OS TEMPOS DOS
GENTIOS (4)
Daniel
7 traz uma descrição do quarto reino. O quarto animal/reino (Roma) tinha dez
chifres, que correspondem a dez reis que se levantaram daquele mesmo reino
(v.24). Creio não ser importante dar-nos ao trabalho de tentar identificar quem eram os 10 chifres do animal. Um
chifre simboliza poder e, portanto, os 10 chifres representam reinos,
províncias, distritos do império ou algo semelhante. Na realidade, é provável
que tenham sido mais do que 10, mas 10 é um número simbólico que indica
plenitude quantitativa (todos), portanto, os 10 chifres representam o império
na sua totalidade.
De
entre estes 10, subiu um pequeno chifre. Note-se bem que se trata de outro “pequeno chifre”, a não confundir
com o primeiro pequeno chifre do terceiro reino helenístico que representava
Antíoco Epifânio. Em Daniel 11, no seguimento imediato do relato sobre Antíoco
e os Macabeus e, portanto, no tempo do
fim do período Asmoneu (Dn 11:32-35), surge uma nova personagem: este rei que fará segundo a sua vontade
(Dn 11:36-45).
Este
“rei que faz segundo a sua vontade” aparece na continuação natural da história,
devendo por isso ser identificado com uma figura inserida no quarto reino, o
Império Romano. Visto que saiu de entre os 10 chifres do reino, significa que o
pequeno chifre fazia de alguma maneira parte dele.
Assim
como no terceiro reino são referenciados apenas o reino do Norte e do Sul,
porque estão ligados à história de Israel, esta nova personagem também terá que
ser uma figura com relação direta à história do povo judeu. Este pequeno chifre
é, para o povo de Israel, a face visível do quarto animal. O anjo tinha dito a
Daniel: agora vim para fazer-te entender
o que há de suceder ao teu povo nos
últimos dias (Dn 10:14).
Que
nos diz a história? Antipater, governador da Idumeia (edomitas) aliara-se com Roma para tomar o poder na Judeia
que então estava independente e governada pela dinastia dos Asmoneus. O general
romano Pompeu conquistou a Judeia e como recompensa pelo seu apoio e lealdade a
Roma, Antipater foi feito cidadão romano. O filho de Antipater é aquele que no
Novo Testamento aparece como o Rei Herodes. Herodes nasce portanto legitimamente
dentro do quarto império. Além disso, foi nomeado rei da Judeia pelo Senado de
Roma. Herodes juntou 3 domínios (3 chifres) debaixo da sua autoridade: era
tetrarca da Galileia, prefeito da região de Celessíria e rei da Judeia. À sua
morte, o governo sobre estes territórios foi dividido entre os seus filhos
Arquelau (que ficou com a Judeia), Antipas e Filipe. Pode dizer-se que Herodes
foi um chifre que arrancou 3 chifres[1].
Herodes
e a sua dinastia eram, de facto, a face visível do Império Romano em Israel, a
par dos governadores e procuradores romanos bem como das legiões estacionadas
na região.
O Rei
Herodes sucedeu no governo da Judeia à dinastia dos Macabeus, com o apoio de
Roma. Herodes reinava em Israel quando Jesus nasceu. Foi um rei déspota, malévolo
e cruel. Matou vários dos seus filhos e a própria mulher. Ninguém se lhe
conseguia opor; fazia tudo segundo a sua vontade.
Pelos rumores do oriente e do norte será perturbado, e sairá com grande furor, para destruir e exterminar
muitos (Dn11:44), parece apontar para o
episódio da matança dos inocentes. Os magos que vieram do oriente e que tinham
visto a estrela perturbaram-no muito: Herodes alarmou-se (Mt 2:3). Iludido
pelos magos, enfureceu-se Herodes
grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém. Herodes o Grande
tentou matar o Messias (Mt 2:16). É a isso que se refere o texto bíblico quando
diz que não teve respeito ao desejo de
mulheres (Dn 11:37). O desejo das mulheres judias era de ser a mãe do
Salvador (Gn 3:15). O Messias também é o desejo
de todas as nações (Ag 2:7).
Daniel
(capítulo 7) repete várias vezes que este pequeno chifre tinha uma boca que
falava, com insolência, palavras contra o Altíssimo (Dn 7:8,11,20,25 e também
Dn 11:36). Isto pode referir-se ao facto de Herodes, rei dos judeus, introduzir
o culto de César em Israel, ou ao facto de se opor à vinda do Messias, tentando
matá-lo.
Mudar os tempos e a lei» (Dn 7:25) é, na
verdade, opor-se ou impedir a vinda do Messias. A palavra “tempos” devia mais
corretamente ser traduzida “tempos
determinados”. É a mesma palavra que a usada em Daniel 2:21: ele [Deus]
muda o tempo e as estações (os tempos
determinados); ele remove os reis e estabelece os reis. Deus tinha
determinado o tempo em que Ele estabeleceria o Seu Rei. Herodes procurou mudar
estes tempos.
A lei
que o chifre cuidou mudar não era a TORAH; não é esta a palavra usada aqui. A
palavra aqui traduzida “lei” significa mandado, ordem, prescrição, decreto
real. Trata-se do que Deus decretou: Eu
constituí o meu rei sobre o meu santo monte Sião (Salmo 2:6).
Herodes
tentou mudar os tempos determinados no plano de Deus e o decreto de Deus,
tentando matar Jesus pouco depois de este ter nascido, no massacre das crianças
de Belém (Mt 2).
O
pequeno chifre fez guerra contra os santos (Dn 7:21, 25). Herodes tentou matar
Jesus. Os seus sucessores, mencionados no Novo Testamento, mataram e
perseguiram os santos, os seguidores de Jesus: Herodes Antipas matou João
Baptista (Mt 14:1-11; Lc 9:7-9); Herodes Agripa I matou Tiago, irmão de João, e
aprisionou Pedro (At 12:1-4); e Herodes Agripa II, o último da dinastia, enviou
Paulo em cadeias a Roma (At 25 e 26). A dinastia Herodiana, que manteve sempre
o favor de Roma, continuou no governo da Judeia e regiões circunvizinhas até à
destruição de Jerusalém no ano 70 d.C..
[1]
A identidade de Herodes como o segundo pequeno chifre é
defendida por James Farquharson, Daniel's
Last Vision and Prophecy, respecting which Commentators have greatly differed
from each other, showing its Fulfilment in events recorded in authentic
history, publicado na Escócia em 1838;
Philip Mauro in The seventy weeks and
the great tribulation, 1921; James Jordan in Daniel: Historical and chronological comments, XIV e XV (Biblical
Horizons, 1996).
Obrigado. Estive orando pedindo esclarecimento sobre está dúvida e depois de alguma procura, Deus permitiu chegar no seu texto, que é o único que faz sentido com o texto bíblico sem forçar a barra.
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