Muito poucos acreditam na historicidade do livro de Ester. O
livro é geralmente considerado uma história de ficção, uma fábula oriental, não
um documento histórico. Além de alegadamente não ser histórico, também é
criticado por sua aparente ausência de valor religioso.
Defendo a historicidade do livro de Ester. E quanto à
ausência do nome de Deus no livro, isto não significa que Deus esteja ausente
da história. Basta olhar para Ester 6.1. Foi coincidência se o rei não
conseguia dormir naquela noite (a noite anterior ao dia em que Haman planeou
enforcar Mardoqueu) e leu que Mardoqueu tinha evitado uma conspiração contra
ele? Apesar de Deus não ser mencionado, o seu controlo sobre todas as coisas é
visível. Ainda, o livro de Ester tem o seu lugar entre os outros livros. O
projeto de Haman de matar todos os judeus (3:6) constituía uma ameaça à preservação
da linhagem do Salvador prometido em Génesis.
Quando defendemos a historicidade de Ester, levanta-se uma
questão fundamental, que é uma questão cronológica: onde se encaixa Ester, ou
seja: qual é a identidade do rei chamado Assuero no livro de Ester?
A grande maioria dos comentadores e historiadores identifica
Assuero com Xerxes. Outros, como Josefo, com Artaxerxes Longimano (Ant. 11.cap
6) [1]
Alguns identificam o Assuero de Ester com Dario, como já era
o caso de Ussher. Esta é também a minha posição, já apresentada em várias
mensagens deste blog. Com isso defendo que o Artaxerxes de Esdras e Neemias
também é Dario, o que resulta numa cronologia internamente lógica, inteligível
e justificável dos livros de Esdras-Neemias-Ester [2]
Para melhor compreensão, uma lista dos reis persas que nos
interessam:
Ciro (559-530)
Cambyses (530-522)
Bardya (outros
nomes: o Mago, Gaumata, Pseudo-Smérdis)
Dario (521-486)
Xerxes (486-465)
Artaxerxes
Resumimos também a cronologia dos factos dos livros de
Esdras-Neemias-Ester, que se passam todos no tempo de Dario:
No 2º ano de Dario, os profetas Ageu e Zacarias
incitam os judeus a retomarem a construção do templo (que estava parada há
vários anos devido à oposição). Uma ordem do rei Dario autorizou a construção
com base no decreto de Ciro. O templo é terminado no 6º ano de Dario. No
7º ano, Esdras regressa a Jerusalém, com a incumbência de ornar o templo
com prata e ouro que trouxe da Babilónia. Por este tempo, Ester chega à
fortaleza de Susan e no 7º ano de Assuero/Dario, Ester é levada ao rei. Recebe
a coroa real e feita rainha em lugar de Vasti. No ano 12º de
Assuero/Dario, Haman começa a por em ação a sua vingança contra Mardoqueu e os
judeus. No 14º ano dá-se o pogrom e a vitória dos judeus que deu origem
à festa do Purim. No 20º ano de Artaxerxes/Dario, Neemias vai para
Jerusalém para restaurar o muro. No ano seguinte, quando este é terminado e as
portas assentes, celebra-se e dedicação dos muros. Neemias regressa à Susan
junto do rei no 32º ano de Artaxerxes/Dario.
Quem era Ester na história?
Poderá ela ser Artístone
(transliteração grega do nome Artastana ou Irtasduna em elamita) identificada
pelo historiador grego Heródoto como a rainha preferida de Dario I e filha de
Ciro, irmã ou meia-irmã de Atossa? Artístone seria alegadamente a Irtasduna dos
arquivos de Persépolis
Tentei coligir alguma informação sobre esta personagem.
Nomeadamente, o que escreve o historiador Heródoto em Histórias; o que
encontramos em fontes persas primárias, nomeadamente os arquivos de Persépolis;
e o que dizem alguns estudos recentes sobre esta personagem.
