27/06/2015

CRONOLOGIA DO CATIVEIRO NA BABILÓNIA (2)

Excerto atualizado em 29-04-2019

Durante o reinado de Zedequias, em Jerusalém, o profeta Jeremias intensifica os seus avisos, aconselhando vivamente ao rei, aos líderes da nação e ao povo, como também às nações em redor, de se submeterem ao jugo da Babilónia (Jr 27:5-7; 38:2-3, 17-18). Isto lhes seria para preservação da vida: Servi ao rei da Babilónia, e vivereis (Jr 27:11, 12, 17). 70 anos será a duração do domínio da Babilónia. Mas a sua mensagem caiu em ouvidos moucos. Jerusalém opôs resistência.

AH 3411
Ao mesmo tempo, no exílio, no 5º mês do 5º ano do cativeiro do rei Joaquim, que corresponde ao 5º ano de Zedequias, Ezequiel começa a profetizar (Ez 1:2). “Aconteceu no 30º ano” (Ez 1:1).

Várias explicações são avançadas para o significado deste 30º ano:

Uma, que me parece-me biblicamente inaceitável, é que Ezequiel teria usado o calendário dos caldeus. Segundo Scaliger (mencionado por Jamieson, Fausset & Brown), era o trigésimo ano desde o início do reinado de Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, e cujo reino iniciou uma nova era de computação do tempo. Nabopolassar reinou 19 anos, e este era o 11º de Nabucodonosor, perfazendo 30 (segundo Scaliger). Não há, porém, qualquer indicação bíblica que permita iniciar a computação do tempo com Nabopolassar, personagem que nem é mencionada nas Escrituras. Além disso, segundo os nossos cálculos, o 5º mês do 5º ano do cativeiro é quase no fim do 13º ano de Nabucodonosor.

Mais plausível, e aceitável, é a explicação que Ezequiel era sacerdote e os sacerdotes começavam normalmente o seu ministério com a idade de 30 anos.

Mas não terá o 30º ano algo a ver com a história de Israel, e não com o próprio profeta? É que o ano 3411 é o 30º ano desde que o sacerdote Hilquias encontrou o livro da lei no tempo de Josias. Foi no ano 3381 que Josias começou as obras de restauração do templo, e por essa ocasião encontrou-se o livro da lei (2Cr 34:8-17). O resultado foi que Josias lesse a lei perante todo o povo e fizessem aliança para seguir o Senhor e guardar os seus mandamentos. Todos anuíram a esta aliança, e de seguida celebraram a Páscoa (2Rs23:21-23; 2Cr 35). Foi o início de um período de renovação em Israel, depois do tempo e pecados de Manassés e Amon. Em meu ver, esta é a explicação mais provável, porque liga a narrativa de Ezequiel com os acontecimentos recentes da história de Israel.

Nesse 30º ano, no 5º dia, do 4º mês, do 5º ano do cativeiro, junto ao rio Quebar, Ezequiel tem uma visão da glória de Deus (Ez 1-3). Ezequiel come o rolo e é enviado como profeta aos filhos obstinados de Israel no cativeiro. (3:11). É avisado de que não o ouvirão  (Ez 1-3:1-14).

Findos 7 dias (Ez 3:15-16), Ezequiel é mandado encenar em tableau vivant, por 390 dias e 40 dias, o cerco a Jerusalém, a destruição do povo na cidade pela fome e pela espada e a diáspora do povo pelas terras em redor (Ez 4 e 5).

