28/08/2015

A PROFECIA DAS 70 SEMANAS DE DANIEL (5) – Ele confirmará a aliança


Ele confirmará a aliança com muitos por uma semana.


Em primeiro lugar convém dar a tradução correta do verbo empregado nesta frase, porque várias versões têm traduzido “ele firmará um concerto”, induzindo em erro quanto ao seu significado. A tradução correta do verbo GABAR não é firmar no sentido de assinar ou de fazer ou cortar uma aliança, mas “confirmar” ou “fazer prevalecer”[1] um concerto. É a única vez na Bíblia que é dito que uma aliança prevalece.

Quem é o “ele” que confirma a aliança?

Uma vista de olhos à estrutura (ABCD ABCD) dos versículos 26 e 27 facilitará a compreensão:


A. Depois das sessenta e duas semanas será morto o Ungido
B. E já não estará
C. O povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário
D. O seu fim será num dilúvio, até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.

A. Ele fará firme aliança com muitos por uma semana
B. Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta
C. Sobre a asa das abominações virá o assolador,
D. Até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.

As frases A e B dos vs.26 e 27 dizem respeito ao Ungido. E dentro do contexto da profecia, tudo indica que quem confirma a aliança só pode ser o Ungido, o Príncipe. Não devemos esquecer que é o Messias a personagem proeminente e central desta profecia! Ele é manifestado no princípio da 70ª semana e no meio da semana é morto, fazendo cessar o sacrifício e a oferta. Tendo sido “cortado” (KARATH) ele “confirmou” a aliança. E confirmando a aliança no meio da semana, fez cessar o sacrifício e a oferta de manjares.

O “ele” do v.27 que confirma a aliança não pode ser o príncipe do povo que vem destruir a cidade do versículo anterior, como afirmam certas interpretações. Na frase C do v.26, a cláusula principal não é o príncipe, mas o povo, e então seria o povo a confirmar a aliança. A frase A do v.27 vai buscar o seu sujeito à frase A do v.26: o Ungido.

A aliança prevalece. É uma nota de esperança: a aliança prevalece, apesar de a transgressão do povo conduzir novamente à destruição de Jerusalém, e apesar da “eliminação” do Ungido que fica aparentemente sem descendência.

Deus fez sucessivas alianças com Israel, mas todas tinham em vista o cumprimento da sua promessa a Abraão que ele seria pai de muitas nações e que na sua semente seriam abençoadas todas as nações da terra. Isto é a promessa de ser herdeiro do mundo, como diz Paulo em Romanos 4:13.

Quem são os “muitos” com quem ele veio confirmar a aliança?

No entendimento de Daniel, os “muitos” seriam provavelmente os que estavam incluídos na aliança abraâmica através da circuncisão, visto também que a oração de Daniel dizia respeito especificamente ao seu povo, os judeus. E como profetizou Simeão quando Jesus foi levado ao templo pelos seus pais para ser apresentado ao Senhor: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel (Lc 2:34). Os judeus no tempo de Jesus, mesmo os discípulos, tardaram em compreender o alargamento da aliança aos gentios.

Por outro lado, é perfeitamente bíblico declarar que Jesus morreu por muitos, não apenas judeus. … o meu Servo, o Justo… justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si (Is 53:11-12). O filho do homem veio dar a sua vida em resgate por muitos (Mt 20:28). Isto é o meu sangue da aliança derramado em favor de muitos (Mt 26:28). Jesus morreu por todos, mas nem todos recebem os benefícios da sua salvação. Assim, o seu sangue foi derramado para “muitos”.

Dentro do contexto da profecia, contudo, faz mais sentido identificar os “muitos” com os judeus (os da circuncisão). E assim já podemos compreender como Jesus fez efetivamente “prevalecer” esta aliança com os judeus por uma semana. O ministério de Jesus durou três anos e meio, o que corresponde à primeira metade da 70ª semana, assumindo que tenha começado com o batismo de Jesus. A pregação de Jesus e o anúncio da proximidade do reino de Deus destinava-se primeiramente aos judeus. Jesus afirmou: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15:21-28). Quando enviou os seus doze discípulos, deu-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10:5-6). Uma especial paciência foi conferida aos judeus: o viticultor que havia três anos vinha procurar fruto na figueira, mas não achou, quis, porém, dar mais um ano para que a árvore desse fruto. Se depois não desse fruto, cortá-la-ia (Lc 13:6-9).

Ainda na segunda metade da semana, isto é durante os três anos e meio a seguir à morte de Jesus, os discípulos dirigiam-se sempre em primeiro lugar e quase exclusivamente aos judeus. No dia de Pentecostes, Pedro dirigiu-se aos varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém (At 2:14), aos varões israelitas (At 2:22), e por ocasião da cura do coxo, aos israelitas (At 3:12). Também Estêvão falou assim antes de ser apedrejado: Varões irmãos e pais, ouvi (At 7:1).

Não há nenhum evento específico na profecia de Daniel que identifique o fim da 70ª semana, mas é possível que esteja relacionado com a completa abertura do evangelho aos gentios. Poderá coincidir com a morte de Estêvão e a primeira grande perseguição aos seguidores de Jesus, em consequência da qual os judeus convertidos saíram de Jerusalém e começaram a anunciar o evangelho nas regiões da Judeia e Samaria (At 8:1, 4, 14-17), e a conversão de Saulo que ocorreu na mesma altura e que fora escolhido para levar o nome de Deus perante gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (At 9:15). Da mesma época data também o episódio da visita de Pedro à casa do centurião Cornélio (At 10), onde pela primeira vez o dom do Espírito Santo foi derramado sobre os gentios. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo (At 10:45; 11:1).

“Confirmar” subentende que esse concerto já existe, e que os seus termos e condições se tornam agora efetivos. “Confirmar” é fazer prevalecer os termos de uma aliança previamente concedida.

Ele confirmou a aliança prometida, duplamente, como está na lei (Lv 26 e Dt 28): com a bênção e com a maldição. Primeiro, ele fez cessar o sacrifício e a oferta, assegurando o perdão e uma nova aliança para os eleitos de Israel.

O Messias confirmou, no seu sangue, a Nova Aliança há muito anunciada e prometida (Jr 31:31; Ez 11:19-20; 36:25-27).

Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egipto; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que farei (KARATH) com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei: eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo (Jr 31:31-33).

Por outro lado, a maldição também estava inscrita na lei e Jesus disse assim: não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim abrogar, mas cumprir […] até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido (Mt 5:17-18).

E o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será como uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações (v.26b).




[1] Alguns exemplos da ocorrência de GABAR: Gn 7:18 (as águas prevalecem sobre a terra); Ex 17:11; 1 Sm 2:9; Is 42:13 (prevalecer contra o inimigo). GIBBOR (guerreiro, homem forte) vem da mesma raiz.

4 comentários:

  1. Ele confirmará a aliança.

    Na verdade seria o anticristo.

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    1. Claro que não... Onde vc já viu na bíblia a diabo fazer aliança?
      Aliança é um termo Divino...

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  2. Interessantíssimo . Isto pode virar a visão escatológica de cabeça pra baixo . Realmente , Todas as alianças na bíblia foram iniciativa divina. Considerando que a bíblia foi escrita no tempo e cultura judaicas , devemos entender no ponto de vista judaico . O novo testamento revela o evangelho aos gentios ,mas o antigo fala das promessas aos pais e justos judeus .

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  3. Também achei interessante é dos judeus que veio o cristianismo mas muitos não aceita a história.

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