artaxerxes,
alegadamente Artaxerxes I Longimano, no vigésimo ano do seu reinado.
Depois de tomar
conhecimento que em Jerusalém os muros ainda estavam derribados e suas portas
queimadas a fogo, Neemias solicita ao rei autorização para ir a Jerusalém com a
missão de reconstruir os muros. Esta autorização é-lhe dada mediante cartas
dirigidas pelo rei aos governadores dalém do Eufrates e a Asafe, guarda das
matas do rei, para fornecerem aos judeus madeira
para as vigas das portas da cidadela do templo, para os muros da cidade, e para
a casa em que deverei [Neemias]
alojar-me (Ne 2:8). Estas últimas cartas são uma autorização específica para
a reconstrução dos muros da cidade, que estavam ainda derribados e com as
portas queimadas, e para o fornecimento dos respetivos materiais necessários
(Neemias 1 e 2).
Este último
“decreto” é pela maioria aceite e defendido como “ordem de saída”, isto porque
em termos cronológicos é o que se enquadra melhor no tempo literal da profecia
de Daniel e tendo em conta as datas da cronologia consensual.
Em primeiro lugar,
podemos rejeitar todas estas “ordens de saída” alternativas, mesmo à luz da
cronologia consensual. Mau grado todos os cálculos e tentativas, nenhum destes
alegados decretos se enquadra exatamente nos 490 anos. Os primeiros dois são
demasiado próximos de Ciro, tendo também anos a menos e o último é demasiado
tarde, ultrapassando o tempo do batismo de Jesus, que é o término da 69ª semana (ver mensagens sobre a profecia das 70 semanas de Daniel). Existem cálculos que utilizam
um subterfúgio: uma medida de tempo a que chamam de “ano profético” e que teria
uma duração de apenas 360 dias[1].
Deste modo "acertam" no tempo, contudo, o uso de um “ano profético” não tem
fundamentos bíblicos. Não nos adianta aqui debater a validade do “ano
profético”, porque há outros argumentos bíblicos através dos quais podemos
rejeitar todos estes alegados decretos, inclusive o do vigésimo ano de
Artaxerxes I Longimano.
Argumentos
contra os decretos alternativos
O mais óbvio
argumento contra qualquer das alternativas avançadas é ser por demais estranho
que a “ordem de saída para restaurar e
edificar Jerusalém” tivesse sido dada quando Jerusalém, o templo e os muros
já estavam a ser edificados.
No ano do seu
regresso à terra, no sétimo mês (que é Tishri, setembro/outubro), edificaram o
altar, estando já os filhos de Israel nas cidades (Ed 3:1-6), e celebraram a
festa dos tabernáculos. Mas ainda não
estavam postos os fundamentos do templo do Senhor (v.6). Naquele mesmo ano,
deram dinheiro aos pedreiros e aos carpinteiros, e comida e azeite aos sidónios
e tírios, para trazerem do Líbano madeira
de cedro ao mar, para Jope, segundo a permissão que lhes tinha dado Ciro, rei
da Pérsia (Ed 3:7). A madeira de cedro serviria para a construção do templo
certamente, e a permissão fora dada por Ciro.
No segundo ano da
sua vinda à casa de Deus em Jerusalém, diz Esdras 3:8, começou a obra da casa
do Senhor.
A obra de
reconstrução e restauração começou, portanto, logo após o regresso. Já foi
referido que um dos argumentos contra o decreto de Ciro e a favor do decreto de
Artaxerxes é que Daniel 9:25 diz que a “ordem de saída” era para restaurar e
edificar Jerusalém, não falando
expressamente do templo.
Contrapomos aqui o
que diz Deus através de Isaías: digo de
Ciro: Ele é meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de
Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado (Is 44:28).
Que é um templo
sem a cidade e o povo? O templo é o lugar onde Deus habita, no meio do seu
povo. O povo, ou pelo menos uma parte dele, habitava em Jerusalém (1 Cr 9:1-3).
Também, antes de se iniciar a construção do templo, havia que construir casas
para habitação e outras infraestruturas necessárias à vida diária. Tudo isto,
juntamente com o templo, constitui a cidade. Portanto, pode dizer-se que
Jerusalém começou efetivamente a ser reedificada desde o dia em que o povo
regressou, a seguir à ordem de Ciro.