AH 3412 (Ez 8-19)
No 30º ano, no 5º ano do cativeiro do rei Joaquim, no 4º mês, 5º dia, junto ao rio Quebar, Ezequiel tem uma visão da glória de Deus (Ez 1-3). Ezequiel come o rolo e é enviado como profeta aos filhos obstinados de Israel no cativeiro. (3:11). É avisado de que não o ouvirão (Ez 1-3:1-14).
Ao fim de 7 dias (Ez 3:15-16), Ezequiel é mandado encerrar-se na sua casa (Ez 3:24), deitar-se sobre o seu lado esquerdo e direito, por 390 dias e 40 dias (total 430 dias) respetivamente, para simular o cerco a Jerusalém, a destruição do povo na cidade pela fome e pela espada e a diáspora do povo pelas terras em redor (Ez 4 e 5).
No 6º ano [do cativeiro], no 6º mês, 5º dia, estando Ezequiel assentado em sua casa (Ez 8:1), começa um segundo ciclo de visões e profecias.
Como os meses no calendário judaico são lunares, cada mês tem uma duração exata de 29,53 dias, o que implica a provável alternância de meses de 29 e de 30 dias. Por isso, na seguinte tabela utilizamos o valor de 29,53 dias por cada mês. Do primeiro mês, restam 17,53 dias, descontando os 5 primeiros dias e os 7 de Ez 3:16. Para o último mês contamos apenas 4 dias, pois o 5º dia, já Ezequiel estava sentado na sua casa (Ez 8:1), pelo que entendemos que o mais tardar o dia anterior foi o último dia dos 430.
5º ano
4º mês
Do 5º dia + 7. Restam
17,53
5º mês
29,53
29,53
29,53
29,53
29,53
10º
29,53
11º
29,53
12º
29,53
6º ano
1º mês
29,53
29,53
29,53
29,53
29,53
4
405,42
mês intercalar
29,53
434,95

405,42 dias não é suficiente para Ezequiel cumprir os 430 dias. Por isso, inserimos um mês intercalar, o que dá um total de 434,95 dias, portanto mais alguns dias que os 430.

Isto prova a existência do mês intercalar no calendário usado pelos judeus naquele tempo.



Na nova visão, no 5º dia do 6º mês, o Espírito levou Ezequiel a Jerusalém em visões (Ez 8-11). Eis que a glória do Deus de Israel estava ali. Deus mostra-lhe as abominações que estão fazendo no interior do templo os anciãos de Israel e os próprios sacerdotes, adoradores de outros deuses. Ezequiel ouve a voz de Deus gritar «Chegai-vos, vós executores da cidade, cada um com as suas armas destruidoras na mão».  Chegaram os executores, e entre eles um homem vestido de linho, com um estojo de escrevedor à cintura, e se puseram junto ao altar. A glória do Deus de Israel se levantou do Querubim sobre o qual estava, indo até à entrada da casa.

Entretanto o homem vestido de linho foi mandado passar pelo meio da cidade de Jerusalém, e marcar com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa das abominações, para que não fossem mortos pelo exterminador. Os outros, não marcados na testa, eram destruídos. Ezequiel vê a matança da cidade. Brasas vivas são espalhadas sobre ela.

Enquanto a glória do Senhor se levantou de sobre o querubim indo para a entrada da casa, a casa encheu-se da nuvem e o átrio da resplandescência da glória do Senhor. Então a glória do Senhor saíu da entrada da casa e parou sobre os querubins (os mesmos seres com asas e rodas que tinha visto junto ao rio Quebar), que se levantaram e se elevaram da terra. Pararam à porta oriental, estando a glória de Deus sobre eles. À porta oriental Ezequiel viu aqueles que maquinavam mal contra o Senhor e profetizou contra eles, morrendo um deles ao tempo em que profetizava.

Ezequiel vê os querubins levantar as suas asas, e rodas, e a glória do Deus de Israel estava no alto, sobre eles. A glória do Senhor subiu do meio da cidade, e se pôs sobre o monte que está ao oriente da cidade. O espírito levou de novo Ezequiel para a Caldeia, aos do cativeiro, com uma mensagem de esperança.

Ez 11:16-20 – «ainda que os lancei para longe entre as nações, e ainda que os espalhei pelas terras, todavia lhes servirei de santuário, por um pouco de tempo, nas terras para onde foram.

«Hei de ajuntá-los do meio dos povos, e os recolherei das terras para onde foram lançados, e lhes darei a terra de Israel. Voltarão para ali, e tirarão dela todos os seus ídolos detestáveis e todas as suas abominações. «Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro neles; tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, guardem os meus juizos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.»

Esta profecia terá a sua primeira realização quando os judeus voltaram à terra de Israel depois do cativeiro na Babilónia. A realização plena será na Nova Aliança em Jesus Cristo.

Depois desta visão, Ezequiel mimica o exílio e a fuga de Zedequias de Jerusalém (12:1-6). A ideia subjacente é que,  depois de a glória sair do templo, o resto de Jerusalém não poderá subsistir.
             
AH 3413
Profecias de Ezequiel no 7º ano, 5º mês, 10º dia (Ez 20-23)

AH 3415
No 9º ano de Zedequias, no 10º dia do 10º mês, Nabucodonosor (no seu 18º ano) inicia o cerco a Jerusalém (2Rs 25:1-2; Jr 52:4-5). Nesse ano leva para o exílio 832 pessoas (Jr 52:29).

