Continuação de A ESTRELA DE BELÉM (1) e (2)
Na
mensagem anterior, vimos uma sequência de eventos astronómicos envolvendo o
planeta Júpiter – o planeta Rei – culminando em 25 de dezembro com Júpiter numa
posição estacionária e zenital sobre Belém.
Conjunções
de planetas são eventos relativamente frequentes. Especial é a frequência e estreita
proximidade dos planetas nas conjunções, bem como a sua localização numa mesma
região do céu, nomeadamente nas constelações de Leo e Virgo, o que não pode
deixar de formar em nossa mente associações com a simbologia e mensagem
bíblica.
Se
associarmos os eventos astronómicos com os eventos da narrativa bíblica, vemos
que 25 de dezembro (ou uma data
aproximada) foi o dia em que os magos chegaram a Belém.
Há indicações de que Jesus já tinha
nascido quando os magos chegaram a Belém:
- O
menino já não estava na manjedoura onde Maria o colocou depois de ter dado à
luz (Lc 2:7) e onde os pastores o acharam (Lc 2:12, 15-16), mas ele estava numa
casa (Mt2:11).
- A
palavra com que a criança Jesus é identificada em Mateus 2 é diferente da que é
usada na narrativa do nascimento e da visita dos pastores em Belém em Lucas 2.
Em
Lc 2:12, 16, 21 é usada a palavra grega BREPHOS, que se refere a uma criança
recém-nascida, ou ainda não nascida no caso da criança no ventre de Isabel (Lc
1:41, 44).
Na
narrativa dos magos em Mt 2:8, 9, 11, 13, 14, 20, 21, é usada a palavra PAIDION,
que se aplica normalmente a crianças. A mesma palavra é usada em Lc 2:40 –
Crescia o menino (paidion) e se fortalecia. Por outro lado, PAIDION é usado em
Lc 1:59 para o filho de Isabel e Zacarias, quando o foram circuncidar.
- Depois
de inquirir da estrela que os magos viram, Herodes mandou matar as crianças com
menos de dois anos de idade (Mt 2:16). O primeiro avistamento de Júpiter em
estreita conjunção com Vénus foi em 12 de agosto 3 a.C.. Os magos chegaram a
Jerusalém em dezembro de 2 a.C., cerca de 17 meses depois. Como as estrelas não
davam certeza quanto a qual das conjunções significava o nascimento da criança,
Herodes, para não correr riscos, deve ter arredondado o prazo a 2 anos.
A tradição de 25 de dezembro:
A
origem da tradição de comemorar o nascimento de Jesus em 25 de dezembro não é
muito clara.
A
mais antiga referência a uma data para o nascimento de Jesus é de Hipólito de
Roma (c.170-c.240) no seu Comentário sobre Daniel. O dia que ele indica é “oito dias antes das calendas de janeiro,
uma quarta-feira, no 42º ano do reino de Augusto, 5500 anos desde Adão”, o que
corresponde ao dia 25 de dezembro, e o 42º ano de Augusto é 3/2 a.C. (Finegan,
#562). Um calendário romano do ano 354, Depositio
martyrum, e um sermão no ano 386 de João Crisóstomo (pregador em Antioquia
e mais tarde bispo de Constantinopla) referem a mesma data para a celebração do
nascimento de Jesus em Belém (Finegan, #563).
Outra
tradição data o nascimento de Jesus a 6 de janeiro, “treze dias depois do
solstício de inverno”, segundo Epifânio (315-403). O solstício de inverno calhava
então em 25 de dezembro. Clemente de Alexandria calculou a data de 18 de
novembro (Finegan, #554). Outras referências antigas situam o nascimento de
Jesus em abril, maio ou junho (Finegan, #554).
A
opinião mais generalizada coloca a concepção na primavera e o nascimento no
inverno (Finegan, #560, 569).