Isto prova a carta
escrita por Reum e Sinsai (Ed 4:7-16) que dizia que os judeus estavam reedificando aquela rebelde e malvada
cidade, e restaurando os seus muros, e reparando os seus fundamentos
(v.12). Esta carta deu origem à proibição de continuar com a edificação da
cidade (Ed 4:17-24). Cessou pois a obra até
ao segundo ano do rei Dario. O rei “Artaxerxes” a quem a carta era endereçada
é, portanto, um rei anterior a Dario, possivelmente Cambises (voltaremos mais
adiante à questão dos nomes dos reis persas). Assim, antes de a obra do templo
ser interrompida, a cidade estava a ser reedificada, bem como os muros.
No segundo ano de
Dario, quando Ageu incitou o povo a retomar as obras do templo que estavam
paradas, ele disse: Acaso é tempo de habitardes
vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas? (Ag 1.4).
Mais uma prova de que a cidade estava a ser edificada com as suas casas, embora
as obras do templo estivessem paradas.
Todos os
argumentos utilizados pelos judeus para refutar a oposição do inimigo à
edificação fundamentam-se no decreto de Ciro: Esdras 3:7; 4:3; 5:13-14. A autorização de Dario no
segundo ano do seu reinado para recomeçar as obras do templo remete
peremptoriamente ao decreto de Ciro. Isto invalida totalmente a possibilidade
de o decreto de Dario ser a “ordem de saída”.
Nenhum argumento
pode ser trazido a favor das cartas dadas pelo rei Artaxerxes a Esdras, no 7º
ano do seu reinado. Não se trata de todo de uma ordem para a reedificação de
Jerusalém, nem do templo, que já estava construído e dedicado. Esdras foi para
Jerusalém especificamente com a finalidade de ornar o templo com a prata e o ouro e os utensílios que levava com
ele.
Cerca de 11 anos
depois de Esdras ter ido para Jerusalém, é a vez de Neemias regressar a
Jerusalém. A missão de Neemias, que começou no 20º ano do mesmo Artaxerxes de
Esdras, era, basicamente, reconstruir os muros da cidade e colocar as portas.
Os trabalhos estão descritos em pormenor em vários capítulos do livro de
Neemias. O colocar das portas e a dedicação do muro mete um ponto final à obra
de reconstrução de Jerusalém. Terminado o trabalho, Neemias volta a Susã no 32º
ano do reinado de Artaxerxes.
A reconstrução dos muros foi apenas a última fase da restauração de
Jerusalém. Esta reconstrução teria começado 92 anos depois do regresso à terra
com o decreto de Ciro. Em tantos anos, a cidade já devia estar edificada e
bastante desenvolvida. E ainda, dificilmente a última fase da obra de reconstrução
poderá ser considerada uma “ordem de saída para restaurar e reedificar
Jerusalém”.
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Além dos
argumentos acima apresentados, a adoção do decreto de Artaxerxes I Longimano como
ordem de saída para edificar Jerusalém tem outros defeitos.
Primeiro, distorce completamente
a cronologia das 7 primeiras semanas (49 anos) da profecia que, de acordo com
Daniel 9:25, era o tempo que havia de durar a reedificação da cidade e dos
muros em tempos angustiosos.
De acordo com o
relato de Esdras, os tempos angustiosos começaram muito cedo após o decreto de
Ciro, com a oposição à reconstrução do templo (Ed 4), e duraram cerca de 17
anos até ao segundo ano de Dario, ano em que recomeçaram as obras. Também foram
12 anos de tempos angustiosos quando se restauraram os muros sob a direção de
Neemias (Ne 2-6), desde o 20º até ao 32º ano em que Neemias voltou
para Babilónia, tendo terminado a sua missão. E será lícito pensar que o
intervalo (presumivelmente de 70 anos) entre o terminar da obra do templo e o
começo do restauro dos muros também foram tempos angustiosos, de outro modo os
judeus teriam certamente continuado as obras. Teríamos assim um período de
cerca de 104 anos angustiosos.
Portanto, se
optarmos pelo decreto de Ciro como ordem de saída e a dedicação dos muros no
32º ano de Artaxerxes I Longimano como o ponto final da restauração de
Jerusalém em tempos angustiosos, ultrapassamos largamente os 49 anos preditos
por Daniel.
Um outro problema
é que a idade de Esdras e Neemias, que estavam entre os que vieram primeiro com
Zorobabel, não permite identificar este Artaxerxes com Artaxerxes I Longimano.
Por isso, se
tivermos em consideração que a reedificação da cidade, incluindo os muros
(porque estes fazem parte integrante da cidade), devia ter lugar em 49 anos, vamos
ter de provar que a identidade do rei Artaxerxes de Esdras e Neemias não é
Artaxerxes I Longimano, como é assumido por muitos.Será o tema da mensagem seguinte.