No mesmo dia, na Babilónia, Ezequiel recebe a palavra do Senhor:filho do homem escreve o nome deste dia, deste mesmo dia; porque o rei de Babilónia se atira contra Jerusalém neste dia” (Ez 24:1-2). No mesmo dia, morre a esposa de Ezequiel, em sinal (Ez 24:15-27).

Este dia vai passar a ser comemorado pelos do cativeiro, como o «jejum do 10º mês» (Zac 8:19).

AH 3416

No 10º ano de Zedequias, o cerco é temporariamente interrompido (Jr 37:5, 11), porque o exército de Faraó saíra do Egipto e os exércitos de Nabucodonosor que estavam a sitiar Jerusalém foram ao encontro dele. Nesse tempo, Jeremias tenta sair da cidade para ir à terra de Benjamim para receber uma herança, mas é acusado de fugir para os caldeus e metido na prisão (Jr 37:11-21). Mas mesmo estando preso, Jeremias faz a escritura de compra de um campo em Anatote (Jr 32).

AH 3417
No 11º ano do cativeiro, no primeiro dia do [1º?] mês, vem uma palavra a Ezequiel a respeito de Tiro “visto que Tiro disse no tocante a Jerusalém: Bem feito! Está quebrada a porta dos povos; abriu-se para mim; eu me tornarei rico, agora que ela está assolada” (Ez 26:2). A destruição de Tiro será terrível e se levantarão lamentações contra ela (Ez 26-27-28). Voltaremos ao assunto de Tiro, do príncipe e do rei de Tiro noutra ocasião.

No 11º ano de Zedequias, no 9º dia do 4º mês, depois de um difícil cerco de um ano e meio, a cidade de Jerusalém caiu definitivamente nas mãos de Nabucodonosor. Em cálculos bíblicos, o cerco durou 3 anos: isto é, uma parte do 9º ano de Zedequias, todo o 10º, e uma parte do 11º, sendo que mesmo uma parte é contada como um ano inteiro.

No 4º mês, a cidade é arrombada (Jr 52:6-7). O rei é preso e levado ao rei de Babilónia, a Ribla, na terra de Hamate, onde é morto (Jr 52:8-11). No 7º dia do 5º mês vem Nebuzaradã (2Rs25:8), e no 10º dia do 5º mês a cidade e o templo são queimados (Jr 52:12). O que restava dos tesouros do templo e quase todo o povo foram levados para o cativeiro. Apenas ficaram na terra os mais pobres. Um judeu, Gedalias, é nomeado governador de Judá (Jr 40:7-16; 2 Rs 25:22-26) sobre os que ficaram. Colheram vinho e frutas de verão em abundância. Gedalias é assassinado no 7º mês, depois do verão. O povo, sob a direção de Joanã, filho de Careá, foge para o Egipto (Jr 40-44). Jeremias está no meio deles.

Estes eventos passariam a ser comemorados pelos do cativeiro, como os jejuns do 4º, do 5º e do 7º mês» (Zac 8:19). O jejum do 10º mês rememorava o início do cerco.

Israel encontrava-se naquela situação porque transgredira a lei de Moisés. Em consequência, vieram sobre ele as suas maldições. Antes de atravessar o Jordão e entrar na terra prometida, no quadragésimo e último ano da travessia do deserto, a segunda geração de israelitas fora chamada a ouvir os estatutos do Senhor (Dt 4:1-40; Dt 28:15-68; 30, 31, 32). A primeira geração tinha perecido toda, com exceção de Josué e Calebe, por incredulidade. Guardar os estatutos do Senhor garantiria a posse (Dt 4:1) e a permanência na terra (Dt 4:26, 40; Dt 30:18). Não os guardando (e isto aconteceu como Moisés previu), pereceriam imediatamente da terra, seriam destruídos, desarreigados e espalhados entre os povos (Dt 4:26-27). Isto tornou-se realidade quando Nabucodonosor tomou Jerusalém e a destruiu, bem como o templo, e levou o povo para o exílio, de onde se espalharam e estabeleceram comunidades judaicas por todo o Império Neo-Babilónico.

«Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se, para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição, o juramento que está escrito na Lei de Moisés, servo de Deus, se derramou sobre nós; porque pecámos contra ele. E ele confirmou a sua palavra, que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam, trazendo sobre nós um grande mal; porquanto nunca debaixo de todo o céu aconteceu como em Jerusalém» (oração de Daniel em Dn 9:11-12).

A partir daquele momento a realidade política, religiosa e espiritual de Judá mudou drasticamente. Como nação perdeu o seu território e autonomia de governo. Passaram a ser um povo exilado, sem terra, unido apenas pela religião.

AH 3418
No ano 12º do nosso exílio, aos 5 dias do 10º mês, veio a mim um que tinha escapado de Jerusalém, dizendo: Caiu a cidade (Ez 33:21). A notícia da queda de Jerusalém levou mais de um ano a chegar aos ouvidos de Ezequiel e do povo no exílio.

Provavelmente aqui seguem-se as profecias dos capítulos 34 a 39 de Ezequiel.

AH 3420-3421
No ano 23 de Nabucodonosor, Nebuzaradã, chefe da guarda, levou cativos dentro os judeus, 745 pessoas (Jr 52:29).

Jeremias 52:28-30 menciona três deportações para Babilónia, todas envolvendo números pouco elevados: no 7º ano, 3023, no 18º ano, 832, e no 23º ano, 745. No total, do 7º, 18º e 23º ano, Nabucodonosor levou cativo 4600 pessoas.

Estes números têm constituído um problema para a interpretação. Na mensagem anterior, já falámos da questão do 7º ano.

No 18º ano, quando Nabucodonosor queimou Jerusalém, levou cativo foi uma “multidão” (Jr 52:15). Os 832 mencionados em Jr 52:29 dificilmente são uma multidão, pelo que deduzo que os três grupos de cativos a que se refere Jr 52:28-30 sejam deportações mais pequenas, diferentes das duas grandes, a de Joaquim e a no 11º ano de Zedequias.

AH 3431
No 25º ano do exílio, Ezequiel tem a visão de um templo enorme (Ez 40-48).

[AH 3434]
Ussher situa neste ano a visão que Nabucodonosor tem da grande árvore (Dn 4). Ao cabo de 12 meses (Dn 4:29), Nabucodonosor glorifica-se a si próprio, mas "enlouquece" e é expulso de entre os homens, passando sobre ele sete tempos (anos?) “até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (Dn 4:25)

AH 3443
No 37º ano do cativeiro do rei Joaquim, no dia 25 do 12º mês, Evil-Merodaque [filho e sucessor de Nabucodonosor], rei da Babilónia, no ano em que começou a reinar, libertou a Joaquim do cárcere, dá-lhe um lugar de honra e uma subsistência vitalícia (Jr 52:31; 2Rs 25:27).

Cronologicamente, esta é a última informação do cativeiro até ao 1º ano de Belsazar (AH 3448), quando Daniel tem a visão dos quatro animais que sobem do mar (Dn 7).

Segundo a história, Evil-Merodaque reinou pouco mais de dois anos, sendo assassinado pelo seu cunhado Neriglissar (possivelmente um Nergal-Sarezer presente na tomada de Jerusalem) (Jr 39:3, 13), que casou uma filha de Nabucodonosor. Este foi, depois de quatro anos, sucedido por seu filho Labasi-Marduk, que não era mais do que uma criança e foi assassinado depois de poucos meses.
Depois deste, Nabonidus subiu ao trono, mas instituiu o seu filho e príncipe herdeiro Belsazar como co-regente em Babilónia.  Ele foi o último rei da Babilónia. Reinou 17 anos. Esta informação não se encontra nas Escrituras. Nelas, apenas encontrámos, depois de Evil-Merodaque, a figura de Belsazar.

Nabonidus não tinha nenhum parentesco de sangue com Nabucodonosor, mas a rainha-mãe, mãe de Belsazar, refere-se a Nabucodonosor como pai de Belsazar (Dn 5:11). Tem sido sugerido que Belsazar era neto de Nabucodonosor, sendo a sua mãe provavelmente filha de Nabucodonosor. O que, de qualquer modo, parece ser corroborado por Jr 27:6-7 que diz que “todas as nações o servirão a ele [Nabucodonosor], a seu filho e ao filho de seu filho, até que também chegue a vez da sua própria terra, quando muitas nações e grandes reis o farão seu escravo”.