Heródoto
A história do império persa aqueménida é principalmente
conhecida através de autores gregos, como Ésquilo, Xénofon, Ctesias e,
especialmente, Heródoto na sua obra ”Histórias”, produzida entre 440 e 430 a.C..
Eles tinham a sua informação geralmente de fontes secundárias (note-se que Dario
reinou de 521 a 486 a.C.).
O que nos diz Heródoto sobre Artístone é o seguinte:
Quando foi proclamado rei, Dario casou com duas princesas, Atossa
e Artístone, que eram filhas de Ciro. Atossa já tinha sido a mulher de Cambyses
e também de Gaumata. Artístone era virgem. Casando com elas, Dario cimentou o
seu direito legítimo ao trono do Império Persa, pois na realidade a sua ascensão
ao trono resultou de uma tomada violenta do poder com o assassinato do usurpador
Gaumata, o falso Bardiya (Hdt 3.78, 88).
Heródoto menciona o comandante de tropas Arsames, que era
filho de Dario e sua mãe era a filha de Ciro, Artístone, a mulher favorita de
Dario, que mandou fazer uma estátua dela em ouro (Hdt 7.69).
O casal tinha três filhos: Arsames, Gobryas e Artozostre
(filha).
Arquivo de Persépolis
No Arquivo de Persépolis (Persepolis Fortification Tablets),
uma fonte primária, aparece uma mulher chamada Irtasduna, que terá sido mulher
de Dario e que parece ter sido uma das mulheres mais influentes na corte
aqueménida.
O Arquivo de Persépolis é constituído por milhares de
tabuletas administrativas. Há dois grupos de arquivos, segundo o local onde
foram encontradas, são designadas como Fortification Tablets (PF), que datam de
509-494 a.C. (aprox. do 14º ao 28º ano de Dario) e Treasury Tables (PT) de
492-458 a.C. (do 30º ano de Dario ao princípio do reinado de Artaxerxes). Estes
arquivos registam a alocação e distribuição de bens alimentares dos armazéns reais
a administradores, trabalhadores agrícolas, artistas, pessoas da corte,
sacerdotes e membros da família real. O arquivo é escrito em elamita
cuneiforme.
Um reduzido grupo específico (J Texts) dos Fortification
Tablets representa um tipo especial por causa do elevado estatuto dos
indivíduos envolvidos e as elevadas quantidades de bens transacionados ou
consumidos. Distinguem-se pelo uso de uma expressão cujo sentido é “dispensado
perante o rei” e “dispensado por conta/em nome do rei”.
Neste grupo, aparecem duas mulheres: Irdabama e Irtasduna.
Elas têm um estatuto especial no arquivo, que parece dar-lhes autoridade de
usar os mantimentos da casa real. De facto, são as únicas que tomam o lugar do
rei nos J Texts. As transações são ratificadas com o seu selo pessoal, o que
parece indicar que as porções foram emitidas com base na sua autoridade pessoal.
Irtasduna é referida em 27 documentos. Em duas ocasiões, o
seu nome é acompanhada do título durkšiš
– princesa.
O Arquivo mostra que ela detinha pelo menos três
propriedades, com uma fábrica de tapeçaria e também um palácio. As suas propriedades eram
geridas por mordomos e tinha mão-de-obra própria. Existem ordens de
Irtasduna aos gestores das suas propriedades.
Os
documentos mostram a rainha a requisitar grandes quantidades de trigo, farinha,
figos e vinho, e também ovelhas. Ela não aparece apenas como recetora de
um grande número de ovelhas, trigo e vinho, mas também como alguém em nome de
quem se consumiam grandes quantidades de alimentos, provavelmente pessoas que
estavam dependentes dela.
Irtasduna tinha o seu próprio selo. Selos eram usados no
antigo Médio Oriente para ratificar transações e documentos e comprar
propriedades. Selos e as impressões dos selos são elementos arqueológicos
importantes.