Relativamente
ao dia 25 de dezembro, o que se destaca é uma possível associação com o dia do
solstício de inverno, quando os dias começam de novo a crescer. A data atual do
solstício é 21 de dezembro, mas naquele tempo 25 de dezembro era considerado o
dia certo. Esse dia era um festival pagão em muitos lugares. Em Roma, existiam
as Saturnálias que se festejavam por volta desse dia e, em 274, o Imperador
Aureliano instituiu o festival de Deus
Sol Invictus, o “sol invicto” sendo declarado a divindade oficial do
Império. Quando o Imperador Constantino (323-337) aceitou o Cristianismo, 25 de
dezembro passou a ser comemorado como nascimento de Cristo (Finegan, #568).
As
datas de 25 de dezembro e 6 de janeiro podem ter sido fixadas por causa da
associação com a data então aceite do solstício de inverno e com a expressa finalidade
de substituir os festivais pagãos.
Eu
interrogo-me se a data de 25 de dezembro não estará na realidade relacionada
com o reconhecimento dos eventos astronómicos que levaram os magos a Belém.
Eventos que foram depois esquecidos. E visto que 25 de dezembro teria sido a
data em que os magos chegaram a Belém, deduziu-se que o nascimento de Jesus
tenha acontecido nesses mesmos dias.
O que sugerem os eventos astronómicos de 3
e 2 a.C.?
Relembremos
as datas da sequência de eventos:
Data
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Conjunção de planetas
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12 agosto 3 a.C.
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Vénus-Júpiter
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11 setembro 3 a.C.
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Mercúrio-Vénus
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14 setembro 3 a.C.
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Júpiter-Régulo
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17 fevereiro 2 a.C.
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Júpiter-Régulo
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8 maio 2 a.C.
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Júpiter-Régulo
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17 junho 2 a.C.
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Júpiter-Vénus
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26 agosto 2 a.C.
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Mars-Júpiter- Vénus- Mercúrio
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25 dezembro 2 a.C.
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Júpiter
estacionário sobre Belém
|
Observamos
que há duas conjunções dos planetas Júpiter e Vénus com um intervalo de cerca
de 10 meses, a primeira em 12 de agosto 3 a.C. e a última em 17 de junho 2 a.C..
Um encontro de Júpiter, o planeta Rei, com Vénus, que representa a Mãe. Por
exemplo, para os caldeus e os magos, Vénus era Ishtar, a mãe, a deusa da
fertilidade.
Em
11 de setembro de 3 a.C. houve uma conjunção dos planetas Mercúrio e Vénus.
Mercúrio é o Mensageiro. Podemos ver aqui a anunciação, o anjo Gabriel enviado
a Maria (Lc 2:26-32)?
Além
desta conjunção, o céu de 11 de setembro 3 a.C. lembra Apocalipse 12:1 – Viu-se um grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida de sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de
doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as dores do parto,
sofrendo tormentos para dar à luz.
Esta
passagem é altamente simbólica, mas ao mesmo tempo é possível olhar para a
constelação de Virgo no céu e ver um “sinal” astronómico.
No
período do nascimento de Jesus, o Sol no seu curso anual entrou na posição da
cabeça da mulher em 13 de agosto aprox. e saiu dos seus pés aprox. 2 de
outubro. Mas João viu a cena quando a mulher estava “vestida” ou “adornada” com
o sol. Isto deverá indicar que a posição do sol na visão era algures a meio-corpo.
A lua devia estar na localização exata debaixo dos pés quando o sol estava a
meio do corpo. No ano 3 a.C. isto aconteceu durante uma hora e meio, como
observado da Judeia ou de Patmos, no crepúsculo de 11 de setembro. O
relacionamento começou às 18:15 (pôr do sol) e durou até 19:45 (pôr da lua). É
o único dia em todo o ano que o fenómeno astronómico descrito no Apocalipse
podia acontecer (MARTIN, capítulo 6).
O
que é de destacar aqui é o facto de a lua estar no início da fase crescente, ou
seja, indica o começo de um novo mês lunar. Esse dia era o primeiro dia de
Tishri, o novo ano judaico, Rosh ha-Shanah, o Dia das Trombetas (Lev 23:23-26).