AH 3450
Belsazar foi o último descendente de Nabucodonosor no trono da Babilónia. No terceiro ano do seu reino, Daniel viu em sonho um carneiro com dois chifres, e os dois chifres eram altos mas um mais alto do que o outro e o mais alto subiu por último. O carneiro dava marradas para o ocidente e para o norte e para o sul; e nenhum dos animais lhe podia resistir, nem havia quem pudesse livrar-se do seu poder; ele porém, fazia segundo a sua vontade, e assim se engrandecia (Dn 8:3-4). O carneiro com os dois chifres são os reis da Média e da Pérsia (Dn 8:20). Os Medos e os Persas já eram conhecidos de Daniel. Eram nações que tinham vindo a fortalecer o seu poder na região. No princípio, os Medos eram mais poderosos, mas os Persas acabaram por dominar, daí o chifre que cresceu mais do que o outro. Estes conquistaram a Babilónia na pessoa de Ciro.

AH 3468
Daniel capítulo 5 relata a última noite do domínio babilónico, quando a cidade é tomada, sem uso de força, quando Belsazar estava a dar um grande banquete.

Calculamos que isto aconteceu no ano 3468 AH, que é o 70º ano desde o 1º ano de Nabucodonosor, em cumprimento das profecias de Jeremias (Jr 25:11-12 e Jr 29:10).

Depois da derrota do Egipto em Carquemis, no 4º ano de Jeoaquim, Jeremias profetizou: Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei de Babilónia 70 anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os 70 anos, castigarei a iniquidade do rei de Babilónia e a desta nação, diz o Senhor (Jr 25:11-12). Quando o rei Joaquim foi para o exílio, o profeta escreveu uma carta aos exilados, dizendo:  Logo que se cumprirem para Babilónia 70 anos atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” (Jr 29:10).

CRONOLOGIA DO CATIVEIRO NA BABILÓNIA (1)

O período do exílio de Israel na Babilónia é um intervalo entre o fim da monarquia em Judá e um novo período na história do povo de Israel chamado de “restauração”, o qual inicia no primeiro ano de Ciro, quando este dá a ordem para reedificar a casa do Senhor em Jerusalém e o regresso do povo de Israel à sua terra (2Cro 36:17-23; Esdras 1:1-3).

Temos agora de determinar o tempo decorrido entre o 11º ano de Zedequias, ano da destruição de Jerusalém por Nabocodonosor, e o primeiro ano de Ciro.

Para entender a duração deste intervalo, precisamos de voltar um pouco atrás, onde nos é dada a chave para estabelecer a cronologia.

AH 3397

No 3º ano de Jeoaquim, Nabucodonosor veio a Jerusalém e a sitiou. O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá. Alguns jovens dos filhos de Israel da linhagem real e de nobres, entre os quais Daniel, foram levados para Babilónia (Dn 1:1-4). Daniel e seus amigos receberam instrução por 3 anos a fim de serem competentes para assistirem diante do rei (Dn 1:4-5).

Com esta primeira incursão de Nabucodonosor no tempo de Jeoaquim, Judá passou a ser uma espécie de protectorado da Babilónia. Era Nabucodonosor que determinava quem ocupava o trono de Judá.

A partir deste ano, a história de Israel passa a desenrolar-se em dois locais geograficamente afastados, com profetas em Jerusalém (Jeremias) e na Babilónia (Daniel e Ezequiel).

AH 3398

No 4º ano de Jeoaquim, Faraó Neco do Egipto (Jer 46:2) é derrotado na batalha de Carquemis, por Nabucodonosor, cujo 1º ano começa nesse mesmo ano (Jr 25:1), no 7º mês, Tishri (ver mensagem sobre sincronia reino Judá e Nabucodonosor). O 4º ano de Jeoaquim começara em Nisan (1º mês).

Depois de Carquemis, Jeremias profetiza: Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei de Babilónia 70 anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os 70 anos, castigarei a iniquidade do rei de Babilónia e a desta nação, diz o Senhor (Jr 25:11-12).

Esta data parece significar o princípio de 70 anos de servidão a Babilónia, não só de Israel, mas também de todas as nações ao redor (Jr 25).

AH 3399-3400

No 2º ano de Nabucodonosor, vencera o tempo determinado pelo rei para Daniel e seus amigos serem avaliados; de seguida, passaram a assistir diante do rei (Dn 1:17-20).

Algum tempo depois, nesse mesmo 2º ano de Nabucodonosor, Daniel interpreta o sonho da estátua (Dn 2). O sonho e a interpretação de Daniel confirmam as profecias de Jeremias: “Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos forma entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem … para que dominasses sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro (Dn 2:37-38).

