27/06/2015

CRONOLOGIA DO CATIVEIRO NA BABILÓNIA (1)

O período do exílio de Israel na Babilónia é um intervalo entre o fim da monarquia em Judá e um novo período na história do povo de Israel chamado de “restauração”, o qual inicia no primeiro ano de Ciro, quando este dá a ordem para reedificar a casa do Senhor em Jerusalém e o regresso do povo de Israel à sua terra (2Cro 36:17-23; Esdras 1:1-3).

Temos agora de determinar o tempo decorrido entre o 11º ano de Zedequias, ano da destruição de Jerusalém por Nabocodonosor, e o primeiro ano de Ciro.

Para entender a duração deste intervalo, precisamos de voltar um pouco atrás, onde nos é dada a chave para estabelecer a cronologia.

AH 3397

No 3º ano de Jeoaquim, Nabucodonosor veio a Jerusalém e a sitiou. O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá. Alguns jovens dos filhos de Israel da linhagem real e de nobres, entre os quais Daniel, foram levados para Babilónia (Dn 1:1-4). Daniel e seus amigos receberam instrução por 3 anos a fim de serem competentes para assistirem diante do rei (Dn 1:4-5).

Com esta primeira incursão de Nabucodonosor no tempo de Jeoaquim, Judá passou a ser uma espécie de protectorado da Babilónia. Era Nabucodonosor que determinava quem ocupava o trono de Judá.

A partir deste ano, a história de Israel passa a desenrolar-se em dois locais geograficamente afastados, com profetas em Jerusalém (Jeremias) e na Babilónia (Daniel e Ezequiel).

AH 3398

No 4º ano de Jeoaquim, Faraó Neco do Egipto (Jer 46:2) é derrotado na batalha de Carquemis, por Nabucodonosor, cujo 1º ano começa nesse mesmo ano (Jr 25:1), no 7º mês, Tishri (ver mensagem sobre sincronia reino Judá e Nabucodonosor). O 4º ano de Jeoaquim começara em Nisan (1º mês).

Depois de Carquemis, Jeremias profetiza: Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei de Babilónia 70 anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os 70 anos, castigarei a iniquidade do rei de Babilónia e a desta nação, diz o Senhor (Jr 25:11-12).

Esta data parece significar o princípio de 70 anos de servidão a Babilónia, não só de Israel, mas também de todas as nações ao redor (Jr 25).

AH 3399-3400

No 2º ano de Nabucodonosor, vencera o tempo determinado pelo rei para Daniel e seus amigos serem avaliados; de seguida, passaram a assistir diante do rei (Dn 1:17-20).

Algum tempo depois, nesse mesmo 2º ano de Nabucodonosor, Daniel interpreta o sonho da estátua (Dn 2). O sonho e a interpretação de Daniel confirmam as profecias de Jeremias: “Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos forma entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem … para que dominasses sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro (Dn 2:37-38).

Nesta sequência, o rei Nabucodonosor engrandeceu a Daniel e o colocou num alto cargo no seu reino, bem como os amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Possivelmente, isto gerou inveja e levou à perseguição de Daniel e seus amigos narrada em Dn 3.

AH 3404-3405

No 7º ano de Nabucodonosor, são levados para o exílio 3023 judeus (Jr 52:28).

Esta deportação, embora sendo no 7º ano de Nabucodonosor, é frequentemente identificada como a do 8º ano de Nabucodonosor, quando este levou o rei Joaquim, os princípes, os homens valentes, e os artífices e ferreiros. Mas os números não correspondem. 2Rs 24:14-16 diz que, com o rei Joaquim, no 8º ano de Nabucodonosor, foram transportados ao todo 10.000 pessoas (todos os príncipes, todos os homens valentes, todos os artífices e ferreiros). Ninguém ficou senão o povo pobre da terra. Foram levados cativos “todos os homens valentes, até 7.000, e os artífices e ferreiros, até mil. No 7º ano foram 3023.

Mais, o 7º ano de Nabucodonosor corresponde à última metade do 10º e primeira metade do 11º ano do rei Jeoaquim, portanto antes de Joaquim/Jeconias começar a reinar.

O que aconteceu para Nabucodonosor voltar a Jerusalém e levar mais judeus cativos?

Vejamos os versículos que falam de Jeoaquim:

Dn 1:1-2 diz que no 3º ano de Jeoaquim, Nabucodonosor veio a Jerusalém e a sitiou, e que o Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim e alguns dos utensílios da casa de Deus.

2Rs 24:1-4 diz que Nabucodonosor subiu contra Jeoaquim, e este ficou seu servo por 3 anos. Mas depois rebelou-se e o Senhor enviou contra Jeoaquim bandos de caldeus, e bandos de siros e de moabitas.

2Cr 36:6 diz que Jeoaquim fez o que era mau perante o Senhor e que por isso subiu contra ele Nabucodonosor que o amarrou com duas cadeias de bronze para o levar a Babilónia. Também levou alguns dos utensílios da casa do Senhor.