Irtasduna viajava pelo núcleo central do império, por vezes
com Irdabama e
por vezes na companhia do seu filho, o príncipe Arsama.
No ano de 498 a.C. (24º ano de Dario) ela fez um banquete
para Dario, às custas dele, como mostra o selo.
Figura. - Selo de Irtasduna
Imagem retirada de Garrison, M. (1991). Seals and the Elite at Persepolis:
Some Observations on Early
Achaemenid Persian
Art. Ars Orientalis, 21, 1-29. Retrieved December 8,
2020, from http://www.jstor.org/stable/4629411
O
selo mostra uma variante do encontro heróico. Um herói, com barba quadrada, uma
veste do tipo assíro e uma adaga, agarra dois touros rampantes que têm cabeça
humana e cornos. Na parte inferior do selo há traços do que parece ser
um incensário. Do lado esquerdo, uma planta estilizada que consiste em dois (ou
três) vasos ou cestos um por cima do outro dos quais emergem folhas. Por cima
disto há um torso e cabeça que formam uma figura masculina contida num duplo
círculo do qual irradiam raios que terminam em estrelas. A figura olha e
estende ambas as mãos para sua esquerda. Na mão parece ter uma espécie de pluma
ou folha de palma. Estilisticamente, o selo tem tradições assiro-babilónicas,
mesopotâmicas mas também siro-palestinianas.
Atossa
Outra personagem histórica por vezes associada com Ester é Atossa.
Ussher menciona a semelhança sonora de Atossa com Hadassah.
Atossa era filha de Ciro, de acordo com Heródoto, e irmã
mais velha de Arístone, segundo Heródoto. Atossa fora consorte de Cambises II
e, depois da morte deste, passou para o harém de Gaumata (o Pseudo-Smerdis).
Quando Dario matou este, ele também tomou posse do harém, casou com Atossa e
fê-la sua consorte principal. Atossa tinha quatro filhos com Dario, sendo
Xerxes o mais velho. Mas Xerxes não era seu primogénito (Dario tinha três filhos
com a sua primeira mulher) e a escolha de Dario de nomear Xerxes como
co-regente (em 496 a.C.) seria devida à grande influência e poder de Atossa.
Durante o reino de seu filho ela manteve o importante estatuto de rainha-mãe.
Porém, a sua fama de rainha influente no reino persa como
relatada por Heródoto em «Histórias» poderá ter tido origem na peça “Os Persas”
do dramaturgo grego Ésquilo, encenada pela primeira vez em 472 a.C.. A peça
fala da derrota de Xerxes contra a frota grega na batalha de Salamis, mas a
verdadeira protagonista é a figura imponente de Atossa, a mãe de Xerxes (embora
o nome dela não seja mencionado na tragédia), que está no coração da ação, em
contraste com o fraco Xerxes. A imagem da poderosa Atossa é uma imagem
literária e não um facto histórico comprovado.
Relativamente à questão da sucessão existe uma fonte
primária. Numa inscrição em três línguas (antigo persa, acadiano e elamita),
Xerxes diz que havia outros filhos de Dario, mas que era a vontade de Ahura Mazda,
a divindade persa, que Dario o fez rei. O facto de mencionar outros filhos
implica que a sua nomeação como sucessor não era evidente, concordando assim
com Heródoto. Mas Xerxes não faz qualquer menção do papel que a sua mãe possa
ter tido. A genealogia registada na inscrição nomeia apenas a linha paterna. Atossa
e seu pai, Ciro, de quem Atossa teria a sua importância, não são mencionados.
Contrariamente a outros registos de reis elamitas onde as rainhas eram
mencionadas com nome. Também temos o exemplo de Nabonido que, em várias
inscrições, honra a sua mãe Adad-guppi. Se Atossa tivesse tanto poder, porque é
que Xerxes não se referiu a ela? E terá sido realmente filha de Ciro ou
invenção de Heródoto?