Parabéns pela matéria! Podemos observar que o espaço de 70 semanas que são determinadas está fragmentado, ou seja, não acompanha o curso de forma continuada na história. Prova disso é que a septuagésima semana só deverá acontecer centenas de anos mais tarde. O retorno de Neemias pode ser um marco para a contagem das 62 semanas, afinal é a conclusão da obra, para a chegada do Messias. Tomando como ponto de partida o ano 432 e convertendo em ano profético de 360 dias chegaremos ao ano 6A.C. A profecia pode está se referindo à sua chegada ao mundo. Fala que depois das sessenta e duas semanas será morto, mas não fala quanto tempo depois. E porque converter em ano profético? Observe que a septuagésima semana dessa mesma profecia se refere ano de 360 dias pois há vários relatos bíblicos em Daniel e Apocalipse tratando da metade dessa semana como 1.260 dias, três anos e meio, um tempo, dois tempos e metade de um tempo, 42 meses. Como trata-se de uma profecia fragmentada, não obedecendo o curso do tempo, mas dos fatos, as 7 semanas de anos ou 49 anos de reconstrução que antecedem as 62 pode estar se referindo ao tempo efetivamente trabalhado, não levando em consideração as interrupções. Os tempos angustiosos só aparecem durante o trabalho, pois na ociosidade não há motivos para os oponentes. Dentro dessa ótica podemos tomar como ponto de partida o decreto de Ciro.
ResponderEliminarCaro irmão. Obrigada pelo seu comentário. Mas não concordo consigo. As 70 semanas não são fragmentadas mas seguidas e já cumpridas. Desenvolvi este assunto nos posts intitulados De Ciro a Jesus (outubro e novembro 2016) bem como nas minhas mensagens sobre a profecia das 70 semanas de Daniel 9.
EliminarVeja pf as mensagens já publicadas em agosto 2015 O DECRETO DE CIRO (1) e as várias mensagens sobre a profecia das 70 semanas de Daniel. A 70ª semana é passado, é a semana em que Jesus foi crucificado.
EliminarSe foi passada, o que dizer do "fim da iniqüidade", e a "justiça eterna" E a "unção do santo dos santos", sem falar nos demais ítens objeto das setenta semanas, Anne Philip Santos?
Eliminar"Dar fim à iniqüidade", "trazer justiça eterna", está relacionado à morte do ungido.
EliminarBoa noite, minha querida Anne Philip Santos. Que Deus continue te abençoando e dando sabedoria, pois pelo visto, já és sábia, porquanto estudiosa da Palavra de Deus.
ResponderEliminarConsiderando sua humildade integridade na Palavra do SENHOR, gostaria que você considerasse o estudo abaixo e, se puder, faça sua crítica que será bem aceita, irmã, viu? Agardeço, em nome do Senhor Jesus!
1º ponto: No dia 15 de Sivan estamos vivenciando as o 50º dia, que, segundo a Palavra de Deus, em Dt. 16.9-12, nos diz que: “Sete semanas contarás; desde o dia em que começares a meter a foice na seara, começarás a contar as sete semanas. Depois celebrarás a festa das semanas ao Senhor teu Deus segundo a medida da oferta voluntária da tua mão, que darás conforme o Senhor teu Deus te houver abençoado. E te regozijarás perante o Senhor teu Deus, tu, teu filho e tua filha, teu servo e tua serva, o levita que está dentro das tuas portas, o peregrino, o órfão e a viúva que estão no meio de ti, no lugar que o Senhor teu Deus escolher para ali fazer habitar o seu nome. Também te lembrarás de que foste servo no Egito, e guardarás estes estatutos, e os cumpriras.”
Então, a partir desta data, 15 de Sivan, é o dia que o SENHOR nos revelará eventos futuros. Vejamos a seguir.
