- Quem eram os amalequitas que se
encontraram com Israel pouco depois de estes terem saído do Egipto?
Os comentadores bíblicos estão
divididos. Uns apontam para os descendentes de Amaleque, neto de Esaú através
do seu filho Elifaz com uma concubina (Gn 36:12). Outros apontam para um povo
mais antigo, que já existia no tempo de Abraão (Gn 14:7).
Em Num 24:20, Amaleque é chamado
por Balaão “o primeiro das nações”. Isto pode referir-se a uma existência
antiga, embora não apareça na lista das nações de Génesis 10 (Easton's Bible
Dictionary).
- Quem eram os hicsos? Voltemos a Velikovsky:
O historiador egípcio Maneto é a
fonte principal da informação sobre a invasão dos hicsos. Os escritos de Maneto
já não existem, mas parte deles foram preservados através de outros autores, entre
outros Flávio Josefo, historiador judeu, no seu panfleto Contra Apion. Segundo
Maneto um povo de origem ignóbil, vindo do oriente, invadiu o país, e
dominaram-no sem dificuldade, mesmo sem qualquer batalha. De onde vieram os
hicsos? Nos dias de Maneto, alguns diziam que eram arábios. O nome é explicado
por Maneto e significa reis-pastores. Na literatura egípcia, os hicsos eram
designados “amu”.
Os hicsos eram conhecidos como um
povo cruel, destruidor. Não se conhecem monumentos ou obras literárias que
sobreviveram ao seu tempo, salvo lamentações, como de Ipuwer.
As Escrituras não fornecem
informações sobre o que aconteceu no Egito depois da saída dos israelitas. Mas
o Papiro de Ipuwer conta de invasões e de um país atormentado por um
conquistador cruel, que subjugou o país sem encontrar resistência. Vandalizaram
e destruíram, violaram as mulheres, escravizaram a população, e mutilavam.
Os invasores vieram do oriente, da
Ásia, como é dito no Papiro Ipuwer, enquanto os israelitas iam na direção do
oriente. Os dois continentes, Ásia e África, são conectados por um pequeno
triângulo de terra. Era bastante provável que os israelitas, ao se dirigirem para
oriente, para o deserto, se encontrassem com os invasores que vinham na direção
das fronteiras egípcias.
Encontraram-se em Refidim, no segundo
mês depois de terem saído do Egipto. Prevaleceram contra Amaleque a muito custo
(Ex 17:8-16). Esta foi a primeira das batalhas contra os amalequitas. Não seria
o último encontro. Dt 25:17-19 dá a entender que houve outros ataques aos mais
fracos, desfalecidos e afadigados na retaguarda. A beira da terra prometida, os
espias avistaram os amalequitas, que habitavam na terra do Neguebe (isto é, no
sul) (Num 13:29) e Israel teve medo e foram obrigados a regressar ao deserto
por 40 anos.Para inspirar este imenso medo, os amalequitas deviam ser mais que
meras tribos de beduínos, mas deviam representar uma força maior.
Se os hicsos vieram da Arábia, como
alguns afirmam, não haverá testemunhos disto em fontes árabes, pergunta
Velikovsky? Os historiadores árabes consideram os amalequitas como sendo uma
das mais antigas tribos árabes, embora não estejam de acordo sobre a sua
origem, se de Sem, se de Cão. Eles dominavam na península árabe.
Na literatura árabe medieval também
existe uma tradição da ocorrência de uma grande catástrofe natural, com pragas
de insetos, sismos, nuvens e um marmoto que destruiu toda a costa da península.
Os mesmos fenómenos ocorreram na Arábia e no Egipto. Esta catástrofe causou a migração
de amalequitas em direção à Síria e ao Egipto.
Ainda segundo a literatura árabe,
os amalequitas invadiram a Síria e o Egipto e estabeleceram uma dinastia de
faraós. Um rei amalequita, vindo da Síria, conquistou o Egipto, tomou o trono e
ocupou-o sem oposição, o que mais uma vez lembra as palavras de Maneto (através
de Josefo) sobre a vinda de um povo do oriente que tomou o domínio sem
dificuldade ou sequer luta. Os amalequitas destruíram monumentos e objetos de
arte. O mesmo é dito em fontes árabes e por Maneto. Relembra-se também a
inscrição da rainha Hatschepsute sobre os amu que habitavam no delta e em Avaris
(que seria uma cidade situada num ponto estratégico a oriente do delta do Nilo),
cujas hordas destruíram as obras antigas e reinaram ignorantes do deus Ra.
A duração e extensão do domínio dos
hicsos.
O domínio dos hicsos no Egipto estendia-se
entre o Império Médio e o Império Novo. Existem várias teorias sobre a duração deste
período. Segundo Maneto e Josefo, o período dos hicsos durou 511 anos. Porém
nos livros modernos da história do Egipto, este período é drasticamente
reduzido a cerca de 100 anos. Ainda outros avançam uma duração de 1660 anos.
Velikovsky atribui a este período uma duração de 440 anos, equivalente ao número
de anos que os israelitas passaram no deserto, o tempo de Josué e da liderança
dos Juizes. Ele atribui a libertação do Egipto dos hicsos e a conquista de
Avaris ao rei Saul. Voltaremos em tempo a este assunto e às razões alegadas por
Velikovsky.
Quanto à extensão do domínio dos
hicsos, este não estava confinado ao Egipto. Selos oficiais nomeadamente do rei
Agague foram encontrados em vários países, até em Cnossos (Creta), o que levou
os historiadores a terem de admitir que os hicsos, mesmo se por um duração
limitada, comandavam um grande império e tinham uma extensa influência política.
Os israelitas encontraram os amalequitas
quando tentaram entrar em Canaã a primeira vez (Num 14:43, 45), e repetidamente
no tempo dos Juizes, oprimindo os israelitas (Jz 3:13; 6.13; 7:12;10:12;12:15),
até que Saul os derrotou (1 Samuel 15) embora não executasse inteiramente o
mandamento do Senhor.
A revisão apresentada por
Velikovsky coloca o tempo de Israel no deserto, de Josué e Juízes no período
dos hicsos/amalequitas. Em harmonia com este esquema revisto, os amalequitas
deviam ser naquele tempo o povo mais poderoso entre as nações. Isto é
corroborado na Bíblia. No episódio de Balaque e Balaão, Balaão profetiza que em
Israel haveria “um rei que se levantará mais do que Agague” (Num 24:7) e disse
que Amaleque era “o primeiro das nações, porém o seu fim será destruição” (Num
24:20). Estas passagens dão a entender que os amalequitas não eram apenas umas
tribos “terroristas” do deserto, que viviam de ataques e saques como muitas
vezes é ensinado. Ou como em certo comentário é explicado que o “primeiro das
nações” significa que era a primeira nação que se opôs a Israel depois da saída
do Egipto. Parece-me todavia fazer mais sentido que Amaleque era a mais poderosa
das nações naquela época. O Rei que o Senhor havia de levantar em Israel seria
maior do que Agague.
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