Nesta sequência, o rei Nabucodonosor engrandeceu a Daniel e o colocou num alto cargo no seu reino, bem como os amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Possivelmente, isto gerou inveja e levou à perseguição de Daniel e seus amigos narrada em Dn 3.

AH 3404-3405

No 7º ano de Nabucodonosor, são levados para o exílio 3023 judeus (Jr 52:28).

Esta deportação, embora sendo no 7º ano de Nabucodonosor, é frequentemente identificada como a do 8º ano de Nabucodonosor, quando este levou o rei Joaquim, os princípes, os homens valentes, e os artífices e ferreiros. Mas os números não correspondem. 2Rs 24:14-16 diz que, com o rei Joaquim, no 8º ano de Nabucodonosor, foram transportados ao todo 10.000 pessoas (todos os príncipes, todos os homens valentes, todos os artífices e ferreiros). Ninguém ficou senão o povo pobre da terra. Foram levados cativos “todos os homens valentes, até 7.000, e os artífices e ferreiros, até mil. No 7º ano foram 3023.

Mais, o 7º ano de Nabucodonosor corresponde à última metade do 10º e primeira metade do 11º ano do rei Jeoaquim, portanto antes de Joaquim/Jeconias começar a reinar.

O que aconteceu para Nabucodonosor voltar a Jerusalém e levar mais judeus cativos?

Vejamos os versículos que falam de Jeoaquim:

Dn 1:1-2 diz que no 3º ano de Jeoaquim, Nabucodonosor veio a Jerusalém e a sitiou, e que o Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim e alguns dos utensílios da casa de Deus.

2Rs 24:1-4 diz que Nabucodonosor subiu contra Jeoaquim, e este ficou seu servo por 3 anos. Mas depois rebelou-se e o Senhor enviou contra Jeoaquim bandos de caldeus, e bandos de siros e de moabitas.

2Cr 36:6 diz que Jeoaquim fez o que era mau perante o Senhor e que por isso subiu contra ele Nabucodonosor que o amarrou com duas cadeias de bronze para o levar a Babilónia. Também levou alguns dos utensílios da casa do Senhor.

Jr 22:13-19 fala de Jeoaquim, e termina dizendo que não o lamentarão, e que como se sepulta um jumento assim o sepultarão; arrastá-lo-ão e o lançarão para bem longe, para fora das portas de Jerusalém (v.19).

Jr 36:30, depois que Jeoaquim queimou o rolo escrito por Jeremias, diz acerca dele: Não terá quem se assente no trono de Davi, e o seu cadáver será largado ao calor do dia e à geada da noite.

Agora, coloquemos em ordem os acontecimentos:

Jeoaquim fora colocado no trono pelo faraó do Egipto. No 3º ano do seu reino, Nabucodonosor sitia Jerusalém e leva um grupo de judeus para Babilónia, entre os quais Daniel. A partir do 3º ano, Jeoaquim passa a prestar vassalagem. Foi Jeoaquim preso em cadeias e levado a Babilónia para depois ser autorizado a regressar a Judá? É uma possibilidade, mas há outra explicação. Jeoaquim ficou servo de Nabucodonosor por 3 anos, mas depois rebelou-se. Em retaliação, o Senhor – através de Nabucodonosor- enviou contra Jeoaquim bandos de caldeus siros e moabitas. A rebelião fez com que Nabucodonosor voltasse e o amarrou com cadeias de bronze com a intenção de o levar a Babilónia. Mas isto não chegou a acontecer porque Jeoaquim foi morto e o seu cadáver arrastado para fora das portas de Jerusalém, sem ser sepultado.

AH 3405

No final do 11º ano de Jeoaquim, começa a reinar Joaquim (2Rs 24:8-18; 2Cr 36:8-9). Nesse ano (ainda atribuído a Jeoaquim), Joaquim/Jeconias reina 3 meses.

AH 3406

Joaquim reina 10 dias no princípio do ano, na primavera, depois é levado para o exílio (Ez 40:1). Nabucodonosor coloca Zedequias no trono de Israel (= ano 0 de Zedequias).