Ainda, apesar do seu aparente papel importante na corte
persa, Atossa não é mencionada no arquivo de Persépolis (nota) e a sua
existência tem sido questionada.
Ester
O nome hebraico de Ester era Hadassah (Ester 2:7). Vem de
HADAS, que significa murta.
A palavra HADAS aparece apenas 6 vezes em todo o Velho
Testamento.
Em Neemias 8:15, diz que ramos de murtas estavam entre os
ramos de árvores com que tinham que fazer as cabanas da festa dos tabernáculos.
Em Isaías 41:19 e 55:13, a murta está relacionada com bênção
e renovação.
Is 41:18-19 – Abrirei rios em lugares altos, e fontes
no meio dos vales; tornarei o deserto em tanques de águas, e a terra seca em
mananciais. Plantarei no deserto ocedro, a árvore de sita, e a murta, e a
oliveira … para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam
que a mão do Senhor fez isto.
Is 55:13 – Em lugar do espinheiro, crescerá a faia; e
em lugar da sarça, crescerá a murta.
Em Zacarias, a palavra
aparece três vezes, na profecia no 2º ano de Dario (Zac 1:7-17), do homem
montado num cavalo que está entre as murtas (Zac 1:8, 10, 11). A mensagem desta
profecia é de esperança – Nós andámos pela terra, e eis que toda a terra está
tranquila e em descanso (1:11). E o Senhor diz assim: Voltei-me para Jerusalém
com misericórdia; a minha casa nela será edificada (1:16).
A presença das murtas
parece particularmente oportuna (ou será apenas coincidência?) neste preciso
tempo em que será a presença de Hadassah (murta) na corte do rei da Pérsia a
garantir que os judeus fiquem salvos e o futuro de Jerusalém assegurado.
Ester seria o nome persa
de Hadassah. Observamos na Bíblia que é comum os judeus adotarem, ou serem dado
outro nome na cultura onde passam a estar inseridos. É o caso de Daniel,
chamado Belteshazar e dos seus amigos Hananias, Misael e Azarias respetivamente
Sadrach, Mesach e Abed-nego.
A interpretação mais
antiga e corrente é que Ester significaria estrela, do persa ‘stara’, usado
para designar o planeta Venus. Ou teria origem em Ishtar, uma divindade
assiro-babilónica, associada ao amor e à guerra.
Ou ainda, ao dizer
“Hadassah, que é Ester” implicaria simplesmente que Ester é o equivalente na
língua persa (ou na língua meda, ASTRA) do hebraico Hadassah, significando
igualmente murta [3].
Outra interpretação
interessante é que se pode reconhecer em Ester a raiz hebraica de três letras S-T-R
(סתר) que significa esconder-se, ocultar-se, estar
escondido, ser protegido [4].
Isto aplica-se porque Ester ficou de certo modo escondida, não revelando a sua
origem, o seu povo, a pedido de Mardoqueu.
Se Ester e Hadassah significam ambos ‘murta’, o caminho fica
aberto para Hadassah/Ester ter recebido outro nome. E explicaria porque o nome
de Ester não aparece em nenhum outro documento que a Bíblia.
Quanto ao nome Artístone:
será a transliteração grega de um nome persa feminino, Irtasduna. A forma grega
é conhecido apenas em Heródoto. O elamita Ir-taš-du-na ou Ir-da-iš-du-na
reflete o antigo persa Rtastuna, pilar de Rta, significando algo como
pilar da verdade [5].
Mas o que me intriga é que todos estes nomes – Ester,
Artístone, Irtasduna – têm as três letras (consoantes) principais em comum,
embora não na mesma ordem: S-T-R / R-T-S / R-T-S. Não poderiam ser todas formas
do mesmo nome nas línguas diferentes?
Ester é Irtasduna dos arquivos de Persépolis?
Encontramos na história de Ester na Bíblia elementos que se
coadunam com a sua identificação com Irtasduna/Artístone.
