01/03/2014

O ÊXODO (3)

Retomando o fio da última mensagem, voltamos a Velikovsky que descobriu vários documentos que apoiam a concordância cronológica entre o Papiro Ipuwer e a história do êxodo. Apresento aqui um resumo.

- Aconteceu que, à meia-noite, feriu o Senhor todos os primogénitos na terra do Egipto … fez-se grande clamor no Egipto, pois não havia casa em que não houvesse morto (Ex 12:29-30).

- A residência caiu num minuto, diz o Papiro de Ipuwer.

De acordo com o livro do Êxodo, a última noite dos israelitas no Egipto foi uma noite em que a morte atacou repentinamente, fazendo vítimas em todas as casas egípcias. Segundo Velikovsky, só um terramoto podia derrubar num instante a residência do rei. E só uma catástrofe natural podia provocar tantas mortes em simultâneo.
A confusão que se seguiu ao sismo foi aproveitado pelos israelitas para fugirem, o que fizeram apressadamente. Com eles, partiu também um misto de gente (Ex 12 :38), egípcios que fugiram da catástrofe natural.

Eram guiados por uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite.
Não demorou muito até que o faraó se recompusesse e com o seu exército perseguisse os escravos fugidos. Encontraram-nos, encurralados, em Pi-Hahirote, junto ao mar (Ex 14). Um forte vento oriental soprou que fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca. Os israelitas passaram em seco, mas quando os egípcios seguiram atrás deles, o mar regressou e as águas cobriram-nos.  O retirar do mar pode explicar-se pela ocorrência de um tsunami provocado pelo sismo, e também estava possivelmente ligado às erupções vulcânicas (que também podem provocar tsunamis) que estavam acontecendo com grande frequência, e que explicam fenómenos como a coluna de fogo e a nuvem, a praga da chuva de pedras e a das trevas.

Velikovsky estabelece uma relação entre o nome do lugar de Pi-Hahirote da Bíblia com um nome idêntico numa fonte egípcia, o monólito de El-Arish, encontrado na década de 1860 numa aldeia entre o Egipto e Palestina. Trata-se de uma pedra de granito preto inscrita com hieróglifos. Os eventos neles relatados dizem respeito a um certo rei Thom. Embora o texto esteja bastante mutilado, há uma descrição de uma terra em grande aflição, de um tempo de nove dias de escuridão em que ninguém se via um ao outro. A história é muito semelhante com a nona praga – das trevas – descrita em Êxodo 10:21-23, embora difira ligeiramente quanto ao número de dias que duraram as trevas. No meio da escuridão e da tempestade invasores aproximavam-se da fronteira do Egipto desde o deserto. A sua majestade foi para a batalha contra os companheiros de Apopi. Apopi era o deus das trevas. Mas o rei e o seu exército nunca voltaram. O rei pereceu na água, num remoinho. A história das trevas e da morte do faraó num remoinho é similar nas fontes egípcias e hebraicas. Mas a semelhança é ainda reforçada por um outro detalhe que não pode ser atribuído ao acaso. O lugar onde o rei foi lançado no ar pelo turbilhão e partiu para o céu chama-se Pi-Kharoti na pedra de El-Arish e Pi-hakirote nas Escrituras. Será o mesmo lugar. “Ha” em Pi-hakirote é o artigo definido. O rei que pereceu no remoinho era Thom ou Thoum. Velikovsky relaciona este nome com Pitom, uma das cidades-celeiros do Egipto edificadas pelos escravos israelitas (Ex 1:11). Pi-Tom significa a morada de Tom.
Entretanto, no Egipto, tudo estava em ruinas, muitos pereceram, não havia poder real, os armazéns do rei eram saqueados, conta Ipuwer, que fornece informação sobre o que aconteceu depois do sismo. Além da catástrofe natural, a situação tornou-se ainda pior pela invasão de um povo inimigo, vindo do deserto, num Egipto sem defesa. Várias expressões de Ipuwer indicam que o texto do papiro foi redigido pouco depois da catástrofe, enquanto os seus efeitos e os distúrbios ainda não tinham chegado ao fim.

Velikovsky refere mais um documento que traz uma descrição que em tudo faz lembrar tanto a história do Êxodo, como os acontecimentos do Papiro Ipuwer: o Papiro do Hermitage, preservado em São Petersburgo com o número 1116b recto. Num estilo profético, o sábio Neferrohu fala de um país em ruinas, onde nada resta. O sol está encoberto por nuvens. O rio está seco. Miséria. Asiáticos desceram no Egipto. Homens riem com um riso de dor. O desastre natural é combinado com a subjugação política do Egipto pelos Amu.
As semelhanças parecem óbvias entre as fontes egípcias e a Bíblia.

A pergunta que se levanta é: quando é que isto ocorreu? A resposta bíblica está à mão, no tempo do Êxodo. Mas na história do Egipto, quando é que se podem situar os acontecimentos descritos no Papiro de Ipuwer, no monólito de El-Arish e no Papiro do Hermitage?

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