Juntamente com o rei Joaquim, foi deportada grande parte da população, principalmente da classe alta, bem como os artífices e ferreiros, ou seja a mão-de-obra especializada, e os homens de guerra (2 Rs 24:6-16; 2 Cr 36:8-10). Neste grupo encontrava-se Ezequiel, que foi profeta entre os exilados de Judá na Babilónia.

Depois que saíram de Jerusalém o rei Jeconias/Joaquim, a rainha-mãe, os oficiais, os príncipes de Judá e Jerusalém, e os carpinteiros e ferreiros, Jeremias escreve uma carta aos exilados (Jr 29). Nesta carta, Jeremias volta a fazer referência a um período de 70 anos: “Logo que se cumprirem para Babilónia 70 anos atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” (Jr 29:10).

Parece que ambas as menções de Jeremias aos 70 anos se referem à mesma coisa, isto é: a duração do domínio da Babilónia e da servidão de Israel e das nações. Esta é a chave para o estabelecimento da cronologia. Deduzimos,então, que os 70 anos começam com o 1º ano de Nabucodonosor. O fim dos 70 anos dar-se-á quando Babilónia é tomada durante a festa dada por Belsazar (Daniel 8) e quando Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, é constituido rei sobre o reino dos caldeus (Dn 9:1). Voltaremos a esta questão mais tarde.

AH 3410

No princípio do 4º ano de Zedequias, Edom, Moabe, Amom, Tiro e Sidom, recebem ordem, através do profeta Jeremias, de se submeterem a Nabucodonosor e não darem ouvidos aos falsos profetas. A mesma mensagem vale para Zedequias (Jr 27). No 5º mês do ano, Hananias profetiza falsamente o regresso de Jeconias e dos exilados de Judá, mas é repreendido por Jeremias e morre no 7º mês (Jr 28).

Sabemos que nesse mesmo ano Zedequias foi a Babilónia (Jr 51:59), acompanhado por Seraías, camareiro-mor, com uma mensagem de Jeremias que começara a falar contra a Babilónia e escreveu num livro todo o mal que havia de vir sobre Babilónia (Jr 50-51).

AH 3411

Esta mensagem (“Babilónia será afundada”) teve em Zedequias aparentemente uma reação oposta. Em vez de se submeter a Nabucodonosor, e aguardar o cumprimento da profecia, rebelou-se contra ele (2Cr 36:13). Isto deu-se possivelmente no 5º do seu reinado. Ezequiel 17 (profecia no 6º ano – parábola da videira, representando Israel, e das duas águias, representando Babilónia e Egipto) dá conta desta rebelião e da tentativa de Zedequias aliar-se com o Egipto (Ez 17:15-18). A rebelião de Zedequias trará Nabucodonosor de volta a Israel no 9º ano de Zedequias.

10/06/2015

NO ANO DO CATIVEIRO DO REI JOAQUIM

Com a deportação do rei Joaquim para Babilónia, parece existir uma incongruência cronológica entre as datas usadas por Ezequiel no exílio e as datas usadas em Jeremias, 2 Reis e 2 Crónicas referentes ao reinado de Zedequias.

Lembremos que, no ano contado como o 11º de Jeoaquim, Joaquim começou a reinar, e reinou 3 meses. No ano seguinte, Joaquim ainda reinou 10 dias, e foi levado para Babilónia na primavera do ano (2Cr 36:9-10).

No grupo de exilados que foram para Babilónia com o rei Joaquim encontrava-se o profeta Ezequiel.

Ezequiel data os acontecimentos com referência ao “ano de cativeiro do rei Joaquim” (Ez 1:2).

A dúvida é a seguinte:

a)      o 1º ano do cativeiro de Joaquim é o mesmo ano em que acedeu oficialmente ao trono? Ou seja, o ano 0 de Zedequias (onde Joaquim reinou 10 dias e que lhe é atribuído) corresponde ao 1º ano do cativeiro? Ou

b)      o cativeiro só começa a contar no início do ano seguinte (depois que os exilados tiverem chegado à Babilónia após uma viagem longa), pelo que o 1º ano de Zedequias corre paralelo com o 1º ano do cativeiro?

Porquê nos surgiu esta dúvida?

Ez 24:1 - Veio a mim a palavra do Senhor, em o 9º ano [do cativeiro do rei Joaquim], no 10º mês, aos 10 dias do mês, dizendo: filho do homem escreve o nome deste dia, deste mesmo dia; porque o rei de Babilónia se atira contra Jerusalém neste dia (Ez 24:1-2).