Heródoto escreveu que Artístone era a mulher favorita de
Dario. Ester 2:17 diz que o rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e
ela alcançou perante ele graça e benevolência.
Irtasduna,
na sua qualidade de rainha, recebia convidados e organizava banquetes, tendo
acesso a recursos significativos. Estes banquetes traziam o rei à corte da
rainha, como se vê nos arquivos de Persépolis. Na bíblia, vemos Ester fazer
pelo menos dois banquetes para o rei, convidando além do rei também Haman (5:8;
7:2).
As propriedades de Irtasduna e a fábrica de tapeçaria proporcionavam-lhe
um rendimento próprio que lhe permitia ser economicamente independente do rei.
O palácio em Kuganaka fortalece o seu poder real, aliada ao rei mas não
necessariamente subserviente.
Ester recebeu de Dario a casa de Haman (Ester 8:1). Com
“casa” entende-se, certamente, não apenas uma casa de habitação, mas toda o seu
património, seus bens. Ester pôs Mardoqueu sobre a casa de Haman. Ester passou
a ter propriedades próprias, como Irtasduna.
Irtasduna emitiu cartas e dispensava bens “em nome do rei”. Assuero
autorizou Ester a escrever cartas em nome do rei, e de selá-las com o anel do
rei (8:8).
Numa monografia recente sobre Mulheres na Antiga Pérsia (1996),
M. BROSIUS analisou todas as fontes gregas sobre a influência das mulheres
persas. Sua conclusão é clara: se as mulheres exerciam sua influência, era
sempre no interesse dos familiares, não por sede de sangue ou interesse
pessoal. Nas palavras de Brosius: “A principal motivação para a ação era o
bem-estar de sua família, para salvar a vida de um membro da família ou para
garantir a continuidade de sua família. As mulheres podiam agir dentro de
limites bem definidos, mas não podiam fazer justiça com as próprias mãos. Elas
precisavam de consultar o rei e obter o seu consentimento; se elas ignorassem
sua autoridade e simplesmente agissem por si mesmas, também ficariam sujeitas à
punição do rei ” [6].
Esta conclusão numa investigação histórica moderna condiz
exatamente com aquilo que Ester fez e o modo como ela teve de o fazer. Ela exerceu
a sua influência para defender o seu povo. Mas precisou para isto de obter o
consentimento do rei, não podendo agir por si própria.
Por outro lado, Heródoto escreve que Artístone era filha de
Ciro, e virgem. Ester 2.2 corrobora a última afirmação. Mas será um facto
histórico que Irtasduna era filha de Ciro? Não há uma fonte primária inequívoca
e Heródoto não era uma testemunha contemporânea.
Conclusão:
Sem podermos provar que Ester era efetivamente a Irtasduna
dos arquivos de Persépolis, é certamente uma boa candidata.
[1] Josefo é
incoerente com a informação que fornece sobre Dario, Xerxes e Artaxerxes. Ester
1.1 diz que Assuero reinou desde Índia a Etiópia, sobre 127 províncias. Josefo
diz o mesmo de Dario (Ant 11.33) e de Artaxerxes (Ant.11.186). Ele situa Esdras
e Neemias no tempo de Xerxes, mas refere ocorrências relativas a Neemias no ano
25 e no ano 28 de Xerxes (Ant 11.168, 179), o que não é possível porque Xerxes
só reinou 20 anos.
GARRISON, M.B.
Seals and the Elite at Persepolis: Some Observations on Early Achaemenid
Persian Art. Ars Orientalis, Vol. 21
(1991), pp. 1-29
HENKELMAN,
Wouter. "Gebiederesse van dit land ... " Vrouwen in Achaimenidisch
Perzie, UNlVERSITEIT UTRECHT (Academia.edu)
RONAYNE,
Jack (2018). The Influence of Irtashduna’s Power on the Royal Court of
Achaemenid Persia