Na mensagem anterior
concluímos que o grandioso templo da visão de Ezequiel é a representação
espiritual do templo do período da Restauração de Israel, que é o período que
vai do regresso a Jerusalém do povo judeu que estava no exílio na Babilónia até
à primeira vinda de Cristo.
O templo
material que foi construído no tempo de Zorobabel não consegue expressar a
realidade espiritual desse período. Observámos que não há menção de que a
glória do Senhor encheu o templo, como foi no caso do tabernáculo (Ex 40:34) e
do templo de Salomão (2Cr 5:14) quando estes foram inaugurados. No entanto,
apesar disso, Ageu profetizou «Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o
céu, a terra, o mar e a terra seca; farei abalar todas as nações, e as coisas
preciosas de todas as nações virão, e encherei
de glória esta casa, diz o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, meu é o ouro,
... A glória desta última casa será maior
do que a da primeira… e neste lugar darei a paz (Ageu 2:6-9)».
O que
quererá isto dizer?
Certamente
que a presença física de Jesus no templo durante o seu ministério é um sinal
desta maior glória.
Mas ainda
mais, penso que foi no dia de Pentecostes, quando o Espírito desceu sobre os
discípulos, que a glória do Senhor finalmente encheu o templo de Zorobabel.
Onde estavam
os discípulos naquele dia de Pentecostes? É costume aceitar como um facto que
os discípulos estavam reunidos “no cenáculo”, entendendo-se com isto o lugar
onde residiam quando estavam em Jerusalém, supostamente um andar superior de
uma casa, talvez o mesmo lugar onde tomaram a ceia … (Mc 14:15; Lc 22:12).
Depois de
terem visto Jesus ascender ao céu no monte chamado Olival, voltaram para
Jerusalém, e quando ali entraram, subiram para um cenáculo (o texto Grego usa o artigo neutro). Neste local
reuniam-se os apóstolos (Pedro, João, Tiago e André, etc.), com as mulheres,
estando entre elas Maria, mãe de Jesus e seus irmãos (At 1:13-14). Este
“cenáculo” era o seu local de alojamento? A palavra grega HYPEROION, traduzida
“cenáculo”, aparece apenas 4 vezes no Novo Testamento: At 1:13; 9:37,39; 20:8.
E é diferente da palavra usada para o cenáculo onde tomaram a ceia (Mc 14:15;
Lc 22:12).
Em que lugar
é que os irmãos se reuniam em Jerusalém, em obediência à ordem de Jesus,
esperando pela “Promessa do Pai (At 1:4)?
Em Atos
1:15-26, lemos da reunião de um grupo composto de umas 120 pessoas. Não é
mencionado o lugar. Temos pouca razão para crer que havia espaço para 120
pessoas se reunirem na casa onde estavam alojados os discípulos. E há ainda
menos razão para supor que na manhã de um grande dia de Festa, os discípulos estivessem
fechados nesse lugar.
Havia, de
facto, apenas um lugar na cidade de Jerusalém onde os judeus devotos, de
qualquer seita, teriam congregado naquela manhã. E havia apenas um lugar onde
os eventos relatados em Atos 2 podem ter tido lugar. Este lugar é o Templo. E é
desde o templo que se iniciou a proclamação das boas novas para todo o mundo. E
isto estava prefigurado na visão das “águas vivas” a sair do templo (Ez 43).
«Eis que
saiam águas debaixo do limiar do templo para o oriente …. Estas águas saem para
a região oriental, e descem à campina, e entram no mar Morto, cujas águas
ficarão saudáveis … (Ez 47:1-12).
De modo como
a pregação do arrependimento para remissão de pecados a todas as nações devia
começar em Jerusalém (Lc 24:47), onde Jesus determinou que esperassem a
promessa do Pai (At 1:4), era também oportuno que a primeira manifestação do
Espírito Santo tivesse lugar no templo; que o começo da construção da casa
espiritual fosse no mesmo sítio que a casa material.
Que
indicações temos no texto bíblico para podermos deduzir isto?
Lucas
regista a ordem do Senhor aos discípulos para permanecerem na cidade de
Jerusalém “até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49). Jesus não
indica nenhum lugar particular; mas a continuação do texto (vs. 52-53) fornece
esta informação porque lemos que ”estavam
sempre no templo, louvando a Deus (Lc 24:53).
Esta
passagem declara que o Templo era o lugar onde se reuniam
com o objetivo de esperar pela promessa; e além disso declara que estavam lá sempre,
continuamente. Isto não deixa dúvidas de que nos dez dias seguintes
estariam congregados no Templo e não em qualquer outro lugar na cidade.
O templo era
um espaço enorme. Segundo Edersheim, a área do Templo era capaz de conter
210.000 pessoas. Ele menciona também que as colunadas no Pórtico de Salomão
formavam lugares de congregação para as várias seitas, escolas e congregações
de pessoas. Não ensinava Jesus no templo?
Depois do
relato da assembleia das 120 pessoas (At 1:15-26), segue a narrativa do dia de
Pentecostes (At 2). Este dia de festa do calendário judaico seria mais uma
razão para todos estarem reunidos no Templo. E era no Templo, onde estavam
assentados, que veio um som como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa
onde estavam sentados. O vento que encheu toda casa faz lembrar como no
tabernáculo e no Templo a glória (então em forma de nuvem) do Senhor enchia o
templo.
O ruido que
veio do céu devia ouvir-se em toda a cidade, e é evidente que os judeus devotos
se dirigissem ao Templo.
Naquele dia
estava uma grande multidão de pessoas em Jerusalém, e certamente no Templo, o
centro das festividades e rituais. É natural que também os discípulos lá
estivessem. O que se entende é que os discípulos não estavam dispersos entre a
multidão, mas estavam juntos no mesmo lugar, presumivelmente no Pórtico de
Salomão. E a multidão afluiu para onde estavam os discípulos (At 2:5-6).
Pedro se
levantou e falou, e no fim, acrescentaram-se a eles 3000 pessoas (At 2:41).
Isto mostra que este evento não poderia acontecer noutro lugar a não ser no Templo.
O Templo era o único lugar público em Jerusalém onde era possível juntar tantas
pessoas.
Quando lemos
atentamente a narrativa v.1-14, os eventos narrados aconteceram todos no mesmo
local. Não houve mudança de local. O lugar onde os discípulos ficaram cheios do
Espírito Santo e falaram em outras línguas era o mesmo lugar para onde as
multidões afluíam e ouviam Pedro dirigir-se-lhes.
Depois do dia
de Pentecostes, continuaram a prática de se reunirem diariamente no Templo,
perseverando nas orações (At 2:42; 2:46; 3.1). Também partiam pão de casa em
casa, mas o lugar de congregação era no Templo. Costumavam todos reunir-se, de
comum acordo, no pórtico de Salomão (At 5:12). Quando os apóstolos foram presos
e um anjo os libertou da prisão, este os mandou apresentar-se no Templo para
falar ao povo todas as palavras desta vida. E voltaram a entrar no Templo e
ensinaram (At 5:21).
Cumpriu-se o
dia de Pentecostes (At 2:1). Não um qualquer dia de Pentecostes em algum qualquer
ano, mas o dia em que a Festa teve o seu cumprimento histórico.
Concordo com
Philip Mauro quando ele conclui que a Casa material de Deus serviu de madre
para a Casa espiritual, a Igreja. E que só pode ter sido no Templo que desceu o
Espírito sobre os discípulos no dia de Pentecostes.
Bibliografia
Philip Mauro, The
hope of Israel (1922)
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