No 9º ano de Zedequias, no 10º dia do 10º mês, exatamente, começou o cerco a Jerusalém (2 Rs 25:1; Jr 52:4).

Isto dá a entender que Ezequiel, no cativeiro, recebeu do Senhor a palavra que, nesse mesmo dia, se iniciou o cerco em Jerusalém. Parecendo assim que o 9º ano de Zedequias é correspondente ao 9º ano do cativeiro (hipótese b).

A dúvida foi levantada pelo seguinte versículo:

Ez 33:21 - No ano 12º do nosso exílio, aos 5 dias do 10º mês, veio a mim um que tinha escapado de Jerusalém, dizendo: Caiu a cidade (Ez 33:21).

A cidade caíu no 4º mês do 11º ano de Zedequias (Jr 52:6-7) e no 5º mês foi queimada (Jr 52:12-13). Se o 11º de Zedequias é o 11º ano do exílio, isto significa que a notícia da queda da cidade só chegou a Ezequiel, através de um que escapou, um ano e 5 meses depois do acontecimento! Ora, o tempo de viagem necessário para percorrer a distância entre Jerusalém e Babilónia era de 5 meses, como podemos ver pelo tempo que Esdras levou para ir de Babilónia a Jerusalém. Esdras partiu no 1º mês (do 7º ano do rei Artaxerxes) e chegou a Jerusalém no 5º mês do mesmo ano (Esd 7:7-9). Um ano e 5 meses pareceu-me tempo demais para a chegada da notícia, pelo que avaliei a possibilidade da hipótese a). Neste caso, a profecia de Ez 24:1 teria sido dada um ano antes do próprio acontecimento, e razão pela qual o profeta teve de “escrever” o nome deste dia, garantindo assim a veracidade da profecia.

No entanto, Ez 40:1 resolve a questão a favor da hipótese b): o 1º ano do cativeiro do rei Joaquim corresponde ao ano 1º ano de Zedequias.

Ez 40:1 – No ano 25 do nosso exílio, no princípio do ano, no dia 10 do [primeiro] mês, 14 anos depois de ter caído a cidade, nesse mesmo dia veio sobre mim a mão do Senhor e me levou para lá em visões.


3406
Joaquim reina 10 dias neste ano, quando é levado para o exílio.
= Zedequias ano 0 (ano de acessão ao trono)
Viagem dos exilados para Babilónia
3407
1º ano oficial de Zedequias
Começa a contar o 1º ano do cativeiro do rei Joaquim, a partir do 1º mês
3408
2º ano do cativeiro
3409
3410
3411
3412
3413
3414
8º ano de Zedequias
3415
9º ano de Zedequias, 10 º dia do 10º mês, Nabucodonosor (no seu 18º ano) cerca Jerusalém até ao 11º ano  (2Rs 25:1-2; Jr 52:4-5).
9º ano do cativeiro
Ez 24 - Veio a mim a palavra do Senhor, em o 9º ano, no 10º mês, aos 10 dias do mês, dizendo: filho do homem escreve o nome deste dia, deste mesmo dia; porque o rei de Babilónia se atira contra Jerusalém neste dia (Ez 24:1-2).
3416
10º ano de Zedequias
10º
3417
11º de Zedequias, 9º dia do 4º mês, a cidade é arrombada (Jr 52:6-7). O rei é preso e levado ao rei de Babilónia, a Ribla, na terra de Hamate (Jr 52:8-11). No 7º dia do 5º mês vem Nebuzaradan (2Rs25:8), no 10º dia do 5º mês a cidade é queimada (Jr 52:12)
11º
3418
Mês 4º, 1 ano depois de ter caído a cidade
No ano 12º do nosso exílio, aos 5 dias do 10º mês, veio a mim um que tinha escapado de Jerusalém, dizendo: Caiu a cidade (Ez 33:21
3419
2 anos depois de  
13º
3420
3 anos
14º
3421
4 anos
15º
3422
5 anos
16º
3423
6 anos
17º
3424
7 anos
18º
3425
8 anos
19º
3426
9 anos
20º
3427
10 anos
21º
3428
11 anos
22º
3429
12 anos
23º
3430
13 anos
24º
14 anos depois de ter caído a cidade (mês 4º)
No 25º ano do exílio, no dia 10 do [1º] mês. 14 anos depois de ter caído a cidade, Ezequiel tem uma visão (Ez 40:1) no 14º ano depois de ter caído a cidade.