Seria um dia expressivo para a chegada do Messias na terra, e por isso apontado
por vários autores contemporâneos como o dia do nascimento de Jesus.
Fonte da
imagem: Victor Paul
Wierwille. Jesus Christ our promised seed (1982)
Olhando
para os eventos astronómicos, apresentam-se várias alternativas para o
nascimento de Jesus:
4 a.C.
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3 a.C.
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2 a.C.
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1)
25 de dezembro (chegada dos magos) como data do nascimento, situando a
concepção na primavera, no mês de março.
2)
11 de setembro (Dia das Trombetas) como dia do nascimento, situando a chegada
dos magos em dezembro 15 meses depois.
3)
11 de setembro como dia da anunciação (conjunção de Mercúrio e Vénus) e
concepão. Isto situaria o nascimento 9 meses depois, o que corresponde à
segunda conjunção Júpiter-Vénus em 17 de junho.
Em
meu ver, a terceira opção – o nascimento em junho – é a mais aceitável, pelas
seguintes razões:
Lc 1:26 diz
que no 6º mês foi o anjo Gabriel
enviado a Maria, a Nazaré na Galileia. Geralmente, é interpretado como sendo o
6º mês da gravidez de Isabel, por causa do v.36 que diz – E Isabel, tua
parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril.
Mas, em meu
ver, é mais provável Lc 1:26 significar simplesmente que o acontecimento descrito
em Lc 1:26-38 teve lugar no 6º mês do ano,
que é o mês de Elul (agosto-setembro). E 11 de setembro enquadra-se aqui
perfeitamente.
Se o anjo
Gabriel foi ter com Maria no 6º mês do ano, nem 25 de dezembro nem 11 de
setembro são opção para o dia de nascimento porque situam a concepção longe do
6º mês.
Com a
concepção em setembro, Jesus pode ter nascido no 3º mês do ano seguinte, que é
Sivan (maio-junho). E aqui enquadra-se a conjunção Júpiter-Vénus de 17 de
junho.
Esse mês
será também o da Festa das Semanas ou Pentecostes, que ocorre 50 dias depois da
Páscoa (Lv 23). É uma ocasião igualmente simbolicamente significativa. E uma
boa ocasião para José e Maria irem a Belém; e por isso uma boa razão para não
haver lugar na estalagem (Lc 2:7), visto que muitos Judeus se deslocavam a
Jerusalém para esta Festa. Belém fica muito próximo de Jerusalém.
Ap 12:1, sendo
um versículo simbólico (e certamente não específico da figura de Maria, mas com
uma abrangência muito maior), não obriga a situar o nascimento de Jesus em 11
de setembro. Podemos interpretar este versículo como condensando numa só frase
todo o período de gravidez, desde a concepção até ao dar à luz, não invalidando
o significado do Dia das Trombetas como início de uma nova era com a encarnação
de Jesus.
Se Jesus
nasceu em junho, ele teria então cerca de 6/7 meses aquando da chegada dos
magos.
Jesus nasceu
quando José e Maria foram a Belém para alistar-se, conforme requerido pelo
decreto de César Augusto convocando toda a população do império para recensear-se
(Lc 2:1-6). Lembramos que em fevereiro de 2 a.C. Augusto recebeu o título de Pater Patriae, havendo uma grande
probabilidade que o “recenseamento de Quirino” tenha a ver com este facto (ver
mensagem O RECENSEAMENTO DE QUIRINO). Era requerido de todas as pessoas,
cidadãos romanos e outros, em todo o Império e suas províncias, um juramento de
lealdade. Se o decreto emanou do próprio Augusto, penso ser possível concluir
que o censo foi conduzido depois de fevereiro.
Assim, as
evidências bíblicas, históricas e astronómicas parecem convergir em junho de 2
a.C. para a data do nascimento de Jesus