Jr 22:13-19 fala de Jeoaquim, e termina dizendo que não o lamentarão, e que como se sepulta um jumento assim o sepultarão; arrastá-lo-ão e o lançarão para bem longe, para fora das portas de Jerusalém (v.19).

Jr 36:30, depois que Jeoaquim queimou o rolo escrito por Jeremias, diz acerca dele: Não terá quem se assente no trono de Davi, e o seu cadáver será largado ao calor do dia e à geada da noite.

Agora, coloquemos em ordem os acontecimentos:

Jeoaquim fora colocado no trono pelo faraó do Egipto. No 3º ano do seu reino, Nabucodonosor sitia Jerusalém e leva um grupo de judeus para Babilónia, entre os quais Daniel. A partir do 3º ano, Jeoaquim passa a prestar vassalagem. Foi Jeoaquim preso em cadeias e levado a Babilónia para depois ser autorizado a regressar a Judá? É uma possibilidade, mas há outra explicação. Jeoaquim ficou servo de Nabucodonosor por 3 anos, mas depois rebelou-se. Em retaliação, o Senhor – através de Nabucodonosor- enviou contra Jeoaquim bandos de caldeus siros e moabitas. A rebelião fez com que Nabucodonosor voltasse e o amarrou com cadeias de bronze com a intenção de o levar a Babilónia. Mas isto não chegou a acontecer porque Jeoaquim foi morto e o seu cadáver arrastado para fora das portas de Jerusalém, sem ser sepultado.

AH 3405

No final do 11º ano de Jeoaquim, começa a reinar Joaquim (2Rs 24:8-18; 2Cr 36:8-9). Nesse ano (ainda atribuído a Jeoaquim), Joaquim/Jeconias reina 3 meses.

AH 3406

Joaquim reina 10 dias no princípio do ano, na primavera, depois é levado para o exílio (Ez 40:1). Nabucodonosor coloca Zedequias no trono de Israel (= ano 0 de Zedequias).

Juntamente com o rei Joaquim, foi deportada grande parte da população, principalmente da classe alta, bem como os artífices e ferreiros, ou seja a mão-de-obra especializada, e os homens de guerra (2 Rs 24:6-16; 2 Cr 36:8-10). Neste grupo encontrava-se Ezequiel, que foi profeta entre os exilados de Judá na Babilónia.

Depois que saíram de Jerusalém o rei Jeconias/Joaquim, a rainha-mãe, os oficiais, os príncipes de Judá e Jerusalém, e os carpinteiros e ferreiros, Jeremias escreve uma carta aos exilados (Jr 29). Nesta carta, Jeremias volta a fazer referência a um período de 70 anos: “Logo que se cumprirem para Babilónia 70 anos atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” (Jr 29:10).

Parece que ambas as menções de Jeremias aos 70 anos se referem à mesma coisa, isto é: a duração do domínio da Babilónia e da servidão de Israel e das nações. Esta é a chave para o estabelecimento da cronologia. Deduzimos,então, que os 70 anos começam com o 1º ano de Nabucodonosor. O fim dos 70 anos dar-se-á quando Babilónia é tomada durante a festa dada por Belsazar (Daniel 8) e quando Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, é constituido rei sobre o reino dos caldeus (Dn 9:1). Voltaremos a esta questão mais tarde.

AH 3410

No princípio do 4º ano de Zedequias, Edom, Moabe, Amom, Tiro e Sidom, recebem ordem, através do profeta Jeremias, de se submeterem a Nabucodonosor e não darem ouvidos aos falsos profetas. A mesma mensagem vale para Zedequias (Jr 27). No 5º mês do ano, Hananias profetiza falsamente o regresso de Jeconias e dos exilados de Judá, mas é repreendido por Jeremias e morre no 7º mês (Jr 28).

Sabemos que nesse mesmo ano Zedequias foi a Babilónia (Jr 51:59), acompanhado por Seraías, camareiro-mor, com uma mensagem de Jeremias que começara a falar contra a Babilónia e escreveu num livro todo o mal que havia de vir sobre Babilónia (Jr 50-51).

AH 3411

Esta mensagem (“Babilónia será afundada”) teve em Zedequias aparentemente uma reação oposta. Em vez de se submeter a Nabucodonosor, e aguardar o cumprimento da profecia, rebelou-se contra ele (2Cr 36:13). Isto deu-se possivelmente no 5º do seu reinado. Ezequiel 17 (profecia no 6º ano – parábola da videira, representando Israel, e das duas águias, representando Babilónia e Egipto) dá conta desta rebelião e da tentativa de Zedequias aliar-se com o Egipto (Ez 17:15-18). A rebelião de Zedequias trará Nabucodonosor de volta a Israel no 9º ano de Zedequias.

3 comentários:

  1. "No final do 11º ano de Jeoaquim, começa a reinar Joaquim (2Rs 24:8-18; 2Cr 36:8-9). Nesse ano (ainda atribuído a Jeoaquim), Joaquim/Jeconias reina 3 meses."

    como conseguimos saber que esses 3 meses foi ainda dentro do 11o ano de Jeoaquim?

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