2º ponto: Em Daniel 12.12, o Senhor diz que será “Bem aventurado o que espera e chega até 1.335 dias.” Ou seja, do primeiro dia da 70º semana profética – segunda-feira, até o dia 15 de Sivan, Pentecostes são transcorridos 1.155 dias, que somados aos 1.335 dias da bem aventurança do cap. 12.12 de Daniel, perfazem , 2.490 dias, período em que os servos do DEUS VIVO, mesmo diante das tribulações, suportarão com fidelidade ao seu Senhor e Salvador, Jesus Cristo., faltando apenas 30 dias para encerrar-se o 6º Milênio. Estes 30 dias finais são importantes para dar sequencia as datas proféticas, contidas no Livro de Daniel e Apocalipse. Por que? Continuemos:
3º ponto: Ap. 17.12-14: Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam o reino, mas receberão autoridade, como reis, por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta. Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os que estão com ele, os chamados, e eleitos, e fiéis.” Ora de um mês na contagem do SENHOR, por motivos Supremos, representa um dia: 3 dias e meio para a ressurreição das TESTEMUNHAS DE JESUS apontando para os três meses e meio que faltam para o término do milênio, uma hora representará fração de dias do último mês da 70º semana, o mês de Adar, que será o tempo suficiente para serem vencidos pelo Cordeiro e seus eleitos, os mortos, entre eles as TESTEMUNHAS DE JESUS, e os que chegaram, VIVOS, aos 1.335 dias de tribulações, que serão ARREBATADOS, depois da ressurreição dos mortos em Cristo. “Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os que estão com ele, os chamados, e eleitos, e fiéis.”
1ª PARTE
2ª PARTE
ResponderEliminar4º ponto: Ap. 12.3 diz: “E concederei às minhas duas testemunhas que, vestidas de saco, profetizem por mil duzentos e sessenta dias.” Mas uma vez, tomando como base o derramamento do Espírito Santo de Deus no dia de Pentecostes, quando transcorridos 1.155 dias, os quais somados aos 1.260 dias que as duas testemunhas profetizarão, darão 2.415 dias, faltando apenas três meses e meio para o milênio terminar. Ap. 11.7, 11-12 “E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra e as vencerá e matará. Homens de vários povos, e tribos e línguas, e nações verão os seus corpos por três dias e meio, e não permitirão que sejam sepultados. E depois daqueles três dias e meio o Espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles, e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram. E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para cá. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram.”
5º ponto: Daniel 12.8, 11: “Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso perguntei: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? (....)E desde o tempo em que o holocausto contínuo for tirado, e estabelecida a abominação desoladora, haverá mil duzentos e noventa dias.” Vamos lá: Se estamos falando de 2.520 dias e haverá ainda 1.290 dias para o final dos tempos, isso quer dizer que o holocausto contínuo será for tirado para se estabelecer a abominação desoladora quando tiver transcorridos 1.230 tardes e manhas, ou seja, 41 meses, que será exatamente no dia 30 de Av da 4ª semana de anos.
Daniel 8.2-14: “E o exército lhe foi entregue, juntamente com o holocausto contínuo, por causa da transgressão; lançou a verdade por terra; e fez o que era do seu agrado, e prosperou. Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão relativamente ao holocausto contínuo e à transgressão assoladora, e à entrega do santuário e do exército, para serem pisados? 14 Ele me respondeu: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será purificado.’ A questão: Quando o santuário será purificado? Resposta: quando tiverem transcorridos 2.300 tardes e manhas. Prossigamos: Sabemos pela questão anterior que o holocausto foi contínuo foi tirado quando transcorridos 41 meses que, somados aos 2300 dias, 6,388888888888889, que será no dia 20 de Av, ou seja, no quinto mês da 70º semana de Daniel. Isso lhe Lembra alguma coisa . “O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caíra sobre a terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm na fronte o selo de Deus. Foi-lhes permitido, não que os matassem, mas que por cinco meses os atormentassem. E o seu tormento era semelhante ao tormento do escorpião, quando fere o homem. Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles. Tinham caudas com ferrões, semelhantes às caudas dos escorpiões; e nas suas caudas estava o seu poder para fazer dano aos homens por cinco meses.” Este é o primeiro ai!!!!
Para complementar!!!!!
ResponderEliminarPeço-te. Irmã Anne, inteligente como és, com certeza entenderás todo o conteúdo do exposto. Porém para facilitar a compreensão, poderás e elabore um calendário judaico a partir da 69ª de Daniel e a 70ª que verás coisas maravilhosas. Veja um, como exemplo: : o primeiro dia da 69ª começa no dia 01 de uma SEXTA – FEIRA DE Nisan e termina no dia 30 de Adar, um dia de domingo. Olha a sabedoria de Deus: apesar de passar mais de 2.000 anos para a chegada das proféticas semanas de Daniel, o dia primeira semana de Nisan da 70ª cai numa segunda – feira, dando sequencias aos meses seguintes como se os período dos 2.000 anos não existissem. Isto não é MARAVIHOSO?
Começa no ano 457
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