06/03/2016

O PEQUENO CHIFRE (2)- Herodes

OS TEMPOS DOS GENTIOS (4)
Daniel 7 traz uma descrição do quarto reino. O quarto animal/reino (Roma) tinha dez chifres, que correspondem a dez reis que se levantaram daquele mesmo reino (v.24). Creio não ser importante dar-nos ao trabalho de tentar identificar quem eram os 10 chifres do animal. Um chifre simboliza poder e, portanto, os 10 chifres representam reinos, províncias, distritos do império ou algo semelhante. Na realidade, é provável que tenham sido mais do que 10, mas 10 é um número simbólico que indica plenitude quantitativa (todos), portanto, os 10 chifres representam o império na sua totalidade.
De entre estes 10, subiu um pequeno chifre. Note-se bem que se trata de outro “pequeno chifre”, a não confundir com o primeiro pequeno chifre do terceiro reino helenístico que representava Antíoco Epifânio. Em Daniel 11, no seguimento imediato do relato sobre Antíoco e os Macabeus e, portanto, no tempo do fim do período Asmoneu (Dn 11:32-35), surge uma nova personagem: este rei que fará segundo a sua vontade (Dn 11:36-45).
Este “rei que faz segundo a sua vontade” aparece na continuação natural da história, devendo por isso ser identificado com uma figura inserida no quarto reino, o Império Romano. Visto que saiu de entre os 10 chifres do reino, significa que o pequeno chifre fazia de alguma maneira parte dele.
Assim como no terceiro reino são referenciados apenas o reino do Norte e do Sul, porque estão ligados à história de Israel, esta nova personagem também terá que ser uma figura com relação direta à história do povo judeu. Este pequeno chifre é, para o povo de Israel, a face visível do quarto animal. O anjo tinha dito a Daniel: agora vim para fazer-te entender o que há de suceder ao teu povo nos últimos dias (Dn 10:14).
Que nos diz a história? Antipater, governador da Idumeia (edomitas) aliara-se com Roma para tomar o poder na Judeia que então estava independente e governada pela dinastia dos Asmoneus. O general romano Pompeu conquistou a Judeia e como recompensa pelo seu apoio e lealdade a Roma, Antipater foi feito cidadão romano. O filho de Antipater é aquele que no Novo Testamento aparece como o Rei Herodes. Herodes nasce portanto legitimamente dentro do quarto império. Além disso, foi nomeado rei da Judeia pelo Senado de Roma. Herodes juntou 3 domínios (3 chifres) debaixo da sua autoridade: era tetrarca da Galileia, prefeito da região de Celessíria e rei da Judeia. À sua morte, o governo sobre estes territórios foi dividido entre os seus filhos Arquelau (que ficou com a Judeia), Antipas e Filipe. Pode dizer-se que Herodes foi um chifre que arrancou 3 chifres[1].
Herodes e a sua dinastia eram, de facto, a face visível do Império Romano em Israel, a par dos governadores e procuradores romanos bem como das legiões estacionadas na região.
O Rei Herodes sucedeu no governo da Judeia à dinastia dos Macabeus, com o apoio de Roma. Herodes reinava em Israel quando Jesus nasceu. Foi um rei déspota, malévolo e cruel. Matou vários dos seus filhos e a própria mulher. Ninguém se lhe conseguia opor; fazia tudo segundo a sua vontade.
Pelos rumores do oriente e do norte será perturbado, e sairá com grande furor, para destruir e exterminar muitos (Dn11:44), parece apontar para o episódio da matança dos inocentes. Os magos que vieram do oriente e que tinham visto a estrela perturbaram-no muito: Herodes alarmou-se (Mt 2:3). Iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém. Herodes o Grande tentou matar o Messias (Mt 2:16). É a isso que se refere o texto bíblico quando diz que não teve respeito ao desejo de mulheres (Dn 11:37). O desejo das mulheres judias era de ser a mãe do Salvador (Gn 3:15). O Messias também é o desejo de todas as nações (Ag 2:7).
Daniel (capítulo 7) repete várias vezes que este pequeno chifre tinha uma boca que falava, com insolência, palavras contra o Altíssimo (Dn 7:8,11,20,25 e também Dn 11:36). Isto pode referir-se ao facto de Herodes, rei dos judeus, introduzir o culto de César em Israel, ou ao facto de se opor à vinda do Messias, tentando matá-lo.
Mudar os tempos e a lei» (Dn 7:25) é, na verdade, opor-se ou impedir a vinda do Messias. A palavra “tempos” devia mais corretamente ser traduzida “tempos determinados”. É a mesma palavra que a usada em Daniel 2:21: ele [Deus] muda o tempo e as estações (os tempos determinados); ele remove os reis e estabelece os reis. Deus tinha determinado o tempo em que Ele estabeleceria o Seu Rei. Herodes procurou mudar estes tempos.
A lei que o chifre cuidou mudar não era a TORAH; não é esta a palavra usada aqui. A palavra aqui traduzida “lei” significa mandado, ordem, prescrição, decreto real. Trata-se do que Deus decretou: Eu constituí o meu rei sobre o meu santo monte Sião (Salmo 2:6).
Herodes tentou mudar os tempos determinados no plano de Deus e o decreto de Deus, tentando matar Jesus pouco depois de este ter nascido, no massacre das crianças de Belém (Mt 2).
O pequeno chifre fez guerra contra os santos (Dn 7:21, 25). Herodes tentou matar Jesus. Os seus sucessores, mencionados no Novo Testamento, mataram e perseguiram os santos, os seguidores de Jesus: Herodes Antipas matou João Baptista (Mt 14:1-11; Lc 9:7-9); Herodes Agripa I matou Tiago, irmão de João, e aprisionou Pedro (At 12:1-4); e Herodes Agripa II, o último da dinastia, enviou Paulo em cadeias a Roma (At 25 e 26). A dinastia Herodiana, que manteve sempre o favor de Roma, continuou no governo da Judeia e regiões circunvizinhas até à destruição de Jerusalém no ano 70 d.C..




[1] A identidade de Herodes como o segundo pequeno chifre é defendida por James Farquharson, Daniel's Last Vision and Prophecy, respecting which Commentators have greatly differed from each other, showing its Fulfilment in events recorded in authentic history, publicado na Escócia em 1838; Philip Mauro in The seventy weeks and the great tribulation, 1921; James Jordan in Daniel: Historical and chronological comments, XIV e XV (Biblical Horizons, 1996).

1 comentário:

  1. Obrigado. Estive orando pedindo esclarecimento sobre está dúvida e depois de alguma procura, Deus permitiu chegar no seu texto, que é o único que faz sentido com o texto bíblico sem forçar a barra.

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